Capítulo 13

Lianna entrou no carro de Nicole ainda com a respiração descompassada. A mão no peito parecia garantir que o coração não sairia galopando mundo a fora. A loira a observou com uma expressão que misturava preocupação e arrependimento.

-Ô Lianna desculpa mesmo, não achei que você fosse se assustar... -pegou a mão dela entre as suas e acariciava o dorso com o polegar. -Sério, tô me sentindo muito culpada.

Lianna baixou o olhar e observou sua mão entre as de Nicole por alguns segundos. Em seguida levantou o rosto e encarou a outra.

-Tudo bem, sua maluquinha, só preciso respirar um pouco, ok?

-O que quiser, senhorita! -Nicole falou fazendo o gesto de prestar continência.

Lianna lançou-lhe um sorriso delicado.

Alguns minutos depois ela suspirou e voltando-se para a loira, falou:

-Tudo bem que eu queria mesmo lhe ver, mas o ataque cardíaco foi brinde...

Nicole gargalhou. Então lentamente absorveu as primeiras palavras que a administradora disse.

-Ahhh queria me ver...

-Claro, estou te devendo... Senão, você pode me processar, sei lá! 

-Tô vendo que o susto não tirou seu bom humor! -Nicole riu, mas de repente a olhou profundamente nos olhos, em seguida descendo o olhar para sua boca e subindo novamente em um olhar inflamado.- Sabe que senti falta do som da sua risada...

Lianna engoliu em seco, mas, por algum motivo preferiu ignorar a impressão que teve.

-Aquele dia esqueci de pedir seu contato... Como foi a noite no bar do Chicão?

-Quem? - a loira balançou a cabeça e a olhou sem entender nada.

-Ué, você não disse que estava indo no bar do Chicão lá perto de casa? - levantou uma sobrancelha.

Nicole bateu a mão na testa, um gesto que Lianna já havia visto e percebia agora que era comum à loira.

-Eu tinha até esquecido. Foi maravilhoso. Um lugar como poucos, como diria minha mãe. - piscou.

-Eu imagino! -Lianna riu mais uma vez, algo que era extremamente fácil ao lado de Nicole. -Bom, agradeço pelo papo, mas tenho que pegar meu ônibus...

-Nada! Deixa que te levo? É o mínimo que posso fazer após quase explodir seu coração de susto...

-Não precisa, Nicole, você devia estar vindo ver sua amiga. Não vá atrasar seu encontro por minha causa... -disse, já com a mão na maçaneta.

A loira se inclinou rapidamente segurando a mão de Lianna, impedindo que ela abrisse a porta. A administradora olhou a outra mulher que estava com o rosto a centímetros do seu e novamente foi obrigada a engolir em seco. Respirou fundo e pôde sentir o cheiro da loira invadir seus pulmões... Fechou os olhos. Flores. Não apenas flores, mas flores guardadas dentro de um livro...

-Não há ninguém que eu quisesse encontrar mais que você... - Nicole a olhava profundamente e se aproximava lentamente.

Foi nesse momento que o estômago de Lianna resolveu lembrar-lhe que ela ainda não havia almoçado.

A loira pulou para trás e olhando para os lados, disse.

-Minha nossa senhora, foi um trovão? Furou meu pneu? O superman passou voando aqui em cima?

O rosto de Lianna adquiriu um tom de vermelho tão forte que era quase roxo. Mesmo envergonhada, deu um pequeno sorriso e disse:

-Estava indo para casa almoçar... Perdi o trem, por isso estava voltando para pegar um ônibus.

Nicole ligou o carro e começou a manobrar saindo em direção à avenida. 

-Não, não! Vamos resolver isso logo, antes que esse buraco negro que existe dentro de você devore o mundo inteiro!

******

Nicole queria levá-la ao restaurante onde a tinha visto pela primeira vez e Lianna argumentava que poderia almoçar em casa quando chegasse.

-Lianna, são quase 15h! Vamos almoçar sim, não aceito não como resposta! Eu também ainda não almocei... Tive uns probleminhas, resolvi sair para dirigir pela cidade e acalmar a mente e por coincidência do destino acabei te encontrando... Precisamos aproveitar as oportunidades que o universo nos dá, minha cara.

-Está bem! Mas eu escolho! Já que é por minha conta...

Nicole quis começar a protestar, mas foi interrompida.

 -Não, Senhora, ou é por minha conta ou nada feito! Tínhamos um trato...

A loira levantou as mãos em sinal de rendição. Lianna arregalou os olhos em sua direção.

-Hey! Coloque essas mãos no volante pois precisamos chegar vivas para que você conheça meu restaurante preferido!

Nicole riu. 

-E esse restaurante serve o quê de especial?

-A melhor lasanha de cogumelos que você vai comer em sua vida!

-Bora pra lá então!

*******

Marlene entrou na suíte de Manoela e não encontrou-a de imediato. Quando abriu a porta do quarto, no entanto, ouviu música vindo dos autofalantes do banheiro e em seguida a ouviu cantar.

-Gracas a Deus, minha menina melhorou o humor! Coitada andava tão tristinha essa semana!

Bateu na porta e perguntou se ela precisava de algo.

Alguns segundos depois ela abriu a porta, enrolada numa toalha e a abraçou mesmo estando toda molhada do banho, exatamente como fazia quando era apenas uma criança.

-Marlene! Por onde andava? Não te vejo desde ontem! Quem me acordou foi a recepção e o café já estava servido quando levantei! -beijou o rosto da velha senhora e depois fez um beicinho.

-Menina, está molhando meu uniforme inteiro! -riu - Anda, vai se vestir, quer pegar um resfriado?!

Manoela riu e se dirigiu ao closet. Colocou a cabeça para fora e com uma expressão divertida no rosto perguntou:

-Esse suspense todo é porque arrumou um namorado novo, é?

-Que namorado o quê, menina, olha a minha idade! Quem gosta de peça velha é colecionador de calhambeque!

Manoela riu novamente e Marlene agradeceu por ouvir esse som após tantos dias onde a jovem estava sempre taciturna.

-Fui fazer uns exames! Mas não se preocupe, coisa de rotina! Você sabe que sua mãe me faz consultar a cada seis meses mesmo sem estar doente!

-Errada ela não está! Pelo menos nisso, não é? -disse voltando para dentro do closet.

-Eu quem deveria perguntar, esse seu bom humor todo é namorado novo?

-Ainda não, Marlene! Mas quem sabe em breve! Na verdade é mais porque estou sentindo que minha vida vai mudar... Pra melhor, claro! Não sei porque, mas sinto isso!

Em seguida a velha senhora ouviu o som do secador de cabelos e se dirigiu à sala da suíte verificar se tudo estava em ordem. Ela não entendera o que Manoela falara, mas para ela o que importava era a felicidade da sua menina.

*******

O restaurante que Lianna escolheu era meio caminho para sua casa. Uma construção baixa, com fachada em tijolos vermelhos e uma placa em madeira rústica acima da porta anunciando o nome do estabelecimento. O interior era decorado de maneira simples, mas aconchegante. Assim que elas entraram, um senhor de cabelos grisalhos e sorriso terno que estava atarefado no caixa veio correndo abraçar a morena.

-Lianna, querida, quanto tempo! Como está? Entre, entre, a mesa que você gosta está disponível! São só vocês duas, ou devo separar cadeiras para Milena e sua tia?

A administradora sorriu com carinho para o Senhor que tinha um forte sotaque italiano. O abraçou demoradamente. 

-Oi, Franco! Estou bem e você? Pelo visto o restaurante continua de vento em popa! Hoje somos só nós, viemos atrás daquela lasanha digna dos deuses que só você sabe fazer!

-Será um prazer servir a você e a sua amiga! Dê mais um abraço nesse velho sentimental e depois pode ir se sentar! Vou mandar Giancarlo ir anotar o restante do pedido de vocês.

Após abraça-lo novamente, Lianna pegou a mão de Nicole e a guiou através do salão à uma mesa que ficava nos fundos do estabelecimento.

A loira estacou espantada pela beleza. A mesa ficava ao lado de um jardim de inverno. Nele, além das diversas flores em tons pastéis e cálidos, havia uma fonte, de onde saíam quatro jatos de água que se encontravam no alto, por onde a água refluía e caía para recomeçar todo o ciclo. Era lindo.

Olhou para Lianna e ela lhe observava sorrindo.

-Gostou?

-É magnífico! Meu lado artista já está alimentado antes mesmo de pedirmos o menu! - os olhos de Nicole brilhavam. Lianna a achou linda, lindíssima.

Após mais um sorriso terno e até um pouco tímido, tocou levemente no pulso da loira, chamando-a:

-Vamos pedir nosso almoço então, pois não é só a alma que precisa de nutrição!

Pediram a tão bem falada lasanha e enquanto esperavam entreteram-se em assuntos corriqueiros.

-Lianna, esse senhor... Franco, não é? É seu parente? Desculpe perguntar assim, mas sou curiosa, não nego!

-Ah, não exatamente. Ele namorou minha tia quando eles eram pouco mais que adolescentes, não durou muito. Franco teve que retornar à Ítalia para estudar. Mas eles nunca perderam o contato de fato, ficaram amigos. Aqui foi o primeiro lugar que trabalhei na minha vida. Fiz um estágio quando estava na faculdade, na verdade.

-Nossa! Que legal! Então não pensou sempre em trabalhar no ramo da hotelaria?

-Não, hotelaria sempre foi meu sonho. Cresci pelos corredores do hotel da Sra. Maria Isabel e jurei para mim mesma que um dia ocuparia um posto lá. Eu trabalhei aqui porque foi onde consegui estágio na época. O administrador antigo do hotel não aceitava aprendizes...

-Eu o ouvi falar sobre a sua tia e também... -Lianna percebeu que Nicole ficara vermelha, mexia com as unhas na toalha da mesa, pigarreou e finalmente falou.-Ele também falou sobre uma moça...Milena... Ela... É sua namorada?

Fim do capítulo