Capitulo 6
Capítulo 6
Nicole a encarou com os olhos brilhando de curiosidade.
-Como assim é ela? - perguntou. - Tem certeza?
-Claro, Nick - respondeu com um revirar de olhos. - Como vou esquecer da sobrinha de camareira que é minha atual babá, contratada especialmente para destruir minha vida?
-Menos, Manu. - falou deslocando o olhar pelo salão, provavelmente observando a garota sair com a tia. - Por que você omitiu a parte em que ela é espetacularmente linda?
-Você acha que eu vou ficar olhando para empregadas, Nick?! Não faz meu tipo. Sem ofensas é claro. - disse séria, mas Nicole viu um ligeiro tremeluzir em seus olhos, não identificou qual emoção representava, então a ignorou.
-Bom, não me ofendeu. O que me interessa é que ela não é minha funcionária. Tirando isso, não me importa em que sua tia trabalha. - falou terminando seu vinho. -Mas é muito bom saber onde posso encontrá-la! Já me ajuda um bocado, sem contar que você pode falar bem dessa sua amiga que você ama, não pode? - piscou docemente.
-Três coisas Nicole. Um: ela não me viu, portanto não sabe que você é minha amiga. Dois: Não pretendo falar com minha carcereira mais que o necessário, já é um martírio ter que aturá-la. E três: ela lhe deu um belíssimo fora. - um sorriso enorme cobriu seu rosto quando falou a última parte.
-Ela não me deu um fora, Manu. Ela só não aceitou um drink por que não bebe... - disse ignorando os dois primeiros pontos apontados por Manoela.
-Foi um fora, Nick. E, olha a cara dela, toda certinha, deve sonhar com um príncipe encantado montado em um cavalo branco.
-Não foi um fora, já disse, foi um ponto a mais para ela, gosto das difíceis. Eu ainda estou neste jogo, minha amiga. Vou mostrar pra ela que melhor que um zé ninguém num pangaré qualquer é uma princesa num porshe. - piscou para a amiga.
-Não vou compactuar com isso, Nicole. Não a aprovo para você.
-Querida Manoela, amo muito você, mas não preciso de sua aprovação. Pelo contrário, prefiro eu mesma provar e aprovar! - abriu um sorriso enorme, que não podia ser descrito como outra coisa que não cafajeste.
Manoela suspirou e preferiu mudar de assunto. Não queria saber de nada que envolvesse aquela garota, pois ela lembrava-lhe tudo de ruim que aconteceria na sua vida dali para a frente. Sabia que o interesse de Nicole logo passaria e ela partiria para outra, fosse por sucessivas recusas da garota ou por conseguir o que queria.
-Podemos terminar de almoçar em paz? Daqui um pouco tenho que ir trabalhar! - disse pronunciando a última palavra com asco evidente.
-Como quiser, minha linda! - respondeu Nicole com um sorriso diabólico no rosto observando a porta por onde Lianna acabara de passar com a tia.
*******
Lianna despediu-se da tia na entrada do hotel. Dona Suzana dirigiu-se para o elevador de serviço e a sobrinha foi falar com Carlos na recepção sobre possíveis novidades no tempo em que esteve fora.
Depois de saber rapidamente que Graça já voltara do almoço, entrou no elevador apertando o número do andar do seu novo escritório.
Sorriu lembrando-se da garota loira do restaurante. Ainda não lembrava-se de onde a conhecia e havia achado estranho ela oferecer-lhe um drink. "Quer dizer, quem bebe em pleno meio dia?"- pensou - "E se me conhece, deveria saber que não bebo."
Lianna havia mostrado a moça loira para a tia e perguntando a ela se a conhecia. Recebeu uma recusa e a tia cogitou a hipótese de ela ser alguém que fora sua colega na faculdade. Lianna descartara a ideia, pois se fosse assim se lembraria dela.
Resolveu deixar o assunto para lá e entrou no escritório cumprimentando Graça e dirigindo-se à sua mesa na sala contígua. Pegou uma sequência de gráficos e pôs-se a examiná-los. Depois de um tempo que ela não foi capaz de mensurar, ouviu um pigarrear irritado e levantou os olhos. Manoela estava na sua frente.
Havia mudado de roupa, vestia agora uma saia social preta e uma camisa social verde, presa à cintura por um cinto que imitava couro de cobra amarelado. "Ou talvez seja couro de cobra legítimo" - pensou Lianna. Ouviu um segundo pigarrear, mais irritado que o primeiro.
-Se a Sra. Estilista já parou de julgar a minha roupa, gostaria de saber o que devo fazer para iniciar meu castigo. - foi irônica.
Lianna resolveu ignorar a grosseria. Se iriam de trabalhar juntas, teria que aprender a lidar com Manoela. Não pretendia deixar a outra importuná-la e tornar seu trabalho um inferno. Estendeu algumas pastas a ela, onde haviam relações de funcionários, turnos, principais formas de marketing e diferenças entre os hotéis da rede.
-Pode analisar estas pastas por enquanto. Para se habituar ao que cada hotel faz. Precisa conhecer a rede como se fossem suas próprias mãos. O sucesso de um bom administrador depende do quanto ele conhece do próprio negócio. - falou
A outra tomou-lhe as pastas das mãos de forma brusca.
-Isso é tudo uma grande perda de tempo. - disse secamente, mas se dirigiu até sua mesa do outro lado da sala.
Lianna observou-a pelo canto dos olhos. Ela sentou-se, cruzou as pernas e pegou a primeira das pastas. Começou a ler, mas parecia extremamente entediada. Então a garota de cabelos castanhos percebeu que seu trabalho seria ainda mais difícil, pois apesar de Manoela estar ali fisicamente, era óbvio que sua mente estava em qualquer outro lugar, menos na leitura que lhe passara. Suspirou e voltou sua atenção à análise que fazia antes de ser interrompida pela filha da dona do hotel.
Manoela olhou as primeiras 20 páginas da primeira pasta e já não aguentava mais. Não entendia porquê precisava saber sobre quais funcionários estavam lotados em cada hotel da franquia. Lhe parecia tudo incrivelmente chato e sem propósito. Olhou para a garota na mesa do outro lado da sala. Ela parecia muito interessada e concentrada no que quer que fosse que estivesse lendo. Tinha uma mão apoiando a cabeça e o cotovelo sobre a escrivaninha. Sua boca se movia levemente com o avançar das linhas que lia. A posição do seu corpo parecia relaxada, como se não estivesse trabalhando e sim lendo algo do seu interesse pessoal.
A morena folheou mais bruscamente a pasta que tinha nas mãos, entretanto a atenção da outra não se desviou. Manoela traçou um perfil da jovem no mesmo momento. "Não deve ter vida pessoal, a coitada. Garanto que é uma daquelas moças certinhas que vivem só para o trabalho e quando chega em casa vai ajudar a família com os afazeres domésticos." - pensou.
Se perguntou o que Nicole vira nela.
Olhou no relógio. Não havia passado nem uma hora ainda. Suspirou. Observou a mesa de Lianna e percebeu quantas coisas a outra já havia trazido. Apesar de ser apenas o segundo dia, estava óbvio que a garota queria deixar tudo com a sua cara. Na sua própria mesa não havia nada, apenas um porta-canetas e Manoela não se lembrou de nada que gostaria de trazer.
Seu celular vibrou assustando-a. Levantou os olhos para Lianna, mas ela não percebera nada de tão absorta que estava. Era uma mensagem de Nicole. Sorriu. Abriu e leu o que dizia:
-Oi minha princesa, como está indo o trabalho? Aposto que está odiando huahuahua
Ainda sorrindo respondeu.
-Odiando cada minuto, que coisa chata. O que está fazendo?
Após alguns segundos recebeu a resposta:
-Estou em casa, deitada na rede da varanda. E a linda da sua chefinha?
Droga, ela tinha que tocar no assunto. Olhou para Lianna que a observava com olhos curiosos, mas não disse nada. Pela cara dela esse desvio de atenção seria apontado à sua mãe.
-Me cuidando feito o cão. Preciso voltar ao trabalho, aposto que isso já vai no relatório para Dona Maria Isabel. beijos
Mais alguns segundos se passaram e Nicole enviou outra mensagem:
-Ai, adoro mulheres bravas!!! ;) Beijo, minha linda. Relaxa, já está quase terminando seu horário. Ps.: Passo aí pra te buscar.
Manoela ficou pensando sobre a última frase. Nicole iria buscá-la, mas não entendeu muito bem o porquê já que não haviam combinado nada para aquele dia.
Voltou a ler as pastas que Lianna lhe passara. Depois de algumas páginas. Pousou a leitura sobre a mesa, apoiando os cotovelos na mesma e massageando as têmporas.
-Cansou? - ouviu a voz calma de Lianna.
No primeiro momento, a filha da dona do hotel assustou-se, pois a outra era tão quieta que chegara a esquecer que não estava sozinha na sala. Preferiu não responder. "Está querendo se fazer de minha amiguinha para poder passar mais coisas à minha mãe. Mas não vou cair nessa. Não gosto disso, e vou fazer o possível para terminar com isso tudo. Ela que me aguarde." -pensou.
-Olha, podemos dar uma volta pelo hotel para você conhecer algumas rotinas se quiser. -falou a jovem administradora já se levantando
-Se eu disser não, você vai correndo contar pra Dona Maria Isabel. Tem que mostrar serviço, não é menina? - Manoela fazia questão de ser desagradável.
Manoela viu um brilho de raiva nos olhos cor de mel da outra e um ligeiro tremeluzir em seus lábios. "Ponto pra mim!" - pensou. Entretanto Lianna nada respondeu, simplesmente virou-se e saiu da sala. Manoela esperou alguns segundos, com um sorriso de vitória no rosto e a seguiu.
Manoela encontrou-a em frente ao elevador. Assim que este chegou, a outra entrou e ficou admirando os próprios sapatos, as mãos muito juntas ao corpo. A morena se perguntou se a outra ainda estava brava com o que ela dissera a pouco ou se estava nervosa com o elevador.
Ela mesma achava um pouco desagradável a sensação que seu estômago toda vez que o equipamento era acionado.
Desceram e foram percorrendo todas as seções com Lianna explicando o que cada uma fazia, o que se esperava de papelada de saída de cada setor, quem eram os responsáveis locais e outras informações bastante precisas. Manoela não pôde deixar de se surpreender com o conhecimento que a outra exibia. Sua mãe havia lhe contado que a tia dela era segunda camareira, ou seja, a segunda no comando de todas as camareiras do hotel. Era provável que a garota tivesse estado por ali por quase toda sua infância. No entanto, Manoela não conseguia se lembrar dela de nenhuma ocasião anterior. "Bom, a julgar que passei quase toda a vida estudando em colégio interno e, agora, mesmo que a visse, não ia prestar atenção em alguém tão...comum..." - pensou.
A cada setor que passavam as pessoas cumprimentavam Lianna de forma amigável e alguns até chegavam a abraçá-la. Ela parecia ser bem quista por todos. Manoela no entanto recebia olhares nervosos e cumprimentos muito mais forçosamente educados do que voluntários. "Não me importo com isso. Os funcionários devem temer seus superiores, não tratá-los como amigos, como fazem com esta garota. E mamãe ainda quer que ela me ensine e supervisione?!" -ponderou vendo a outra sorrindo para uma senhora idosa responsável pela limpeza.
Quando chegaram no setor das camareiras, o último que faltava segundo ela, Lianna apresentou-a uma senhora que estava dobrando algumas toalhas.
-Manoela, essa é minha tia Suzana. - disse sorrindo e pegando a mão da tia, mas havia um aviso claro e perigoso em seus olhos. Como uma leoa pronta para atacar e defender sua cria.
Manoela assentiu para a senhora, percebendo que era a mesma que ela e Nicole haviam visto com Lianna duranto o almoço. Na verdade, lembrava-se de ver a mãe conversar com essa senhora algumas vezes nos corredores quando chegava.
-Boa tarde, Srta. Manoela. Quem bom que veio nos ver! - sorriu a tia da garota, simpática.
-Sua sobrinha me arrastou por todo o hotel. - fez cara de enfado. - É a senhora que é amiga de minha mãe?
-Sim. Nos conhecemos ainda na escola. - respondeu.
Manoela assentiu novamente. Era estranho pensar que sua mãe, tão rica como era, fora colega de uma senhora que hoje era camareira na sua rede de hotéis.
"É, Manoela, mas não se esqueça que a sobrinha dela agora é a sua 'superiora'. Tem essa carinha de boazinha, esses olhinhos doces, mas aposto que está tramando algo para ficar nas boas graças de minha mãe e subir na vida!" - pensou- "Mas não por muito tempo, ou então eu não me chamo Manoela Munhoz Alcântara."
Fim do capítulo
Obrigada pelos comentários, fico feliz que estejam gostando! Bjs
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Marta Andrade dos Santos
Em: 06/01/2022
Essa Manoela é um pé na bexiga kkkkkk
Resposta do autor:
Kkkkkkkkkk
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