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  • CAPÍTULO 24: FUGA

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AINDA SEI, Ã? AMOR por contosdamel

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Palavras: 6678
Acessos: 1140   |  Postado em: 13/12/2021

CAPÍTULO 24: FUGA

Observei Suzana se aproximar, ao seu lado para meu desespero Pietra, usavam alianças na mão esquerda, uma angústia gigantesca foi tomando conta de mim, minha vontade era gritar, arrancar meu amor dos braços daquela megera, mas seu olhar para mim de desprezo me tirou o chão, tentei berrar, mas minha voz não saía. E vi-as se afastando, o som da risada de Pietra entrou pelos meus ouvidos como um punhal afiado, que se cravou no meu peito quando vi Suzana beijá-la apaixonadamente, minha voz presa ecoou:

 

-- Nãooo!

 

-- Isa?

 

                  Era a voz de Clara ao meu lado. Acordei. Foi um pesadelo. Ou teria acordado para outro pesadelo?

 

-- Há quanto tempo estou dormindo?

 

-- Você está dormindo desde que chegamos de madrugada.

 

-- Como consegui dormir tanto tempo?

 

                  Era mais um pensamento do que uma pergunta, mesmo assim, Clara respondeu:

 

-- Imaginei que você não fosse conseguir mesmo dormir, estava todo tempo tensa no vôo, te dei um calmante junto com um suco no avião.

 

-- Como você se presta a um papel desses Clara?

 

-- Isa não é o que você está pensando...

 

-- Não é o que estou pensando?! Você se une a uma pessoa doente como a Pietra, para me separar da Suzana, da primeira vez forçou uma situação no seu bar, usou nossa foto antiga para forjar um suposto flagrante, e agora isso? Agindo como um capanga da Pietra, e me diz que não é o que estou pensando?

 

-- Isabela eu fiz isso pra te proteger. Escute-me.

 

-- Ah conta outra...

 

-- Isa, na primeira vez, a armação lá do bar, nisso, sou mesmo culpada. Desde que te reencontrei naquela noite que você foi buscar Suzana no meu apartamento, eu senti que ainda gostava de você, acreditei que tinha chances de nos entendermos se você não estivesse com Suzana... Além do mais, tive uma péssima impressão dela naquela noite, achei que ela não te merecesse, apesar dela não ter ficado com nenhuma mulher, ela flertou descaradamente, enfim, quando Pietra apareceu falando do quanto amava Suzana, acreditei mesmo que não estivesse tão errada em ajudá-la.

 

-- Não acredito em você. Que história é essa de me proteger? Você não está vendo o mal que está me fazendo? Compactuando desse plano doentio!

 

-- Você tem todo direito de duvidar de mim, e está certa sobre ser um plano doentio, por que Pietra está doente mesmo.

 

-- E você por conseqüência também, já que está ajudando-a nisso!

 

-- Isa, como disse, eu fiz para te proteger. Pietra está doente, e faria qualquer coisa para impedir seu casamento com Suzana. Quando ela me procurou, revelando seu plano, tive a noção do quão descontrolada ela estava. Tentei te avisar, mas acho que você não recebeu minhas mensagens, nem meu e-mail.

 

-- Eu mudei meu telefone... Não vi meu e-mail ontem...

 

-- Quando acessar, você vai ver a mensagem que te mandei. Entrei no jogo dela, me oferecendo para te acompanhar na viagem, por que ela estava com a intenção de te manter em cativeiro com alguém especializado, se é que você me entende. Sugeri a viagem, me responsabilizando a tentar te reconquistar, te manter longe, mas, minha única intenção era te proteger, não ficaria em paz, sabendo que você estava nas mãos de bandidos, presa sabe-se lá onde.

 

-- A Pietra está fora de controle! Fora do juízo normal, e Suzana também está correndo perigo, meu Deus! Você tem que me deixar falar com ela Clara...

 

-- Isa, eu não posso. Não posso fazer isso, arriscaria você, Suzana, e tudo que está envolvido, você sabe o que.

 

-- Mas, Clara você não percebe o que está acontecendo?!

 

-- Claro que sim, mas precisamos pensar direito no que fazer. Agir racionalmente, ligar para Suzana, contar o que houve, vai fazer com que ela aja impulsivamente, e acredite, Pietra não está blefando, ela conseguiu mesmo localizar o verdadeiro pai da menina.

 

-- Clara Suzana deve estar destruída, sofrendo por minha causa, achando que a abandonei no altar por não amá-la, não vou suportar ficar longe dela assim!

 

-- Você vai ter que ser forte. Vou te ajudar a encontrar uma forma de neutralizar Pietra, mas precisamos agir com calma.

 

-- Mas o que posso fazer contra aquela peste?

 

-- Isa, a Pietra está doente, precisa de tratamento.

 

-- Ótimo, o que você sugere? Que eu leve uma camisa de força e a jogue em um hospício?

 

-- Você não está entendendo, a Pietra está mesmo doente, por que ela é doente.

 

-- Do que você está falando?

 

-- Certa noite, no dia que você a expulsou do hospital quando Suzana se recuperava da cirurgia, ela chegou ao Colors enlouquecida, bebeu horrores, ela quebrou copos, garrafas... Levei-a para meu apartamento, e ela foi me contando a vida dela, entre xingamentos a você e promessas que não permitiria que você estragasse a vida dela.

 

-- O que ela falou sobre a vida dela?

 

-- Contou-me que na adolescência, quando os pais descobriram que ela era lésbica, internaram-na depois de um surto que ela teve quando eles a separaram da namorada dela. Passou quase um ano internada, ficou dependente de medicações, aos quinze anos conheceu um rapaz num grupo de ajuda da clínica que ela se tratava, por influência, para se livrar da fiscalização dos pais, começou a namorá-lo, e engravidou dele, e aos dezesseis foi mãe.

 

-- Meu Deus!

 

-- Após o parto ela teve outro surto, rejeitou a criança, os pais dela e os pais do namorado dela, acolheram a criança, e ela ficou mais alguns meses internada. Conviveu com a filha como se fosse uma irmã, veio embora para o Rio de Janeiro e seguiu a vida, fez faculdade, mas sempre controlando a instabilidade emocional dela com medicações.

 

-- Nunca mais viu a filha?

 

-- Ela contou que quando se tornou independente, assumiu a homossexualidade, os pais então, já tinham a guarda da filha dela, proibiram a aproximação, assim como os avôs paternos da criança. Desde então ela ficou compulsiva por construir uma nova família, ter outra filha, e segundo ela, as vezes que ela tentou fazer isso, você atrapalhou, na cabeça dela, você a persegue, ela tem teorias absurdas...

 

                  Sentei-me completamente embasbacada.

 

-- Isa, a Pietra representa um perigo, para você, para Suzana e para ela mesma. A sucessão de eventos da vida dela só contribuiu para o descontrole da doença. Nessa noite, quando ela enfim dormiu, encontrei na bolsa dela a caixa de medicamentos que ela usa, pesquisei na internet, e descobri que não se tratava só de um anti-depressivo como ela falou que tomava, se tratava de um anti-psicótico.

 

-- Claro... Esses sintomas de delírio, mania de perseguição... Mas, fora do controle assim, então ela não está tomando os remédios...

 

-- Não, não está. Ou pelo menos não como deveria. Ela deixou escapar que os remédios a deixavam “burra”, precisava da inteligência dela para bolar um plano infalível...

 

                  As revelações de Clara deixavam tudo mais fácil de entender, mas, por outro lado, me apavoraram. Pietra era incapaz de julgar seu próprio comportamento, de discernir entre o bem e o mal, assim poderia fazer qualquer coisa que atrapalhasse sua suposta felicidade com Suzana.

 

-- Isa, eu topei colaborar com ela porque precisava te contar tudo isso, mantendo a Pietra aparentemente calma acerca do seu afastamento de Suzana.

 

-- Preciso fazer alguma coisa, mas o quê?

 

-- Pensei em procurar os pais de Pietra, e contar o que aconteceu, quem sabe eles podem ajudar...

 

-- Mas se eles a deserdaram,você  acha que eles fariam algo?

 

-- Não sei, continua sendo filha né, além do mais a filha dela hoje tem vinte anos, também deve opinar...

 

-- Virginia é prima dela, e não me contou nada sobre isso...

 

-- Talvez por que não saiba. Ela era uma criança quando isso aconteceu.

 

-- Bem, mas acho que ela pode nos ajudar a contatar a família dela. Preciso falar com a Virginia. Clara, precisamos falar com Virginia.

 

 

-- Ok, nós vamos encontrar um jeito de falar com Virginia sem chamar a atenção de Pietra, e nem da Suzana, é mais seguro assim.

 

                  No meio de um pesadelo, Clara agora me parecia um anjo. Foi atenciosa nos cuidados, inclusive providenciando meu jantar, com a delicadeza de quem conhecia minhas preferências. Ansiosa por agir a fim de conter as loucuras de Pietra, não sosseguei até Clara ligar para Virgínia.

 

-- Oi, Virginia? É a Clara, tudo bem? Preciso falar com você sobre a Isabela e...

 

                  Não resisti, tomei o telefone da mão de Clara:

 

-- Virgínia, sou eu, preciso de você aqui o mais rápido possível!

 

-- Isa! O que você faz com a Clara? Isabela Bitencourt não me diga que você abandonou Suzana no altar para ficar com a Clara?!

 

-- Virginia para de falar! Escute-me!

 

-- Não posso acreditar, o que deu em você? Onde você está?

 

-- Virginia, eu preciso que você venha me encontrar, pegue o primeiro vôo para Fortaleza.

 

-- Fortaleza? Han? Isa você andou fumando o que sem mim?

 

-- Virginia, explico tudo quando você chegar aqui, o mais importante, não diga a ninguém onde você está vindo, nem que está vindo me encontrar, especialmente para Suzana.

 

-- Isa você pirou? Não posso me mandar pra Fortaleza sem explicar nada a ninguém, foi você quem fugiu, eu não!

 

-- Confie em mim. Eu preciso de você, e também do seu sigilo. Estou te esperando, quando chegar ao aeroporto, venha para o Hotel Luzeiros, na Praia de Iracema.

 

                  A insatisfação com as poucas informações que dei à Virginia era óbvia, pude até imaginar sua cara de raiva para mim. Mal consegui dormir, também pudera, depois de dormir por quase 24horas e com a alma sangrando por saber o quanto a mulher que eu amava sofria por minha causa, dormir era tarefa impossível. Podia ter me aproveitado do cansaço de Clara na sua vigilância e ter usado seu telefone para ligar para Suzana, mas no fundo, eu temia pela segurança dela, se Pietra suspeitasse que Clara não cumprira sua função poderia tornar reais suas ameaças.

 

                  Acordei com a chegada de Virginia, que ligou do próprio hotel avisando sobre sua presença. Bufando, jogou a bolsa na poltrona, cruzou os braços e disparou:

 

-- Sua justificativa para essa palhaçada deve envolver no mínimo um ataque terrorista! Vamos estou esperando sua confissão do seu uso de drogas e álcool, disposta a ler seu atestado de insanidade, e saber sobre sua ligação com a Alqaeda...

 

-- É bom te ver também pirralha chata!

 

-- Olha só, eu cruzei esse país num vôo mega cansativo, depois de passar o dia inteiro vasculhando hospitais, delegacias, investigando os possíveis paradeiros da senhorita, enquanto minha namorada tentava dopar sua noiva, de tão transtornada que ela estava. Então, não cansa minha beleza Isabela, estou vendo que você está viva e inteira, nada justifica o que você fez com Suzana, fala logo o que eu vim fazer aqui.

 

                  A voz carregada de decepção e raiva de Virginia me deu uma mostra do clima que estava entre meus amigos em relação à minha atitude.

 

-- Você não vai me dar sequer o direito de me defender? – Perguntei com tom magoado.

 

-- Como te disse, estou esperando você me explicar a teoria da conspiração, ou você me revelar que é a nova 007 numa missão especial para salvar o mundo...

 

-- Virginia você melhor do que ninguém sabe o quanto eu queria esse casamento, que só algo muito grave me levaria a fazer o que fiz.

 

 

-- É Isa? Muito grave você descobrir minutos antes do casamento que não ama Suzana o suficiente para casar-se com ela. Você tem noção do estado que ela ficou? Nem parecia a pessoa forte que ela é. Parecia uma criança indefesa, abandonada. Depois pareceu surtar, desorientada, transtornada tentou sair para te procurar a todo custo, criando desculpas para você fazer o que fez...

 

-- Virginia!

 

                  Berrei. Desabei em um pranto sincero, descontrolado. Cada palavra que Virginia me dizia relatando o estado de Suzana me provocava uma dor física. Clara finalmente interveio. Sentou-se ao meu lado, colocou sua mão em volta dos meus ombros e disse a Virginia.

 

-- Você pode conter seu julgamento precipitado? Escutar o que Isabela tem a dizer e o porque de ter te chamado aqui?

 

                  Virginia respirou fundo, nitidamente controlando o impulso de dizer meia dúzia de desaforos a Clara.

 

-- Ok Isa, estou escutando.

 

                  Depois de me acalmar, relatei o acontecido a Virginia, que se revirava na poltrona em meio a expressões de surpresa e indignação e insultos de baixo calão à sua prima.

 

-- Mas Isa como você se rendeu a essa chantagem sem dar a chance de Suzana se explicar?! Ao menos poder se prevenir da loucura de Pietra?! – Virginia retrucou.

 

-- Justamente pelo fato dela ser louca que eu não podia arriscar Virginia! Pietra não me deixou alternativa. Você acha que não pensei primeiro em procurar Suzana? Mas, bastava um telefonema de Pietra para entregar o Vitor!

 

-- Pietra está doente! E se isso for mentira?

 

-- É justamente pelo fato dela estar doente que te chamei aqui.

 

 

-- E ela não está mentindo. Ela me mostrou como encontrou o pai verdadeiro da Vitória. – Clara completou.

 

-- Tudo bem Isa, o que estou fazendo aqui? O que você precisa?

 

-- Clara me revelou alguns fatos da história de sua prima os quais eu preciso que você averigúe a veracidade, e que medie minha aproximação com seus tios, os pais da Pietra, minha esperança é que eles consigam impor algum limite a ela.

 

                  Virginia permaneceu com cara de interrogação até Clara narrar o que descobriu sobre Pietra. Minha jovem amiga estava atônita.

 

-- Eu sabia que a relação deles não era boa, sempre perguntei a minha mãe porque a Pietra nunca estava presente nas festas de fim de ano da família, e ela me dizia que os pais não concordavam com a vida dela, mais tarde atribuí isso ao fato de minha prima ser lésbica, mas não sabia que esse drama todo estava na história deles.

 

-- Virginia e essa filha dela? Você conhece?

 

-- Isso acho que é delírio da Pietra... Eu saberia de alguma filha se ela tivesse... Espera aí... Quantos anos mesmo tem essa suposta filha?

 

-- Cerca de vinte anos. – Clara respondeu.

 

-- Meus tios tem uma afilhada, que adotaram a Ana. Ela foi criada como filha deles, acho que tem essa idade...

 

-- É ela! Só pode ser ela! – Exclamei.

 

-- O que você pretende fazer? O que você quer de mim Isa?

 

-- Você precisa nos levar até os pais de Pietra, quem sabe consigamos sensibilizá-los...

 

-- Mais do que isso Isa. – Clara falou em tom reflexivo.

 

-- Os pais, ou a filha de Pietra, se ela foi registrada como filha, podem interditar a Pietra judicialmente, não vai ser difícil provar que Pietra é incapaz de ser responsável por ela mesma... Os pais podem interditá-la, obrigando-a a se tratar.

 

                  Virginia não pensou duas vezes, no mesmo dia seguimos para o Rio, de lá, partimos para São Pedro da Aldeia, cidade a qual os pais de Pietra moravam. Obviamente, a ansiedade me consumia, não sabia como abordar o casal simples acerca da sua filha, especialmente, quando revelasse qual era minha ligação com ela, se eles deserdaram a filha por conta de sua homossexualidade, como elas receberiam uma lésbica lutando pela mulher a qual eu e a filha deles amava?

 

                  Meu receio perdia importância quando eu pensava no sofrimento de Suzana, meu pensamento era só nela.

********

-- Tia Dulce!

 

                  Virginia com toda sua simpatia peculiar abriu os braços para a tia.

 

-- Nina?! O que faz aqui?!

 

                  A senhora surpreendida com a presença inusitada da sobrinha, abraçou-a sem graça.

 

-- Tia, precisamos conversar com a senhora, sobre algo bastante sério.

 

                  A senhora fez sinal autorizando nossa entrada, desconfiada nos olhou com uma enorme interrogação nos olhos e Virginia prosseguiu:

 

-- Essas são duas amigas, Clara e Doutora Isabela Bitencourt, minha chefe.

 

                  Visivelmente deslocada, dona Dulce nos cumprimentou, convidou-nos a sentar e perguntou:

 

-- Nina, eu estou feliz em ver você depois de tanto tempo minha querida, mas, não estou entendendo o que se passa, por que você trouxe sua chefe aqui?

 

-- Tia, doutora Isabela está aqui pelo mesmo motivo que eu. Viemos falar sobre Pietra.

 

-- Aconteceu alguma coisa com ela? Você trouxe uma médica aqui com você? Meu Deus o que houve?!

 

-- Calma tia Dulce. Nós vamos explicar tudo. Pietra está doente, uma doença que vocês sabem qual, está fora do controle, prejudicando pessoas, viemos aqui na esperança que vocês pudessem fazer algo, intervir para que ela se submeta a um tratamento...

 

-- Pietra é adulta, fez a escolha dela Virginia, não podemos fazer mais nada por ela.

 

-- Dona Dulce, estamos aqui porque acreditamos que só vocês podem fazer algo por ela. Antes que ela machuque alguém e que as conseqüências até para ela mesma sejam drásticas. - Intervi.

 

-- Tia, nós vamos contar o que está acontecendo em detalhes.

 

                  E assim, Virginia com nossa ajuda narrou todos os desmandos e loucuras que Pietra vinha fazendo nos últimos meses. A senhora não esboçava reação, como se aqueles fatos que narrávamos não lhes dizia respeito, como se falássemos de alguém estranho.

 

-- É isso tia. Pietra precisa ser interditada, antes que ela cometa algo grave nessa obsessão pela Suzana. Vocês são os únicos que judicialmente podem fazer isso.

 

                  Dona Dulce aparentemente continuou insensível, e disparou:

 

-- Pelo que escutei, vocês não estão aqui preocupados com a saúde mental de Pietra, estão aqui para se livrar dela, esperava mais consideração de sua parte Virginia, pelo que sei, Pietra te deu um teto quando você precisou em Campinas não foi?

 

-- Tia não se trata disso. Pietra está agindo como uma louca, eu me preocupo sim com minha prima, mas, o que é necessário fazer por ela nesse momento é tratá-la, antes que ela machuque alguém ou se machuque também!

 

-- Não vamos interditá-la, porque não queremos ser responsáveis por ela. Quando ela era nossa responsabilidade, nós fizemos de tudo, e ela fugiu, fez a escolha por essa vida de pecado, que parece ser a vida de todas vocês!

 

-- Não estamos aqui para ser julgadas senhora. Sim precisamos que a senhora e seu marido façam algo para ajudar sua filha e por conseqüência ajudar nossa amiga Isabela, mas não venha nos dizer que sua filha não é responsabilidade de vocês, por que ela é, nesse momento ela não é capaz de responsabilizar por si mesma, e ela precisa de vocês. – Clara se exaltou.

 

-- Como você ousa me dizer o que devemos fazer? Você não é ninguém para mim, e nem você Virginia nem o direito de se meter nos assuntos de minha família.

 

-- Gente calma! – Tentei ponderar. – Clara, por favor. Dona Dulce,  nós não estamos lhe dizendo o que fazer, estamos pedindo que a senhora pense no bem de sua filha, só isso.

 

-- Tia Dulce, se não fizer por nós, ou pela Pietra, faça isso pela Ana. Como acha que ela vai reagir se a mãe dela for presa depois de cometer mais uma loucura?

 

-- Cale-se Virginia!

 

                  Virginia tocou em um assunto delicado, segredo de família que deixou a senhora ainda mais nervosa. E quando a situação parecia suficientemente tensa, uma jovem adentra a sala indagando:

 

-- Por que Virginia precisa se calar madrinha? Até quando a senhora vai me esconder a identidade de minha verdadeira mãe?

 

                  A moça franzina de cabelos escorridos, de rosto delicado escondido por um par de óculos, nitidamente tímida, se apresentou.

 

-- Volte para seu quarto Ana, essa conversa não tem nada com você, Virginia e as amigas dela já estão de saída.

 

-- Madrinha, eu ouvi tudo. Nunca entendi o esforço de vocês para me manter longe da filha de vocês, agora entendo. Ela é minha mãe!

 

-- Ana não fale besteira!

 

-- Virginia, o que está acontecendo com minha mãe, a Pietra?

 

                  O clima tenso estava instalado. Mas, Ana, não parecia nervosa. A timidez aparente deu lugar a uma segurança tranqüila, a moça ignorou os insistentes apelos de dona Dulce para deixar a sala.

 

-- Vou chamar meu marido aqui, vocês estão todas loucas!

 

                  A senhora saiu apressada, enquanto Virginia se apressava em contar mais uma vez o motivo de estarmos ali. Ana escutou tudo atentamente.

 

-- Onde ela está nesse momento? – Perguntou depois de escutar nosso relato.

 

-- No Rio.  – Respondi.

 

-- Ela acha que Clara mantém Isabela longe, foi uma condição que impôs para não delatar Suzana e seu irmão. – Virginia completou.

 

-- Ela está claramente doente, precisa de tratamento, a melhor alternativa é de fato obrigá-la a se tratar, a interdição pode demorar, mas diante da urgência, podemos solicitar uma liminar, baseada no laudo da médica que a acompanha,isso será mais fácil não?

 

                  Ana parecia segura do que estava dizendo.

 

-- Ana cursa direito. – Virginia explicou. – Acho que podemos descobrir a médica que a acompanha sim Ana.

 

                  Os pais de Pietra entraram na sala afobados. O senhor calvo berrou:

 

-- Ana já para seu quarto, e vocês todas fora da minha casa agora!

 

-- Padrinho ninguém vai sair daqui até resolvermos a situação de Pietra, minha mãe. Ela precisa de tratamento e vai receber nem que seja obrigada a isso, judicialmente, só vocês podem pedir a interdição, e vocês vão pedir isso, de outra forma, solicitarei uma ação de investigação de maternidade, e como filha dela, eu mesma poderei pedir a interdição, é isso que vocês querem? Demorará mais tempo, mas o escândalo será bem maior também.

 

                  A altivez e segurança da jovem pareceram surpreender não só a nós, mas aos seus avôs também. Um silêncio incômodo se instalou, a troca de olhares entre Ana e seus supostos pais adotivos falava mais do que qualquer discussão, como se os desafiasse, a filha de Pietra não desviou os olhos como se afirmasse categoricamente, que nada a faria dissuadir de sua decisão.

 

-- Vamos para o Rio, entraremos com a ação lá, o endereço da minha mãe é de lá não? Acho que vocês podem entrar em contato com a médica que a acompanha para que incluamos seu laudo no pedido de interdição não podem?

 

                  Clara acenou em acordo, os pais de Pietra pareciam chocados com a nova face daquela frágil menina.

 

-- Padrinho, madrinha? Vocês não vão dizer nada?

 

-- Virginia, você pode levar suas amigas para dar uma volta? Precisamos conversar a sós com a Ana.

 

                  Nossa espera pareceu uma eternidade, cada minuto que se passava aumentava minha angústia e minha dor por estar longe da mulher que eu amava, e pior, fazendo-a sofrer. Cerca de uma hora depois, Ana surgiu na calçada da casa, solicitando que entrássemos.

 

-- Muito bem, nós faremos o que vocês querem, vamos interditar a Pietra, para tratá-la.

 

                  Um suspiro de alívio ecoou na sala. Ana tomou a frente da situação, determinando nossos próximos passos. Parecia determinada a curar a mãe, e enfim, iniciar uma relação de mãe e filha, que obviamente ela sentia falta.

 

                  Partimos para o Rio, seguidas de Ana e seu avô. Pietra parecia me monitorar, ligando para Clara várias vezes, pedindo para falar comigo a fim de assegurar que eu continuava em sua vigilância. Virginia ficou responsável por descobrir o nome do psiquiatra que acompanhava Pietra, planejava pegar o celular da prima, certamente encontraria ali o nome de algum médico.

 

-- Vou ligar para Olívia, é melhor que vocês fiquem na casa dela. – Comentou Virginia.

 

-- Virginia, por enquanto, não é prudente que Suzana saiba do que está acontecendo. Pietra está acampada na casa dela, desconfiaria de qualquer mudança no comportamento dela.

 

                  Clara disse, quase sem perceber o que revelara: Pietra estava com Suzana. Sabendo da vulnerabilidade de minha noiva, imaginei que Pietra estava se aproveitando disso para impor sua presença sob o pretexto de ser sua amiga.

 

-- Clara, não agüento mais, foram três dias horrorosos imaginando o que Suzana está passando, preciso falar com ela, ao menos deixe que Virginia lhe explique tudo...

 

-- Isa, você sabe os riscos, Suzana ficaria possessa de raiva...

 

-- Suzana não é criança, ela saberia como agir! – Defendi.

 

-- Calma Isa, vamos com calma. Primeiro vocês se instalam na casa da Lili, eu encontro o contato com o psiquiatra da Pietra, sondo como estão as coisas com Suzana, e dependendo da situação, converso com Suzana ok?

 

                  Virginia segurou minha mão, não muito convencida, aceitei a sugestão. Olivia praticamente teve uma síncope quando me viu com Clara na sua casa.

 

-- Isabela! Meu Deus você está viva! Inteira!

 

                  Abraçou-me eufórica.

 

-- Ei! – Estapeou-me. – Como ousa estragar a festa que eu estreei um vestido deslumbrante de madrinha?!

 

-- Li tudo tem uma explicação.

 

                  Pacientemente explicamos o que aconteceu, e aí, minha amiga parecia se preparar para síncopes seguidas. E quando eu era consolada por Lili, ouvi a voz familiar da mulher que eu amava:

 

-- Eu precisava ver com meus olhos, não podia acreditar quando me falaram que a mulher que se casaria comigo, me abandonou no altar para fugir com outra!

 

-- Suzana!

 

                  Virginia entrou em seguida se defendendo:

 

-- Não tive culpa, ela me seguiu...

 

                  Aproximei-me de Suzana, ansiosa por abraçá-la e explicar tudo para nos entendermos.

 

-- Suzana...

 

                  Não esperava o que se seguiu. Suzana não me deixou falar. Minha face sentiu todo o peso de sua mágoa, a mão que me acariciava encontrou meu rosto com violência. Aquela tapa não marcou só minha pele, arrancou-me também a voz, me despedaçou.

 

-- Como não vi antes, a vagabunda que você é Isabela?

************

                  O tom ríspido de Suzana provocou mais dor do que a tapa. Não enxerguei nos seus olhos mais uma vez o amor que me acolhia no brilho deles.

 

-- Suzana, calma! A Isa não fez nada disso! – Olivia interviu.

 

 

-- Não se intrometa Olivia, sei que estou na sua casa, mas, nada vai me impedir de dizer a essa vadia o que eu vim falar.

 

-- Suzana maneire aí! Você vai escutar o que Isabela tem a dizer, nem que seja a força!

 

                  Virginia puxou Suzana com força, atirou-a no sofá e foi incisiva:

 

-- Sente-se, temos muito que conversar, todas nós!

 

                  Antes que Suzana protestasse, Olívia emendou:

 

-- A Isa não te abandonou, nem muito menos fugiu com Clara, se foi isso que você deduziu. – Pausou, fez uma careta e continuou cochichando – Eu também pensei isso quando te vi aqui com essa loira...

 

                  Eu ainda me recuperava da tapa sofrida, caminhei até o sofá, e covardemente não consegui encarar Suzana, doía demais olhá-la através da mágoa que nublava sua expressão para mim.

 

-- O que aconteceu então? Ela foi abduzida? Não me diga que Clara é uma extraterrestre do bem que veio devolvê-la a Terra!

 

                  Suzana ironizou lançando seu olhar gélido para Clara.

 

-- Não Suzana. O que me fez não comparecer ao momento mais esperado de nossas vidas foi à obrigação que tenho com sua felicidade.

 

-- Faz-me rir Isabela! – Suzana retrucou.

 

-- Se você não quer me dar o direito sequer de me explicar, se acha que o que vivemos foi tudo mentira você não me conhece Suzana. Não sou a vagabunda que você está julgando que eu seja, por outro lado, você é bem mais influenciável do que eu pensava.

 

 

-- Ah não venha com essa Isabela! Não venha se fazer de vítima, de eterna injustiçada! Fui eu quem foi abandonada no altar, com um recado absurdo do seu tio. Se não me amava o suficiente porque aceitou se casar comigo? Por que esperou justamente para me dizer isso minutos antes do casamento?

 

-- Será que você não desconfia que eu tive motivos para isso? Você mesma achou o recado absurdo, não desconfiou que existisse outra razão? Suzana eu não tive escolha, fui vítima de uma chantagem da Pietra, que apareceu no hotel que eu estava minutos antes do tio César me levar ao casamento.

 

-- Han? Que chantagem? Do que você está falando?

 

-- A Pietra, sabia de um segredo da sua família que eu desconhecia. E usou muito bem dessa informação para impedir nosso casamento.

 

-- Isabela que diabos você está dizendo?!

 

-- Sobre a Vitória não ser filha legítima de seu irmão, e o que vocês fizeram para trazê-la ao Brasil e criá-la.

 

                  Suzana ficou pálida.

 

-- Parece que você não confiava em mim o suficiente pra dividir isso, mas com Pietra você dividiu, isso foi o suficiente para ela me chantagear, ameaçando entregar todo esquema de vocês para o verdadeiro pai da Vitória, o qual ela descobriu a identidade e seu contato nos Estados Unidos.

 

                  Agora Suzana colocava as mãos na cabeça, me fazendo deduzir que a ameaça de Pietra tinha todo fundamento. O clima ainda mais tenso só se acentuou quando o celular de Clara tocou, era Pietra continuando seu monitoramento.

 

-- Oi Pietra. Claro que sim, estou com ela sim. Ela não ligou pra ninguém, não saímos do hotel Pietra. Ficaremos aqui até você achar segura nossa volta. Tudo bem, até mais.

 

-- O que foi isso? – Suzana indagou perplexa.

 

 

-- Essa é a segunda parte da chantagem, Pietra convocou Clara para ser meu cão de guarda, me mandou para Fortaleza, ordenando que eu só voltasse quando você já estivesse convencida da quão vagabunda eu era e o quanto ela te amava... Parece que ela conseguiu rápido não é?

 

                  Suzana levantou-se nervosa, andando de um lado para outro, e Virginia continuou o relato do drama que nos cercava:

 

-- Essa novela não acaba aí Suzana, descobrimos que Pietra é portadora de uma espécie de esquizofrenia e na adolescência esteve internada para tratamento, ela tem uma filha, procuramos meus tios, e eles estão aqui no Rio, junto com a filha dela, para dar entrada num processo de interdição, obrigando-a a se tratar. Quando você me viu fuçando o celular dela, eu buscava na agenda o nome de algum médico que pudesse ser seu psiquiatra.

 

-- O diagnóstico é paranóia. E eu conheço o médico que acompanha seu caso. Dr. Carlos Massa. – Suzana comentou.

 

-- O que? Espera aí Suzana, você sabia disso? Você não pareceu surpresa com o relato de Virginia, você sabia disso, sabia, portanto, o risco que ela representava, e nunca fez nada? – Retruquei indignada.

                  Notando o mal estar instalado, Olivia sugeriu:

 

-- Gente, que tal um café? Vamos para a cozinha, deixar Isa e Suzana conversarem com calma.

 

-- Vou encontrar a Ana no hotel, vamos contatar esse psiquiatra, agilizar as coisas. – Comunicou Virginia.

 

                  Na sala, a sós com Suzana, eu me dividia entre o sentimento de apreensão pela circunstância e revolta pela condescendência de Suzana diante de Pietra todo esse tempo. Procurei os olhos de Suzana, que agora inspiravam uma grande incógnita sobre seus segredos e condutas.

 

-- Acho que não é sou eu a dar explicações aqui não é Suzana?

 

-- Isabela, você devia ter me falado... Avisado...

 

-- A Pietra está louca, fora de controle, ameaçou com um telefonema destruir a felicidade da sua família, arriscando a guarda da Vitória, sem contar na implicação legal disso, vocês poderiam ser presos!O que você faria? Pietra me acompanhou até o aeroporto onde me entregou à Clara, que só depois me revelou que só estava ali para me ajudar, Pietra planejava me entregar a seqüestradores profissionais para me manter calada em um cativeiro!

 

-- Eu não poderia imaginar que ela chegaria a tanto...

 

-- Suzana ela é doente e você sabia disso! Você foi no mínimo irresponsável. Ela deu mostras da obsessão dela, lógico que ela seria capaz de tudo!

 

-- Eu acompanhava o tratamento dela, não poderia supor que ela se descontrolasse assim.

 

-- Acompanhava?

 

-- É Isa, até para me proteger, evitar que ela surtasse...

 

-- E mesmo assim, você revelou um segredo desses a ela, e quanto a mim, que você diz que ama, que se casaria comigo, você escondeu isso.

 

-- Eu escondi isso não por confiar mais na Pietra do que em você. Ela descobriu por acaso, ouvindo uma conversa minha com Vitor, escondi isso de você, por vergonha Isa! Vergonha, receio de você se decepcionar comigo, duvidar do meu caráter, seu julgamento sobre mim já é tão obscuro, cheio de ressalvas, com um fato desses... Certamente seu conceito sobre mim mudaria drasticamente.

 

-- Ah Suzana não acredito... Percebe o que você causou com isso?

 

-- Olha aí Isabela, que EU causei, a culpa sempre é minha não é?

 

                  Arrependi-me imediatamente depois de proferir tal pergunta, especialmente depois da reflexão de Suzana.

 

-- Expressei-me mal Suzana, desculpe-me, quis dizer que se eu soubesse disso antes, pouparia essa chantagem da Pietra, estaria mais preparada quem sabe, mas, ela me pegou de surpresa...

 

-- E agora? O que faremos? – Suzana bateu as mãos nas coxas perguntando.

 

-- Agora, você vai pensar em algo junto conosco para proteger você, seu irmão e Vitória, não tenho dúvidas que Pietra é capaz de cumprir as ameaças.

 

                  Sentamos, nos encaramos como se depuséssemos as armas. Não fugimos do olhar uma da outra. Procurávamos no brilho que se fazia mais uma vez mergulhar no amor que nos unia, Suzana baixou os olhos e disse quase como um cochicho:

 

-- Eu te chamei de...

 

-- Shi...

 

                  Coloquei meus dedos sobre os lábios de Suzana, calando-a, deixando as lágrimas escorrerem por minha face.

 

-- Você não podia imaginar o que tinha acontecido...

 

-- Mas, eu... Eu te bati Isa!

 

-- Eu acho que no seu lugar faria pior... Puxaria seus cabelos também... Beliscaria seu bumbum e com certeza um peteleco na orelha e sairia correndo.

 

                  Sorri, arrancando um sorriso tímido de Suzana.

 

-- Eu quis morrer quando seu tio me disse que você não ia aparecer...

 

                   Suzana perdeu a voz se entregando a um pranto carregado de ressentimento. Meu primeiro impulso foi de abraçá-la, nem as ofensas, nem a agressão tinha mais a menor importância para mim, mas fiquei reticente, não sei exatamente o porquê, mas enxergava uma barreira entre nós que só se quebrou quando com muito esforço para sufocar os soluços Suzana disse:

 

-- O que eu preciso fazer mais pra você vir aqui e me abraçar?

 

                  Não contive o riso:

 

-- Então quer dizer que essas lágrimas aí são puro teatro pra me sensibilizar?

 

                  Soluçando, Suzana acenou em acordo. Abracei-a apertado, acolhendo-a em meu peito, enxuguei suas lágrimas, segurei seu rosto e lhe disse:

 

-- Eu te amo Suh, não há nenhuma limitação, nem comparações que diminuam o que sinto por você, ceder à chantagem de Pietra, foi só mais uma prova do que sou capaz de fazer pra te proteger, te fazer feliz, essa é a minha prioridade meu amor: sua felicidade.

 

                  E nossos olhos se encontraram de novo, agora com o brilho que denunciava nosso verdadeiro sentimento, sem demoras, sem questionamentos, sem reservas, nos entregamos ao encontro de nossos lábios, línguas, mãos, em um beijo inteiro, completo e absoluto, misturado ao sal de nossas lágrimas, nossas bocas saborearam o gosto do fim de um pesadelo, mesmo com a consciência no que ainda enfrentaríamos, mas juntas, como tinha que ser um casal que se amava.

 

-- Ram RAM... – Olívia surgiu na sala interrompendo nosso momento de reconciliação. – Meninas, não tinha a menor dúvida que vocês se entenderiam, mas é que a Virginia ligou, falando algo sobre o pai da Pietra estar vindo pra cá com a Ana, quem diabos é Ana?

 

-- Ah... É a filha da Pietra. – Respondi.

 

-- Nossa, nunca imaginaria uma coisa dessas... E o pai da menina, não tem contato com ela?

 

-- Quando a Ana nasceu sim, mas ele morreu em um acidente quando ela tinha cinco anos, e antes disso, também vivia internado em clínicas de reabilitação, os avós paternos até tentaram entrar com um pedido de guarda compartilhada depois da morte do filho, mas aí, os pais de Pietra, já haviam adotado legalmente a Ana, então, fizeram um acordo. A Ana mantém contato com eles. A última vez que falei com Pietra sobre isso, ela me disse que Ana moraria com os avós paternos quando se formasse, iria fazer o mestrado dela em Haward, os avós moram em Boston atualmente.

 

-- Que novela a vida dessa menina... – Comentou Olivia.

 

                  E quando todos já estavam de volta na sala da casa de Olivia, Suzana agora não largava minha mão por um instante, pouco importando o quanto já estava suada, parecia medo de me perder de novo, Ana e seu avô chegaram trazidos por Virgínia.


-- Gente, conseguimos localizar o psiquiatra da Pietra, marcamos de conversar com ele amanhã, a Ana já constituiu um advogado especialista, indicado por um professor dela, e ele vai conosco explicar a importância do laudo dele nesse momento, tendo em vista que está evidente que minha prima abandonou o tratamento.


-- E depois disso o que acontecerá? – Perguntei.


-- Entramos com um processo, pedindo uma liminar, é o meio mais rápido. Meu professor, que também orienta meu estágio, prometeu intervir para apressar o deferimento do nosso pedido. – Ana respondeu.


-- E até lá? – Suzana indagou.


-- Meu amor, você precisa se assegurar que Pietra não faça contato com o pai da Vitória, nem muito menos faça denúncia a polícia, portanto, ela não pode desconfiar de nada.


-- E vamos ficar separadas de novo?


-- Claro que sim Suh...

 

                  Antes que rolasse um clima romântico entre nós na frente de todos, Virginia interviu, sentou-se entre nós, considerando a presença do tio ali conosco.


-- Suzana, não tem outro jeito. 


-- Sem querer ser chata, melhor você voltar para casa Suzana, Pietra ligou agora pouco comentando desconfiada da visita de Virginia e sua saída em seguida. – Clara informou.


                  E assim, o plano estava armado: tão logo conseguíssemos a autorização judicial para interditar Pietra, seus pais e sua filha se encarregariam de interná-la compulsoriamente se necessário. Eu e Clara permanecemos hospedadas na casa de Olivia sempre com a vigilância de Pietra. Virginia ficou no Rio mais alguns dias, como sua chefe, dei a desculpa de enviá-la para pesquisa na UERJ. Ana permaneceu no Rio, mas o senhor Lourenço, o pai de Pietra, retornou ao interior, se comprometendo a voltar ao chamado da neta.

Fim do capítulo


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Comentários para 24 - CAPÍTULO 24: FUGA:
Lea
Lea

Em: 18/12/2021

Estou até surtando,quanto acontecimentos,ao menos a verdade foi descoberta!!!

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