Capitulo 64
A Última Rosa -- Capítulo 64
Jessica tirou a jaqueta, jogou na cama e, então, tirou os tênis. Entrou no banheiro, sem se preocupar em não fazer barulho. Michelle estava tirando o xampu do cabelo, sua cabeça embaixo da água e seus olhos fechados. A espuma descia por suas costas e quadril.
-- É você Jess?
-- Sim, amor.
Ela virou de costas, pegou o sabonete e começou a ensaboar-se.
-- Já estou terminando.
Jéssica tinha uma visão maravilhosa do seu perfil, ela passava o sabonete pelos seios, na barriga e pelos braços.
-- Não tem pressa, o seu depoimento é só às nove horas.
-- Mesmo assim, não quero me atrasar -- disse, deslizando as mãos sobre seus seios, então escorregaram para a barriga, os quadris e coxas -- Há quanto tempo está aí?
-- O tempo suficiente para admirar a mulher mais linda do mundo.
-- Sabe que é indelicado espionar as pessoas -- disse, fingindo constrangimento.
Jessica riu.
-- Eu não estava espionando, só assistindo.
Michelle olhou-a e mordeu os lábios.
-- E até quando vai ficar só assistindo?
Jessica pensou alguns segundos.
-- Pensei que estivesse preocupada com o horário. Você sabe como termina os nossos banhos juntas.
-- Não se preocupe, não vamos nos atrasar.
-- Então tá -- ela arrancou a camiseta e jogou no chão, tirou as meias, abriu o botão da calça e largou-a, junto com a calcinha -- Depois não diga que não avisei -- ela empurrou a porta do box e entrou debaixo do chuveiro.
-- Não precisamos fazer amor -- disse Michelle, encostada na parede -- Só tomar banho.
Jessica pegou a mão dela e a puxou, de um modo que ambas ficassem debaixo do chuveiro.
-- Sabe de uma coisa? Tenho uma ideia. Vire -- ela pegou o sabonete líquido e despejou um pouco nas mãos -- Vou ensaboar suas costas.
Michelle olhou-a de relance.
-- Desse jeito eu não vou resistir -- sua voz soou melosa.
-- Só as costas -- garantiu, Jessica.
Michelle virou de frente para a parede, encostando as mãos no azulejo, à medida em que Jessica suavemente ensaboava-lhe os ombros, descendo pelas costas.
-- Humm, que delícia, Jess! -- disse enquanto a loira massageava seus ombros com as duas mãos.
-- Estive pensando, amor. Agora que você não precisa mais se esconder, posso voltar a te chamar de Maya, não é mesmo? -- ela indagou acariciando-lhe as costas.
-- Não sei amor...
Jessica percebeu que Michelle ficou tensa.
-- A ideia é que você seja inocentada. O doutor Gerson me garantiu que não teremos nenhuma surpresa.
-- Desculpe, não sei por que estou nervosa. Não estava assim, acho que é a aproximação do horário do depoimento.
-- Talvez porque tudo o que está relacionado à Maicon ainda te cause pavor.
Ela deu de ombros e disse sem muita convicção:
-- Talvez.
Jessica sentiu que Michelle começava a relaxar. Ela desceu as mãos, parando perto do quadril e a virou para olhá-la: estava tão linda com a água escorrendo pelo cabelo.
-- Você esperou tanto por esse momento -- os olhos dela se encontraram com os olhos de Michelle -- Pense em tudo o que você passou desde que foi enganada por ele e sua "melhor amiga". Hoje é o dia da Maya voltar.
--Tenho tanto medo do juiz decidir por também me punir.
Michelle estava mesmo perturbada. Poucas vezes Jéssica a viu tão confusa e vulnerável.
-- Mi, você não vai ser punida. Não há nenhuma possibilidade
Michelle não parecia acreditar. Ela baixou os olhos, mas Jessica a pegou pelo queixo e a forçou a olhar para ela.
-- Ouça. Confie. Você não fez nada de errado.
-- Eu fugi, devia ter ficado e denunciado o Maicon.
Jessica se virou e desligou o chuveiro.
-- Vamos sair daqui -- ela pegou a toalha pendurada do lado de fora e envolveu ao redor dela, então saiu e pegou outra para ela no armário -- Melhora essa carinha. Vamos nos vestir e descer para tomar um café reforçado -- disse puxando-a pela mão -- Você é uma mulher forte que nunca se deixa abalar por nada. Mas como qualquer ser humano, tem o seu momento de vulnerabilidade -- Jessica inclinou-se e beijou-a na boca -- E é nesses momentos que a super Jess entra em ação.
Michelle colocou a mão no rosto dela, carinhosamente. Ela sabia que estava segura a seu lado, e que sempre estaria. Era hora de parar de choramingar e focar na audiência.
-- Desculpa, Jess. Depois de tudo o que você passou, é até vergonhoso eu me acovardar dessa forma.
-- Não sinta-se envergonhada. Você sofreu demais com tudo o que aconteceu, foi uma experiência horrível.
Michelle sorriu levemente.
-- Eu te amo tanto, Jess! -- sussurrou, acariciando-a no pescoço com tanta suavidade que ela quase gritou.
-- Eu também te amo, Maya.
Seus lábios se encontraram de forma tão terna e doce que qualquer resquício de insegurança foi dissolvido, respirações misturadas. Era o tipo de beijo perfeito, com que qualquer mulher sonhava.
Vitória segurou a xícara com ambas as mãos e olhou para Pepe do outro lado da mesa.
-- Você não vai com elas para o centro?
-- Hoje não -- resmungou ele, antes de tomar um gole de café.
A resposta do rapaz deixou a governanta surpresa.
-- Eu hem! Está doente? Tá sempre enrabichado atrás delas!
-- Tenho coisas mais importantes para fazer.
-- Tipo?
-- Tipo, não interessa.
Vitória ouviu a campainha tocar e pousou a xícara na mesa para atender a porta.
-- Que saco! Quem será à essa hora?
A campainha soou novamente, com insistência, como se alguém a apertasse continuamente, de propósito.
-- Já vou, já vou.
A visita parecia irritada com a demora. Vitória destrancou a porta e entreabriu-a com cautela.
-- Bom dia!
-- Bom dia! Desculpa incomodar à essa hora, mas estou um pouco ansioso.
-- Um pouco? -- rebateu a governanta, com um desdém gelado -- O que deseja?
-- Fiquei sabendo que o Pedro está morando nessa casa.
Vitória levantou uma das sobrancelhas.
-- Aqui não mora ninguém com esse nome -- ela disse, convicta.
-- Sou eu -- disse Pepe, se levantando -- Pode deixar Vitória, eu atendo esse homem -- Com a cabeça erguida, ele caminhou até a porta.
A governanta sacudiu os ombros sem entender nada. Depois saiu.
-- O que o senhor faz aqui? -- Pepe perguntou, de forma um pouco agressiva.
De repente, os olhos esverdeados do homem encheram-se de lágrimas.
-- Estou procurando por você há meses.
Pepe recebeu as palavras dele com frieza.
-- Procurando pra que? Para continuar me espancando?
-- Precisamos conversar, filho.
Pepe deu uma risada debochada.
-- Agora eu sou filho? Desde quando?
Jessica e Michelle desceram as escadas praticamente correndo.
-- Eu disse que tomar banho juntas sempre acaba dessa forma.
Michelle deu um soquinho de leve no ombro dela.
-- Ai, mas foi tão gostoso, Jess!
-- Delicioso!
Jessica e Michelle pararam a uns poucos centímetros de Pepe e o homem.
-- Ah, desculpa -- Michelle pediu, sem jeito.
-- Bom dia! -- Jessica olhou para o homem, depois para Pepe -- Seu parente?
-- Meu pai -- ele respondeu, seco.
Jessica e Michelle ficaram muito surpresas e empolgadas.
-- Seu pai! -- exclamaram juntas.
Jessica estendeu a mão para cumprimentá-lo.
-- Sou Jessica, amiga do Pepe.
-- Me chamo Antenor.
Michelle recuou para ele entrar.
-- Entra seu Antenor.
Pepe antecipou-se.
-- Ele já estava de saída.
-- Não, não, não -- disse Michelle, sorrindo -- Nós estamos atrasadas, mas fique à vontade.
-- Pepe, leve o seu pai para tomar um café, conversem, sinta-se em casa senhor Antenor -- disse Jessica, pegando a mão de Michelle, entrelaçando seus dedos nos dela -- Vamos logo, amor. Estamos atrasadas.
Então elas saíram, deixando Pepe com o pai.
-- Elas são... um casal?
Pepe sacudiu a cabeça e olhou para o rosto dele.
-- O que veio fazer aqui? -- ele perguntou, sério.
-- Me dê apenas alguns minutos da sua atenção. Por favor.
Pepe pensou por um instante e depois apontou para o corredor.
-- Vamos até o escritório, mas vou adiantando, o senhor tem apenas cinco minutos.
Jessica afundou o pé no acelerador.
-- Estamos quinze minutos atrasadas -- observou a ruiva sentada ao seu lado.
-- Nada mau, considerando que saímos com meia hora de atraso. O fórum é do outro lado da baía, o que significa que vamos pegar um trânsito bem complicado.
-- Ai meu Deus, o que vamos falar para o doutor Gerson?
-- A verdade, ora!
-- Desculpa, doutor Gerson, mas eu estava muito nervosa e decidimos dar uma trans*dinha, para desestressar. E acabamos perdendo a noção do tempo -- falou Michelle, virando o rosto e sorrindo para os lindos olhos verdes.
-- Vamos chegar a tempo, deixa comigo -- Jessica olhou-a de lado, observando o cabelo ruivo e os traços suaves na pele bronzeada -- Como consegue ficar cada dia mais linda? -- os olhos verdes dançaram risonhos.
-- É o poder da mente sobre o corpo. E a ajuda do pente e do batom, também! -- ela disse, sorrindo -- Preciso estar bem para encontrar o doutor Gerson pela primeira vez. Afinal de contas, quero causar uma boa impressão.
-- Você é perfeita até de pijama, pantufa e cabelo desgrenhado. Falando nisso, vai abandonar a pintura do cabelo?
Michelle pensou um pouco antes de responder:
-- Eu amo o ruivo, mas acho que está na hora de voltar ao castanho natural.
-- Hum, eu amo você com o cabelo loiro, preto, ruivo... de qualquer cor, porém o natural me trará de volta a Maya da escola. A menina para quem todos os dias eu levava uma rosa -- ela parou o carro no semáforo.
Michelle sorriu saudosamente.
-- Então, está decidido! Amanhã a Maya voltará.
Jessica virou-se no banco e roubou-lhe um beijo com sabor de morango.
Pepe observava e sorria cinicamente, da poltrona onde estava sentado.
-- Agora, depois de tanto tempo, o senhor vem me pedir perdão? Não acha que é tarde demais?
-- Nunca é tarde demais para : Se arrepender, pedir perdão, ou para confessar para alguém que o ama -- ele baixou os olhos para o chão, procurando as palavras para expressar o quanto estava arrependido -- Quero corrigir os meus erros, tentar não cometê-los mais.
-- Porque está dizendo isso agora?
-- Não quero morrer sem que saiba que eu te amo, filho.
-- Um dia encontrei a minha mãe chorando de forma tão desesperada que pensei que o mano havia morrido ou havia descoberto uma doença grave. Meu coração foi à boca. Eu perguntei a ela e ela negou.
O choro da mãe era porque o senhor havia descoberto que eu sou homossexual e que ameaçou me matar. Eu disse a ela que era exagero, que o senhor nunca faria isso. Estava enganado. Eu não esperava do senhor um abraço, um, eu te aceito, te acolho, te amo e me orgulho de você, independentemente de qualquer coisa. Não, não. Eu esperava apenas que o senhor se esforçasse em compreender, tolerar e que estava disposto a fazer o melhor que podia.
Antenor permaneceu em silêncio.
-- Lembro-me bem daquela madrugada, destruído, fechei a porta do quarto e esperei o senhor chegar.
-- Eu me arrependo tanto por esse dia.
-- O senhor me agrediu fisicamente, com socos e pauladas na cabeça. Depois, tentou me enforcar -- Pepe falou baixinho, lágrimas quentes rolaram dos olhos -- O que teria acontecido caso não tivesse me trancado no banheiro e chamado a policia?
-- Era tão difícil para mim entender. Meus amigos...
-- Seus amigos conservadores sempre foram muito mais importantes do que eu. Você acha que ser gay é uma ofensa a Deus, uma vergonha, uma aberração ou uma simples opção. Neste nível de ignorância eu acredito que seja inútil tentar argumentar.
-- Eu vim até aqui para mostrar a você que estou disposto a abrir mão de tudo, dos meus "amigos" que ficam escandalizados com a homossexualidade, dos homofóbicos do nosso grupo religioso que desrespeitam e agridem você. Este tipo de gente não me interessa mais, porque quem julga o meu filho por amar pessoas do mesmo sex*, não merece a minha consideração, merece todo o meu desprezo.
-- Porque eu deveria acreditar no seu arrependimento?
-- Eu e a sua mãe sentimos muito a sua falta, o nosso amor por você é infinitamente maior do que a miséria humana que julga, aponta e condena determinadas formas de amar. O mundo pode virar-se contra você, mas nossos braços serão sempre um lugar seguro onde você será bem-vindo do jeitinho que você é.
Pepe atravessou a sala e parou em frente à enorme janela, olhando o oceano lá longe. Havia mágoa, havia desespero, havia dor em seu olhar.
Ele sentiu quando o grande nó começou a se formar em sua garganta, impedindo-o de respirar naturalmente.
-- Eu passei tanta vergonha, tanta humilhação. Sem dinheiro e sem emprego, eu cheguei a passar fome. O senhor faz ideia o que é isso? -- Pepe passou a mão pelo rosto molhado antes de continuar -- Mas, Deus foi bom comigo e me enviou um anjo para me ajudar. Deus também ama os homossexuais, sabia? A Jéssica me aceitou na casa dela, me deu um emprego e uma família de verdade. Essas pessoas que os seus amigos chamam de pecadoras, foram as únicas que me apoiaram em todos os momentos.
Fim do capítulo
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Mille
Em: 04/12/2021
Oi Vandinha
Pepe de frente com o pai, mesmo com tudo que passou nas mãos do pai ele merece deixar as mágoas e perdoar. Deus foi generoso e deu ao Pepe uma segunda família.
É hora da verdade e Maya enterrar a Michelle e ser livre.
Bjus e até o próximo capítulo ótimo final de semana
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NovaAqui
Em: 03/12/2021
Como o Pepe sofreu! Meu Deus!
Agora ele precisa perdoar o pai! Sei que é difícil, mas deixa o ruim para lá! Ele vai ficará mais leve, mais feliz e vai viver sem essa mágoa que deve fazê-lo sofrer!
Chegou a hora da verdade para Michele/Maya
Abraços fraternos procês!
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