Capitulo 6 - Confissão
- Oi. – Helena não conseguia parar de sorrir.
A chef estava se sentindo como uma adolescente sem saber o que fazer diante da pessoa que estava interessada. Não sabia bem como agir, sua cabeça ficava a lembrando dos momentos que passaram juntas e uma voz lá no fundo insistia em lembrar que agora ela estava “livre” para viver o que quisesse.
- Oi. – Martina deu um beijo no rosto da mais velha e sentou próxima a ela. – Fiquei feliz com sua procura, achei que não levaria a sério nossa parceria.
- Mas não era você que já estava se considerando minha arquiteta? – Helena questionou fazendo Martina sorrir.
- No fundo eu sabia que você estava se fazendo de difícil, mas não iria resistir ao meu charme.
Helena deu risada de nervoso.
- Eu realmente gostei do seu trabalho, não teria como escolher outra pessoa.
Martina agradeceu sincera e feliz por ter agradado Helena.
As duas foram interrompidas pela chegada de uma mulher que Helena não conhecia.
- Olá, boa tarde! Com licença?
Martina levantou para receber a mulher, atiçando a curiosidade de Helena. As duas mulheres se cumprimentaram e Helena percebeu que havia intimidade entre elas.
- Helena, essa é Layla Farina, a minha amiga e engenheira com quem trabalho em parceria, como te falei lá no escritório.
No dia anterior, Martina já havia passado todas as informações pertinentes para Layla e também as plantas dos restaurantes e todos os documentos que a engenheira precisava para fazer a parte que lhe cabia na reforma.
Helena se levantou e cumprimentou a mulher. Aparentava ter a mesma idade de Martina e era uma loira que certamente chamava atenção por onde passava.
- Seja bem-vinda e muito prazer, Layla! Fique a vontade!
Logo também chegaram os demais convidados da reunião. Estavam ali, além das três, Bianca, que levou também duas advogadas de seu escritório para auxiliar em todas as questões pertinentes, Bruno e Alexandre, gerente geral e de marketing dos restaurantes.
A reunião teve início com Martina e Layla apresentando os projetos para cada unidade do Caiena, a ideia era manter a identidade do restaurante, mas modernizar e criar uma versão mais jovem e clean aos ambientes. Conversaram também sobre as estratégias de marketing que fariam para aproveitar a reforma.
Como Bianca já havia providenciado toda a documentação, as mulheres assinaram os devidos contratos de prestação de serviços. Helena não deixou de reparar o sorriso de Martina ao assinar aquele documento.
A verdade é que durante toda a reunião as duas mulheres não conseguiam deixar de se olhar, o que não passou despercebido por Bianca, que sorriu pensando no quanto a amiga estava ferrada.
- Bom, meninas, acho que vocês estão dispensadas. - Helena falou direcionada a Martina e Layla. - Agora nós vamos falar das questões trabalhistas que envolvem os funcionários e acho que vocês não se interessam nenhum pouco por isso.
As duas concordaram e se despediram dos demais.
Helena estava observando Martina e não queria que a mulher fosse embora, queria mais um tempo com ela. Então antes que Martina se levantasse, Helena aproveitou a distração de todos enquanto se despediam de Layla e segurou em sua mão.
- Fica para jantar comigo? – Perguntou sussurrando.
Martina sentiu uma adrenalina imediata pelo corpo. Era difícil para ela entender as reações que Helena lhe causava.
- Claro que fico. – Respondeu sorrindo. – Vou tomar um vinho enquanto te aguardo.
Depois que Martina saiu, Helena ficou ansiosa para acabar aquela reunião o quanto antes.
Tudo transcorreu bem, todos os pontos necessários para a reforma foram debatidos e decididos e Helena estava empolgada com tudo, amava seu trabalho e sentia-se realizada ao ver tudo indo tão bem.
- Achei que você iria cavar um buraco no chão e fugir de tão inquieta.
Bianca comentou somente com Helena quando a reunião acabou.
- Essa reunião foi mais longa do eu estava imaginando. – Comentou Helena agoniada.
- A reunião demorou ou isso tudo é ansiedade pra encontrar quem está te esperando lá embaixo? – Bianca perguntou marota.
- Aí como você é abelhuda, Bianca!
Helena reclamou, mas sorriu. Gostava daquele jeito brincalhão da amiga, a deixava mais leve quando estava precisando.
- Bom, eu vou embora já que não quero atrapalhar o jantar romântico.
- Larga de bobeira, Bia. Vamos apenas conversar mais sobre a reforma.
Bianca revirou os olhos para provocar a amiga e se despediu.
Helena não resistiu e passou em seu escritório para conferir se estava arrumada antes de ir ao encontro de Martina. Queria que a mulher a achasse bonita.
Martina estava aguardando enquanto tomava um vinho e sorriu involuntariamente quando viu Helena se aproximando.
- Estava ansiosa pela sua companhia!
- A reunião se estendeu mais do que eu gostaria.
Helena sentou à mesa e as duas se encararam, os olhares falando muito mais do que qualquer palavra já dita, qualquer pessoa em volta delas poderia entender o que estava acontecendo.
- Vamos jantar? – Helena perguntou sem desviar o olhar quando sentiu necessidade de falar algo.
- Claro! Qual a indicação da chef?
- Posso escolher? – Martina confirmou com a cabeça. – Então vou tentar te surpreender!
O jantar foi leve e divertido. Martina era divertida e descontraída sem deixar de ser direta e mostrar o que queria. Helena sentia cada vez mais admiração pelo jeito da mulher, era algo muito diferente de tudo que já experimentou, mesmo que já estivesse muito acostumada a ser cantada por homens e mulheres clientes dos restaurantes, ninguém nunca mexeu com seus sentimentos como Martina vinha fazendo.
- Estava tudo uma delícia, como sempre!
- Que bom que gostou, assim você volta mais vezes. – Helena brincou.
- Olha, parece que eu tenho visita marcada por aqui com muita frequência pelo próximo mês. E tenho certeza que a melhor parte disso vai ser a sua companhia!
Helena sorriu sem jeito, o olhar de Martina ainda a deixava encabulada.
- Helena, eu quero te conhecer de verdade, fora do trabalho, fora dos jantares e toda aquela baboseira. Vamos para outro lugar comigo?
Helena olhou no relógio e viu que ainda era cedo, mas não podia. Ainda precisava reunir a equipe em cada restaurantes e passar todas as informações necessárias e precisava fazer aquilo naquele dia, já que a reforma já iniciaria no dia seguinte.
- Hoje eu não posso. – Falou já esperando o olhar decepcionado de Martina. – Mas nós teremos muito tempo para isso nos próximos dias.
Martina realmente ficou chateada pelo declínio, mas gostou do que ouviu, Helena não parecia mais estar a recusando.
- Tudo bem, eu compreendo! Inclusive, amanhã preciso que me acompanhe em algumas lojas, temos muita coisa para resolver e nosso tempo é curto!
Helena suspirou, sabia que de fato tinham muito trabalho pela frente e pouco tempo para tudo ficar pronto.
- Você é mesmo louca de aceitar fazer essa reforma em tão pouco tempo e em dose tripla ainda.
- Tudo para ver o seu sorriso, Helena! – Martina alcançou a mão de Helena sobre a mesa e acariciou.
Helena gostou do carinho, mas tinha receio por seus funcionários que poderiam fazer comentários desnecessários.
- Eu preciso resolver algumas coisas ainda hoje, Martina. Você se importa? - Falou se esquivando do carinho que recebia.
- Não, não me importo! Vou tomar uma última taça de vinho e irei para casa descansar, afinal, amanhã começa a empreitada.
Helena sorriu e se levantou.
- Fique à vontade, é tudo por conta da casa! – Helena piscou marota e se distanciou, deixando uma Martina sorrindo e boba ali sentada.
Martina ficou um tempo ainda por ali e fez questão de pagar a conta antes de ir embora, mesmo com a oferta de Helena.
As duas mulheres estavam se sentindo ansiosas com aquela aproximação, tinham urgência em estar perto, em conhecer mais uma a outra.
Helena fez questão de reunir e conversar com todos os funcionários das três unidades do restaurante. Todos receberam férias coletivas no período da reforma, o que os deixou felizes também.
A noite foi longa para ela, que ainda precisou esvaziar seu escritório e levar para casa todos os documentos e arquivos que guardava ali, já que seu escritório seria demolido para ser reconstruído. O projeto daquela unidade incluía fazer um sobrado nos fundos do restaurante, onde ficaria o escritório de Helena e a sala de reuniões. Assim o salão ganharia um pouco mais de espaço.
Na manhã de terça-feira, Helena sentia uma mistura de ansiedade e apreensão, tanto pela reforma do restaurante quanto pelo tempo que passaria ao lado de Martina. Tinha certeza que passar tanto tempo ao lado da mulher tornaria ainda mais difícil de evitar tudo que estava sentindo desde que Martina apareceu em sua vida.
Os sentimentos de Helena estavam muito confusos. Sabia que só tivera coragem de propor a mudança em seu casamento por causa de Martina e tudo que sentia apenas ao pensar na mulher, mas ainda tinha medo de deixar tudo aquilo aflorar, nunca havia se sentido dessa forma e tinha medo das consequências.
No café da manhã em família, Helena contou as novidades para a família, deixando todos felizes por ela, já que todos ali sabiam da paixão de Helena pelo que fazia. Naquele dia, Valentin não estava se sentindo muito bem e Helena resolveu que o filho não iria para a escola.
- Mamãe, posso ir passar o dia com você hoje? – Valentin perguntou quando a mãe disse que precisa ir embora.
- Filho, a mamãe vai passar o dia na correria entre as unidades do restaurante, lojas de material de construção, resolvendo problemas. – Helena respondeu, já que jamais se importaria de levar o menino com ela, mas ficou preocupada com sua saúde.
- Por favor, mamãe, eu já tomei remédio.
Helena ponderou, mas sabia que o filho ficava mais dengoso quando estava doente e decidiu leva-lo. Daria um jeito de deixa-lo confortável em sua sala no restaurante, enquanto resolvia suas coisas.
Os dois se despediram de Renato e Clara e partiram rumo ao Caiena.
Helena chegou e percebeu que já estava começando a movimentação dentro do restaurante, logo, presumiu que Martina e Layla já estavam por ali e foram recebidas por Bruno.
- Bom dia a todos! – Falou assim que entrou e viu que já tinha uma equipe trabalhando por ali para retirar todos os móveis.
- Bom dia, Helena! A Martina e a Layla estão aqui e já começaram a passar o trabalho para a equipe delas, enquanto o pessoal recolhe os móveis. – Bruno falou se aproximando da patroa. – Olá, Tintin, como você está?
- Oi, Bruno. Eu não tô muito bem, mas já vou ficar. – O menino falou, fazendo a mãe sorrir.
- Que bom! Estou animada para ver tudo acontecendo! – Helena falou. – Filho, quer ir lá para o meu escritório ver TV? Pode ir lá!
O menino gostou da ideia e saiu de perto da mãe, que continuou conversando com Bruno sobre a reforma.
Valentin entrou no escritório da mãe, que já estava praticamente vazio, mas ainda tinha o sofá e a TV, e se deparou com uma mulher que ele não conhecia.
- Oi.
O menino falou e deu um leve susto em Martina, que havia entrado ali para analisar o que tinha que ser feito e acabou se perdendo em pensamentos pensando na dona daquele escritório.
- Oi. – Martina olhou para o garoto e na hora percebeu que deveria ser o filho de Helena, já que parecia sua cópia numa versão infantil e de cabelos curtos. – Você é o Valentin?
O menino olhou com uma cara estranha por ela saber seu nome, o que a fez segurar o riso.
- Sim, e você é quem?
Martina deu risada do menino tão desconfiado.
- Martina! Eu sou a arquiteta aqui do restaurante, pode ficar tranquilo que sua mãe sabe que estou aqui, mocinho.
- Seu nome é legal! – O menino falou ao se sentir mais confortável.
- O seu também, é nome de menino que gosta de esportes radicais, acertei? – Martina gostava de criança e queria se dar bem com o filho de Helena.
- Ah, eu só sei andar de patins mesmo, mas eu gosto de assistir esportes radicais.
Martina contou para o menino que também adorava andar de patins e que sabia surfar e andar de skate, o que deixou o menino eufórico, inclusive, pedindo que Martina o ensinasse os dois esportes.
Os dois engataram uma conversa animada e Valentin estava adorando. Martina prometeu que o ensinaria a surfar e andar de skate, o que o deixou radiante.
Enquanto isso, Helena ainda conversava com Bruno e Layla. A engenheira deixou Helena a par de tudo que estavam fazendo ali, assim que os móveis fossem retirados, o pessoal começaria a parte de demolição de algumas paredes e divisórias.
Bruno se despediu, pois precisava ir até as outras unidades para acompanhar a retirada dos móveis. Helena também pretendia passar em cada uma das unidades para acompanhar tudo, mas antes precisava acompanhar Martina em outras questões.
- Onde está Martina? – Perguntou a Layla, pois ainda não tinha visto a arquiteta, mesmo sabendo que ela já estava por ali.
- Acredito que esteja lá nos fundos passando algumas instruções ao pessoal. - Layla já havia notado desde o dia anterior o clima que envolvia Helena e Martina.
Helena resolveu ir até lá, mas antes passar em seu escritório para ver se o filho estava bem acomodado.
Não pode evitar a surpresa ao entrar e deparar-se com Valentin e Martina sentados lado a lado no sofá totalmente concentrados no que passava na televisão. Helena sorriu com a cena inusitada.
Martina notou a chegada de Helena e levantou sorridente.
- Vejo que vocês já se conheceram, está tudo bem por aqui?
- Mãe, a Martina é muito irada! – Valentin falou arrancando risadas das duas. – Ela sabe andar de patins, de skate e sabe surfar!
- Não sabia desses talentos. – Helena olhou para Martina que deu de ombros sorrindo.
- Eu gosto de praticar exercícios variados para sair do tédio.
- Sabe do que mais, mãe? – Helena notou que o filho estava muito empolgado. – Ela prometeu que vai me ensinar a surfar e andar de skate também.
- Ah, foi? Ela prometeu? – Helena encarou Martina novamente, que piscou marota.
- Sim, mãe! Não é muito legal?
- Sim, filho, eu também acho muito legal. Agora a mamãe precisa resolver umas coisas com a Martina. Você fica aqui e se precisar de alguma coisa me chama, tá?
- Tá bom, mamãe. Mas só mais uma coisa... – O menino falou antes que as duas saíssem da sala. – Martina, será que no sábado a gente pode ir no parque para você me ensinar a andar de skate?
Martina riu, estava adorando aquilo e se divertindo com as caras de Helena.
- Eu vou adorar, cara, mas você precisa pedir para sua mãe, né!
- Ah, mãe, mas você deixa, não é? Você também pode ir com a gente!
- Eu também posso ir? Mas que honra! – Helena falou dando risada. – Depois nós vemos isso com mais calma, Tintin. Agora a mamãe tem muita coisa para fazer.
As duas saíram da sala deixando o menino empolgado enquanto assistia vídeos de esportes radicais na televisão.
- Então você já conquistou meu filho?
Helena perguntou.
- É aquele negócio do meu charme natural que já te falei. – Martina brincou fazendo Helena sorrir. – Ele é um garoto muito legal, gostei dele!
- Nem preciso dizer que ele também gostou de você, né? Já virou seu fã de carteirinha. – Helena revirou os olhos divertida. – Mas, enfim, vamos trabalhar que o dia vai ser longo!
Martina assentiu com a cabeça e chamou Helena para ir até a sala de reuniões que ficava nos fundos do restaurante. Ali, mostrou toda a parte que seria demolida, onde ficava até então a sala de reunião. Aquele espaço se tornaria a dispensa do restaurante e assim a cozinha seria ampliada também. Em cima da dispensa, seria construído um segundo andar que contaria com a sala de reuniões e o escritório de Helena, além de uma pequena sala de arquivo, para deixar ainda mais organizado.
Helena encarava Martina admirada enquanto ela explicava tudo com tanta segurança e fluidez. Cada detalhe e cada movimento de Martina estava sendo observado por Helena, que sequer percebia seu olhar de encantamento.
- E então, o que me diz? – Martina perguntou ao terminar de passar todas as informações para Helena.
- Linda! – Helena falou sem perceber, referindo-se a Martina. – Lindo! Quero dizer, tenho certeza que tudo vai ficar lindo! – Consertou sem graça.
Martina sorriu, pois percebeu.
- Pode ter certeza que vai ficar tudo lindo. – Martina aproveitou que percebeu Helena envolvida para se aproximar e afastar uma mecha de cabelo de seu rosto. – Como eu te disse ontem, vou dar o meu melhor para que fique perfeito, para ver o sorriso mais lindo do mundo!
- Martina, a gente tem muita coisa para fazer ainda... – Helena falou insegura, mas não queria realmente se afastar.
Martina suspirou, mas não se afastou. Fazia um leve carinho na nunca de Helena, que estava apoiada na mesa de reunião.
- Helena, até quando você vai fugir? – Martina perguntou e aproveitando que sentiu Helena mais vulnerável, iniciou um leve roçar dos lábios pelo rosto da mulher.
Helena sentia todo o seu corpo pedir por ainda mais contato com Martina. Suas mãos já estavam instintivamente abraçando a cintura de Martina e seu coração batia disparado.
- Eu não quero mais fugir. – Helena confessou. – Eu quero você, Martina!
Martina sentiu uma corrente elétrica passar pelo corpo ao ouvir aquilo. Não estava de fato esperando por essa confissão de Helena.
As duas mulheres se encararam sem precisar dizer mais nada, tudo estava no olhar e no desejo que as envolvia.
Helena fechou os olhos ao sentir o carinho de Martina em seu rosto. As duas estavam tão próximas que já sentiam o hálito uma da outra, até que ouviram uma voz no fundo gritando.
- Mãaaae!
Fim do capítulo
Olá, meninas!
Peço desculpas pelo atraso na postagem do capítulo, que deveria ter saído na quinta, mas tive alguns imprevistos e não consegui postar. Prometo tentar não repetir rs
O capítulo de amanhã será postado normalmente!
É isso. Espero que gostem.
Até logo!
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]