Helena e Martina se afastaram de imediato e se olharam segurando o riso quando o menino finalmente apareceu.

- Nossa, mãe, você não estava me ouvindo? – Perguntou irritado.

- Desculpa, Tintin, eu estava distraída. – Comentou fazendo Martina revirar os olhos e sorrir. – O que houve, filho? Precisa de alguma coisa?

Martina observou Helena abraçar o filho, preocupada com o adolescente. Até aquele gesto de carinho de Helena a deixou admirada, sentiu um afeto instantâneo.

- Minha barriga voltou a doer bastante, mãe.

Helena conferiu e percebeu que o filho estava febril novamente. Teria que levar o menino ao médico e adiar os planos com Martina, mesmo tendo muitas coisas para resolver.

- Sua febre voltou, nós vamos ao médico, tudo bem? – O menino assentiu com a cabeça, sentindo mal. – Martina, você se incomoda se nos encontrarmos mais tarde?

- De jeito nenhum, Helena. Se for preciso deixamos para amanhã e eu vou tocando por aqui! – Martina a assegurou. – Por favor, vá cuidar dele, afinal, ele precisa estar ótimo para as aulas de skate no sábado.

Helena encarou Martina, que piscou marota. Estava adorando aquela possível aproximação com Valentin, tudo que trouxesse Helena mais para perto era o que Martina desejava.

- Até sábado eu já estou ótimo, tenho certeza! – Valentin logo falou.

- Depois a gente conversa melhor sobre essa ideia de vocês dois. – Helena encarou Martina que sorria. – A gente se fala mais tarde, tá?

Martina jogou um beijo no ar e observou os dois se afastarem. Estava encantada com Helena e tudo que estava acontecendo e agora tinha a certeza que as coisas ficariam ainda melhores. Não conseguia tirar da cabeça Helena falando que não iria mais fugir. Sentia seu corpo vibrar só de pensar nas palavras e na proximidade que estavam minutos antes.

Helena também não estava muito diferente. No carro com o filho, apesar da preocupação com o garoto, ainda sentia seu corpo reagir ao que estava prestes a acontecer. Estava sentindo um desejo que até então era desconhecido.

- Mãe, a Martina é bem legal, né? Nossa, ela me mostrou um canal no Youtube muito irado!

Helena deu risada da empolgação do filho com Martina.

 - Que bom que você gostou dela, filho. Ela é muito legal mesmo.

O menino foi durante todo o trajeto contando dos vídeos que assistiu, fazendo planos para o fim de semana, que incluíam Martina.

A ida ao médico demorou mais do que Helena esperava, pois demorou para Valentin ser atendido e realizar todos os exames que foram solicitados pelo médico. Para alívio de Helena, o menino estava apenas com uma gastroenterite leve e precisa apenas de repouso e tomar devidamente alguns remédios. Quando finalmente saíram do hospital, Helena e Valentin estavam cansados e com fome, então Helena decidiu ir para casa com o filho, que também não poderia comer qualquer coisa, então pensou em fazer uma sopa para o garoto.

- Filho, toma um banho e fica no quarto descansando, daqui a pouco eu subo com uma sopinha e seus remédios.

Enquanto Helena preparava a comida para o filho, ouviu o toque do celular indicando que recebeu uma mensagem. Era Martina perguntando se estava tudo bem e pedindo notícias de Valentin. Helena achou fofo, como mãe era essencial que quem estivesse perto dela gostasse de seus filhos. Respondeu que estava tudo bem, mas não voltaria ao restaurante mais naquele dia, ficaria em casa cuidando do garoto e falou que no dia seguinte, sem falta, as duas se encontrariam.

“Até amanhã! Temos muitos assuntos para resolver!!”

Helena sorriu ao ler aquela mensagem, pois entendeu a mensagem subliminar de Martina, que não estava falando apenas de trabalho.

O resto do dia Helena passou em casa acompanhando de perto o filho. Com os remédios que o médico passou, a febre havia ido embora e não voltou mais, para alívio de Helena.

A noite, quando Renato chegou em casa, Helena contou sobre o dia para o marido e o deixou a par da situação do filho. Renato se prontificou a trabalhar de casa nos dias seguintes para acompanhar a melhora de Valentin e para que assim Helena pudesse estar presente no restaurante e resolver todas as questões que envolviam a reforma. 

- Eu acertei em te indicar a Martina para o projeto da reforma, né? – Renato comentou enquanto jantavam sozinhos.

Helena ficou branca sem perceber, foi pega totalmente de surpresa.

- Sim, ela é ótima! Muito perspicaz nas ideias, conseguiu captar exatamente o que eu estava buscando.

- Que bom, amor! Qualquer dia eu dou uma passada para ver como estão indo as coisas.

Helena engoliu em seco e mudou de assunto, a última coisa que queria era falar sobre qualquer coisa que envolvesse Martina com o marido. Sabia que deveria ser sincera para que aquela ideia de casamento aberto não estragasse seu relacionamento com Renato, mas nada tinha acontecido entre as duas ainda, então achou que não era a hora de tocar no assunto.

Martina passou boa parte do dia monitorando a reforma e demandando para que tudo fosse se encaminhando perfeitamente. Com certeza o fato de serem três reformas paralelas estava tomando muito mais o seu tempo do que o normal, mas fazia tudo com alegria, primeiro, por amar seu trabalho e, depois, pois sabia da alegria de Helena com aquilo tudo.

Nos dias seguintes, as duas praticamente não desgrudaram mais, entre as unidades do Caiena e lojas de materiais de construção, decoração e afins, as duas passaram os dias juntas e apesar de estar sendo tudo muito corrido, as duas estavam felizes e o sentimento que as envolvia estava aumentando cada vez, a cada conversa divertida durante os almoços, a cada risada de alguma besteira dita, a cada olhar direto trocado entre elas.

A semana foi cansativa para as duas e para Helena ainda mais, pois também teve uma semana difícil em casa com a doença de Valentin. Acabava não dormindo bem, preocupada com o filho, acordando mais cedo para deixar prontas as comidas que o garoto precisa se alimentar e tudo isso não a deixava relaxar.   

Na sexta-feira a tarde, as duas estavam numa loja de tintas. Martina dera a ideia de manter mudar um pouco o tom das cores do restaurante, sem prejudicar a identidade visual e Helena achou que seria uma boa.

- Olha esse, Helena. – Martina mostrou indicando uma cor que havia se interessado. – Acho que respeita a identidade visual do restaurante, mas é uma cor mais moderna, que está em alta, é mais jovem.

Helena muitas vezes se perdia em pensamentos ao observar Martina.

- Helena? – Martina chamou ao notar que a outra parecia não ter lhe escutado. – Você está mesmo cansada, né?

Helena sorriu, não estava “no mundo da lua” por conta de cansaço, seus pensamentos eram outros.

- Desculpa, eu estava com a cabeça longe. – Falou sem maiores detalhes. – Mas esta cor está linda nesse tom, concordo com você. Será que podemos levar essa também para testar?

- Sim, claro. Vou solicitar o galão pequeno desse tom também!

- Então já temos as possíveis cores para todos os ambientes, só falta o escritório, certo?

Martina fez uma cara de sapeca que não passou despercebida por Helena.

- O escritório vai ser surpresa!

- Isso não estava no nosso contrato, senhorita. – Helena brincou.

- Depois eu me acerto com sua advogada, dona Helena.

Martina deu risada da cara feia de Helena. Nesses dias em que estava passando muito tempo ao seu lado, acabou conhecendo e se aproximando um pouco de Bianca, que aparecia sempre por lá para ver a amiga. As três almoçaram juntas naquela semana e Bianca e Martina se deram muito bem.

- Agora sua meta é fazer todos a minha volta se apaixonarem por você ou estou enganada?

Martina se aproximou sutilmente de Helena, sem esquecer que ainda estavam no corredor da loja.

- Na verdade, eu só quero que uma pessoa se apaixone por mim! – E deu um beijo rápido no rosto de Helena. – Vou fazer o pedido para a gente ir, já está ficando tarde.

Helena sorriu, sentia-se cada dia mais envolvida e gostava de como as coisas estavam sendo leves entre as duas. Foi atrás da morena, pois já estava mesmo para anoitecer e Helena estava sentindo o cansaço chegar.

As duas estavam no carro de Martina, Helena havia deixado o seu no restaurante.

- Finalmente essa semana acabou, foi bem puxada. – Helena comentou já no carro.

- Você está cansada, né? – Helena fez que sim.

Martina não queria deixar Helena ir embora, queria passar mais algum tempo ao lado da mulher para fechar a semana que havia sido tão gostosa.

- Cansada e com fome. – Helena comentou e acabou dando uma ideia inusitada para Martina.

- Então hoje seu jantar é por minha conta! – Martina respondeu.

Helena deu risada, imaginando que Martina estava aprontando alguma coisa.

- Você vai cozinhar para mim? – Helena questionou e ouviu Martina gargalhar.

- Eu jamais me atreveria, é capaz de você me bater. – Martina brincou, pois não tinha muitos talentos culinários. – Espera só um minutinho que já vai ver.

Helena concordou e se distraiu por alguns minutos mexendo no celular. Quando voltou sua atenção, não acreditou no lugar que Martina estava entrando.

- Martina? Mc Donald’s? – Helena perguntou gargalhando. – Esse é o seu jantar para mim?

Martina deu risada também.

- Vai dizer que a renomada chef de cozinha Helena de Camões não come besteira nunca?

- Sim, claro que sim, mas não estava esperando por isso.

- Meus planos hoje são diferentes... – Martina falou com ar misterioso.

Helena continuou observando Martina fazendo os pedidos, mas foi interrompida pelo toque de seu celular. No visor apareceu o nome de Clara.

- Alô, filha?

- Oi, mãe, tudo bem? Você já vem para casa? – Helena escutou a menina perguntar.

- Tudo bem, filha. E aí em casa está tudo bem? Como está seu irmão?

- Ele e o pai estão na sala, deitaram para ver um filme, mas dormiram. Mãe, eu posso dormir na casa da minha amiga?

Helena se acalmou ao saber que o filho estava bem e Clara não estava precisando de nada também. Encheu a filha de perguntas até se certificar de que estaria tudo bem se a menina fosse para a casa da amiga e acabou aceitando, assim se sentiria até mais tranquila para estar ali com Martina, já que não teria ninguém a sua espera em casa.

- Está tudo bem? – Martina perguntou assim que Helena finalizou a ligação, ela já havia retirado o pedido e seguiam caminho. – O Valentin está bem?

- Sim, está tudo bem, Valentin está com o pai, mas já está bem melhor. Clara vai passar a noite na casa de alguma amiga, que eu sinceramente não faço ideia de qual delas seja nesse momento.

- Então posso entender que você é toda minha essa noite?

- Não sei, ainda não sei nem para onde estou sendo levada. – Helena comentou ao notar que não reconhecia aquele caminho.

No fim das contas, Martina seguiu caminho para seu apartamento. Costumava passar mais tempo na casa do pai, para estar próxima dele e da irmã, mas gostava de ter seu cantinho próprio.

As duas subiram e “jantaram” em clima de flertes e descontração à beira da piscina da cobertura de Martina.

- Esse apartamento é lindo, mas não tinha como esperar nada diferente vindo de você, né!? – Helena comentou.

- Eu amo estar perto do meu pai e minha irmã, mas aqui é meu refúgio, é o lugar onde me sinto mais em paz no mundo, ainda mais com essa vista. – Martina comentou. – Mas eu não te trouxe aqui só para mostrar meu apartamento, tem um motivo a mais.

Helena observou que Martina começou a se despir e não estava entendendo nada, mas não pode evitar que seus olhos percorressem o corpo da mulher a sua frente ao vê-la somente de lingerie.

De repente, sem falar mais nada, Martina mergulhou na piscina, deixando uma Helena sem reação e boquiaberta.

- Essa piscina quentinha nessa vista linda é tudo que você precisa para relaxar, eu tenho certeza! – Martina falou sorrindo. – Vem nadar comigo?

Helena pensou naquele convite quase irrecusável. A mulher estava ainda mais linda naquele momento.

- Eu não trouxe biquini!

- Eu não estou usando biquini. – Martina respondeu. – Vem, Helena, a água está uma delícia!

Helena ponderou e deu-se por vencida. Não tinha nada a perder mesmo, já estava ali e todo o seu corpo pedia por Martina.

Mesmo envergonhada, Helena tirou o macacão que usava e Martina suspirou com a visão do corpo seminu de Helena.

Helena mergulhou e nadou até a borda da piscina ao encontro de Martina. Tomada por uma coragem que nem sabia de onde viera, Helena emergiu na frente de Martina e se aproximou.

- A vista aqui é mesmo linda! – Helena brincou se referindo a Martina.

Helena sentiu as mãos de Martina em sua cintura debaixo da água, a aproximando ainda mais até colarem os corpos.

Os olhares não se atreviam a desviar um do outro, pareciam estar envoltas numa redoma de desejo.

- Helena, eu quero você desde a primeira noite em que te vi!

Helena sorriu aos escutar aquelas palavras, mas a verdade é que sentia seu corpo em chamas, então surpreendeu Martina e suavemente findou a distância entre elas, dando início ao beijo que tanto desejavam.

O beijo começou lento e suave, como se estivessem se conhecendo naquele ato, mas os corpos pediam mais. Martina viu sua sanidade ir embora ao sentir as mãos de Helena arranhando sua nuca e segurando forte em seu cabelo, pedindo por mais. Suas mãos percorriam o corpo de Helena, reconhecendo cada pedaço, fazendo a mulher suspirar com cada toque.

Ofegantes, as duas se afastaram levemente. Martina manteve-se de olhos fechados, tentando acalmar as sensações que percorriam seu corpo naquele momento.

Helena sentia seu corpo implorar pelo toque de Martina, precisava sentir todas as sensações, precisava matar a vontade e o desejo que gritavam dentro de si. Então tomada pelo tesão que consumia todo seu corpo, fez um pedido.

- Faz amor comigo, Martina?

Fim do capítulo