CAPÍTULO 16: VOCÊ ME FAZ, ME FAZ TÃO BEM
Lucas chegou ao quarto para realizar uma avaliação mais precisa e só com a presença dele voltei à minha função de neurologista, ajudando no exame.
-- Isabela os reflexos tendinosos profundos estão preservados.
-- Mas ela não consegue falar Lucas, acha que atingiu a fala?
-- Acho que não, acredito que isso se deu por alguma lesão na traquéia na entubação, vou pedir a avaliação de um otorrinolaringologista.
Suzana ainda se esforçava para falar.
-- Meu amor poupe sua energia, você ouviu o que o doutor Lucas falou? Neurologicamente você está bem.
Suzana piscou os olhos como se confirmasse a sua compreensão.
-- O Vitor está aqui fora, daqui a pouco peço que o chamem. Você vai ficar bem meu amor, e eu estou aqui do seu lado!
Em minutos Lucas voltou com o otorrino de confiança dele.
-- A lesão é temporária, com fonoterapia ela recuperará a voz.
A notícia nos aliviou. Vitor chegou completando o ambiente de acolhida e felicidade com a melhora no estado de Suzana. Quando ficamos a sós, Suzana me pediu papel e caneta e perguntou-me:
-- “O que aconteceu comigo?”
-- Você teve complicações na cirurgia, ficou em coma por oito dias. Mas, agora você está bem, sem seqüelas, sua afonia é temporária.
-- “O que aconteceu conosco?”
Sorri, segurei sua mão e respondi:
-- Aconteceu que tem muitas pessoas tentando nos separar, mas eu não vou mais permitir. Você foi envenenada contra mim pela Pietra, mas eu não estava com a Clara quando brigamos, não do jeito que Pietra te fez acreditar que eu estava.
--“E a foto de vocês duas se beijando?”
-- Era antiga, eu omiti que namorei pouco mais de um mês com a Clara, Pietra se aproveitou disso para distorcer tudo. Não viajei com Clara, o avô de Camila, que era como um avô para mim faleceu um dia depois que brigamos, não tive como te procurar, mas estava decidida a te procurar logo depois que Lívia e Tia Silvia voltassem para Valença.
--“Procurar-me para que?”
-- Pra dizer que te amo que acredito no nosso amor, que não me importa essa aposta ridícula que vocês fizeram, contei sobre nós a Tia Sílvia e Lívia que não apoiaram, mas, respeitaram.
--“Diz de novo”
-- Dizer o que?
Sorri para Suzana.
--“Diz”.
-- Te amo.
Cinco dias depois Suzana recebeu alta. Pedi alguns dias de licença do hospital para cuidar dela em casa. Vitor voltou para o Rio, e arrastou Pietra com ele. Virginia propositalmente emendou vários plantões a fim de me deixar mais à vontade com Suzana, ou para evitar nos ver juntas, nos poucos momentos que esteve comigo deteve-se a me atualizar sobre o andamento das pesquisas.
Não deixava Suzana dar um passo sem que eu estivesse ao seu lado. Mesmo sem voz, Suzana me falava com seus olhos, suas mãos, seus gestos. Envolvi-a de carinho, mimos, nos banhos, nas refeições, repetindo a todo instante o quanto a amava. Papel e caneta estava sempre ao seu alcance para conversarmos.
--“Sinto-me ridícula por ter confiado na Pietra”.
-- Não se culpe meu amor, eu não deveria ter te escondido que namorei a Clara, por medo de você entender errado aquela noite que te encontrei no apartamento dela.
-- “E Virginia?”
Empalideci.
-- O que tem a Virginia?
-- “Está me escondendo algo?”
Não respondi de imediato, procurando as melhores palavras para descrever o que aconteceu entre mim e Virginia.
-- Virginia é uma amiga especial, nós tivemos...
O telefone tocou interrompendo minha confissão.
-- Olivia? Oi amiga! Que surpresa! Como você está?
-- Estou bem amiga, e estou aqui pertinho de você.
-- Sério? Onde?
-- Em Campinas mulher! Vim ministrar um seminário na UNICAMP.
-- Vem ficar aqui em casa não é?
-- Ai amiga, estou na casa do Bernardo. E já estou sabendo que vocês dois estão brigados, eu tinha mesmo que vir pra colocar juízo na cabeça de vocês dois!
-- Você só terá trabalho com ele, juízo não me falta. Mas, não te perdôo se você não vier aqui em casa, não posso sair, estou com uma paciente especial na minha cama, não podemos sair.
-- Estou sabendo. À noite apareço aí, vou dar uma passada no Hospital das Clínicas a pedido do Bernardo para avaliar um paciente dele.
-- Ah ótimo, então você vem com a Virginia, ela está no meu carro, vou pedir para ela te procurar, jantamos juntas.
-- Suzana está podendo cozinhar?
-- Não né!
-- Ai meu Deus vamos jantar pipoca?
Ouvi a gargalhada de Lili do outro lada da linha. Assim marcamos nosso jantarzinho que obviamente seria encomendado.
Convencida de que podia fugir da pergunta de Suzana a respeito de minha relação com Virginia me antecipei nos preparativos para o jantar. À noite, esperávamos Virginia e Olivia na sala, sentadas no sofá, abraçadas, afaguei os cabelos de Suzana que recostou sua cabeça no meu colo, aquele clima harmonioso entre nós me enchia de certeza acerca de nossa felicidade juntas. Suzana pegou seu celular e digitou:
-- “Seus braços são meu lugar mais feliz e seguro”
-- Então você está segura e feliz para sempre meu amor.
Suzana sorriu e acionou a playlist do seu celular e tocou para mim:
Quando eu me perco é quando eu te encontro
Quando eu me solto, seus olhos me vêem
Quando eu me iludo é quando eu te esqueço
Quando eu te tenho, eu me sinto tão bem
Você me fez sentir de novo
O que eu já não me importava mais
Você me faz tão bem
Você me faz, você me faz tão bem
Quando eu te invado de silêncio
Você conforta a minha dor com atenção
E quando eu durmo no seu colo
Você me faz sentir de novo o que eu já não sentia mais
Você me faz tão bem
Você me faz, você me faz tão bem
Você me faz, você me faz tão bem
Você me faz, você me faz tão bem
Não tenha medo
Não tenha medo desse amor
Não faz sentido
Não faz sentido não mudar esse amor
(Você me faz tão bem – Detonautas)
Escutar esse tipo de música no celular de Suzana parecia fora do contexto de nossa relação. Nossa trilha sempre foi regida pelas divas da MPB, especialmente Ana Carolina, entretanto, aquele som pop se transformou em pura poesia para meus ouvidos, beijei Suzana com a intensidade não recomendada para uma pessoa recém saída de um coma. No entanto, ela me correspondeu com a mesma paixão avassaladora e antes que aquele beijo se tornasse o prenúncio da entrega de nossos corpos fomos interrompidas:
-- Ow ow, acho que chegamos em péssima hora Virginia. Você já deu alta para Suzana te beijar assim Isa?
Separamo-nos tímidas ao ouvir a voz de Olívia que nos sorria acompanhada de Virginia que estava obviamente incomodada com a cena.
-- Li! Que saudade! Que bom que chegaram! Só assim pra te ver nessa casa heim Virginia! Nem parece que mora aqui.
Abracei Olivia estranhando o silêncio de Virginia que logo pediu licença para tomar banho.
-- E você Suzana? Está se recuperando bem suponho.
Suzana apenas sorriu confirmando com a cabeça. Conversamos amenidades até a hora que servi o jantar. Incomodei-me com o desconcerto de Virginia que nem de longe lembrava aquela menina esfuziante e falante que conquistava a todos com sua simpatia. Suzana sem voz conseguia ser mais comunicativa do que ela. Aproveitei o momento da sobremesa para sondar o que se passava com ela:
-- Virginia você me ajudar com a sobremesa?
Na cozinha cochichei:
-- Ok agora você vai me dizer o que está acontecendo com você.
-- Do que você está falando Isabela?
-- Do que estou falando? Você há dias não aparece em casa, evita me olhar nos olhos, não abriu a boca a não ser pra comer, essa pessoa que está na minha frente não é você!
-- Isabela você está delirando, só estou tentando não incomodar vocês, por isso tento ficar imperceptível na sua casa, estou sobrando aqui, já arranjei uma quitinete para alugar, próxima semana me mudo.
-- Pra que essa pressa? Você não ia esperar acabar o contrato do apartamento dos meninos para dividir um maior com eles no prédio perto do hospital?
-- É, mas ainda faltam três meses e estou abusando da sua hospitalidade, você e Suzana precisam de privacidade.
-- Onde é essa quitinete? É mobiliada?
-- É um pouco afastada do centro, a cozinha é mobiliada, é suficiente para mim.
-- Você vai ter pegar duas conduções para chegar ao hospital, ficar sem conforto pra que? Essa casa é enorme, não há necessidade de você sair daqui Virginia, para com essa história de se mudar daqui, você não incomoda, foi minha companhia por meses e não é porque estou com Suzana que vou deixar minha amiga na mão.
-- Isa não...
-- Não discuta! Não quero te lembrar que sou sua chefe e mando em você!
Brinquei apertando suas bochechas. Virginia não parecia convencida, mas não relutou. A noite seguiu e a custa de muito vinho, Virginia se soltou, e a conversa entre ela e Olivia não tinha fim, tanto que eu e Suzana nos detivemos a observar a química entre as duas apesar da defesa acalorada de cada uma acerca de questões polêmicas na medicina.
Ficou tarde, e achei mais prudente que Olivia dormisse conosco. Preparei outro quarto de hóspedes para minha amiga que estava animadíssima com o efeito do vinho. Voltei para meu quarto depois de acomodá-la e para minha surpresa, encontrei Suzana trajando apenas uma lingerie sensual, nos seus olhos o desejo óbvio que despertou em mim a atitude nada profissional de confirmar sua alta médica e assim pormos um fim à saudade de nossos corpos.
-- Su... Não faz assim que não resisto...
Suzana se aproximou roçando seu nariz pelo meu pescoço e colo como se me mostrasse que não tinha a menor intenção de me fazer resistir aos seus encantos sensuais. Colou seu corpo no meu enquanto me despia lentamente.
-- Su... Você ainda não pode...
Minhas palavras não condiziam com as reações do meu corpo. Abri espaço para os lábios de Suzana alcançar meu pescoço, nuca, ombros. Ao toque de sua boca minha pele se eriçava, e nossa entrega era irreversível. Com cuidado caminhamos até a cama, e ali permiti que Suzana explorasse cada centímetro da minha pele, me derramando em sua boca, fundindo nossos corpos e almas. Mãos, dedos, lábios, língua, pele, calor, beijos, toques, tudo sincronizado com nosso prazer, a leitura dos nossos desejos traduzida na excitação abundante que emanava dos nossos sex*s e o gozo enfim coroando nossa entrega.
Repousei sobre o colo de Suzana ouvindo seu coração bater acelerado, com a plena sensação de termos conseguido o impossível: parar o tempo. Pois sim, o tempo parou, não existia mais passado, nem tampouco preocupação com o futuro, éramos apenas nós duas naquele quarto, naquela cama, no mundo! E quando tudo estava mais do que perfeito, Suzana me surpreendeu: desvencilhou-se do meu abraço, caminhou até sua bolsa depositada na poltrona, e pela primeira vez desde que despertou do coma, sua voz que tanto mexia comigo, ainda rouca encheu o quarto com uma pergunta:
-- Isabela Bittencourt quer ser minha mulher para sempre?
Em suas mãos, uma aliança, não estava guardada em uma caixa de jóias, estava solitária em sua mão.
-- Eu guardei minha aliança do nosso noivado – Pausou não sei se por falha ou embargo na voz. – E a sua que você arremessou ao chão quando rompeu comigo, eu... – Suzana abriu a outra mão e a expôs para mim. – Recolhi na esperança que um dia ela voltasse para a mão de onde nunca devia ter saído. E então minha Bela? Casa comigo?
Fim do capítulo
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LeticiaFed
Em: 28/11/2021
Suzana sendo muito fofa e romântica...♥?
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