Olá meus amores, tudo bem com vocês?
Bom, primeiramente, peço desculpas pelo meu hiato. Eu falei que ia viajar num final de semana e acabei viajando no outro também e aí, só pensei em descansar o corpo e a mente esses dias todos.
Mas voltamos a programação normal.
Sobre o capítulo...
Tem cena descrevendo uma situação de violência sexual (a vítima conta a situação para alguém). Se quiserem pular a cena, podem ir para o meio/final do capítulo.
Ademais, segue música que embala um momento fofíneo entre as protagonistas...
All I Do - Kirk Whallum & Windy Morten.
https://www.youtube.com/watch?v=b5BZssyXW0Y
Capítulo 11 – All I Do Is Think About You.
Adormecer nos braços de Aretha foi a melhor sensação da minha vida. Ainda fiquei ali, completamente absorta pelo momento mais incrível que já vivi. Ela ressonava parecendo estar em um sono tranquilo. Aproveitei e saí dali, muito relutante em deixar aqueles braços, mas as necessidades fisiológicas falavam mais alto.
Depositei um beijo em sua face. Sorrindo feito uma boba caminhei até o banheiro. Depois, fui até a cozinha ver algo na despensa. Queria preparar algo para nós, mas o jeito seria pedir por delivery. Nessa loucura toda, esqueci de avisar meu pai e corri olhar meu celular. Várias chamadas dele e até de Bárbara. Assim como de Marvin. Provavelmente ele estava atrás de Aretha. Liguei primeiro pro moreno.
-- Marvin?
-- Oi, Diana. Você sabe da Aretha? Estamos loucos atrás dela.
-- Ela está comigo.
-- Nossa! Fico mais tranquilo. Falei com Ivan e ele disse que ela foi atrás de você. Como liguei nos dois celulares e nenhuma atendia fiquei desesperado.
-- Calma. Ela está dormindo. Hoje, ela se assustou com uns rapazes que estavam fazendo festa no salão aqui. Dois deles a assediaram.
-- Meu Deus! E como ela reagiu?
-- Ela estava em choque. A trouxe para o apartamento, ela deitou e pediu para que eu ficasse com ela. Parece que ela se acalmou.
-- Eu soube do que aconteceu. O porteiro ligou para o meu pai e desde então, estávamos atrás dela. Ele chegou a ir até aí, tocou, mas acho que você não ouviu.
-- Se nem ouvimos o celular...
-- E meu pai não subiu, pois sabemos que você está morando aí. Por isso ficamos loucos atrás dela.
-- Tranquilize o seu pai. Se quiser, quando ela acordar, peço pra ela ligar para vocês.
-- Valeu, Didi.
-- Por nada, Marvin.
Desliguei o telefone com ele e já me preparando pra encarar a fera chamada Teodoro Moretti. E a fera estava virada no cão.
-- Diana Moretti, onde você se meteu? - Meu pai estava irado.
-- Paizinho...
-- Não venha com "paizinho" que não cola. Quero saber o motivo do seu sumiço. Já viu que horas são?
-- Não, pai. Eu estou no apartamento da Aretha. Acabei dormindo aqui com ela...
-- Sem os detalhes sórdidos, eu não mereço.
-- Pai! Nada do que o senhor está pensando.
-- Mas eu fui até o apartamento e interfonaram e ninguém atendeu. Ainda dei de cara com uma pessoa indesejável.
-- Quem?
-- Ninguém importante. Deixa pra lá. Agora estou tranquilo.
-- Desculpa mais uma vez.
-- Ligue pra Babi. Ela está preocupada contigo.
-- Liga o senhor. Não tenho nada pra falar com ela.
-- Filha... Não fale assim. Ela mudou muito.
-- Não acredito nessa mudança repentina dela.
-- Não é tão repentina assim. Como você saberia, se nem convive com ela.
-- Tá, pai. Eu ligo pra ela.
-- Assim que eu gosto. Minhas filhas unidas.
-- Não exagera e deixa eu ligar pra ela logo.
-- Beijos, filha.
-- Beijos, pai. Ah! Provavelmente ficarei no apê hoje. Amanhã volto pra casa.
Desliguei o telefone com ele e liguei pra Bárbara.
-- Oi, Bárbara. - Falei meio reticente.
-- Didi! Nossa! Você está bem? Eu e papai... - Parecia mesmo preocupada comigo.
-- Ele me disse. Estou ligando pra te tranquilizar.
-- Que bom. Olha, eu não falei nada contra você pro papai dessa vez. Sei que é responsável e, se sumiu, teve seus motivos. - Alguém tem certeza que é a Bárbara do outro lado da linha?
-- Só tirei um cochilo no apartamento da Aretha. Eu... - De repente, ouvi gritos vindo do quarto. Me desesperei e finalizei a ligação com Bárbara. - Babi, preciso desligar.
-- Ouvi gritos. Tudo bem por aí?
-- É a Aretha. Preciso mesmo desligar... - E não é que Bárbara desligou o telefone na minha cara?
Larguei tudo e corri para o quarto. Aretha se debatia na cama e gritava desesperada. Pulei na cama e tentei acordá-la. Quando ela, enfim, acordou, deu um grito e passou a chorar. Estava toda suada e eu a abracei de imediato sentindo seu desespero. Tentei confortá-la, mas eu não esperava ouvir o que ela me disse.
-- Ei! Foi um pesadelo. Já passou. - Falei com a voz suave.
-- Foi tão real... Não passou... Nunca vai passar. - Ela estava desesperada.
-- Aretha... Foi só um pesadelo.
-- Eles tentaram... - Voltou a chorar em meus braços.
-- Mas não conseguiram. Foi um sonho ruim.
-- Eles conseguiram, Diana! - Ela gritou e depois emendou - Eu tinha 13 anos. Esse tempo eu não ficava tanto aqui em Anchieta e veio um circo mambembe pra cá. Ficaram por volta de três meses mais ou menos. Fiz amizade com três crianças: dois meninos e uma menina. Sabe essas paixonites infantis?
-- Sei sim... - Respondi e, silenciosamente, a encorajei para que continuasse o relato.
-- Eu desenvolvi por uma das meninas e foi minha primeira paixão. Ela nunca soube. Só um dos meninos.
-- Foi ele que... - Nem consegui terminar a frase. Lágrimas desciam por meu rosto.
-- Não... Se não fosse por ele, eu estaria morta. - Ela disse olhando o nada e continuou - Ele me defendeu das pessoas que... Me violentaram. Ele está paraplégico devido ao tiro que levou pra me defender. Foi assim que ameaçaram matar meu irmão e meu pai.
-- E quem... - Novamente as palavras travaram na garganta.
-- Um homem que frequentava a minha casa e o filho dele. Na verdade, esse cara me torturou psicologicamente, quem me violentou mesmo foi o filho dele.
-- Meu Deus! - estava em choque com tudo o que ela dizia e só piorou com o que ela dizia.
-- Era uma noite como outra qualquer. Estava em casa com o filho desse amigo do meu pai. Marvin estava no circo e eu disse que não queria ir naquele dia. Meu pai estava em uma reunião... - Ela abaixou os olhos para continuar a falar - Estava no banho e o menino entrou em meu quarto. Quando saí do banho, ele estava lá, me esperando com uma cara sádica e fazendo movimentos obscenos. Foi muito rápido... Ele me imobilizou, eu gritei por socorro e aí o pai dele chegou... Pensei que eu estaria salva. Ledo engano... Ele apontou uma arma pra mim e disse que mataria todo mundo se eu não me calasse.
-- Aretha, não precisa continuar... - Falei a abraçando ainda mais.
-- Eu já estava a um tempo que não sei precisar... Sendo abusada. Não sei se foram minutos ou horas... Mas o Beto chegou e... Atiraram nele! O acusaram de ter me violentado, o caso se espalhou, atearam fogo no circo, os expulsaram daqui...
-- Mas como o Beto foi acusado se o Marvin estava no circo com ele?
-- Ele não estava. Soube depois que, quando Marvin contou à ele que eu não iria ao circo, ele foi em casa pra me convencer de ir até lá. Soube também que ele se apaixonara por mim.
-- Nossa! - Ouvia tudo horrorizada.
-- Foi horrível... Meu pai só desconfiou que tinha algo errado quando eu insisti para que ele custeasse tudo pro Beto. Hospital, tratamentos... Aí meu pai foi conversar com ele e ele falou o que viu. Acabei sendo encurralada por ele e confessei a verdade e mais as ameaças. Abriu-se um novo inquérito quanto a isso.
-- Foram condenados?
-- Você já viu milionários sendo presos e condenados no Brasil?
-- Realmente... Difícil. Mas então, O que aconteceu?
-- Aquele velho asqueroso está entrevado numa cadeira de rodas. Sofreu um derrame gravíssimo quando teve a prisão decretada no mesmo dia que o filho foi brutalmente assassinado. Foi pego violando mais uma menina inocente.
-- Eu nem sei o que te dizer. Agora entendo o seu ódio por turistas, a proteção do Marvin contigo...
-- Ele, por muito tempo, se sentiu culpado pelo ocorrido. Dizia que, se estivesse em casa, nada teria acontecido. E eu... Desde aquela época eu faço terapia. Cheguei a ter uma crise severa de depressão.
-- Eu não me recordo de nada daquela época. Acho que, por você ser um pouco mais velha que eu e, pelo ocorrido ser fortíssimo, meu pai não deixou que chegasse aos meus ouvidos e os de Bárbara também.
-- Eu tive medo de te contar e você me rejeitar.
-- Eu nunca faria uma coisa dessas. Eu não vou te deixar. - Disse olhando nos olhos dela.
A abracei novamente e perguntei o que ela gostaria de comer. Ela respondeu que estava sem fome. Só queria deitar em meu colo e receber carinhos. E assim fizemos. Ela deitou em meu colo e eu passei a mexer em seus cabelos. Não demorou para ela dormir novamente.
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De repente, fui acordada por Aretha que me abraçava com força. Caía uma garoa fina lá fora, percebi pelos pingos caindo na janela de vidro.
-- Chuvinha boa essa pra ficar agarradinha na cama.
-- E pra fazer amor também. - Disse completamente sem graça. - Desculpa.
-- Você tem razão. - Ela me disse e subiu em meu corpo. - Faz amor comigo?
-- O que? Tem certeza?
-- Não posso deixar que aqueles monstros continuem dominando a minha vida. Me botando medo. Eu nunca tive vontade de fazer sex* com ninguém, mas desde que te conheci... E depois de hoje, me sinto mais livre por ter desabafado e te contado tudo.
-- Aretha, eu quero muito poder te amar, mas não quero forçar uma barra. É normal você sentir seus medos, as suas inseguranças... Melhor não forçarmos.
-- Eu sei o que eu quero e, no momento, é você.
-- Eu também te quero muito, mas é melhor deixarmos pra um outro momento. Eu vou acabar me sentindo mal se acontecer justamente hoje, depois do susto que você levou e por reviver tudo o que passou me contando o que te aconteceu na adolescência.
-- É melhor eu ir embora então.
-- Quer que eu te acompanhe em casa?
-- Não precisa, vai ser bom eu ir sozinha e você estava voltando pra casa do seu pai, tem muito o que resolver com ele.
-- Tudo bem. Me liga quando chegar em casa, tá?
-- Eu ligo.
Chegamos á sala e nos abraçamos forte. Beijei seu pescoço de leve e a apertei em meus braços. Percebi que ela ficara chateada com a minha recusa em amá-la nesse momento, mas era o melhor a ser feito.
Na portaria do prédio, nos despedimos com um aperto de mão significativo e fomos cada uma para um lado.
Depois de um tempo, cheguei ao haras. Papai me recebeu surpreso.
-- Filha! Não disse que passaria a noite no apartamento da Aretha?
-- Achei melhor não. Vou para o quarto tomar um banho e descansar, tá?
-- Ligou para a Babi?
-- Liguei e ela desligou o telefone na minha cara. Enfim, depois eu falo com ela.
Fui para o quarto, deixei as coisas num canto e fui tomar banho. Um tempo depois, saí de lá com meu pijama e deitei. Olhei o celular e nada da Aretha. Liguei pra ela e chamou até cair a ligação. Pelo tempo, creio que já esteja em casa e deve ter ido descansar. Amanhã falo com ela.
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Passaram três dias desde o ocorrido no apê e eu não tive notícias de Aretha, eu ligava e ela não me atendia. Sempre tocava até cair e passei a ficar desesperada mais uma vez com o sumiço dela. Primeiro foi por ciúme da Lizy, agora por que será?
Liguei mais uma vez e Marvin atendeu. Disse que Aretha queria um tempo sozinha. Mesmo eu não gostando, acatei o desejo dela e disse para ele informar á ela que quando quisesse falar comigo ou me ver, que me procurasse.
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Depois de sete dias, estava em um dos fornecedores do haras em Rio das Águas e esbarrei em Marvin na rua.
-- Oi Marvin!
-- Diana! Quanto tempo.
-- Sim. Sua irmã está bem?
-- Bom ter tocado no assunto, quero trocar uma ideia contigo sobre ela.
-- Podemos ir para algum lugar, eu já terminei o que vim fazer aqui.
-- Tem uma lanchonete há duas quadras daqui, nos encontramos lá.
Nos despedimos e fomos até a tal lanchonete, cada um em seu veículo.
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-- Diana, eu sei que minha irmã te contou sobre o que aconteceu com ela na adolescência dela e eu acho que você também deve ter estranhado o sumiço dela. - Ele iniciou a conversa.
-- Sim, tivemos uma conversa difícil, onde ela me revelou a atrocidade que rolou com ela e o Beto, né? Esse o nome do rapaz?
-- Sim. Hoje ele mora em outro estado e tem tudo custeado por meu pai. - Ele fez uma pausa e continuou em seguida - Por tudo o que aconteceu, a Aretha tem uma certa dificuldade em processar as coisas, demonstrar sentimentos e a insegurança dela chega a gritar.
-- Foi por isso que ela não me procurou?
-- Sim. Ela me contou que ela quis... Enfim, você sabe do que eu tô falando.
-- Sim.
-- Então. Aí na cabeça dela, ela pensou que você a estava rejeitando. Mesmo eu falando que não foi o que aconteceu.
-- E não foi mesmo. Eu respeitei o momento dela e naquele momento não era o ideal. Eu me sentiria muito mal se acontecesse, sabe. As emoções dela estavam muito vivas ainda, ela não ia relaxar e ia acabar ficando uma situação muito constrangedora.
-- Compreendo, mas na cabeça dela não é bem assim que funciona. Bom, o que eu queria te pedir é pra ter um pouco de paciência com ela. Ela vai agir dessa maneira sempre que se sentir "ameaçada" por algo. Tipo ciúme, insegurança, essas coisas.
-- Agora que eu sei de tudo, fica mais fácil de entender e compreender as atitudes dela.
-- Obrigada, Didi. Minha irmã gosta muito de você e eu sei que você também gosta muito dela. Por isso tô falando essas coisas pra você.
-- Eu também te agradeço pela força que está nos dando, de verdade.
-- Quero ver minha irmã feliz e há anos que eu não via a luz nos olhos dela, passei a ver depois que ela te conheceu.
-- No que depender de mim, ela será muito feliz.
Nos despedimos com um abraço e eu voltei para Anchieta.
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Dois dias após meu encontro com Marvin e, com tanta coisa acumulada pra resolver do haras, que eu mal prestei atenção em meu celular com mensagens ou notificações nas redes sociais. Quando tive um tempinho, vi que tinha uma da Aretha, me chamando para ir até o apê mais tarde. Meu coração disparou e se encheu de alegria com a notificação e é claro que separei a melhor roupa para encontrar a minha deusa ruiva.
E lá estava eu, indo em direção ao apê dela depois de mais de uma semana sem vê-la ou ouvir a sua voz.
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O porteiro interfonou e eu fiquei mais nervosa ainda quando ele disse que eu poderia subir. Quando cheguei á porta, ouvi um som suave tocar dentro e toquei a campainha. Ela demorou alguns segundos que pareceram uma eternidade para atender, mas quando o fez, deu o seu melhor sorriso e eu sorri de volta.
-- Vem, entra. - Me falou com a voz suave.
Entramos no apê, que estava com a sala a meia-luz. Paramos no centro dela e nos abraçamos forte. Em seguida, depois de nos olharmos intensamente, ela tomou a iniciativa e nos beijamos apaixonadamente. Tanto tempo sem tocar seus lábios que eu quase me esqueço como ela começa a beijar tão lentamente, capaz de roubar toda a minha sanidade com tamanha lentidão. Sua língua passou por entre meus lábios e possuiu minha boca com tamanha perfeição que não consegui esconder um gemido e ela sorriu entre nossos lábios.
Aí, começou a tocar a música All I Do do Stevie Wonder, mas na voz de Kirk Whallum & Windy Morten e ela passou a cantar olhando em meus olhos.
You made my soul a burning fire
You're getting to be my one desire
You're getting to be all that matters to me
And let me tell you girl, I hope and pray each day I live
A little more love I'll have to give
A little more love that's devoted and true
'Cause all I do is think about you
All I do
Oh baby
Is think about you
I think about you baby
All I do
Mmm
Is think about you
Quando terminou esse primeiro trecho, ela me abraçou e disse em meu ouvido.
-- Diana, acho que te amo.
-- Eu não acho... Tenho certeza que te amo, Aretha. - Respondi sussurrando.
Nos olhamos novamente, aquele olhar cheio de promessas e nos beijamos intensamente.
Fim do capítulo
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