"DIGA PRA MIM QUE É REAL

Que eu te prometo meu melhor"[1]  

            A viagem de Palmas à Santiago durou quase dez horas entre o tempo de voo e de espera em Brasília. Chegaram ao Aeroporto Internacional Comodoro Arturo Merino Benítez no início da noite. Após passarem pela imigração, pegaram o carro do receptivo e foram para o hotel que ficava situado no bairro de Las Condes. 

            As meninas estavam exaustas e famintas e tudo o que precisavam era de um bom banho, um jantar saboroso e uma cama quentinha para uma noite de sono reparador. Pediram o jantar no quarto e enquanto esperavam, tomaram um banho quentinho.

            - Mô, hoje eu vou desmaiar. Estou tão cansada que a estou quase desistindo de jantar.

            - Minha vida, hoje eu deixo você descansar. Só hoje, viu? - Falou enquanto beijava as costas da mulher que enxugava os cabelos. - Mas, você não vai dormir sem comer.

            Colocaram o pijama de flanela e escutaram um toque na porta. Era o jantar. Fizeram uma refeição leve e dormiram agarradinhas. Marília deitou quase em cima da esposa com a cabeça encaixada em seu pescoço. Ela amava sentir aquele cheiro gostoso que lhe trazia paz.

            Acordaram com a energia renovada. Tomaram banho e colocaram roupas de frio, pois era fim do outono e as temperaturas estavam caindo muito e ficaram deslumbradas com a vista magnifica que tinham da vidraça da suíte.

            Amanda era perita em montar os roteiros das viagens que faziam e Marília confiava na esposa, pois sabia que ela se dedicava a escolher as melhores atrações disponíveis. No Chile, a médica optou por passeios culturais e românticos, e, pesar de gostar de aventuras e esportes mais radicais, não esquiariam pois não haveria neve suficiente naquela época do ano e a pista de esqui ainda estaria fechada.

            Desceram para o restaurante do hotel e tomaram um café reforçado. O roteiro se iniciaria pelo centro histórico da cidade. Iriam de metrô até a região central e fariam o restante do passeio programado para o turno da manhã a pé. Visitariam a Plaza de Armas e os atrativos que lá havia, visitariam museus e prédios históricos, o Palacio de La Moneda e o Cerro Santa Lucía. No período da tarde iriam ao Cerro San Cristóban e encerrariam o dia visitando La Chascona, a casa de Pablo Neruda, que agora é um museu repleto de objetos pessoais do poeta, localizada no bairro Bellavista.

            Fizeram uma visita guiada para conhecer a história do lugar que tinha um certo romantismo. Neruda construiu o imóvel para morar com Matilde Urrutia que ele apelidou de La Chascona por causa de sua vasta cabeleira ruiva. E foi lá que, por insistência da mulher, seu corpo foi velado após seu assassinato pela ditadura de Pinochet. Após o passeio cultural, visitaram a loja de lembranças e Marília se encantou por uma gravura que continha uma frase de Neruda: "Nada puede contener todo el sol, en las banderas de la primavera invencible".  Sentaram para tomar um café na cafeteria do próprio museu. Estavam cansadas, mas ainda pretendiam jantar em um restaurante muito conhecido que servia pratos da culinária chilena situado em um shopping próximo ao hotel onde estavam hospedadas.

            - Mô, essa gravura foi a primeira coisa que eu comprei para n-o-s-s-a casa! Ainda não consigo acreditar que quando voltarmos vamos morar na mesma casa, dormir e acordar juntas todos os dias. Parece um sonho bom. Eu estou tão feliz. - Falou enquanto passava os dedos de forma carinhosa na mão da esposa.

            - Minha vida, na primeira vez que te vi apavorada naquele hospital eu quis te colocar no colo e te proteger. Te juro que naquele dia eu sentia que nós teríamos uma história juntas, alguma coisa me puxava e eu não conseguia me afastar. Eu fiquei com você esperando o André, mas eu estava torcendo para o voo dele atrasar muito para eu ter desculpas para ficar mais tempo contigo.

            - André foi nosso cupido. Ele fazia uma propaganda tão grande de ti e você foi muito insistente também. – Falou sem conseguir esconder o sorriso bobo que insistia em permanecer em seu rosto.

            - Eu esperaria o tempo que fosse necessário para viver o que estamos vivendo hoje. 

            A lua de mel das meninas foi muito romântica e com belos cenários. Fizeram um "Wine Day" pelo Valle del Maipo. Visitaram algumas vinícolas com direito a passeio pelos vinhedos, degustaram vinhos direto do barril e almoçaram na varanda apreciando uma linda vista do Valle del Pirque e da cordilheira que já começava a ser pintada de branco pela proximidade do inverno. Depois do passeio romântico, voltaram para Santiago, quase de pileque causado pelas várias degustações que fizeram, para se prepararem para a viagem do dia seguinte. Iriam passar dois dias no Valle Nevado aproveitando o frio trazido pela primeira neve do ano. Se hospedaram em um hotel próximo à estação de ski que ainda não estava aberta para a prática do esporte de inverno, apesar da neve que já aparecia.

            Foram dois dias de muito amorzinho regado a vinhos e fondue em frente à lareira do quarto para enfrentar a temperatura próxima do negativo.

            - Mô, se a gente já não tivesse casado, eu ia te pedir em casamento agora. 

            - E eu ia dizer sim! Eu sempre vou dizer sim para você, para nosso amor e para nossa vida juntas.

            Elas se beijaram e se amaram sobre o tapete à luz do fogo que esquentava o ambiente. No dia seguinte, desceram a cordilheira e seguiram direto para o litoral do Pacífico. A viagem durou um pouco mais de três horas.

            Elas se hospedaram em Viña del Mar e fizeram passeios à vizinha Valparaíso.  Amaram o colorido e a culinária de Viña e os altos e cerros de Valparaíso. Aproveitaram para conhecer outra casa museu de Neruda - La Sebastiana e alguns museus espalhados pela pitoresca cidade. Apesar do frio e do vento forte, admiraram o pôr do sol na praia tomando um cappuccino para ajudar a esquentar.  A viagem de volta à Santiago foi mais rápida e dedicaram o último dia no país para comprar mimos para a família e para os amigos mais chegados.

            Para finalizar a estadia na cidade, passaram em um supermercado e providenciaram alguns itens para fazer um piquenique no Parque Araucano que ficava a uma caminhada de aproximadamente dez minutos do hotel. A paisagem estava sépia devido ao outono que já se despedia e conferia um ar bucólico ao cenário do namorinho de fim de tarde. Encerraram a viagem da mesma forma romântica que passaram toda a lua de mel.

[1] Lisboa. Anavitória e Lenine

Fim do capítulo