CAPÍTULO 12: A LUTA COMEÇA – 1º ROUND: BERNARDO
Apesar de ir ao Rio apenas com a roupa do corpo, voltei de lá com uma bagagem incômoda: a certeza de que eu teria muito que enfrentar para assumir meu namoro com Suzana. Virginia apesar de não estar incumbida dessa missão, tratou de me fazer um relatório do que a semana de exames nos esperava e fez questão de ressaltar:
-- Marquei os exames de Suzana para quinta-feira, assim podemos manter a paciente no final de semana...
Virginia sorriu como mexendo as sombracelhas. Retribui o sorriso timidamente.
-- Obrigada doutora Virginia. E no mais, correu tudo bem por aqui?
-- Aconteceu uma coisinha chata chefinha...
-- Xi... Você com esses diminutivos me assustam...
-- É que sem querer eu disse ao doutor Bernardo que você viajou pro Rio...
-- E ele deve ter subido nas tamancas não é?
-- É... Mais ou menos... Qual o problema do Bernardo com a Suzana?
-- Suzana não foi propriamente uma Bette Potter comigo... Exceto na traição, nisso ela se assemelhou... Foi minha primeira mulher e meu primeiro amor e também minha grande decepção, sofri muito com ela e Bernardo tem receio que eu sofra de novo com ela.
-- Bette Potter? Han?
-- Desculpa, esqueci que você não viveu em The L Word... O fato é que Suzana aprontou feio comigo e Bernardo esteve ao meu lado me ajudando a superar minha tragédia emocional...
-- Entendi... Eu me lembro da Pietra sempre chorando se queixando dos flagrantes que dava na Suzana... Com mulheres diferentes, e minha prima sempre perdoando, mas isso não impediu que Suzana terminasse tudo.
-- Suzana me traiu uma vez, mas a traição teve uma dimensão gigantesca... Não gosto nem de falar nisso...
-- E você a perdoou? Está tudo superado?
-- Virginia isso só vou saber te responder daqui a algum tempo, até eu tomar as rédeas da situação, no momento estou completamente perdida, com uma única certeza: quero Suzana.
-- Já é alguma coisa...
Virginia sem dúvida cada vez mais conquistava minha confiança e se tornava minha cúmplice, se tornara minha companheira em desabafos e parceira na pesquisa, nem parecia ter chegado há pouco mais de dois meses no programa, estava inteirada com todas as etapas da pesquisa, trazia sempre dados novos baseados em outras pesquisas neurológicas, tecendo comentários precisos acerca de intervenções necessárias. Mais do que gostar de sua companhia, estava aprendendo a admirá-la e o fato dela me considerar uma referência me motivava a crescer ainda mais na pesquisa, de alguma forma me identificava com Virginia o que me deixava muito à vontade na sua presença.
Evitei encontros com Bernardo, sabia que precisava enfrentá-lo, mas, temia não conseguir transpor a barreira que ele ergueu diante da volta de Suzana na minha vida, entretanto, para minha surpresa, meu amigo me procurou no final do expediente.
-- Posso entrar?
-- Claro Bê!
Cumprimentei-o com carinho, e ele retribuiu.
-- Tudo bem com você? – Perguntei evitando um clima tenso.
-- Sim, esse final de semana fiz uma festinha lá em casa, comemorando 1 ano de namoro com o Renato, vim te convidar, mas soube que você estava viajando...
-- É... Viajei...
Respondi sem graça, disfarçando minha tensão mexendo nas gavetas da minha mesa.
-- E como foi a visita à mansão de Paola Bracho?
-- Bê... Pára com isso... Se você soubesse o que descobri da Suzana...
-- O que? Ela tem uma irmã gêmea boazinha? A Paulina?
-- Bernardo isso é sério! Suzana usou o dinheiro dela numa obra social incrível, você precisa conhecer! E ela tem uma sobrinha que está ajudando a criar, uma menina linda...
-- Para Isabela! Isso está me dando náuseas... Essa mulher está dando uma de Madre Teresa, de super tia para pagar os pecados dela? O lúpus e os aneurismas mudaram sua personalidade?
-- Bernardo por que você é tão cruel com a Suzana? O que ela te fez?
-- Parece que você está esquecendo o que ela te fez não é? Isso não basta?
-- Bernardo eu não esqueci, mas não posso esquecer também tudo que ela foi pra mim e ignorar como me sinto perto dela!
-- Que tipo de sentimento é esse que faz você agir assim como uma adolescente inconseqüente? Nem parece a mulher madura e bem resolvida que teve o melhor casamento do mundo!
-- Bernardo, de fato Suzana me faz agir impulsivamente, ela desperta minha paixão, tem essa coisa avassaladora, intensa que me liga a ela, mas não é só isso.
-- Ai Isabela não me diga que tudo é uma questão de sex* por que eu te desconheceria!
-- Não claro que não! Não é só físico, o que me atrai para Suzana é maior, mais profundo, tanto que me faz querer estar com ela mesmo depois de tantas feridas que ela causou.
Bernardo levantou-se balançando a cabeça negativamente demonstrando sua indignação com minhas palavras, e eu insisti:
-- Bê eu sei que você está tentando me proteger, tendo cuidado comigo, mas eu preciso do seu apoio, já está sendo tão difícil dar um passo desses, você contra mim deixa tudo pior.
-- Não estou contra você Isa! Estou a favor do seu bem-estar! Não posso compactuar com esse passo para trás que você está dando!
-- Você não acredita que as pessoas aprendem com os erros? Não acha que Suzana possa estar arrependida do que me fez e que possa me fazer feliz como ela já fez?
-- Isa entenda... Suzana não se arrependeu do que fez por que simplesmente ela não acredita que errou... Já te disse uma vez que mulheres como ela não conseguem ser fiéis por muito tempo, está na personalidade dela, seduzir, flertar e uma hora esse apelo vence.
-- Ela foi leal ao sentimento que tem por mim todos esses anos Bê, não casou com ninguém, não teve relacionamentos sérios...
-- Querida isso não é lealdade, é incapacidade de se prender! Acorda Isa! Reconquistar você para ela é como um capricho...
-- Nossa Bernardo... Você fala com uma certeza... Como se conhecesse Suzana melhor do que eu... Você sabe de algo que eu não sei?
Bernardo mais uma vez balançou a cabeça negando:
-- Acho que eu só vejo as coisas de uma maneira mais sensata do que você Isa, não sei nada que você já não devesse saber a muito tempo...
Bernardo fugiu do meu olhar atitude incomum dele.
-- Bernardo o que você está me escondendo?
-- Você quando cisma com alguma coisa... Eu heim! Não estou escondendo nada Isabela!
A reação estranha de meu amigo me deixou com uma pulga atrás da orelha. Bernardo deixou a minha sala depois de me dar um conselho que mais me pareceu um ultimato:
-- Você está avisada Isa... Acho que minha obrigação de amigo eu cumpri. Acredite em mim: pessoas como Suzana não se prendem por muito tempo, eu não vou permitir que ela te faça sofrer de novo, farei qualquer coisa para evitar isso.
As palavras de Bernardo ecoaram na minha cabeça como um mau presságio, mas aquela sensação ruim se dissipou com um simples: “Oi meu amor” de Suzana ao telefone. Bastou a voz dela me chamando de amor para tudo mais se tornar menor.
-- Oi Su! Nossa... Estava pensando em você...
-- Hum... Sério? Pensando coisas boas suponho...
-- Pensando que já estou morrendo de saudades, nem parece que nos vimos há 24 horas.
-- Pois é... Também passei o dia todo pensando em você, mal consegui dormir sozinha na cama.
-- Espero que você tenha suportado a solidão e tenha dormido sozinha!
-- Dormi com você no pensamento meu amor... Ainda está trabalhando?
-- É, mas já estou de saída... Queria tanto te ver agora Su...
-- Quer mesmo?
-- Claro que sim!
-- Então abra a porta do seu consultório.
Não pude acreditar quando corri para a porta e encontrei Suzana ao abri-la. Estava parada no corredor com seu sorriso arrebatador, não me contive e a abracei forte, envolvendo meus braços em seu pescoço.
-- Não acredito que você está aqui...
-- Passei o dia procurando um médico para me substituir na comunidade e peguei o primeiro vôo pra cá...
-- Vamos sair daqui...
Levei Suzana para minha casa, julguei que seria deselegante de minha parte levá-la para um hotel quando ela me acolheu em sua casa no Rio. Mas eu não estava à vontade e lutei para disfarçar. Suzana passeou por minha casa, olhou com certo desconforto as fotos minhas e de Camila espalhadas pela sala.
-- Vou acomodar suas coisas no meu quarto... Depois pedimos alguma coisa para jantar, meu talento para cozinha continua o mesmo Su...
-- Hurrum...
No quarto, inevitavelmente Camila estava presente, em fotos, na decoração, e o olhar de Suzana denunciava sua insatisfação com isso.
-- Você quer tomar um banho antes de jantarmos?
-- Sim, eu gostaria.
Nosso constrangimento era tão óbvio que não ousamos nem aproximação física. Mantive-me na postura de uma educada anfitriã enquanto Suzana parecia uma tímida hóspede.
-- Alguma preferência para o jantar?
-- Qualquer coisa estará perfeita Isa...
Suzana meio sem graça caminhou em minha direção e involuntariamente me esquivei, derrubando um porta-retratos de Camila.
-- Ai que desastrada que sou...
Recolhi o porta-retratos do chão sob o olhar atento de Suzana, o nervosismo inexplicavelmente tomou de conta de mim, sentia como se estivesse sendo acompanhada de perto por Camila. Suzana me abraçou e me beijou suavemente, um beijo morno, cheio de receio. Nervosa, tentei desviar-me dos carinhos de Suzana:
-- Vou ligar para o restaurante chinês Camila.
Minha reação só não foi mais rápida do que a de Suzana que bruscamente se afastou e recolheu sua bolsa.
-- Su desculpe-me, por favor, eu sei que não há perdão... Espera aonde você vai?
Suzana saiu do quarto sem me escutar.
-- Suzana espera!
-- Não Isabela, eu não devia ter vindo pra sua casa. Nessa casa não há espaço para mim.
-- Suzana eu sei que você tem motivos pra estar chateada, foi um vacilo meu, a foto que caiu...
-- Isabela quer saber? Não me admiro de você chamar o nome dela, ela está em toda parte dessa casa, ela ainda está em você... Já fazem quase dois anos da morte dela e você a mantém viva nesse santuário que é sua casa.
-- Era minha casa com Camila, o que você esperava? Que eu jogasse fora todas as lembranças que tenho de minha mulher? Não tenho motivos para isso Suzana, Camila nunca me magoou, só me fez feliz, não quero me desfazer de nada dela.
-- Ao contrário do que fez comigo não é? Jogou no lixo nossas fotos, os presentes que te dei...
-- Você não está querendo se comparar a Camila não é?
-- Se estivesse o que teria de errado nisso?
-- Ah Suzana, por favor... Não faça isso... Não é justo comigo.
-- Não é justo comigo você colocar Camila em um altar, enquanto me equipara a uma sedutora inveterada.
-- Suzana não é bem assim... Mas uma coisa é fato: Camila nunca me magoou e nunca faria o que você fez comigo.
-- Isso você nunca vai saber... Ela não está mais aqui para ter a oportunidade de magoar você, decepcionar você... Será para sempre a santa mulher perfeita, e eu serei para sempre a vaca traidora.
-- Suzana para com isso... Nunca te comparei a Camila, desde que nos reencontramos mal falei dela com você, apesar de sentir que a traio quando estou com você. Você não imagina a confusão interior que enfrentei e enfrento pensando o que Camila pensaria se pudesse me ver hoje com você...
Suzana me olhava furiosa, e eu me sentia indignada por ter que me justificar com ela pelo respeito que tinha a memória de Camila.
-- Certamente ela pensaria que estou me aproveitando de sua vulnerabilidade, de sua ingenuidade com minha sedução e me assombraria o resto da vida até eu te deixar...
-- Pára Suzana! Essa discussão está tomando uma proporção ridícula! Depois de tudo que ouvi de Bernardo hoje não preciso de uma crise de ciúmes infundada de sua parte.
-- Crise de ciúmes? Você está minimizando tudo a ciúmes? O que foi que o presidente do fã clube de Camila te falou? Pelo jeito Camila já arranjou um jeito de me assombrar não é?
-- Chega Suzana! Camila não tem nada com nossa história, não toque no nome dela. Foi um incidente lamentável eu te chamar pelo nome dela, mas não tem sentido você se ofender com isso e fazer essa tempestade.
Suzana caminhou até a porta balançando a cabeça e com os olhos marejados me olhou e disse:
-- Não tenho direito de me ofender... Não posso tocar no nome de Camila... Não posso me comparar a ela... O que mais? Não posso também profanar o templo dela... Nem ter crise de ciúmes... O que posso afinal minha namorada?
-- Su... Você pode fazer comigo o que as namoradas fazem quando estão com saudade...
Aproximei-me de Suzana segurando sua cintura.
-- Estou morrendo de saudades de você... Não vemos perder tempo com discussões bobas... Fica...
Insisti procurando sua boca.
-- Eu fico com uma condição.
-- Eu faço... Qual condição?
-- Guarde as fotos de Camila...
Afastei-me, franzi as sombracelhas e perguntei:
-- Você só pode estar brincando não é?
-- Não, claro que não.
-- Suzana isso não tem graça...
-- Então... Não posso ficar.
Suzana saiu da minha casa pisando forte, com um olhar magoado, mas não a segui. Estava chateada pelo pedido que ela fez, não julgava que ela tivesse o direito de expulsar Camila da minha casa, da minha vida.
Aquela discussão acentuou minhas dúvidas acerca do meu futuro com Suzana, a reação dela à presença de Camila na minha vida seria mais um obstáculo em nosso relacionamento. Depois da saída de Suzana fui tomada por um dilema de pensamentos: as lembranças de meu casamento com Camila e vontade de correr atrás de Suzana e me entender com ela, matando a saudade precoce. Mas, conclui pela experiência que adquiri no meu convívio com Suzana, o mais sensato era deixá-la refletir sozinha, entretanto, a angústia pela falta de notícias dela tirou minha paz, meu sono.
Era quase madrugada quando meu celular tocou, era o número de Suzana:
-- Su onde você está meu bem? – perguntei angustiada.
-- Oi Isabela, sou eu, Clara, estou ligando do celular da Suzana.
-- Clara?! O que você está fazendo com o celular da Suzana?
-- Bem... Ela chegou aqui no Colors, bebeu muito, e passou mal... Peguei o celular dela na intenção de procurar o número de algum parente sei lá... E a última chamada que vi foi a sua... Reconheci o número e resolvi ligar para avisar, ela não está bem.
-- Ai caraca... Ela não pode beber muito, toma medicações muito fortes...
-- Vou levá-la para o loft, você pode pegá-la?
-- Sim chego em poucos minutos, obrigada Clara.
Apressei-me em ir ao encontro de Suzana no loft de Clara, lembrando-me de uma observação constante de Bernardo: “O mundo é um ovo, o mundo gay então, é um ovo de codorna”. Que grande palhaçada do destino... Minhas namoradas mais recentes reunidas em um bar e eu indo buscar uma delas...
Subi direto para o loft de Clara, a própria abriu a porta. O espaço que antes era vazio, quase sem mobília e completamente improvisado, se transformara em um estúdio sofisticado, com decoração futurista, mas sóbria e elegante, expondo inclusive peças de arte moderna.
-- Oi Clara.
-- Olá Isabela, há quanto tempo... Entre, por favor.
-- Você investiu mesmo no seu loft...
-- Eu te disse que faria isso...
-- É, eu lembro.
-- Na verdade, fizemos uma aposta... Eu disse que em seis meses transformaria meu apartamento no espaço mais charmoso que você já viu... Se não conseguisse faria o que você quisesse o contrário você faria o que eu quisesse... Ganhei a aposta.
Ruborizei.
-- É... Ficou mesmo muito charmoso, incrível na verdade. Parabéns.
-- Obrigada eu...
-- Onde está Suzana?
Interrompi-a notando o olhar de desejo de Clara por mim.
-- Está na cama... Ela meio que apagou.
Preocupada com sua saúde, examinei Suzana e logo me tranqüilizei.
-- Ela vomitou?
-- Sim... Muito.
-- Melhor assim... Ela bebeu o quê?
-- Muita Absolut... Ela chegou cedo, com uma bolsa de viagens do lado, sentou no bar e não parou de beber um instante...
Acariciei os cabelos de Suzana, desejando que ela acordasse e me desse aquele sorriso arrebatador me fazia tremer.
-- Eu te procurei algumas vezes Isa depois daquele dia no qual você encontrou a Roberta aqui... Mas você fechou as portas para mim literalmente.
-- Clara... Eu tive motivos para isso... Mas acho que não é o momento de termos essa conversa...
-- Essa conversa terá um momento então doutora?
-- Clara... Eu não acho que tenhamos algo para conversar... Eu vi você com a Roberta dias depois... Além do mais estou com a Suzana...
-- Você está namorando a amante da Vodka?
Sorri.
-- Ela não costuma beber assim... A gente meio que brigou hoje a noite...
-- Ah... Ela devia mesmo estar querendo esquecer você essa noite então...
-- Por que você está dizendo isso?
-- Por que ela não deixou em paz a mulherada solteira do Colors... E pra falar a verdade, nem as acompanhadas escaparam no flerte descarado dela.
Desviei meu olhar de Clara, como se quisesse esconder meu constrangimento com aquelas palavras.
-- Isa você pode não acreditar em mim...Achar que estou secando seu namoro... Mas... Não estou inventando nada, e só estou dizendo por que... Não quero que ninguém te faça de idiota...
-- Como você me fez? Recusando meu convite para passar as festas de fim de ano comigo para ter um “remake” com sua ex?
-- Isa não foi bem assim... Naquele dia que você encontrou a Roberta aqui, não aconteceu nada mesmo! Apenas deixei que ela dormisse aqui... Eu nem dormi aqui no apartamento, passei a maior parte da noite no bar, depois cochilei no sofá do escritório de lá... Depois que você se recusou a conversar comigo, barrou minha entrada no condomínio, eu me cansei de correr atrás de você e...
-- E aí voltou com ela.
-- Mais ou menos... Passamos um tempo juntas de novo, mas acabou... Não deu pra reconstruir nosso relacionamento...
-- Clara eu não sei se consigo acreditar nisso...
-- É um direito seu... Assim como é direito seu não acreditar no que eu disse sobre sua namorada. Mas me sinto na obrigação de te dizer a verdade, ela parece dominar essa arte de paquerar, seduzir, encantar...
-- É ela domina mesmo...
-- Mas... Se te tranqüiliza de alguma forma, ela não ficou com ninguém não... Que chato eu não mentir... Poderia mentir dizendo que ela te traiu, quem sabe assim teria outra chance com você...
Sorri sem graça.
-- Não brinca com isso Clara... Traição é uma chaga na minha alma...
-- Desculpe-me, minha intenção era descontrair...
Clara me encarou deixando evidente seu interesse por mim, ignorando a presença de Suzana ali. Voltei meus olhos para minha namorada fugindo do olhar reluzente de Clara que continuava linda.
-- Preciso levá-la... Nossa ela vai acordar com uma ressaca...
-- Posso saber como você vai levá-la? Você tem uma maca portátil na sua bolsa?
-- Não... – Sorri. – Mas tenho que levá-la... Você precisa da sua cama de volta.
-- Ah não se preocupe, está vendo essa pequena escada? – Apontou para o lado. – Então construí um sobre piso e meu quarto agora é ali... Essa cama aqui ficou meio que para hóspedes... Pode deixá-la aqui, ou ficar com ela se você quiser.
-- Não vamos incomodar?
-- Claro que não... A verdade é que eu gostaria que você dormisse na minha cama comigo, mas...
Minhas bochechas coraram, Clara sorriu e avisou:
-- Vou descer só para fechar o caixa e já subo pra te dar a devida atenção.
-- Obrigada Clara.
Não pude deixar de acompanhar o caminhar de Clara até a porta, pensando no que ela me disse sobre o mal entendido com a sua ex, questionando se ela era mesmo verdadeira ou não. Olhei para Suzana dormindo, e uma enxurrada de indagações se misturou a sentimentos contraditórios de raiva, medo, culpa desconfiança e paixão.
Como prometera, Clara voltou em pouco tempo. Trouxe uma bandeja com petiscos e uma garrafa de vinho.
-- Eu não sei você, mas eu estou faminta! Quer lanchar comigo?
-- Só agora que você falou, lembrei-me que não jantei... Aceito sim.
-- Trouxe vinho, mas se você preferir tenho suco na geladeira.
-- Aceito o vinho mesmo Clara.
Sentamos no balcão da cozinha, e devoramos rapidamente a bandeja de petiscos que ela trouxe do bar, a garrafa de vinho então, essa pareceu evaporar. Havia esquecido como era agradável a companhia de Clara, nem senti o tempo passar. Por muitas vezes escapei pela tangente de cantadas dela, outras vezes o clima foi quebrado por balbucios de Suzana se remexendo na cama.
-- Já é quase manhã Clara, daqui a poucas horas tenho que estar no hospital, acho que vou deitar um pouco...
-- Você vai conseguir espaço na cama? Olha como a Suzana está deitada...
Olhamos ao mesmo tempo e gargalhamos. Suzana estava esparramada na cama transversalmente, impossível deitar ao seu lado.
-- Tem espaço na minha cama... Prometo que me comportarei como uma boa moça.
Clara sorriu fazendo cara de anjo.
-- Agradeço sua gentileza, mas vou dar um jeito de me acomodar perto de Suzana.
-- Já sei... Você teme não saber se comportar perto de uma boa moça como eu não é?
Sorri e caminhei até a cama sentando-me perto de Suzana tentando afastá-la. Consegui me acomodar num pequeno espaço, mas o intuito de cochilar algumas horas não foi alcançado. Os acontecimentos da noite não permitiram que o sono me desse o descanso necessário. Levantei-me e andei pelo apartamento e para minha surpresa, Clara também estava acordada, sentada na varanda.
-- Insônia? – Perguntei.
-- Meus hábitos de sono são estranhos, por causa do bar, mesmo quando fechamos cedo eu não consigo dormir cedo... E hoje em especial, saber que você está aqui tão perto de mim, na cama da minha sala com outra mulher, não contribuiu muito para meu sono...
Fiquei tímida e por pouco não dei dois passos atrás para fugir do flerte de Clara.
-- Senta aqui, pelo jeito você também está sem sono...
Com receio aceitei o convite, Clara segurava uma taça de vinho, pelo jeito estava acabando uma segunda garrafa e seu estado alcoolizado já derrubara os limites do pudor e do bom comportamento, seu olhar para mim emanava cobiça e isso de alguma forma me inquietava.
-- Muitas vezes me peguei aqui nessa mesma situação, acabando uma garrafa de vinho, esperando o dia nascer, pensando em você... Agora você está aqui ao meu lado, mas seu coração está na cama com outra mulher...
Baixei minha cabeça, esquivando-me dos olhos de desejo de Clara.
-- Não precisa ficar com medo, não vou te atacar, vem.
-- Não tenho medo de você, deixa de ser boba Clara.
-- Então Isa... Você costuma cumprir sua palavra?
-- Quando dou minha palavra tenho que estar preparada para honrá-la.
-- Então você vai pagar a aposta suponho...
Apertei os olhos e franzi a testa, fazendo uma careta engraçada.
-- Nem adianta fazer careta doutora, você tem que fazer o que eu quiser.
-- Você não vai aprontar comigo não é Clarinha?
-- Nossa... Jogando baixo com essa voz manhosa me chamando assim... Não adianta, não vai me dissuadir a te liberar da aposta!
-- Droga!
Sorri.
-- Mas vou ser generosa... Vou te dar um prazo, por que já sei o que quero de você e esse não é o momento ideal...
Amanheceu e brincamos de adivinhar de onde as pessoas estariam vindo ou indo às 5 da manhã.
-- Aquele ali, está saindo de uma boate onde ele é dragqueen... Olha o resto de maquiagem nos olhos... – Clara disse apontando para o homem que andava apressado.
-- Será? E aquela senhorinha ali? Indo para a missa não é? – Observei inocente.
-- Imagina! Aquela ali faz ponto na calçada daquele inferninho da rua de trás... Esse vestido comportado é pura fachada...
-- Que horror Clara!
Ela gargalhou. Continuamos o joguinho recostando a metade do corpo na sacada da varanda. De repente, enquanto eu procurava outros personagens na rua, senti a mão de Clara na minha cintura, e seu hálito próximo ao meu pescoço:
-- Adoro seu sorriso sabia? Sua boca tão bem desenhada é um convite para ser beijada...
-- Clara... Não... Por favor...
Em vão eu tentava me afastar, Clara me prendia contra a sacada com seu corpo, roçando seu nariz no meu ombro, deslizando seus lábios na minha pele que se arrepiava com seus gestos.
-- Sua pele Isa... Essa maciez... Esse perfume...
-- Clara pára!
Retirei suas mãos da minha cintura com força, fugindo do seu assédio. Saí da varanda e Clara me seguiu até o interior do apartamento:
-- Isa não foge de mim...
Antes que eu respondesse, Clara se aproximou de mim segurando meu braço. Nesse momento, a voz rouca de Suzana que se remexia na cama nos surpreendeu:
-- Isabela?
Suzana apertava os olhos como se não conseguisse abri-los completamente. Sentei-me ao seu lado e perguntei:
-- Como você está se sentindo?
-- Tonta e confusa... Onde estou?
-- Na casa de uma amiga... A dona do bar que você tomou todas ontem...
Suzana olhou para o lado e viu Clara, que acendia um cigarro.
-- Mas... Como você veio parar aqui... O que eu estou fazendo aqui?
-- Você não se lembra de nada? – Perguntei.
-- Lembro... – Suzana suspirou. – De ter agido como uma idiota com você e ter me encontrado com a Absolut...
Sorri e acariciei seu rosto.
-- É... Seu encontro com ela foi intenso... – Clara nos interrompeu.
-- Lembro de você... Ai que vergonha... Eu vomitei nos seus pés não foi?
Clara balançou a cabeça positivamente, dando mais um trago no cigarro. Suzana escondeu o rosto com as mãos.
-- Não se preocupe Suzana, minhas botas são laváveis, à prova de vômito... Vez por outra elas são batizadas...
Sorrimos.
-- Mas... Você passou a noite aqui Isa? – Suzana perguntou.
-- É... A Clara encontrou meu número no seu celular me avisou e eu vim pra cá... Ela te trouxe pro apartamento dela, o bar é aqui em baixo...
Minha expressão de quem escondia algo parecia evidente para Suzana, que por alguns segundos olhou para Clara e depois para mim, como se juntasse as peças de um quebra-cabeças.
-- Agora precisamos ir! Clara precisa dormir, e eu preciso trabalhar... Vamos Su?
Suzana levantou-se com minha ajuda, agradeceu a Clara pela hospitalidade, esta foi cordial, mas não se preocupou em disfarçar a intimidade que tinha comigo, encarando-me com o mesmo desejo que demonstrou durante a madrugada.
O clima no carro no trajeto até minha casa não foi dos melhores. Um silêncio incômodo, a ressaca de Suzana, minha consciência pesada e o desconforto da nossa briga da noite anterior unido ao relato do comportamento dela feito por Clara instituiu um abismo entre nós no curto espaço do banco do carona e do motorista.
-- Isabela, não acho uma boa idéia voltar para sua casa...
-- Suzana... Você precisa descansar e não vou te deixar ir para um hotel... Fico mais tranqüila com você em minha casa.
-- Mas... Eu... Desculpa Isa, mas, não vou me sentir à vontade lá...
-- Estamos chegando... Vamos conversar com calma...
Preparei um banho para Suzana depois de acomodar sua bolsa mais uma vez no meu quarto.
-- Isabela não dá pra ficar aqui...
-- Suzana tome um banho, a gente toma um café reforçado e depois conversamos.
Suzana nem considerou o fato de que eu não saberia preparar um simples café, quanto mais um reforçado... Entrou no banheiro sem discutir, convicta que precisava mesmo de um banho. E eu, tomei uma difícil decisão. Enquanto Suzana curava sua ressaca na banheira, recolhi em uma caixa algumas fotos de Camila que estavam espalhadas pela casa.
Na cozinha esforcei-me para arrumar algo que lembrasse um café-da-manhã. Suzana saiu envolvida em uma toalha, e se surpreendeu com a bandeja que encontrou na minha cama.
-- Nossa... Vejo que alguém aprendeu algo na cozinha...
-- Mas, antes de você provar dessa maravilha... Um analgésico pra sua ressaca...
-- Estou mesmo precisando... O banho estava perfeito, quer dizer, não foi melhor por que pensei que você aparecesse pra me fazer companhia...
-- Desculpa meu bem, mas eu estava ocupada.
Peguei-a pela mão, levando-a até a cama e a servi dos itens do café que preparei. Suzana não parou de me olhar. Encarava-me como quisesse me decifrar, e eu buscava nos seus olhos as respostas acerca da noite passada.
-- Então... Quando vai me contar o que houve entre você e Clara?
-- Assim que você me contar o que aconteceu no Colors na noite passada.
Suzana franziu a testa enquanto sorvia um gole de suco.
-- A Clara me falou que... Você não parou de beber e nem de paquerar as meninas no bar... Vai ser sempre assim, a gente se desentende, você vai pra um bar enche a cara e fica dando em cima de qualquer uma?
-- Pelo jeito, eu não preciso contar nada, você já sabe de tudo...
-- Eu quero ouvir de você.
-- Pra quê? Você já tem suas conclusões, por que você acredita em qualquer pessoa menos em mim... Você acredita no Bernardo, na dona de um bar, no espírito da sua mulher, mas em mim, nunca... Será sempre assim?
Engoli seco. O olhar de Suzana emanava uma mágoa sincera.
-- Não Suzana não é bem assim...
-- Não? Eu penso que sim Isabela... Estou dando tudo de mim pra reconstruir nossa história por que o amor que sinto por você é maior que tudo, até que eu mesma. Mas quando cheguei aqui na sua casa percebi que será sempre uma luta te provar que sou honesta, por que Camila, seu referencial de amor e de mulher estará sempre entre nós, além de tudo que existe contra nós... Eu olho em volta e vejo que essas lembranças são tão fortes em você que nem externamente você quer se desfazer...
Suzana olhou em volta na certeza de apontar as fotos de Camila, não as encontrou. Arregalou os olhos, olhou em volta mais uma vez e atônita murmurou:
-- Mas... Onde estão? Isabela?
-- Eu fiz o que você pediu... Guardei todas... O que você estava falando sobre eu não querer me desfazer de lembranças?
Suzana esboçou um sorriso, mas pareceu contê-lo com esforço.
-- Você guardou tudo por que eu pedi e foi até a casa de uma desconhecida pra cuidar de mim?
-- A Clara não é propriamente uma desconhecida, mas eu fui até a casa dela sim, te encontrei dormindo, esperei você acordar pra te trazer comigo...
Apesar de saber que os pontos de tensão da noite passada não sumiriam, optei por me entregar a doçura que se desenhava agora nos olhos de minha namorada. Afastei a bandeja que nos separava e segurei seu rosto entre minhas mãos.
-- Trazer você aqui pro meu lado, que é onde é seu lugar...
Beijei Suzana colhendo a lágrima que escorria pelo seu rosto e a abracei tenramente, depositando sua cabeça no meu colo firmando o que acabara de dizer: seu lugar era ali ao meu lado, no meu peito, junto ao meu coração, nos meus braços.
-- É do seu lado que eu quero ficar meu amor pra sempre...
Suzana retribuía ao meu abraço, se declarando para mim em meio a soluços, e eu a prendia contra meu peito acalentando suas lágrimas, acolhendo a esperança de vencermos juntas os obstáculos que se levantava contra nós, um deles era eu mesma.
Fosse qual fosse o obstáculo, naquele momento ele não estava ali. Senti que naquela cama, ninguém mais merecia estar do que Suzana. Mais uma vez segurei o rosto dela entre minhas mãos como se agarrasse um artefato raro e precioso e toquei seus lábios com os meus inclinando meu corpo contra o dela me desfazendo da toalha que envolvia seu corpo.
-- Bela... Eu sou só sua, toma posse, me ama...
De alguma forma entendi a declaração sussurrada de Suzana como uma resposta às minhas dúvidas sobre seu comportamento sedutor delatado por Clara e não hesitei em me apossar de cada pedaço de sua pele com meus beijos, meu toque. Suzana sorria com o prazer evidente me enlouquecendo de tesão. Rocei meu sex* entre suas pernas seguindo o ritmo dos quadris de Suzana, excitada com a umidade evidente.
Amei Suzana com meu corpo liberto pelo simples fato de preferir acreditar nela a nos meus receios, se era um rompante de paixão não sei, o fato foi que muito mais que minha carne se entregou à Suzana, mas também meus sentimentos se derramaram, minha alma se desarmou, inteira me dei, recebendo aquela mulher que mais uma vez surgia em minha vida para me tirar do chão e me mostrar o amor.
Acompanhei Suzana nos exames com preocupação, mas, para nosso alívio seu estado era bastante satisfatório, não teria problemas em enfrentar um processo cirúrgico pouco invasivo para a troca do neurochip. Nos dias que Suzana ficou em Campinas trabalhei o mínimo possível, para dedicar mais tempo a ela.
No último dia dos exames, Suzana demonstrou seu lado ciumento observando a acessibilidade de Virginia comigo. A residente não fez nada além do habitual: colocar-me a par das atividades do grupo, tirar dúvidas, solicitar meu parecer em alguns resultados, mas com toda intimidade que nossa amizade já permitia, apesar de não fugir do profissionalismo.
-- Isa você pode vir comigo até o setor de imagens? – Virginia interrompeu minha conversa com Suzana no consultório.
-- Claro Virgínia.
Levantei-me e segui Virginia, notei a presença de Suzana logo atrás de mim.
-- Eu volto logo minha querida.
-- Vou com você.
-- Você vai comigo?
-- Sim, algum problema?
-- Não meu bem... Mas, por quê?
Suzana olhava para Virginia com uma expressão nem um pouco simpática, esta, inocentemente sorria para ela com seu carisma peculiar.
-- Por que não quero ficar sozinha no seu consultório...
-- Sei...
Prendi o riso quando percebi do que se tratava Suzana não permitia que Virginia se aproximasse 10 centímetros para me mostrar algum achado nas imagens da ressonância, e logo estava se colocando no nosso meio fingindo interesse no que a residente expunha.
-- Su você está entendendo? É aqui nesse espaço da sub aracnóide que vamos inserir o cateter...
-- Claro meu amor, esqueceu que sou médica?
Virginia ignorando completamente o acesso de ciúmes de minha namorada, aproximava seus cachos do meu rosto quando circulava com o dedo indicador áreas edemaciadas do cérebro da paciente. Podia imaginar Suzana bufando de raiva com os gestos da residente:
-- Com licença... Bela, estou faminta... Vamos almoçar?
-- Gostaria que você conversasse com a paciente Isa, ela está ansiosa e insegura por que não será a doutora Camila a operá-la... – Virginia interviu.
-- Claro Virginia, vamos lá. Su você pode me esperar no estacionamento? Pegue nossas coisas no consultório para poupar tempo, imagino que seus verminhos já devem estar clamando por comida não é?
Contrariada Suzana consentiu, beijou meus lábios demoradamente na frente de Virginia que para minha surpresa ficou tímida virando o rosto para a porta. Interrompi o beijo:
-- Su... Aqui não...
Saí apressada com Virginia a fim de atender a paciente. A consulta demorou mais do que o esperado. Corri para o estacionamento, certa de que Suzana já estaria impaciente com minha demora. Não a encontrei no meu carro, encontrei dona Elisa na recepção:
-- Dona Elisa, viu Suzana?
-- Está no seu consultório doutora, o doutor Bernardo está lá também.
Levei as mãos à cabeça imaginando que os dois aquela altura estariam se esbofeteando, temi que meu consultório tivesse se transformado numa arena de gladiadores, corri para lá maldizendo as demoras dos elevadores do prédio. A porta entreaberta permitia que aos que passassem no corredor escutassem o tom nada amigável que minha namorada e meu melhor amigo conversavam. Minha intenção era interrompê-los, pacificando o conflito, entretanto, ouvi algo que me fez repensar:
-- Você sabe perfeitamente que não vou permitir que você a magoe Suzana! O que vai fazer quando ela descobrir o que você fez? Maldita hora que fiz essa aposta!
Entrei no consultório num rompante, assustando os protagonistas da discussão:
-- Que aposta Bernardo?
-- Minha Santa das bichas encurraladas me ajuda! – Bernardo virou os olhos suplicando.
-- Estou esperando a resposta Bernardo.
-- Meu amor não é nada, só uma bobagem de uma noite de bebedeira...
-- Se é uma bobagem, vocês não vão se incomodar de me contar não é?
-- Bernardo, por favor... Ela vai entender tudo errado...
-- Mas pra entender certo ou errado ela precisa saber o que houve!
-- Não falem como se eu não estivesse aqui! – Bradei
-- Meu amor antes de dizermos alguma coisa você precisa acreditar em mim... O Bernardo está enganado sobre o que pensa...
-- Ei! Suzana vamos dizer a verdade e deixar que a Isa tire as conclusões dela!
Eu não conseguia olhar para Bernardo, buscava no olhar de Suzana a mesma sinceridade que vi quando ela dizia que me amava. Bernardo forçou meu corpo a se recostar na poltrona e disse:
-- Eu começo!
-- Estou ouvindo...
-- Tudo bem vamos lá... Há quase dois anos atrás conheci um bofe escândalo pela internet, e meio que combinamos nosso encontro no Caribe, eu estava indo para um Congresso Internacional de Medicina lá, e achei a oportunidade perfeita, cenário paradisíaco, enfim... No segundo dia de viagem, depois de horas tórridas de paixão, no primeiro dia de Congresso reencontro esse encosto aqui!
-- O encosto seria eu meu amor... – Suzana esclareceu.
-- Mas, infelizmente, em mais um episódio: “sim o mundo é um ovo”, meu bofe escândalo também conhecia Suzana, especificamente, trabalhava para Suzana.
-- Não só ele trabalhava para mim, a mulher dele também!
-- O bofe escândalo era casado, com uma penca de filhos, advogado do hospital, super hetero... Super no armário...
-- Quando me viu falando com Bernardo, tentou se esconder, mas, foi inútil... Resultado: partiu sem explicações, praticamente fugiu do hotel, deixando seu amigo aqui atordoado, pensando que algo terrível tivesse acontecido a ele, até eu desvendar o mistério todo.
-- Fiquei arrasada amiga! Foram meses de namorinho virtual, sem contar a perfomance digna do Cirque de Soleil na cama né!
-- Bernardo menos detalhes... – Pedi- Mas, o que isso tem com essa aposta?
-- Suzana me encontrou no bar do hotel à noite, completamente destruído, afogado em “cubas libres”, e acabou me revelando o motivo pelo qual meu bofe havia me deixado, o que claro só me arrasou ainda mais... Fiquei lamentando minha desgraça de só me envolver em ciladas amorosas, e Suzana me apresentou nossa melhor amiga: a tequila.
-- Fiz companhia a Bernardo o resto da noite, bebemos todas, e como delírio de bêbado não tem limites, cismei de arranjar para ele um amor perfeito, até Bernardo afirmar categoricamente que o que ele queria de fato era se entregar à promiscuidade.
-- Já ouviu o ditado amiga? ... de bêbado não tem dono! Então... Eu decidi que quebraria os limites da passividade, me expondo ao campo ativo da coisa!
-- Bernardo... Menos detalhes! Direto ao assunto, por favor! – Pedi mais uma vez.
-- Ai racha me deixa ser teatral!
-- Amor, Bernardo disse que ia sair catando todo mundo, homem, mulher, travesti... Por que ele queria e podia... Se achando a diva, ele me olhou com ar de superioridade e me lançou um desafio.
-- Que desafio?
-- Eu observei sua namoradinha flertando a noite toda, as mulheres e os homens a cercavam como moscas de padaria, e você sabe que odeio que ofusquem minhas lantejoulas não é? Então propus um desafio.
-- Bernardo me disse: “Vamos ver quem seduz mais? Aposto que eu consigo levar mais gente pra minha cama do que você até amanhã”.
-- Mas, pra que isso?
-- Por que no tempo que eu fiquei naquela mesa, a única pessoa que se aproximou de mim foi o barman e uma dançarina de Ula-ula por que eu estava no caminho dela! Minha auto-estima estava enterrada!
-- Até para descontrair o Bernardo, dar uma força, topei o desafio, assim ele se motivava a paquerar e quem sabe conhecesse alguém interessante...
-- Até parece que foi só por isso! Na mesma noite, ela foi pro quarto com duas mulheres de uma só vez!
-- Bernardo, por favor... Sem detalhes a Isa já pediu... – Suzana falou trincando os dentes.
-- Esses detalhes eu quero saber... – Falei com os olhos apertados.
-- Combinamos de nos encontrar no mesmo local no dia seguinte com as provas de nossas conquistas para determinar quem venceu o desafio, o perdedor se fantasiaria de dançarina de ula-ula no último dia do congresso.
-- Depois desse castigo eu me vi obrigada a vencer o desafio... E no local marcado, na hora acertada, exibimos no celular as fotos que provavam minha vitória. – Suzana falou com orgulho para minha irritação.
-- E foi aí que minha reputação na classe médica internacional que nem existia ainda, foi por água e palhas de coco abaixo...
-- Eu tenho as fotos meu amor, o Bernardo ficou uma graça com sutiã de coco...
Eu não conseguia sorrir por mais cômico que pudesse ser imaginar Bernardo naquela situação.
-- Mas... Bicha ofendida tem a mente mais destrutiva do que a de Nazaré Tedesco! Exigi uma revanche com o seguinte argumento: “Você se acha não é? Acha que pode conquistar todas as mulheres, mas há uma que você não vai conseguir nunca!”
-- Eu caí na besteira de perguntar quem e ele me respondeu: “Isabela Bitencourt”.
-- E aí a maldita aposta aconteceu... Suzana propôs: “Eu aposto que consigo reconquistá-la”. Eu sabia que ela não conseguiria, você estava super feliz com Camila, casadérrima, até planejando filhos, era minha oportunidade de me vingar de Suzana, por isso aceitei a aposta.
-- Eu disse: “Se eu reconquistá-la, você vestirá mais uma vez essa tanguinha linda de palha de coqueiro, e fará um número no meu casamento com Isabela, se eu não conseguir, você escolhe outro congresso internacional de medicina para eu pagar um mico à altura”.
-- E essa foi a aposta feita Isa...
Fim do capítulo
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ACLV
Em: 23/11/2021
Figurinha repetida não preenche álbum. Além de que, ainda vem com os traumas do passado. Isabela não merece isso, e como bem disse sua "sogra", ninguém irá substituir Camila e, por isso, ela não precisa "arranca-lá" de sua vida para Suzana se fazer presente não. Torcendo por Isabela e Virginia.????
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