CAPÍTULO 11: PONTE AÉREA
Passamos o final de semana trancadas naquela suíte nos amando até a exaustão. Ignorei as chamadas de Bernardo o quanto pude, e respondi as mensagens de Virginia que ansiosa perguntava se eu tinha me dado melhor que ela na noite, e com uma resposta de duplo sentido afirmava que com certeza sim.
No fundo eu temia sair daquele quarto e aqueles momentos perfeitos com Suzana se desfizessem pela implicância de Bernardo e meus medos de me entregar numa nova relação com ela. Mas, era preciso voltarmos para o mundo real, eu tinha que encarar meus fantasmas e meu amigo, e Suzana precisava voltar ao Rio.
No domingo após o almoço, a conversa que adiamos em troca de nossa entrega ao desejo se tornou imprescindível.
-- Bela, ficaria o resto da vida aqui nesse quarto com você, mas eu preciso voltar para o Rio...
-- Ah... Fica mais uns dias... Su você nem trabalha!
-- Quem te disse isso?
-- Ah comentaram lá no hospital que a dona mal aparecia... Você já é rica...
-- E você acha mesmo que eu me tornaria uma nova rica fútil, deslumbrada?
-- Não... É que...
-- Deixe-me ver o que você pensou de mim: estava com uma namorada e mesmo assim te seduzia... Fiquei rica e esqueci a medicina para me tornar uma insensível empresária... Você realmente sempre pensa o pior de mim, não me admiro que Bernardo me odeie tanto.
-- Suzana pára não é isso!
-- Tudo bem Isa, eu te dei motivos pra você ser tão reticente a meu respeito.
-- Suzana desculpe-me... Eu estou sendo injusta no meu julgamento...
-- Isa... Eu não quero voltar para o Rio com nossa situação indefinida.
-- Suzana... Não posso te dar respostas agora, existem muitas coisas que preciso resolver dentro de mim antes de definir nossa situação.
-- Eu esperei tempo demais por você, não me faça esperar mais.
Sorri tímida, Suzana me abraçou forte, e eu não queria sair daquele abraço, só nos desvencilhamos quando o telefone do quarto tocou, deduzindo que fosse do serviço de quarto, Suzana atendeu:
-- Ah... Oi Pietra.
Suzana fez uma careta quando constatou de quem se tratava.
-- Pois é, acho que perdi meu celular... Não... Voltei para o Rio ontem... Desculpe-me devia ter avisado, mas não sabia seu telefone de cor... Isabela? Não... Não sei dela não... Se saí com ela da boate? Não, ela não estava com sua prima? Ah não sei... Bom, estou um pouco ocupada agora Pietra, depois nos falamos, beijo.
Minha cara evidenciou meu desagrado em ver Suzana dando satisfações a Pietra, escondendo que estávamos juntas.
-- Não me olhe assim Isa... Eu só quis evitar uma cena da Pietra...
-- Será? Ou você quer mantê-la na reserva?
-- Eu preciso ter alguém na reserva? Não se garante pro jogo todo?
Suzana me perguntou com tom provocativo, atiçando meu ego.
-- Está insinuando que não posso dar conta de você? – Perguntei indignada.
Suzana sorriu e se aproximou segurando forte minha cintura, empurrou-me contra a porta do banheiro, encaixou sua coxa entre minhas pernas despertando minha excitação.
-- Acho que tenho algumas dúvidas...
-- Vou tirar todas essas dúvidas!
Aceitei a provocação, segurei Suzana pelos cabelos e invadi sua boca com minha língua num beijo cheio de sofreguidão despertando o gemido inesperado dela. Arranquei suas roupas e a puxei para o banheiro, rocei meu corpo no dela, lambi seu pescoço, mordisquei seus lábios, ergui uma de suas pernas me dando melhor acesso ao seu sex* e desci beijando seus seios, barriga, até me ajoelhar e mergulhar minha boca entre suas pernas. Lambuzei-me entre seus grandes lábios, empurrei minha língua na sua cavidade o máximo que pude ch*pando seu líquido quente. Notei Suzana perder a força nas pernas quando dobrava os joelhos e repetia gem*ndo:
-- Entra em mim meu amor, me come gostoso...
Continuei o movimento de minha língua no seu sex* enquanto introduzi meus dedos, explorando a arquitetura do corpo de Suzana deliciando-me com suas reações, sentindo o gozo iminente nela e em mim, tremia de prazer vendo o orgasmo se tornar evidente em Suzana.
Tomamos banho juntas, e nos amamos mais uma vez, meu corpo entregue nas mãos dela se encontrava. Por pouco nossa despedida não fez com que Suzana perdesse seu vôo, uma vez que nosso fogo não cessava. Deixei-a no aeroporto com o coração apertado, e insegura por deixá-la partir com nossa situação indefinida.
-- Vou marcar os exames e te aviso sobre as datas. – Avisei.
-- Não demore muito com essa marcação, se não morrerei de saudade.
-- Você pode vir antes... Não é preciso esperar pelos exames no Rio...
-- Por que eu faria isso? Nem ao menos somos namoradas... Você é só minha médica não é?
Fiz uma careta infantil para Suzana que sorriu.
-- Isso não te dá o direito de continuar com sua pegação viu?
-- Isso é recomendação médica? Ou é puro ciúme?
-- É... É... Um conselho só!
Gaguejei e minhas bochechas coraram.
-- Entendi doutora... Mas... Eu só volto à Campinas sob duas condições: fazer os exames ou como sua namorada, ambas as condições dependem de você.
Suzana partiu depois de beijar meu rosto delicadamente. Entrou na sala de embarque sob meu olhar atento, contemplando o balançar de seu andar, suas curvas tão insinuantes, fazendo com que a saudade já desse sinais do quanto eu sentiria a falta de seu corpo perto de mim. Quando caminhava pro estacionamento, como se adivinhasse meus pensamentos, Suzana me enviou uma mensagem de texto:
-- “Já estou com saudades, o que você fará a respeito? Esperando seus próximos passos ansiosa. Beijos, amo você”.
Minha semana começou com a pressão de me sentir obrigada a tomar sérias decisões sobre minha vida e todas elas envolviam Suzana. Decidir sobre meu relacionamento com ela implicava em duras batalhas com Bernardo, enfrentar a realidade de um namoro à distância, mas principalmente vencer meus fantasmas e medos pra tentar ser feliz com meu primeiro amor. Eu nem ao menos tinha qualquer certeza sobre meus sentimentos, estava confusa. Não sabia se o que sentia por Suzana era amor, ou apenas reflexo do desejo de me sentir completa mais uma vez como me senti nos primeiros meses com Suzana. Uma coisa era certa: ela mexia comigo, não só com meu corpo e minha libido, mas com meus sonhos, com minha essência, ela tinha esse poder de desestruturar e de me dar a garra para me reconstruir quantas vezes fosse preciso.
Virginia me esperava ansiosa no estacionamento do hospital e logo me interpelou:
-- Conta tudo! Vocês voltaram a namorar? Ela vem morar aqui?
-- Ei! Calma aí garota! Bom dia primeiro não é?
-- Ai passei o final de semana em cólicas curiosa pra saber se vocês duas se entenderam e você vai me cobrar cordialidade? Fala Isa! Você e Suzana estão juntas de novo?
Antes de responder, a voz familiar nos surpreendeu:
-- Então esse foi o motivo de você ignorar minhas ligações todo o final de semana não é Isabela?
Bernardo estava de braços cruzados atrás do meu carro, seu olhar furioso me constrangeu tudo que eu não precisava era de uma discussão com meu amigo naquele momento.
-- Bê... Não me entenda mal...
-- Entender mal? Como você quer eu te entenda? Não se dignar a sequer atender um telefonema me deixando preocupado sem uma notícia sua no fim de semana inteiro, o segurança do condomínio disse que você saiu na sexta à noite e não voltou mais, fiz o Renato percorrer delegacias, IML atrás de você enquanto você estava fazendo não sei o que com aquela vaca?
-- Bê eu não queria te preocupar... Só queria evitar outra discussão com você...
-- Ah não queria preocupar? Tenho duas notícias para você: primeira, não vou mais me preocupar com você Isabela, segunda: não terá novas discussões por que estou lavando minhas mãos, faça a merd* que você quiser da sua vida, mas me faça um favor: enquanto você estiver com aquela vaca, esqueça de minha amizade, não vou assistir sua derrocada sentimental mais uma vez por pura burrice!
-- Bernardo calma, por que toda esse ódio de Suzana?
-- Isabela, estamos conversados, tenha um bom dia.
Bernardo caminhou em passos rápidos para dentro do hospital deixando-me sem ação e a Virginia atônita:
-- Gente que santa baixou nele?
Não sabia o que falar a Virginia, nem ao menos tive mais empolgação para narrar meu fim de semana de paixão com Suzana. Trabalhei o dia todo com o peso na consciência de ter sido irresponsável com Bernardo e obviamente triste por mais uma briga com ele. Mas, toda apreensão e tristeza se desfez com um gesto mais simples de Suzana, que no final da tarde me mandou um torpedo:
-- “Saudade já está insuportável fará o que doutora para resolver meu problema?”.
O sorriso bobo na minha cara me denunciava. Virginia flagrou minha cara apaixonada olhando para o celular:
-- A julgar pela sua cara, você acabou de receber cem reais em bônus da sua operadora não foi?
Sorri tímida. Virginia se sentou perto de mim e perguntou:
-- Quer conversar um pouco? Apesar do sorriso, vejo uma tristeza nos seus olhos que me incomoda.
-- Virginia eu tive um final de semana incrível... Estar nos braços de Suzana mais uma vez fez-me sentir viva como há muito tempo não me sentia. Tantas emoções em mim, meu corpo, minha alma se entregando... Mas ao mesmo tempo, me trouxe tantas feridas à tona, tantas dúvidas, tantos questionamentos...
-- Isa uma pergunta simples: você ama Suzana?
Calei-me. Não sabia o que responder, porque tinha receio de perguntar isso a mim mesma. Dei de ombros demonstrando minha hesitação de encarar tal pergunta.
-- Isa se você não sabe responder essa pergunta é certo que o amor por ela ainda existe, se houvessem certezas do contrário você reagiria de outra forma. Não é possível que alguém desperte tantas sensações diversas em você e tudo seja só atração física.
-- Virginia ela foi meu primeiro amor, mudou minha vida, me despertou o amor mas também foi responsável por muito sofrimento, eu posso estar confundindo as coisas, a intensidade de sentimentos que ela me trouxe, e agora voltar triunfal na minha vida...
-- Nesse aspecto você tem razão... Mas ainda assim... Você não acha que vale a pena viver mais dias como esses dois últimos que você passou com ela?
Outra vez não sabia o que responder.
-- Eu não consigo confiar na Suzana, nem o Bernardo. Queria uma prova de que ela mudou uma prova que ela é capaz de me fazer feliz de novo...
-- Ah filha desculpa, mas você está viajando legal agora... Bernardo não tem que confiar nela, e nem ela tem que provar nada nem a ele nem a você... Essas certezas você só terá arriscando... Terá que reaprender a confiar nela se você se propuser a dar mais uma chance.
-- Virginia não posso esquecer o que Suzana me fez... Além do mais a Suzana sedutora, assediada, continua lá... Pode me machucar de novo!
-- E também pode te fazer muito feliz, te devolver o sorriso, a leveza que eu imagino a qual você teve uma mostra nesse final de semana.
Virginia era usó uma menina, mas demonstrava um poder de reflexão apurado. As palavras dela ficaram na minha cabeça martelando. Tentei falar com Bernardo, mas foi inútil, Renato se desdobrou em desculpas, mas eu sabia que meu amigo não conversaria comigo tão cedo.
Apressei a agenda de marcação de exames a fim de que Suzana retornasse o mais rápido possível a Campinas, a saudade e a vontade de estar com ela de novo chegavam a me sufocar. Soube por Elisa que os exames de Suzana só poderiam ser realizados em dez dias, aquilo me angustiou de tal forma que me deu um nó na garganta. Não, eu não suportaria mais um dia sem vê-la. Num impulso, desviei meu caminho rotineiro e segui para o aeroporto pegando o primeiro vôo para o Rio.
Mal desembarquei e já estava ligando para Suzana, para minha irritação e para acentuar minha ansiedade, o celular dela estava desligado. Sem opção, fui até o hospital dela, na esperança de ter alguma informação sobre seu endereço. Tentativa sem sucesso. Quando me dava por vencida, convicta que meu impulso foi completamente em vão, avistei um rosto conhecido saindo do elevador. Ao me ver, de longe ainda, franzindo as sombracelhas, Lurdes sorriu para mim. Lurdes era uma das poucas amigas leais de Suzana, a enfermeira que tanto me apoiou quando Bárbara ressurgiu na vida de Suzana quando estávamos noivas.
- Não acredito Isabela?
-- Oi Lurdes, eu mesma.
Abri os braços sorrindo para ela e nos abraçamos amigavelmente.
-- Menina o tempo não passou para você! A mesma cara de anjo, que surpresa te encontrar por aqui!
-- Senti muita saudade de você sabia?
Disse apertando seus braços.
-- Eu também, mas, me diga o que faz aqui? Visitando alguém?
-- O intuito é visitar alguém, mas não sei como... Estou procurando Suzana, mas o celular dela está desligado, não sei onde é a casa dela... Enfim...
-- Você e Suzana estão juntas de novo?
A cara de espanto e de satisfação de Lurdes me deixou tímida, especialmente porque eu não tinha aquela resposta.
-- Não... É... Não sei... Mais ou menos...
-- Isabela você não imagina o quanto fico feliz por vocês... Afinal a espera de Suzana valeu a pena!
Minha cara de interrogação foi ignorada por Lurdes que prosseguiu:
-- Eu vou te dar o endereço de Suzana.
Pronto, se eu não acreditava em conspiração do universo era hora de crer. Reencontrar Lurdes no exato momento em que eu decidia voltar à Campinas foi mesmo um sinal que eu tinha que estar ali. Peguei o táxi em direção à casa de Suzana. Se ela não ostentava seu dinheiro nas roupas ou em extravagâncias óbvias, não poupou gastos com sua moradia. Seu duplex na cobertura do prédio mais luxuoso do Rio de Janeiro evidenciava bem o nível de vida dela. Apresentei-me na recepção constrangida pela imponência do lugar, eu trajava roupas de trabalho e devia estar meio despenteada também. Os seguranças se comunicaram pelo interfone e minha entrada foi autorizada, ao menos Suzana estava em casa e me esperava, isso era o que pensava.
Apertei a campainha e para tirar meu fôlego de cara, Suzana abriu a porta absolutamente linda, cabelos soltos, short curto e camiseta. Ao me ver ficou boquiaberta, como se não esperasse minha presença ali:
-- Isabela?! Mas... Você aqui?!
Não resisti à saudade e ao desejo que me tomava, avancei na boca de Suzana envolvendo meus braços em seu pescoço em um beijo urgente, lânguido, visceral. Abri meus olhos e Suzana me olhava surpresa, com os olhos arregalados, e antes que qualquer pergunta ou explicação fosse dada, ouvi uma voz infantil perto de nós:
-- Titia... Achei seu celular.
Suzana se afastou de mim abruptamente, colocou a pequena nos seus braços e disse:
-- Ow minha princesa! Obrigada! Nossa... Descarregou... Isabela, essa é o motivo dos seus ciúmes, minha sobrinha Vitória.
Sorri sem jeito imaginando o que se passava na cabeça da criança ao ver uma estranha atracada com sua tia-mãe.
-- Oi Vitória, tudo bem com você?
Tímida como toda criança no primeiro contato, não respondeu, apenas me encarou inocente:
-- Fala "oi" pra amiga da titia, Vitória... O nome dela é Isabela, o mesmo nome da sua boneca.
Vitória nem me deu bola, certamente a boneca dela não beijava sua tia na boca.
-- Obrigada por ter achado meu celular linda, vai lá se arrumar pra dormir, já vou te cobrir e continuar a contar à historinha que você escolheu.
Suzana colocou a menina no chão e me convidou a entrar formalmente.
-- Fique à vontade Isa.
-- Suzana estou tão envergonhada... Pensei que você me esperava já que minha entrada foi autorizada na recepção...
Suzana sorriu e respondeu:
-- Não foi eu que atendi o interfone.
Quando me preparava para continuar me desculpando, uma senhora se aproximou da sala e para minha surpresa a senhora me cumprimentou:
-- Como vai menina Isabela?
Apertei os olhos e finalmente a reconheci:
-- Dona Lúcia?!
Levantei imediatamente abraçando a senhora que cuidou de mim quando cheguei ao Rio. Dona Lúcia trabalhou em meu apartamento quando eu era residente, e conhecia minha história com Suzana, emocionei-me ao revê-la.
-- Suzana como você a encontrou? Por que você não me disse?
-- Longa história Isa, depois te conto. Dona Lúcia dá uma olhadinha na Vivi por favor? Antes que ela derrube todas as roupas procurando um pijama...
-- Claro doutora.
Dona Lúcia se retirou da sala enquanto Suzana se aproximava de mim no sofá.
-- E então, você vai me dizer como me achou? Aliás, por que me achou?
-- Eu... Senti saudade.
Um sorriso se abriu no rosto de Suzana. Aproximou-se ainda mais, o suficiente para me deixar atordoada.
-- E como você não atendia o celular... Eu fui ao hospital, encontrei a Lurdes que me deu seu endereço...
-- E... Você deseja matar essas saudades como?
A voz de Suzana era pura provocação. O tom, o volume, a respiração quente perto da minha ofegante. Suzana passou a língua nos lábios deixando-os molhados e absolutamente irresistíveis.
-- Eu... Eu... Quero você agora Su...
Suzana sorriu maliciosa, desviando sua boca da minha, roçando seu nariz pelo meu pescoço.
-- Agora? Pra que tanta pressa?
Suzana sussurrava, e eu já sentia meu corpo estremecer.
-- Não me tortura Su...
Suzana se afastou e disse segurando meu queixo:
-- Tenho uma menina de seis anos me esperando para contar história pra dormir... Por que você não se acomoda... Toma um banho e me espera no meu quarto? Onde estão suas malas?
Ainda com a respiração acelerada respondi sem graça:
-- Não trouxe, sai do hospital, dirigi até o aeroporto e estou aqui agora...
Suzana arregalou os olhos pasma.
-- Isabela Bitencourt? É você mesma? Agindo impulsivamente?
Ruborizei.
-- Você é a culpada.
-- Isso é bom...
Suzana me pegou pela mão e me levou até seu quarto.
-- Sinta-se à vontade, volto logo... E ah! Deixa a porta do banheiro aberta... Caso eu queira tomar banho com você...
O quarto de Suzana, assim como todo o apartamento era elegante, sóbrio, mas com luxo inegável. Passeei pelo quarto sentindo seu cheiro, prestando atenção nos detalhes e fui tomada de emoção quando vi na sua mesa de cabeceira uma antiga foto nossa, tirada no reveilon de Copacabana quando ficamos noivas. Um filme se passou em minha cabeça relembrando aquela noite, aqueles momentos.
Viajei nas minhas lembranças segurando aquela foto e nem percebi a chegada de Suzana no quarto.
-- Foi o dia mais feliz da minha vida.
Surpreendi-me ao perceber sua presença.
-- Eu não acredito que você ainda tenha essa foto... Você a mantém na sua mesa de cabeceira?
-- Há muito tempo... Pietra deve ter rasgado umas cinco dessas... Mas eu sempre imprimia outras cópias... Está aí desde que me mudei para esse apartamento.
Confesso que além de desconcertada eu estava extasiada com aquele gesto.
-- Você não acredita quando digo que te esperei todo esse tempo? Eu te disse que nunca te esqueceria por que você é minha vida e não poderia esquecer minha vida... Falei que passaria o resto da minha vida tentando te reconquistar, não se lembra?
Outro filme passou em minha mente, voltei às cenas nas quais Suzana me falou isso pela primeira vez. Respondi baixinho:
-- Sim, eu me lembro.
-- Como estou me saindo?
-- Han?
-- Como estou me saindo em reconquistar você?
Soltei o porta-retratos e caminhei em direção a Suzana que tinha o olhar cintilando para mim. Segurei suas mãos e as posicionei em minha cintura, fitei-a como se quisesse enxergar sua alma e desvendar o que me inquietava: você não vai mais me machucar? Você merece minha confiança de novo?
Suzana apertou minha cintura, puxando meu corpo para mais perto dela. O frio na barriga e o vibrar de meu sex* foi instantâneo. Rocei meus lábios nos lábios dela, mordisquei e sussurrei ao seu ouvido:
-- Está se saindo muito bem...
Suzana abriu um sorriso, e me beijou sem pressa, saboreando minha boca, sugando minha língua me fazendo arrepiar. Jogou-me na cama, despiu-se diante de mim e deitou-se sobre mim tocando meu corpo com suavidade, tirando minhas peças de roupa delicadamente com movimentos aparentemente calculados para me excitar ainda mais.
Suzana e eu nos amamos naquela noite, pela madrugada sem preocupações, sem reservas. Rimos da minha impulsividade de chegar ao Rio apenas com a roupa do corpo e da minha cara quando vi sua sobrinha nos olhando agarradas.
Dormimos poucas horas, logo cedo Vitória nos acordou saltando na cama puxando os lençóis para meu susto que segurei por impulso sabendo que estávamos nuas por baixo deles.
-- Titia, bom dia!
Suzana era só carinho com a menina. Beijava, apertava, fazia cócegas e eu só me preocupava em me cobrir o suficiente para ficar a salvo dos olhos inocentes de Vitória.
-- Vivi você está com bafão! Não escovou os dentes?
A menina com cara de sapeca colocou as mãos na boca segurando o riso.
-- Vitória já pro banheiro! Daqui a pouco seu pai vem te buscar, corre!
Apesar da situação constrangedora só para mim, encantou-me ver Suzana e Vitória juntas. Era uma face dela que eu não conhecia, isso me fez repensar minhas dúvidas acerca do comportamento e do caráter de Suzana que tanto me magoou anos atrás.
-- Bom dia minha Bela...
Suzana acariciou meu rosto.
-- Bom dia...
Respondi ainda meio abobada pela cena que vi.
-- Planos para hoje? – Suzana perguntou.
-- Não sair da cama com você...
-- Nossa...
-- Até mesmo porque, pra isso não preciso de roupas já que não trouxe nenhuma.
-- Então é um excelente plano... Porém... Eu preciso trabalhar hoje.
-- Trabalhar? Poxa Su... Vim de Campinas só pra te ver e você vai trabalhar e me deixar sozinha?
-- Mas quem disse que vou te deixar sozinha? Você vai comigo oras.
-- Ah não quero não...
Como menina emburrada fiz bico e cruzei os braços.
-- Olha que me especializei em desfazer bico com a Vitória heim... Se eu usar minhas estratégias com você...
Dei de ombros como se estivesse indiferente às suas ameaças quando Suzana avançou sobre mim fazendo cócegas na minha cintura provocando espasmos no meu corpo e obviamente muitos risos e gritos.
-- Pára, por favor, pára... – Supliquei com cara de choro.
-- Sabe que é a primeira vez que uma mulher me diz “para” na cama?
Apertei os olhos demonstrando minha indignação com o comentário dela e comecei a beliscar sua barriga como punição.
-- Vamos lá, vou providenciar roupas para você e então vai conhecer meu trabalho.
-- Como se eu não conhecesse seu hospital, deve ser maçante a rotina de empresária...
Suzana sorriu e fez cara de mistério. Tomamos café em um clima muito familiar, perdi o colo de Suzana para Vitória, mas isso nem me incomodou, estava fascinada pela ternura nos olhos de Suzana que atenuava sua característica sedutora. Vitor, seu irmão apareceu para pegar a filha, e me acolheu com carinho evidenciando sua aprovação à minha presença com a irmã.
Com uma roupa de Suzana um tanto quanto adaptada segui com ela para o seu trabalho, estranhando o percurso.
-- Por que estamos saindo da zona sul? Não é lá o seu hospital?
-- Sim é... Mas não trabalho no meu hospital...
Suzana tinha ar misterioso, o que logicamente me deixou curiosa. Meu celular não parava de tocar, dona Elisa não sabia que desculpa dar aos que me procuravam, quando ouvi a voz de Virginia ao telefone:
-- Chefinha fique tranqüila está tudo sob controle: namore muito!
Sorri. Virginia sempre me arrancava um sorriso leve. Demoramos cerca de uma hora para chegarmos em uma espécie de condomínio com pequenas casas, simples, mas muito simpáticas. Olhei tudo com um imenso ponto de interrogação na cara enquanto Suzana me olhava com o rabo de olho com um sorriso no canto da boca.
Suzana estacionou em frente a uma pequena praça, entramos uma casa semelhante às outras, entretanto, era maior, o alpendre que a cercava tinham cadeiras enfileiradas lado a lado como se fosse uma sala de espera.
-- Bom dia Fátima, essa é a doutora Isabela, vai me ajudar nos atendimentos de hoje, nos dê alguns minutos e já chamo o primeiro paciente.
-- Pois não doutora. Muito prazer doutora Isabela.
Entramos em uma sala, que parecia o consultório de Suzana, muito simples, nem de longe lembrava o luxo de sua sala no seu hospital.
-- Suzana, não estou entendendo... O que é esse lugar? Pensei que você trabalhasse no seu hospital...
-- Quase não apareço no hospital Isa, não me conformaria com esse tipo de medicina, aquilo é um investimento e logicamente me deu status, e foi uma grande contribuição na saúde privada do estado, e acredite também é espaço de pesquisa. Preciso do hospital, até mesmo porque, preciso de bons lucros para manter isso aqui.
-- Manter isso? O que é isso?
-- Comprei esse condomínio quando ainda estava em construção, a empreiteira faliu, então aproveitei a oportunidade para fazer algo mais com o dinheiro que herdei e multipliquei. Meu irmão fazia um trabalho voluntário com moradores em situação de rua aqui no Rio, comecei a me envolver nisso, no início só com doações, remédios, consultas, e aos poucos fui conhecendo as histórias deles, muitos eram usuários de drogas, alcoólatras e foi então que senti que podia fazer mais do que estava fazendo. Aquelas pessoas precisavam de um teto para reconstruírem suas vidas, precisavam de uma nova chance.
Escutei tudo atônita com esse lado filantropo, abnegado de Suzana.
-- Então, passeando por aqui, não me pergunte por que, vi esse condomínio abandonado, soube da falência da construtora e tive essa ideia meio louca, mas, que acabou dando certo. Com meu status adquirido por causa do hospital, consegui articular outros empresários, terminamos a construção e fiz parceria com ONGs de reabilitação de usuários de tóxicos, e de assistência a moradores de rua, e pouco a pouco ocupamos essas casas que abrigam famílias inteiras. Temos um grande galpão que transformamos em abrigo, aqui ainda temos horta, estufa de flores, marcenaria, uma pequena fábrica de roupas tudo para gerar renda para eles.
Eu estava impressionada, sem palavras diante daquelas revelações.
-- O Vitor administra comigo, conseguimos capacitação para os moradores, alguns foram empregados e até já deixaram nosso abrigo. Temos uma rede de suporte aqui, assistente social, psicólogo, dentista, professores, voluntários que ensinam como lidar com a terra, com artesanato, costuras... Alguns são funcionários, bom, e eu atendo as famílias, e outras pessoas trazidas por eles, que ainda moram nas ruas... Está vendo como tenho muito trabalho aqui?
Emudecida eu olhava para Suzana com um olhar fascinado. Nunca poderia imaginar Suzana como bem feitora, como se não bastasse todo seu talento de sedução, sua beleza e agora sua ternura com a sobrinha, ela se revelava um ser humano espetacular.
-- Eu não sei o que dizer Su... Estou impressionada...
-- Não diga nada então... Ajude-me nas consultas, a avaliação de uma neurologista conceituada como você será um luxo para nós!
Passei a manhã com Suzana, atendendo aos pacientes, por muitas vezes me peguei fitando-a com olhar apaixonado, revendo a maneira como ela atendia seu cuidado, transportou-me aos momentos pelos quais me apaixonei por ela na minha residência. Ficava sem graça quando Suzana percebia meu olhar, e mais ainda quando flagrava o mesmo olhar dela para mim.
No final da manhã, depois dos atendimentos, Suzana me mostrou todo o lugar, e me contou empolgada os planos de ampliação, seu sonho era transformar aquele lugar numa comunidade auto-sustentável e a julgar pela sua competência não duvidei que ela o conseguisse.
Meu olhar para Suzana agora não era só de desejo evidente ou de paixão adormecida, era de admiração e encantamento. Descobri naquela mulher, um novo motivo para amá-la, ou melhor, redescobri as qualidades mais profundas de Suzana.
Depois de conhecermos a comunidade, Suzana me levou para um passeio no Rio, fazer algo que eu não fiz na minha visita anterior. Visitamos o Aterro do Flamengo, a Lagoa Rodrigo de Freitas, e contemplamos o final da tarde na Gávea. Dividi com Suzana os resultados da minha pesquisa, contei-lhe sobre o casamento de Tia Sílvia e meu padrinho, e sobre o noivado de Lívia, enquanto ela escutava atenta e curiosa, como se quisesse “aprender” sobre minha vida, recuperando todo o tempo que passamos longe uma da outra.
-- Eu li todos os artigos que você publicou, no mestrado e no doutorado... Ficava tão orgulhosa, você nem imagina...
-- Sério? Não poderia imaginar... Quando pensava em você, imaginava que você estaria torrando a grana da herança de Bárbara viajando pelo mundo com Pietra, conhecendo novas mulheres...
Suzana baixou os olhos apesar de eu ter falado em tom jocoso.
-- Você sempre pensa o pior de mim não é?
Suzana perguntou com um olhar triste.
-- Su desculpa, eu estava brincando...
-- Não Isabela você não estava. Eu sei que te dei motivos pra que você perdesse a confiança em mim, te decepcionei, mas eu nunca deixei de te amar, perder você também me mudou muito, só uma coisa não mudou: a decisão de te trazer de volta pra mim.
-- Suzana não é verdade que sempre penso o pior de você, se isso fosse verdade, eu não estaria aqui com você... Estou aqui por que acredito que você é uma mulher incrível que o tempo só te tornou mais interessante ainda.
-- Você não me falou um só momento que gosta de mim, falou de desejo, falou de paixão... Eu posso esperar mais de nós do que um sex* maravilhoso?
-- Suzana! Você acha que eu te aceitaria de volta só por sex*?
Perguntei indignada. Suzana visivelmente sem graça por sua insegurança deu mais um gole de sua água de coco e disse baixo:
-- A Isabela que conheci não, mas depois de tanto tempo... Será que você também não mudou?
-- Você acha que mudei?
Suzana desviou seu olhar para o mar e respondeu:
-- Todos nós mudamos com o tempo, amaduremos, às vezes endurecemos outras vezes amolecemos... Aprendemos ou desaprendemos, adquirimos outras ambições, desejamos outras coisas, queremos pra nossa vida outro tipo de pessoa... A Isabela de hoje gostaria de mim na sua vida novamente?
-- A Isabela de hoje é a mesma que se apaixonou por você há mais de dez anos atrás, apesar de mais madura e um pouco fora de foco... A Isabela de hoje conta com a Suzana de hoje pra começar uma nova vida e ensinar a amá-la mais uma vez.
Os olhos de Suzana se fixaram nos meus e os vi marejados.
-- Isabela... Você está me dizendo que me quer na sua vida de novo?
Gelei. A indagação de Suzana fez com que eu encarasse o peso dessa decisão na minha vida. Mas não me acovardei. Tomada pelo sentimento de renovação mesclado às lembranças da nossa história naquela paisagem respondi:
-- Estou dizendo que estou disposta a abrir minha vida pra você de novo...
Suzana me deu um sorriso arrebatador. Colocou as duas mãos no queixo, olhou para mim fixamente e qual não foi minha surpresa quando vi escorrer por sua face uma lágrima solitária, enxuguei-a prontamente emocionada acariciando seu rosto. Fechou os olhos mergulhando naquele carinho, segurou minha mão e me tirou dali, me levando para sua casa.
Dispensou dona Lúcia, ouvi claramente ela falando baixo na cozinha:
--“A senhora está de folga, preciso ficar a sós com a Isa, avise ao Chagas para não deixar que ninguém suba”.
Andei pelo apartamento luxuoso, ansiosa depois do que ouvi escondida. Suzana se aproximou de mim fitando-me com seus olhos cintilando uma emoção evidente.
-- Bela, por que você não vai tomar um banho... E veste a roupa que está na cama, enquanto eu preparo o nosso jantar? Vou te chamar quando tudo estiver pronto.
Concordei com a cabeça e segui para o quarto de Suzana depois de beijar seus lábios suavemente. Na sua cama, um vestido de alça delicado, não tive pressa em me arrumar, tomei um banho de espuma demorado, e me produzi como se me preparasse para um encontro inédito.
Aproveitei o tempo de espera pelo sinal de Suzana e liguei para Olivia.
-- Li? Oi...
-- Isa? Menina você não morre mais... Estava falando de você agorinha.
-- Falando de mim?
-- É... Já estava triste por que você está aqui no Rio e não tinha sequer me ligado.
-- Nossa como você soube que estou aqui?
-- Adivinha?
-- Bernardo...
-- É ele mesmo... Está mais valente do que siri dentro de uma lata...
-- Imagino... E você também está com raiva de mim?
-- Ficarei se sua visita ao Rio for restrita a Suzana...
-- Claro que não! Preciso muito te ver, conversar com você.
-- Quando você volta à Campinas?
-- Amanhã, mas vou te ver antes de partir, não se preocupe.
Não demorou para Suzana bater à porta do quarto, estava arrumada, também usava um vestido na altura dos joelhos, cabelos presos, linda como sempre.
-- Nossa... Que visão espetacular.
Suzana falou levando as mãos à boca. Fiquei tímida.
-- Você está linda Su...
-- Peguei algo no guarda-roupas enquanto você tomava banho... Vamos jantar?
Pegou minha mão e me levou para sala de sua casa que não precisou de muita produção para transformá-la em um ambiente romântico. Suzana me levou para a cobertura do apartamento, o segundo piso do seu duplex, lá a mesa posta à luz de velas, perto da piscina, a vista da praia da Barra era uma atração a parte. Suzana me serviu uma taça de vinho, e eu, estupefata com o clima que ela preparou em pouco tempo sentia meu coração acelerar emocionada com a presença daquela mulher linda diante de mim. Sorvi o conteúdo da taça ávida, nervosa, ansiosa. Suzana senhora de si, dominando a situação, tomou a taça de minha mão, acionou o controle remoto do blue-ray e com sua sensualidade típica me convidou:
-- Dança comigo?
A única atitude que era capaz de tomar era balançar a cabeça concordando. Emocionei-me ainda mais quando ouvi a música que ela escolheu, reconstruindo nosso aniversário de namoro de um mês, mais uma vez, a nossa trilha:
Aqui Ana Carolina
Aqui
Eu nunca disse que iria ser
A pessoa certa pra você
Mas sou eu quem te adora
Se fico um tempo sem te procurar
É pra saudade nos aproximar
E eu já não vejo a hora
Eu não consigo esconder
Certo ou errado, eu quero ter você
Você sabe que eu não sei jogar
Não é meu dom representar
Não dá pra disfarçar
Eu tento aparentar frieza mas não dá
É como uma represa pronta pra jorrar
Querendo iluminar
A estrada, a casa, o quarto onde você está
Não dá pra ocultar
Algo preso quer sair do meu olhar
Atravessar montanhas e te alcançar
Tocar o seu olhar
Te fazer me enxergar e se enxergar em mim
Aqui
Agora que você parece não ligar
Que já não pensa e já não quer pensar
Dizendo que não sente nada
Estou lembrando menos de você
Falta pouco pra me convencer
Que sou a pessoa errada
Eu não consigo esconder
Certo ou errado, eu quero ter você
Você sabe que eu não sei jogar
Não é meu dom representar
Não dá pra disfarçar
Eu tento aparentar frieza mas não dá
É como uma represa pronta pra jorrar
Querendo iluminar
A estrada, a casa, o quarto onde você está
Não dá pra ocultar
Algo preso quer sair do meu olhar
Atravessar montanhas e te alcançar
Tocar o seu olhar
Te fazer me enxergar e se enxergar em mim
Dançamos de rosto colado, trocando olhares cúmplices e apaixonados, como se nossos pensamentos focados na mesma lembrança se unissem também. Nem lembro ao certo o cardápio da noite, por que todos os meus sentidos se voltaram rendidos à presença de Suzana.
A noite quente do verão carioca foi uma das responsáveis por um dos momentos mais intensos de paixão entre mim e Suzana. Sentamos à beira da piscina depois da sobremesa, degustando o vinho e trocando carícias singelas, adorava acariciar a pele de Suzana e contemplar sua expressão de satisfação com o gesto.
-- Não sei se é o vinho, mas estou morrendo de calor Su...
-- Está quente mesmo...
Suzana tirou minhas sandálias e colocou meus pés nos degraus submersos rasamente da piscina depois fez o mesmo. Agora nossos pés se encontravam sob a água, brincamos inocentemente como crianças, mas em pouco tempo aquela brincadeira perdeu a inocência dando lugar ao desejo em toda sua forma e intensidade.
O pé de Suzana percorreu minha perna delicadamente, seu olhar tinha o brilho sedutor característico, e minha pele o calor despertado pela energia de Suzana. Minha respiração já acelerava sentindo-me despida com a expressão de prazer que se desenhava na mordida dos lábios de Suzana. Ela sabia conduzir como ninguém as respostas do meu corpo, roçou o nariz a boca pelo meu pescoço, deslizou suas mãos pelo meu colo e minhas costas, acendendo a excitação por todo meu corpo.
-- Su... Você me enlouquece...
-- Então dá pra mim meu amor...
As mãos de Suzana subiram entre minhas coxas, ela sorriu quando sentiu a umidade da minha lingerie, um sorriso malicioso e excitante. Abri minhas pernas dando permissão para o movimento de seus dedos, que inicialmente passearam pelos grandes lábios, massagearam meu clit*ris ao som de meus gemidos incessantes, habilmente abriu espaço por baixo de minha calcinha e introduziu dois dedos arrancando meu gemido mais forte e o arqueamento do meu tronco.
Em pouco tempo seus movimentos ficaram mais fortes, ritmados, o calor de nossos corpos suados só aumentavam a excitação. Puxei Suzana para cima de mim, ela arrancou minha calcinha, eu subi seu vestido, e em segundos estávamos sob a água alternando estocadas leves e fortes, tomada de tesão tirei sua calcinha e pedi:
-- Quero sentir você inteira sobre mim...
Suzana desfez-se do vestido e eu fiz o mesmo, nuas na piscina, sincronizamos os movimentos de nossos quadris e mãos, sentimos nossos corpos tremendo, a respiração ofegante e os corações acelerados anunciavam o óbvio, goz*mos juntas abraçadas.
Acordar nos braços de Suzana mais uma vez com certeza era o que existia de mais improvável há pouco tempo atrás em meus planos ou devaneios. Olhei para seu rosto enquanto ela dormia, cheguei a duvidar que aquela cena fosse real. Tantas indagações em minha mente, tanta insegurança permeando o ressurgimento do meu amor por Suzana, não nublavam o sorriso que se desenhou em mim contemplando mais uma vez aquela mulher.
-- Vai ficar me olhando assim não vai me dar nenhum beijinho?
Suzana disse ainda de olhos fechados como se adivinhasse que eu velava seu sono. Sorri e me curvei sobre ela, beijando sua bochecha lentamente.
-- Hum... Bem melhor assim... Bom dia meu amor.
Suzana abriu os olhos e me deu um sorriso tenro.
-- Bom dia...
-- Planos pra hoje minha Bela?
-- Preciso visitar a Olivia, você me deixa lá?
-- Claro...
-- E depois... A gente namora até a noite... Aproveitar até o último minuto antes de voltar para Campinas.
-- Adorei a segunda parte do plano, mas esse desfecho... Essa história de estarmos sempre nos despedindo... Isso não me agrada.
-- Nem a mim... Mas nos veremos ainda essa semana Su... Você precisa fazer os exames em Campinas.
-- Mas e depois?
-- Depois a gente dá um jeito Su... Campinas não é tão longe...
-- Isa passei muito tempo longe de você, não quero mais isso...
-- A gente não vai estar mais longe uma da outra... Estaremos sempre juntas mesmo à distância.
Beijei seus lábios como se quisesse encerrar o assunto, mas eu senti que essa distância seria problema para nós, especialmente para Suzana que demonstrou sua discordância balançando a cabeça.
-- Não vai ficar de bico assim nas poucas horas que temos pra ficar juntas hoje não é?
Suzana não se moveu. Afastei seu cobertor, encaixei-me sobre ela, prendendo sua cintura entre meus joelhos, segurei seus braços sobre sua cabeça e beijei seu pescoço com delicadeza, colocando minha língua entre os lábios, deslizando-a pela pele eriçada de Suzana que deixava escapar gemidos.
-- Bela... Minha Bela...
Rebolei meus quadris sobre Suzana, roçando meu sex* no dela, suguei sua língua, mordisquei seus lábios, lambi sua orelha, deliciando-me com a excitação tomar posse do corpo dela. Minhas mãos agora percorriam seu corpo levantando sua camisola e me desfiz de sua calcinha depois de senti-la úmida na ponta dos meus dedos.
-- Bela, quero você dentro de mim...
Brinquei com meus dedos no seu sex*, massageei seu clit*ris, toquei seus pequenos lábios, sentindo sua cavidade pulsar, esbocei um sorriso malicioso, faminto, enquanto Suzana suplicava:
-- Entra Bela...
Obedeci. Penetrei dois dedos e os movimentei segundo as reações do seu corpo. Ousei introduzir mais dedos, tocando pontos sensíveis de Suzana que cravou suas unhas em minhas costas, arqueou seu tronco, e na medida em que eu dava ritmo aos movimentos de vai-e-vem, Suzana tinha espasmos, sobre seu corpo, mantendo o ritmo das estocadas usando o peso do meu corpo movimentei-me estremecendo anunciando o ápice.
O assunto tenso sobre nosso namoro à distância foi devidamente encerrado pelo menos por enquanto. No final da manhã, cheguei à casa de Olívia, que me esperava com o sorriso de sempre. Estava mais magra, ainda abatida, mas com uma energia muito boa, o que me deixou à vontade para compartilhar com ela meu momento.
-- E então... Vai me contar por que esse brilho no olhar está contrastando com essa ruga de preocupação na testa?
-- Li... É tanta coisa... Nem sei por onde começar... Mas o ponto principal é Suzana...
-- Suzana é seu problema?
-- Não... Quer dizer, é...
-- Se Suzana é um problema, por que você está com ela?
-- Por que... Eu a quero... Sinto-me viva do seu lado, ela me tira do chão, me devolveu meu sorriso...
-- E isso é um problema?
-- Não! Claro que não! Sinto-me feliz ao seu lado... Mas, tem muitos contras... Nosso passado, todas as marcas que Suzana deixou em mim, e tem o Bernardo que vai surtar quando souber que voltamos a namorar, nem imagino a reação de minha família e a família de Camila? Nem consigo me imaginar contando isso a Márcia...
-- Ei! Calma aí Isa... Você só me falou do passado e das outras pessoas... E você? O que você tem contra seu namoro com Suzana?
Gaguejei, relutei até responder:
-- Nada. Por mais que eu não consiga esquecer o nosso passado, eu também não consigo parar de desejar estar com ela todo tempo depois que nos reencontramos.
-- Então minha amiga... Pára de supervalorizar esses pormenores... Bernardo, Márcia, sua família, todos querem sua felicidade, se Suzana está te fazendo feliz, uma hora todos vão aceitar, mas você precisa primeiro vencer sua própria resistência em aceitar-se mais uma vez como namorada dela.
-- Li, eu vim para o Rio com a roupa do corpo, deixei dezenas de pacientes me esperando, por não agüentar a saudade dela... Acha mesmo que ainda estou resistindo a idéia de namorá-la?
-- Não sei... Diga-me você. A Isabela que conheço não relutaria em defender um relacionamento o qual acredita... Você acredita no namoro de vocês?
Calei. No fundo eu não estava convicta que daríamos certo mais uma vez, não só pelo nosso passado, mas principalmente por que o futuro agora me assustava. Suzana naquela manhã levantou a questão da distância, algo que eu sequer havia considerado.
-- Seu silêncio respondeu tudo Isa...
-- Lili... Eu não sei se acredito, mas estou disposta a fazer dar certo, por que não quero mais viver sem esse sentimento pleno que está de volta à minha vida depois que reencontrei Suzana.
-- Então minha amiga, se prepare para a luta, a maior delas, com você mesma e essas barreiras que você mesma construiu.
Saí da casa de Olívia com o coração em paz, especialmente por sentir o apoio dela. Lili estava mais centrada, calma, mas não quis me revelar o motivo daquele bem-estar todo, desconfiei que ela estivesse apaixonada, mas não insisti, sabia que seria inútil.
Suzana já me esperava no carro, surpreendeu-me com um embrulho enorme, que me deixou curiosa.
-- Presente meu bem? O que é?
-- Abra...
Rasguei o embrulho ansiosa e me deparei com o antigo urso de pelúcia que Suzana me mandou no início de nosso namoro, quando sofri uma agressão de um paciente psiquiátrico e precisei ficar em casa de atestado. O urso tinha um enorme coração escrito “Te adoro”, e foi uma das primeiras coisas que me desfiz quando a flagrei com Bárbara.
-- Mas como você conseguiu um igual?
Disse abraçando a pelúcia.
-- Não é igual, é o mesmo...
-- O mesmo? Mas como? Eu joguei fora...
Interrompi o relato sem graça.
-- Dona Lúcia recolheu do lixo e o guardou... Quando a contratei... Ela me surpreendeu com ele um dia. Guardei para te dar mais uma vez quando voltássemos a namorar...
Sem palavras segurei as mãos de Suzana e com carinho as beijei.
-- Su... Não sei o que dizer...
-- Não diz nada meu amor... Você me prometeu uma tarde de romance lembra?
Suzana retribuiu o gesto de carinho, beijou minhas mãos e partimos para sua casa. No resto da tarde tentei seguir os conselhos da Lili, me preocupando apenas comigo mesma, permitindo-me ser a namorada de Suzana, cobri-a de carinho, deitei-a no meu colo acariciei seu rosto, beijei sua boca com ternura. Enquanto assistimos filme na TV, conversamos banalidades, ri com os cochilos que ela dava, acordando minutos depois estranhando as reviravoltas da história. Voltei para Campinas à noite, com o coração em paz e disposta a lutar por essa nova chance com Suzana.
Fim do capítulo
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