CAPÍTULO 10: SUZANA – PURO ÊXTASE
Virginia se afastou impulsivamente. Arregalei os olhos enquanto dentro de mim meu coração não acelerava, galopava!
-- Desculpe interromper, mas a secretária disse que eu podia entrar... Cheguei muito tarde para minha consulta?
-- Su... Suzana?
Gaguejei.
-- Não senhora, por favor sente-se.
Virginia se adiantou diante do meu embasbacamento. Suzana do alto de sua elegância olhou para a jovem residente com discrição.
-- Não conseguimos contatá-la...
Visivelmente nervosa derrubei papéis no chão. Virginia se apressou em recolher, apertou minha mão e como se soubesse o que se passava comigo sussurrou:
-- Calma...
Virginia pediu licença e se retirou do meu consultório deixando-me a sós com Suzana.
-- Pois bem doutora... Estou aqui, vão precisar mesmo abrir minha cabeça de novo?
Suzana estava séria, não esboçou sorriso algum para mim, assim tentei retribuir o tratamento fazendo perguntas estritamente profissionais seguindo o roteiro da consulta.
-- Suzana você poderia sentar-se na maca para que eu lhe examine?
-- Claro doutora.
Suzana entrou no ambulatório da minha sala, sentou-se na maca enquanto eu suava horrores e minhas pernas tremiam. Aproximei-me da paciente, iniciando o exame físico palpando seu pescoço, testando seus reflexos, tentando disfarçar a excitação que tomava conta de mim pelo simples fato de sentir o calor e o perfume de Suzana que fugia dos meus olhos aparentando frieza.
-- Pode levantar Suzana, você parece bem.
-- E mesmo assim preciso trocar o neurochip?
-- A escolha é sua, mas aconselho que o faça, depois dos exames que faremos darei uma opinião mais precisa, mas desde já adianto que as inovações da nova versão te dariam mais segurança, enfim...
-- Quando farei os exames? Não posso demorar muito na cidade...
-- Bom... Hoje é sexta no final de semana são feitos apenas exames de urgência aqui no hospital... E como você foi a última paciente a se apresentar... Tem pessoas na frente para realizar os exames...
-- Coisas do serviço público não é?
-- É... – Respondi voltando para o consultório.
-- Volto para o Rio então e quando chegar minha vez na fila... Retorno, a não ser que você me autorize a realizar os exames do meu hospital.
-- Não será possível Suzana, procuramos detalhes específicos que só meus pesquisadores podem me descrever... Assim preciso que minha equipe realize os procedimentos.
-- Entendo... Então é só isso por hoje? Estou liberada doutora?
-- Sim... Está.
Suzana recolheu seu casaco e sua bolsa na poltrona e quando saía me deixando atordoada e frustrada por seu comportamento frio, eu disse:
-- Ei! Espera!
-- Pois não doutora?
-- Tenho algo para lhe entregar...
Suzana fez cara de interrogação, então expliquei:
-- Sua carta de motorista...
-- Ah claro... Avisaram que você me deixou recado... Está aí com você?
-- Não... Está em minha casa...
-- Então você poderia mandar pelo correio para o hospital?
-- Claro...
Baixei a cabeça frustrada mais uma vez por minha tentativa de prolongar meu encontro com ela falhar. Suzana abriu a porta me encarou e disse:
-- Obrigada pela atenção doutora... Tenha uma boa noite.
Apenas balancei a cabeça positivamente sem conseguir nada falar. Suzana partiu deixando seu perfume no meu consultório e meu corpo em chamas. Entretanto, amarguei uma sensação horrorosa de ter sido mal tratada por ela, mesmo que esse tratamento tenha sido simplesmente profissional.
Virginia entrou na minha sala com expressão de interrogação:
-- Isabela o que houve? A doutora Suzana já foi? Mas... E vocês?
Joguei meu corpo na poltrona do sofá suspirando;
-- É foi... Retornará para os exames, está tudo bem com ela. Fechamos todos os pacientes com ela não é?
-- Sim... Mas... E vocês?
-- Nós o que Virginia?
-- Isa... Você e ela! O climão que estava, saí para não atrapalhar... Os olhos de vocês soltavam faíscas!
-- Você andou fumando maconha no vestiário? Está viajando! Não teve clima nenhum, nem faísca nenhuma, Suzana me tratou como médica dela e só.
-- Só cego não veria Isabela! Primeiro que ela ficou morrendo de ciúmes ao me ver com as mãos em você, segundo ela te olhou com paixão...
-- Você está vendo coisas demais, a prova disso é que Suzana já foi, até pediu que eu mandasse a carteira de habilitação dela pelo correio...
-- Que estranho... E você como está?
-- Sinceramente? Arrasada...
-- Ela mexe muito com você não é?
-- Ela não só mexe... Ela destrói tudo dentro de mim... Abala tudo.
-- Posso te perguntar uma coisa?
-- Claro Virgínia...
-- Por que você não encara esse sentimento e deixa isso evidente para ela então?
-- Não sei Virginia... Nem sei o que sinto por ela direito... Não sei como agir diante dela, não sei quem ela é hoje... Suzana continua sendo um mistério para mim... Não sei se ela mudou, não sei se quero que ela tenha mudado... Não se ela está com alguém, não sei se quero mergulhar nesse mundo dela de novo.... Não sei de nada Virginia! Suzana me tira o chão, me faz flutuar ao mesmo tempo que me atira de uma altura de 1000 metros num turbilhão de dúvidas e desejos...
-- Nossa... Você está mesmo confusa... Mas essa foi a melhor descrição de uma mulher apaixonada que já ouvi...
Apertei os olhos demonstrando minha incompreensão com o comentário de Virginia que continuou:
-- Sua reação diante dela só deixa evidente uma coisa Isa: você a quer e muito!
-- Não posso ser irresponsável com meus sentimentos, com minha história Virginia... Suzana foi uma filha-da-mãe comigo... Magoou-me como ninguém e eu vou arriscar minha estabilidade emocional por causa dela?
-- Alôoo? Que estabilidade? Querida, sinto te informar que sua estabilidade foi passear e não voltou mais... Resolva sua situação de uma vez por todas com Suzana... Você já adiou isso por tempo demais.
-- Virginia... Você é uma fedelha muito...
-- Foda né?
Gargalhamos.
-- Mais ou menos...
Respondi fazendo careta.
-- Vai atrás dela? – perguntou.
-- Essa hora ela já deve estar de volta ao aeroporto... Não vou me precipitar, está tudo muito confuso, sem contar que acho que ela tem alguém... Preciso ter certeza disso... Saber se é sério...
-- Então vou te ajudar nisso... Sondar com a Pietra... Quem sabe ela abre o bico...
-- Você faria isso?
-- Claro chefinha! Mas só faço isso se você me fizer companhia hoje na balada.
-- Ai... Você não vai me levar no show do Restart não né?
Virginia jogou uma bola de papel no meu rosto.
-- Até parece que me comporto como uma adolescente né?
-- Não... Imagina...
Virginia olhou-me furiosa e me deu um ultimato:
-- Vai ou não?
-- Onde mesmo é essa balada?
-- Boate nova que está inaugurando... Tenho dois ingressos, e obviamente não vou com Pietra.
-- Boate legal, de gente interessante?
-- É uma boate LGBTQ sim... Uma filial de uma boate de Sampa, vamos?
-- Tudo bem, farei isso por você, por que ninguém merece a Pietra numa boate...Nem mesmo você!
Nem sabia como me comportar naquele ambiente, parecia uma provinciana, tonta com o jogo de luzes e o “tunt tunt” frenético da música. Mas durou pouco meu momento de velha do interior, Virginia segurou minha mão e saiu me conduzindo pela pista de dança atravessando aquele corredor de homens lindos e sarados e mulheres dançando sensualmente até o bar, só aí pude notar a roupa que a morena vestia, aliás, a pouca roupa que ela vestia: uma blusa transparente por cima de um top decotado com um short um pouco acima do joelho e um salto fino, coisa que nunca vi nos pés dela. Meu olhar de avaliação não passou despercebido por Virgínia:
-- O que foi doutora? Não aprovou meu look?
-- Na verdade não estou vendo a residente meio hippie que admiti como pesquisadora...
-- Ela está aqui disfarçada de piriguete! Isa, estou a perigo, preciso beijar na boca hoje e se eu viesse de vestidinho de viscose estampado iam me confundir com alguma vendedora de bijuteria artesanal e continuaria encalhada...
Gargalhei enquanto Virginia pedia nossa bebida com toda sua simpatia já conquistando a empatia do barman. Olhou para mim enquanto brincava com o canudinho da ice que bebida e comentou:
-- Estou procurando minha chefe comedida e recatada em baixo dessa minissaia...
Ruborizei e se pudesse cobriria minhas pernas dos olhos de Virginia.
-- Mas é melhor deixar minha chefe no hospital e curtir a noite com minha amiga gata!
A jovem residente sabia como ninguém me deixar à vontade, em minutos eu já estava descontraída arriscando passos na pista de dança com ela. Enquanto dançávamos juntas entregues ao único compromisso de se divertir, brincávamos dançando com as cinturas coladas, avistamos uma figura nada agradável: Pietra.
A prima de Virginia olhava com reprovação para nós, me fuzilando com o olhar, caminhou em nossa direção com passos rápidos, puxou a prima mais nova pelo braço arrastando-a para longe da pista de dança. Obviamente as segui, e interrompi a discussão das duas:
-- Qual é o problema Virginia?
-- Nada Isa, essa minha prima que tem a mente suja demais! Vamos voltar pra pista.
Virginia pegou-me pela mão mais uma vez quando Pietra berrou:
-- Você não tem vergonha Isabela?
-- Vergonha de quê Pietra?
-- De ter se tornado uma viúva alegre que pega menininhas?
Por um momento desejei ser uma barraqueira e estapear a cara daquela mal amada, mas Virginia foi mais elegante e a colocou no seu devido lugar:
-- Antes uma viúva alegre do que uma solteirona triste como você.
Seguimos para o bar segurando o riso da expressão que Pietra fez, mas minha “vitória” sobre Pietra durou pouco, minutos depois ela surgiu mais uma vez, mas agora, acompanhada da mulher dona dos meus sonhos novamente: Suzana.
Empalideci, engoli seco, e o mais engraçado foi Virginia soltando minha mão rapidamente. Notei o risinho de canto de boca de Pietra, e me irritei profundamente. O olhar de Suzana para Virginia constrangeu até a mim. De supetão Virginia puxou Pietra para a pista dizendo:
-- Adoro essa música, vamos dançar prima!
Virei a dose de bebida num gole só observando deslumbrada a beleza de Suzana diante de mim. Seu típico jeans justo, botas cano longo, blusa frente única, cabelos soltos com as pontas cacheadas, simplesmente um êxtase de visão.
-- Não vai acompanhar sua namoradinha?
Suzana perguntou apoiando-se no balcão, bebericando uma dose de vodka.
-- Han?
-- A fedelha que você ta pegando... Não vai acompanhá-la?
Segurei o riso quando percebi o ciúme estampado na expressão emburrada de Suzana.
-- E você não vai matar as saudades da sua ex?
-- Não é na pista de dança que se mata a saudade... É na cama...
Foi minha vez de fechar a cara. Pedi outra bebida desejando atirar o copo na cabeça de Pietra.
-- Pensei que você estivesse com pressa para voltar ao Rio...
-- Pois é... Mas quando vi a Pietra decidi ficar...
Eu praticamente rosnava olhando para Pietra que não tirava os olhos de nós mesmo com os solavancos de Virginia tentando desviar sua atenção. Suzana atraía não só minha atenção, mas de outras mulheres que se aproximavam do bar com insinuações descaradas e vulgares. Pietra tratou de afastá-las enquanto Virginia se aproximou de mim me exortando:
-- Você não vai fazer nada? Nem precisou você ir atrás dela, a mulher está aqui! E você vai beber o estoque todo do bar e entregar a poderosa pra minha prima?
-- Virginia não sei o que fazer, Suzana parece inacessível...
-- Uma mulher inacessível para você? Isabela você já se olhou no espelho? Não há nenhuma mulher inacessível para você nessa boate, toma uma atitude mulher! Seja homem! Ops...
Virginia gargalhou arrancando uma risada de mim também. A morena voltou pra pista de dança mas, antes prometeu dar um sumiço na Pietra que mais parecia mosca de padaria em volta de Suzana. Não demorou muito e um segurança cochichou algo para Pietra e ela saiu apressada. Aproveitei a folga e me aproximei de Suzana.
-- Algum problema com seu cão de guarda?
Suzana deixou escapar um sorriso e respondeu:
-- O alarme do carro dela disparou...
Logo suspeitei que havia o dedo de Virgínia nisso, e eu precisava agir. Quando me preparava para ousar um pouco mais na aproximação, senti dois braços envolverem minha cintura e uma voz falar ao meu ouvido:
-- A festa acabou de começar para mim...
A cara de Suzana era de fúria, atestei quem se tratava quando girei meu pescoço: Vanessa, a pegadora que conheci no Colors.
-- Vanessa? Oi...
Completamente sem graça, desvencilhando-me dos seus braços a cumprimentei.
-- Finalmente meu pedido se realizou e encontrei você novamente doutora...
A morena não se cansava de jogar seu charme, obviamente eu tentava me esquivar, mas ao notar o desconforto de Suzana deduzi que poderia usá-la para provocar ciúmes.
-- Ou eu te encontrei Vanessa, imaginei que você estivesse num evento como esses.
Vanessa sorriu e Suzana ronronou para lembrar-me de sua presença ali, como se precisasse...
-- Ah... Vanessa essa é Suzana, uma colega médica...
-- Muito prazer Suzana... Parece que a medicina se tornou um desfile de beldades...
Suzana cumprimentou-a formalmente não achando a menor graça na cantada infame dela.
-- Vamos dançar doutora? – Vanessa estendeu a mão para mim.
-- É... Eu...
Suzana se intrometeu, puxou a outra mão e disse:
-- Vamos!
E lá estava eu: na pista dançando com duas mulheres, melhor ou pior: num duelo dançante. Vanessa se insinuava para mim nos movimentos encaixando-se no meu corpo colocando as suas mãos na minha cintura, enquanto Suzana se detinha a ficar por trás de mim roçando seu nariz no meu ombro, pescoço. Obviamente o contato com Suzana fazia com que eu me inclinasse para trás a fim de senti-la ainda mais perto de mim, mas Vanessa não entregava os pontos tão fácil, de repente, as duas estavam de frente para mim se exibindo com movimentos sensuais provocando em mim além de timidez, uma excitação singular.
Avistei de longe Virginia que fazia um gesto efusivo do tipo: “Yuhuuull”, incentivando-me a entrar no clima, mas a velha mineira do interior não permitia que eu fizesse nada além do que babar. O inesperado aconteceu, quando me dei conta, Vanessa se insinuava para Suzana, e eu que há minutos atrás era o prêmio daquele duelo, passei a ser uma mera expectadora.
Não sei exatamente descrever o que senti, não adiantou os gestos de incentivo de Virginia, a minha nova melhor amiga então, de uma maneira nada sutil me deu um empurrãozinho para cima de Suzana, entretanto ao invés de cair sobre Suzana, derramei a bebida sobre outra garota que não gostou nem um pouco do banho de Martini e avançou para tomar satisfações.
-- Que é que foi sua bêbada?
A garota nervosinha devolveu o banho de bebida em mim, chamando atenção das pessoas à nossa volta. Vanessa veio em minha defesa, mas a namorada da garota, uma bofinho marrenta interviu e a confusão estava armada. Suzana que não era boba, carioca acostumada a fugir de arrastões, escapar de briga mulher era fichinha... Aproveitou o tumulto e me puxou pela mão me tirando do olho do furacão levando-me para o fumódromo da boate, um espaço ao ar livre no piso superior.
Tentando me acalmar e recuperar o fôlego, afastei-me o máximo que podia da fumaça dos cigarros enquanto Suzana me trazia guardanapos.
-- Que mulher louca...
Comentei aceitando os guardanapos, secando minha roupa.
-- De qual louca você está falando? Da sua fedelha que te empurrou ou daquela biscate que você estava dando mole?
-- Ah... Eu tava dando mole? Mas era você que estava se esfregando nela!
-- Eu? Você viu coisa demais...
-- Ah sei... Pra cima de mim Suzana? Só não sei como que duas sedutoras como vocês duas iam se pegar... Ia ser briga de ativas...
-- Até parece que eu pegaria uma vampira como ela...
-- Ah esqueci você gosta de bruxas como a Pietra, aliás, o nome é tão propício, uma mulher de pedra!
-- Você nem sabe como aquela pedra se derrete...
Furiosa, joguei o guardanapo em Suzana que sorriu.
-- Você não mudou nada não é? Com esses jogos de sedução... Tem namorada e vem atrás da Pietra e ainda se insinua pra outras...
-- Você é que continua a mesma cabeça dura de sempre, e pior: precipitada, cabeça quente! De onde você tirou essa certeza que tenho namorada?
-- Ah eu ouvi seus telefonemas Suzana, não me faz de idiota!
-- Isabela você acha mesmo que se fosse minha namorada eu atenderia o celular na sua frente? Eu ignoraria a chamada, desligaria...
-- Então você foi descarada mesmo... Atendeu na minha frente se derretendo toda!
-- Isabela! Será que você não enxerga? Quem disse que eu estava me insinuando para você?
Paralisei. Suzana estaria prestes a me dar um fora?
-- Eu pensei que...
-- Eu não estava me insinuando, eu estava tentando te reconquistar, mas você não enxerga o óbvio!
-- O quê? – Perguntei tensa.
-- Eu te amo Isabela Bitencourt!
Meu momento de paralisia não durou mais de cinco segundos antes de me atirar nos braços de Suzana, envolvendo meus braços em seu pescoço beijando-a com toda paixão que o momento pedia, tentando naquele beijo retribuir a altura aquela declaração de amor.
-- Su... Vamos sair daqui...
-- Vamos...
Nosso beijo foi ainda mais intenso do que o de dias atrás na suíte do hotel. Meu corpo era excitação pura, me entreguei ao beijo, envolvida pela revelação de Suzana desejando amá-la ali mesmo. Descemos as escadas trocando sorrisos, de mãos dadas, nos esquivamos de Valéria e Pietra qual meninas levadas que se escondem da diretora careta da escola para matar aula.
Entramos no meu carro ansiosas, ofegantes, trocamos beijos quentes e sorrisos cúmplices.
-- Vamos sair daqui minha Bela... Se não seremos presas por atentado ao pudor...
Dei partida no carro, mas, não sabia onde levar Suzana, na minha casa eu não me sentia à vontade, ainda sentia minha casa como território sagrado do meu amor com Camila. Suzana pareceu notar minha apreensão e disse:
-- Vamos para meu hotel, é mais perto daqui.
Aliviada sorri consentindo com a cabeça a sugestão de Suzana. Diante do hotel eu parecia uma virgem na porta de um motel, entramos no estacionamento e conhecendo-me como me conhecia notou meu nervosismo, e para minha surpresa, não era só eu a me sentir como fosse a primeira vez, notei quando ela segurou minhas mãos que as suas estavam trêmulas e geladas. No cd player do meu carro Marisa Monte falou por nós.
Bem que se quis
Depois de tudo
Ainda ser feliz
Mas já não há
Caminhos prá voltar
E o quê, que a vida fez
Da nossa vida?
O quê, que a gente
Não faz por amor?...
Mas tanto faz!
Já me esqueci
De te esquecer
Por que!
O teu desejo
É meu melhor prazer
E o meu destino
É querer sempre mais
A minha estrada corre
Pro seu mar...
Agora vem, prá perto vem
Vem depressa, vem sem fim
Dentro de mim
Que eu quero sentir
O teu corpo pesando
Sobre o meu
Vem meu amor, vem prá mim
Me abraça devagar
Me beija e me faz esquecer...
(Bem que se quis- Marisa Monte)
Descemos do carro depois do sinal dado pelos deuses em forma de música, o percurso pelo elevador nunca me pareceu tão longo. Contínhamos a vontade de nos atracarmos ali mesmo naquele cubículo pelo simples fato que nossa paixão promoveria uma cena de sex* explícito na frente das câmeras. Entretanto, nosso pudor só nos conteve até a porta da suíte, quando Suzana jogou-me contra a parede passando com pressa o cartão na porta empurrando-me faminta para dentro da suíte.
A voracidade da boca de Suzana era compatível com a sede de suas mãos que exploraram cada pedaço de minha pele arrancando minhas roupas espalhando-as pelo chão e pelos móveis do quarto. Tentei despi-la, mas Suzana não me dava espaço, e eu completamente rendida às suas carícias frenéticas e calientes senti meus músculos tremerem e a umidade do meu sex* anunciar a excitação tomar de conta do meu corpo.
-- Bela... Te quero tanto...
-- Também te quero Su... Vem pra mim vem...
Suzana se desfez de suas roupas e caiu por cima de mim na cama, abriu minhas pernas e se encaixou entre elas deslizando suas mãos e língua pelo meu dorso, sugando meus seios, misturando sua saliva com meu suor, roçando suas pernas no meu sex* arrancando meus gemidos.
-- Não pára Su... Vai...
-- Não paro meu amor...
Suzana remexia seus quadris quase como uma coreografia sexy. O prazer estampado na sua face me excitava ainda mais, remexi no mesmo ritmo segurando Suzana pelo bumbum, até que ela usou seus dedos para massagear meu clit*ris encharcando minha cavidade.
-- Pede Bela...
-- Entra em mim Su...
Nossa intimidade na cama era inegável, Suzana podia prever cada reação do meu corpo, sabia como e onde tocar, conhecia meus pontos sensíveis e dominava meu desejo como se detivesse em seu poder meu manual de instruções.
Suzana penetrou seus dedos e deu início a um vai-e-vem intenso, ritmado, segurei-a pelos cabelos puxando-a para mais perto de mim, nossos corpos tremiam, eu me derramava entre os dedos de Suzana, e ela se deliciava com isso investindo nas estocadas que exploravam a zona mais sensível do meu sex*. Arqueei meu tronco impulsionado pelo prazer que percorria cada célula do meu corpo, cravei as unhas nas costas de Suzana liberando um gemido alto quando chegamos ao ápice.
Suzana permaneceu em cima de mim, abraçada, meu corpo vibrava, a sensação de plenitude era familiar, a mesma que senti anos atrás quando me entreguei à primeira mulher que amei. Ela acariciou minha pele com o dorso da mão como era costumeiro entre nós depois de nos amarmos.
-- Bela... Durante todos esses anos, sonhei tanto com sua pele, seu cheiro... Não conto as noites que perdi meu sono com a saudade sufocando meu peito, pedindo a Deus que me desse a chance de te ver mais uma vez antes de morrer...
-- Shii... Não fala em morte Su...
-- Bela... A esperança de te ter de novo me manteve viva por todos esses anos...
-- Pára de falar essas coisas Suzana, você tem muito para viver ainda!
-- Bela quero viver tudo ao seu lado...
Encarei os olhos marejados de Suzana vendo nitidamente o óbvio que ela alegava eu não enxergar: sim, ela me amava!
-- Suzana eu...
-- Não fala nada Isa... Eu sei que você não confia em mim, sei que eu te magoei muito, eu me arrependo tanto de não ter seguido meu coração e ignorar Bárbara e ficar com você... Passei cada minuto da minha vida desde que te perdi me martirizando por ter sido tão estúpida...
Por mais que eu tentasse falar algo eu não conseguia, o simples fato de tocar no nome de Bárbara e relembrar o que nos separou, reavivava a mágoa escondida dentro de mim me fazendo ressentir a maior decepção da minha vida.
-- Suzana não é hora de falarmos nisso...
Afastei-me de Suzana num reflexo involuntário como se protegesse da dor que eu ressentia.
-- Bela preciso falar tudo que guardei esses anos todos esperando te reencontrar.
-- Suzana será que não vê que isso ainda me fere?
Suzana segurou minhas mãos, acariciou meu rosto e disse:
-- Se eu pudesse entrar aí dentro e arrancar de você essa ferida... Ou se ao menos pudesse transferi-la para mim o faria... Como isso é impossível, me deixa curá-la com todo amor que tenho guardado para você todos esses anos, ele só cresceu com o tempo minha Bela...
-- Você fala como se estivesse esperando por mim todo esse tempo...
-- E eu estava.
-- Ah Suzana, não me tome como aquela jovem e inocente menina do interior adentrando no mundo lésbico.
-- É tão difícil assim acreditar em mim?
-- Suzana! Você namorou anos com a Pietra, moraram juntas até não foi? Certamente com seu instinto de sedução levou muitas para a cama... Agora tem essa Vitória que você se derrete toda...
-- Fato: me derreto toda pela Vitória, mas isso é outro departamento. Namorei e morei sim com a Pietra, mas não a amei, passamos a ser apenas amigas que dividiam um apartamento, ela mesma se cansou disso, cansou-se de minhas traições e de principalmente ser comparada a você, e terminamos... Desde então não me liguei a ninguém.
-- Nem a Vitória?
-- A Vitória serei ligada pro resto da vida!
-- E você me diz isso assim? Depois de me amar nessa cama, depois de se declarar a mim?
Suzana colocou as mãos na cabeça balançando-a negativamente e sorriu.
-- Agora você ri de mim?
Perguntei indignada sentando-me na cama. Suzana se levantou usando o lençol para se cobrir, pegou seu celular na bolsa e me mostrou a foto de uma criança, uma menina linda, de cabelos cacheados e sorriso sapeca, seus olhos lembravam os dela e me disse:
-- Essa é Vitória.
-- Mas... Ela é uma menina? É sua filha?
Suzana se sentou ao meu lado e respondeu:
-- Não é minha filha de sangue, mas é como se fosse. Ela é minha sobrinha, eu e meu irmão, o pai dela, criamos juntos, já que a mãe dela a abandonou quando bebê.
Respirei aliviada, como se o peso do mundo saísse de minhas costas, mas todo constrangimento pelo meu comportamento de ciúme me transformou na mulher mais ridícula da face da Terra.
-- Ela é linda Su... Parece com você... Poderia ser sua filha.
-- Não poderia não... Por que só teria uma família com você...
Não resisti àquela revelação nem muito menos ao olhar apaixonado da minha Suzana, beijei-a como se firmasse o compromisso de confiar nela e reconstruir nossa história superando toda dor do passado.
Amei Suzana fascinada com a sensação de tê-la mais uma vez em meus braços, deliciei-me beijando cada pedaço do corpo de Suzana, deslizando minha língua por sua pele quente, excitando-me com seus movimentos, ela se contorcia oferecendo ainda mais seu corpo à minha boca. Senti nas minhas pernas o tesão se derramando no sex* de Suzana e não tarde em bebê-lo, mergulhei minha boca sugando, beijando, lambendo seus pequenos lábios, empurrando minha língua na altura do seu clit*ris num entra e sai ritmado, conduzido pelos gemidos de prazer dela:
-- Não pára amor aí... Vai...
O gosto do gozo de Suzana me inundava. Usei meus dedos para penetrá-la continuando a massagear seu clit*ris com minha língua, levantei suas pernas a fim de impor mais força nas minhas estocadas e aumentar meu acesso ao seu sex* sentindo suas pernas tremerem e seu sex* vibrar aos meus toques.
A noite reservou a noite de sono tranqüila como há muito tempo eu não tinha. Não era preciso sonhar, Suzana estava ao meu lado na cama me abraçando, e mesmo tendo a consciência que uma nova relação com ela seria outra superação para mim, eu ansiava por viver esse sentimento adormecido, agora despertado pelo meu primeiro amor.
Acordei com o celular tocando, estava sozinha na cama, apertei os olhos e vi no display: “Bernardo”. Não atendi, não queria estragar meu momento com Suzana dando explicações ao meu amigo, especialmente por que eu sabia que convencê-lo de que Suzana não era a mau caráter que ele julgava seria uma dura batalha a qual eu não queria antecipar.
Enquanto eu me ajeitava na cama Suzana saiu do banheiro trajando apenas uma calcinha e uma camiseta, despojada, assanhada, mas incrivelmente linda, perguntou:
-- Não vai atender? É a namoradinha?
-- Bom dia...
Levantei-me arrastando o lençol, beijando suavemente seus lábios.
-- Bom dia minha Bela...
-- Estou morrendo de fome, o que você pediu pro nosso café?
Perguntei tentando fugir do assunto para evitar falar de Bernardo.
-- Pedi de tudo... Meus verminhos estão enlouquecidos... Você acabou comigo ontem! Mas... Não pense que vai se esquivar de minha pergunta. Quem era no celular? Sua namorada?
-- Não, claro que não.
-- Por que você não atendeu então?
Suzana desconfiada era a insistência em pessoa.
-- Por que não quero estragar esse momento dando explicações...
-- Então era sua namorada!
-- Su não era minha namorada por que simplesmente não tenho namorada!
-- Sei... Ah Isabela não precisa me enrolar não... Só não esperava que você, depois de um casamento com uma mulher interessante e madura como Camila você namorasse uma fedelha cheirando a leite!
-- Han? Do que você está falando?
-- Da prima da Pietra! Lembro daquela menina com aparelho nos dentes há pouquíssimo tempo atrás, nunca imaginei que ela reaparecesse como minha rival!
Soltei o riso preso o que despertou a irritação de Suzana.
-- Pronto... Estamos quites, apesar de meu mico ter sido maior de confundir sua sobrinha de seis anos com sua namorada, você também não ficou atrás com essa dedução. A Virginia não é minha namorada.
-- Como não? Bernardo me disse que você estava namorando, estava feliz e... Eu vi quando entrei no seu consultório o clima entre vocês, ela massageando você... E na boate vocês dançando...
Na medida em que Suzana falava notava o rubor tomar de conta de sua face deixando evidente o quanto ela estava irritada com meu riso contido uma vez que eu prendia os lábios nessa intenção.
-- O Bernardo disse o quê?
-- Que você estava namorando, pediu que eu não atrapalhasse sua vida de novo... Por isso não te procurei mais... Vim para consulta com a esperança de que seu amigo estivesse mentindo para mim, mas quando vi aquela menina no seu consultório me senti uma idiota e achei que não podia mesmo te prejudicar mais uma vez...
-- Não tenho nada com Virginia, nem com mulher nenhuma. Ela é apenas minha pupila, se tornou uma grande amiga e pra seu governo uma das grandes incentivadoras para que eu me entendesse com você, na verdade ela ajudou muito ontem a noite.
Suzana colocou as mãos na cintura, balançou a cabeça e disse:
-- Eu devia imaginar que minha Bela não se transformaria numa “papa-anjo”.
Deixando escapar um sorriso tímido, especialmente pelo peso na consciência por saber que desejei aquela menina diversas vezes eu disse:
-- Ela tem quase a mesma idade que eu tinha quando nos conhecemos e... A diferença de idade entre nós é quase a mesma entre mim e Camila, então não seria tão absurdo assim...
Suzana agarrou-me pela cintura e como se quisesse enxergar o que existia no fundo do meu comentário me encarou perguntando:
-- O que você está querendo dizer com isso? Essa fedelha é mesmo minha rival?
-- Não há rival nenhuma Su... Desde que te reencontrei, você é a única dona dos meus pensamentos, desejos, fantasias...
-- Não quero estar só no seu pensamento e nas suas fantasias minha Bela... Quero estar na sua vida, ao seu lado, pra sempre.
Eu ainda não tinha certeza alguma sobre minhas condições para reconstruir minha vida com Suzana, evitei palavras, não podia agir sob a emoção do momento e das palavras dela. Beijei-a e desviei de assunto.
-- E nosso café? Vai demorar muito?
Bateram à porta respondendo minha pergunta. Suzana me serviu de tudo, puxando-me para sentar-me no seu colo, não demorou muito para nossa refeição se tornar a preliminar de outro momento de paixão, ali mesmo, sentada nas pernas dela, abri as minhas dando espaço para que Suzana entrasse em mim, ela entendeu o gesto, mexi meus quadris com seus dedos dentro de mim, goz*ndo sem muito esforço enquanto o sorriso de satisfação se desenhava nos lábios dela.
Fim do capítulo
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NúbiaM
Em: 22/11/2021
A traição é geralmente o motivo das separações, as histórias passadas, ciúmes, que hoje em dia é intolerável, mas a mulheradas sente!
Fala-se em apego, possessividade, mas ninguém quer a amada de olho comprido em outra, muito menos em ex.
E a Isabela sem a Camila liberou geral! Dificil julgar o outro, o luto, recomeço, enfim...
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