Capitulo 30
Um som irritante surge em minha mente, o “bip” constante e o característico cheiro de hospital me fazem perceber onde estou, tento me preparar para a sensação dolorosa que as luzes causarão em meus olhos assim que os abrir. Conto até três mentalmente e me deparo com o clarão já esperado. Fecho os olhos e os abro novamente, pisco algumas vezes até me sentir confortável.
— Odeio essas luzes. — Resmungo.
— Vejo que acordou de mau-humor. — Ao me virar me deparo com Tilly, pensei que estivesse sozinha.
— Não vi você Tilly.
— Costumo ser silenciosa. — Ela diz bem-humorada. — Como se sente?
— Um pouco confusa, minha cabeça parece cheia de informações, mas não consigo organizar meus próprios pensamentos.
— E normalmente, você sofreu coisas muito intensas. Irá demorar um tempo até conseguir organizar tudo.
— Sobre Emy…
— Eu sei, você teve muitos pesadelos nos últimos três dias, falou bastante durante os sonhos. Sinto muito por sua filha.
— Não sinta, mas caso queira sentir pena de alguém sinta de Dennes, não restará nada dele quando eu terminar.
— Savannah, o sentimento de vingança pode nos cegar de tal maneira que acabamos esquecendo de tudo a nossa volta, não se esqueça do que é realmente importante.
— O importante para mim agora é matar Erick com minhas próprias mãos.
— Seu amigo parece ter o mesmo sentimento que você.
— Ben?
— Exatamente. Ele saiu a pouco, passou os últimos três dias entre ficar com você e cuidar das operações, eles encontraram o esconderijo de Dennes exatamente onde você disse antes de desmaiar.
— Quando poderei sair daqui?
— Quanta pressa. — Paige diz entrando no quarto. Ao seu lado Penélope, Tom, Ellen e Dome. — Todos me cumprimentam.
— Você tem uma queda por esse hospital Owens, estou começando a suspeitar que faz de propósito. Talvez você sinta um amor platônico por minha noiva. — Dome diz cruzando os braços.
— Não seja ridícula, Dome. — Paige diz.
— Só estou cuidando do que é meu. Como se sente Owens?
— Bem e feliz por ver todos vocês.
— Ficamos preocupados quando Paige nos contou.
— Estou bem agora, Tom.
— Eu disse que você era forte, mas ele não me ouve. — Penélope fala enquanto me entrega alguns comprimidos.
— Obrigada, Pen.
— Trouxe algo para você. — Ellen me entrega um lindo arranjo, nele belas flores brancas as quais reconheço de imediato. — Achei parecidas com você. — Ela pisca para mim.
— Uma das criações de Emma. — Tilly acrescenta.
— Minha irmãzinha tem muito talento. Sinto-me feliz em saber que ela chegará em breve. — Meu coração salta no peito. — Estou contando as horas para sábado. — Dome me encara de forma nada discreta.
— Acho que ela entendeu, amor. — Paige diz enquanto me examina com aquela lanterninha irritante. — Você terá alta amanhã.
— Que ótima notícia. — Digo.
— Mas, terá que tomar novos remédios. Além de se alimentar corretamente, você andou sofrendo muitas emoções, tente repousar um pouco.
— Tentarei.
— Todos sabemos que você está mentindo. — Ben entra e meu quarto agora está com a lotação máxima. — Olá pessoal. — Ele diz.
— Grandão.
— Garota Leão. — Ele cumprimenta Dome e todos rimos do novo apelido dela.
— Gostei, minha garota pode até confirmar que sou mesmo uma fera na cama. Não é amor?
— Dome! — Paige fica vermelha.
— Ok, o horário de visitas acabou, todos dando um fora. — Penélope diz.
Me despeço de todos, porém Ben pede para falar comigo por alguns minutos, Paige permite, mas alegando que ele não pode demorar mais que dez minutos.
— O que foi? — Pergunto.
— Houve um pequeno imprevisto.
— Como assim?
— Entramos no esconderijo de Dennes e tinha uma espécie de bomba escondida, assim que foi acionada explodiu com tudo, o esconderijo dele foi destruído.
— COMO ASSIM DESTRUÍDO? — Falo exasperada.
— A explosão causou um deslizamento, o que sobrou do lugar está embaixo de toneladas de terra e pedra.
— NÃO, NÃO, NÃO…
— Savannah.
— O corpo da filha estava lá embaixo, tudo que sobrou dela está naquele lugar. — Lágrimas caem e molham meu rosto.
— Eu, eu sinto muito.
— NÃO QUERO A PORRA DA SUA PENA.
— Savannah, acalme-se.
— Não me fale em calma. Como ninguém pensou que ele poderia ter instalado uma bomba? Que categoria de agentes são vocês?
— Tomamos todas as providências e…
— Se tivessem tomado todas as providências teriam evitado a explosão.
— Você tem razão, peço que me desculpe.
— Me deixe sozinha.
— Olha Savannah…
— Saia, agora!
Ben se retira sem dizer mais nada, levo minhas mãos à cabeça, uma raiva sem precedentes toma conta de mim. Esse sem dúvida é o erro mais infantil que se pode cometer. Dennes tem uma mente brilhante, ele jamais deixaria seu esconderijo sem proteção.
Idiotas! E agora? Droga! Aquele filho da mãe vai se esconder ainda mais. Que porr* Savannah! Sinto minha cabeça doer fortemente, meus olhos ficam pesados e sem querer acabo cedendo ao sono.
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Sinto lábios passearem por minha fase, beijos sãos distribuídos em minhas bochechas, até que chegam em minha boca, não reconheço esse toque e a sensação que ela me causa não é das melhores, abro meus olhos e me deparo com o rosto de Nancy.
— Finalmente acordou meu amor. — O que está fazendo aqui? — Vim busca-la.
— Como assim?
— Voltaremos para Los Angeles.
— Eu não posso voltar agora Nancy.
— Ben disse que o trabalho de vocês aqui acabou por hora, falei com sua médica, ela exige que você fique em repouso. Retornaremos para Los Angeles no sábado. — Droga, Emma chegará no sábado.
— Gostaria de ficar mais um pouco e…
— Você prometeu a Emy que ficaria do meu lado Savannah e até agora você não vem cumprindo isso. O nosso lar fica em Los Angeles, não se esqueça disso!
— Eu não esqueci Nancy, iremos no sábado.
— Perfeito. — Ela beija meus lábios mais uma vez.
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— Lar doce lar. — Nancy diz ao entrarmos em casa. — Não é bom estar em casa amor?
— Muito — digo sem a menor animação. — Vou para o escritório.
— Gostaria de comer algo?
— Não, obrigada — Nancy se aproxima de mim, seus braços envolvem meu pescoço.
— Antes quando eu perguntava isso, você respondia “Sim, eu gostaria de comer você” — Ela me beija, seus dentes prendem meu lábio inferior.
— Sinto tanta falta de você Savannah. — Suas mãos começam a abrir os botões da minha blusa. — Vamos para o quarto. — Ela diz provocante, mas não consigo reagir a ela, não consigo deseja-la o suficiente.
— Estou cansada Nancy. — Ela me empurra.
— Você está sempre cansada, sempre indisposta ou ocupada. Você ainda pensa naquela mulher, não é?
— Nancy, por favor.
— O quê? Não é verdade que se fosse ela, você já teria deixando-a nua e a foderia no sofá?
— Chega!
— Espero que ela morra Savannah, eu adoraria ver você chorando sobre o túmulo dela.
— Cala a boca!
— Emma Clark morra, morra! — Nancy sobe as escadas e ouço a porta do quarto bater fortemente.
Chego ao escritório, abro meu e-mail, nada de importante. Encaro os papeis sobre minha mesa, não sei por onde começar agora que o esconderijo de Dennes se foi, levará algum tempo até que desenterrem o que sobrou e ninguém garante que algo realmente útil será encontrado.
Organizo a bagunça, recolho relatórios, respondo alguns e-mails, analiso imagens da caverna antes da explosão.
Pego alguns envelopes, apenas propagandas e contas, mas de repente vejo um que chama minha atenção. Um envelope vermelho, não tem remente, abro e me surpreendo ao ver dentro dele um pendrive, junto ao pendrive um pequeno bilhete.
“Você está com frio pequena Emy?”
Minhas mãos começam a tremer, mal posso acreditar, encaro o bilhete e ao seu lado o pendrive. Respiro algumas vezes, tentando acalmar minha pulsação. Ainda com os dedos trêmulos seguro o pendrive, o qual conecto no computador, clico e o rosto de Erick Dennes surge.
— Olá Savannah. Sentiu saudades de mim? Aposto que sim! Estou tão decepcionado com você. Sabe o quão trabalhoso foi esconder os corpos dos irmãos Walter? Fiquei muito irritado, só gosto que minhas vítimas sejam encontradas em estado de putrefação, mas como sempre você estragou tudo.
Estou muito, muito bravo. Falei com a pequena Emy sobre isso, mas
ela anda muito calada ultimamente, é uma menina adorável.
Ela não me irrita como você. Estou realmente puto com essa sua intromissão. Você sabe que merece ser castigada por isso e por outras coisas.
Savannah, Savannah...irei atacar onde mais dói
assim como você fez comigo.
Quando você aprenderá a esconder suas fraquezas? Eu sei onde seu coração está, Owens.
Volto o vídeo várias e várias vezes. O corpo de Emy não estava mais no esconderijo, isso foi fácil de notar. Ele também está seguindo meus passos, então não está longe.
Ele busca por vingança e tentará atacar pessoas próximas a mim.
“Eu sei onde seu coração está, Owens”
Minha mente gravava cada palavra, cada sílaba… “Seu coração”… “Seu coração… eu sei… onde… ele está. ”
— Emma.
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— Você precisa mesmo ir? — Frena diz enquanto me ajuda a colocar as malas no carro.
— Pela vigésima vez, sim! — Digo rindo.
— Sentirei sua falta.
— Fren nos encontraremos daqui a uma semana no casamento de Dome.
— Eu sei, mesmo assim sentirei saudade. Você irá me pegar no aeroporto, certo?
— Claro.
— Sentirá minha falta?
— Sim, muita! — Ela me dá seu melhor sorriso. — Vamos, não quero perder meu voo.
— Não seria uma má ideia. — Ela diz entrando no carro.
Quarenta e cinco minutos depois chegamos ao aeroporto, Fren segura minha mão e traz minha mala na outra, nossa relação ainda não está realmente definida, eu adoro a companhia dela e como ela me faz sentir, mas sinto que o que sinto ainda não é o suficiente, ainda não é sólido. Expliquei isso da melhor maneira possível, Fren disse ter entendido, disse que será paciente, estou tentando lidar com isso, com essa expectativa de Frena, mas ainda estou ligada demais a Savannah. Meu voo é anunciado.
— Hora de ir.
— Me ligue assim que chegar.
— Sim, Senhora. — Nos abraçamos. — Vejo você em uma semana. — Digo me afastando.
— Não vai me dar um beijo? — Dou um leve beijo na bochecha de Fren, ela ri. — Assim não Emma. — Ela envolve minha cintura e segura minha nuca, seus lábios se chocam com os meus e começam um beijo forte e exigente. — Bem, melhor. — Ela me dá um sorriso travesso, balanço a cabeça negativamente enquanto tento me recompor.
Pego minhas coisas e sigo rumo ao portão de embarque.
Já no avião avalio as opções que me esperam, Savannah Owens a poucas horas do meu alcance. Ótimo, só preciso ficar bem longe de Los Angeles e ignorar minha vontade de vê-la, penso em Fren, ela é uma pessoa maravilhosa e está tentando construir algo comigo, não seja burra Emma! Cuide bem de Frena, esqueça Savannah, esqueça!
Longas horas depois desembarco em San Francisco, já é noite, pego minha mala e vou em direção a saída, avisto os loucos cabelos de Dome, ela está radiante e acena para mim. Vou em sua direção quando de repente um corpo se choca com o meu.
— Desculpe. — Um homem que tem por volta dos 45 anos diz. Seus olhos são escuros, ele me parece estranhamente familiar.
— Tudo bem.
— Emma, você está bem? — Dome diz enquanto me ajuda a levantar.
— Estou.
— O senhor está bem? — Pergunto ao homem.
— Estou ótimo. Tenham uma boa noite, senhoritas.
— Que cara esquisito. — Dominique diz.
— Você diz isso sobre todos os caras. — Nos abraçamos. — Onde está Paige?
— Hoje ela tem Plantão. Seremos só eu e você, como nos velhos tempos.
— Dome, não faz tanto tempo assim.
— Eu quase não a reconheci. — Acabo rindo.
— Senti sua falta.
Chegamos a casa minutos depois, felizmente o trânsito estava bom. Assim que entro me deparo com uma surpresa. Ellen, Jimmy, Tom, Penélope, Amélia, Paige e Tilly, todos estão usando camisetas com a frase “Saudades da Emma.”
— Dominique sua mentirosa!
— Você é a pessoa mais fácil de enganar desse mundo.
— Emma, querida. — Amélia abraça-me, em seguida Tilly, Jimmy, Tom, Ellen, Penélope e Paige fazem o mesmo.
— Não acredito que vai mesmo se casar daqui a uma semana. — Digo certa hora.
— Nem eu, às vezes tenho vontade de sair correndo. — Dome diz.
— Não se atreva! — Paige grita da cozinha.
— Eu não entendo como ela faz isso, é humanamente impossível ouvir algo dessa distância.
— As esposas conseguem tudo Dominique.- Amélia diz.
— Assim como as noivas. — Paige surge com algumas bebidas.
— Como eu poderia resistir? Sou uma pobre tola apaixonada.
— Bem-vinda ao time Dome. — Tom levanta seu copo.
— Emma, fale sobre a Holanda. Como são os holandeses? — Jimmy pergunta animado.
— Eles adoram flores e…
— Não boba, me conte como são os homens holandeses.
— Humm… Eles são muito, ham… holandeses?
— Você é péssima com definições Emma. — Jimmy fala decepcionado.
— Pergunte sobre as holandesas e ela lhe dirá tudo.
— Dome!
— Senti saudades de ouvir isso.
A festa foi animada, entreguei presentes, não esperava encontrar todos essa noite, mas já que tive a sorte de vê-los resolvi presenteá-los de uma vez. Todos adoraram suas lembranças holandesas.
— Emma, acho seu celular está tocando. — Tilly diz. — Vou até à bolsa e pego meu celular, o rosto de Frena surge na tela.
— Alô.
— Já esqueceu de mim?
— Desculpe Fren… E que fizeram uma festa surpresa.
— Eu entendo. Liguei para saber como você está.
Contei a Fren como foi a viagem e como estava sendo a surpresa até o momento, não falamos muito, ela tinha um compromisso e desligamos poucos minutos depois. Estava colocando o celular novamente na bolsa quando algo chamou minha atenção, havia um envelope vermelho o qual não lembro de ter visto antes, pensei ser de Frena, talvez uma de suas surpresas. Segurei o envelope girei em medos e depois abri, nele encontrei um bilhete dobrado impecavelmente, o desdobrei com cuidado, havia apenas uma frase escrita.
"Você está com frio pequena Emma?"
Fim do capítulo
Entrando na reta final.
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