Capitulo 29
Ando pelas ruas de Amsterdã, estou há dois meses e meio na Holanda, devo dizer que esse país me fez realmente bem, me sinto muito melhor do que quando cheguei, as feridas ainda continuam as mesmas, mas estou tentando lidar com as dores corajosamente.
Felizmente os negócios vão bem, na verdade, maravilhosamente bem. O prêmio que ganhei abriu muitas portas para minhas pesquisas, minhas teorias estão sendo estudadas e recebi várias propostas, minha vida profissional está quase próxima da perfeição.
No entanto, ainda restam os acontecimentos da minha outra vida, me sinto abalada por perder Savannah, todas as lembranças que seu nome traz vão da dor ao prazer. Por vezes penso em ligar para Tilly para saber o que ela tinha para me dizer naquele dia no aeroporto ou pedir notícias dela á Dome, mas temo que ela me diga que Savannah está perdidamente apaixonada por Nancy.
Devaneio sentindo o ar gelado penetrar através do casaco que estou usando, ando por mais alguns minutos até chegar a minha mais nova floricultura, cumprimento os funcionários e encontro rapidamente com Mary, ela é a gerente, uma versão holandesa de Jennie. Falando nela, vejo sua foto no meu celular que começa a vibrar sobre a mesa.
— Alô! — Atendo no segundo toque.
— Emma, ainda bem que atendeu.
— Bom dia para você também. Estou ótima, obrigada por perguntar.
— Ha, ha, ha… Muito engraçado. Como estão as coisas ?
— Muito bem! Consegui acertar tudo.
— Ótimo! Então arrume suas malas, preciso de você urgentemente.
— O quê?
— Você me ouviu! Temos uma reunião importante com alguns compradores.
— Jennie, eu não posso voltar ainda.
— Emma, eu sei que vem para o casamento de Dome.
— Mas, ainda faltam duas semanas.
— Você precisa estar aqui semana que vem.
— Mas…
— Sem “mas”! Emma, eu acabei de ter um bebê. Estou sendo sugada o dia inteiro e não reconheço meu próprio corpo, nem queira saber como anda o meu humor. Você quer que eu sofra uma alta carga de estresse e acabe tendo um enfarte cerebral?
— Jennie não é possível ter um enfarte cerebral.
— Serei a primeira pessoa a ter um se você não chegar em San Francisco em uma semana.
— Isso é chantagem emocional, sabia?
— Sei, mas não vejo problema em usar de vez enquanto. Amo-te. — Ela desliga.
Droga! Ainda não estou pronta para voltar para San Francisco, pretendia ir apenas para o casamento e voltar o mais rápido possível. Que porr* Jennie! Meu celular começa a vibrar novamente, dessa vez é Frena.
— Olá Emma. — Ela diz em tom animado, como sempre.
— Oi! Fren.
— Tudo bem? Você não parece muito animada.
— Alguns problemas para resolver.
— Humm… Acredito que você precise sair para jantar.
— Fren, eu…
— Não aceito respostas negativas, por favor aceite!
— Tudo bem. — Digo rindo.
— Te pego as 20:00.
— ok. Vejo você mais tarde. — Desligo.
Frena é a pessoa mais bem-humorada que conheço, não existe nada que ela não torne divertido, ela é engraçada, inteligente e bonita. Assim que começamos a conversar naquela mesa tive certeza de seriamos amigas. Ela tentou ser mais que uma amiga, mas deixei claro que meu coração precisava de umas férias. Não tenho mais nenhum problema em me relacionar com mulheres, mas os efeitos que Savannah deixou sobre mim ainda estão muito vivos, não tenho estrutura para um relacionamento agora.
Meu dia passou relativamente rápido, tive reuniões e dei outra entrevista a um jornal local. A floricultura passou o dia todo praticamente lotada, os holandeses gostam mesmo de flores. A mais vendida foi a que criei para Savannah, ela nunca irá saber, ainda não escolhi um nome, não sei o que poderia representar, qual palavra poderia definir sua beleza.
Alguns chamam de “a nova rosa dos apaixonados”, confesso que cheguei a me emocionar ao ouvir isso, saber que algo criado por mim, irá embelezar o amor de outras pessoas, mesmo que meu amor por Savannah não tenha terminado de forma tão bela. Eu ainda a amo, muito mais do que pensei que poderia.
Já passava das 19:00 quando cheguei em meu apartamento, abandonei o hotel uma semana após ter chegado a Amsterdã, meu atual apartamento era um lugar aconchegante, mas não era verdadeiramente meu lar, essas coisas levam um tempo.
Fui para o banho, não tinha muito tempo para me arrumar, tomei um banho rápido e escolhi algo que fosse confortável e quente. Escolhi um vestido preto na altura do joelho, a noite não está tão fria quanto a manhã, mesmo assim pego um casaco. As 20:00 pontualmente a campainha toca.
Ao abrir a porta me deparo com frena, ela também está de vestido o seu é vermelho e um pouco mais curto e justo que o meu, ela tem curvas maravilhosas. Seus longos cabelos estão trançados e seus olhos azuis ainda mais evidentes devido ao rímel e algum outro truque que ela aplicou em torno dos olhos, ela é uma visão extraordinária.
— Você está linda. — Digo e um sorriso largo surge em seus lábios.
— Não tanto quanto você. — Ela diz sedutora.
— Aonde vamos? — Pergunto enquanto fujo do seu olhar.
— E uma surpresa.
Pegamos o elevador e segundos depois saímos do meu prédio, andamos um pouco até que pararmos para esperar um bonde.
Adoro os bondes, eles têm um jeito tão charmoso de se locomover. Em pouco tempo um surgiu, entramos e conseguimos acentos, eu olhava pela janela o belo canal, Amsterdã era tão perfeita em certos momentos, era só você se dedicar a observar o quão belas as coisas podem ser. Savannah iria adorar esse lugar, posso até imaginar a intensidade do brilho dos seus olhos, o tamanho do seu sorriso… Solto um suspiro.
— Tudo bem? — Frena pergunta.
— Sim. Apenas observando a beleza do seu país.
— Assim como eu vejo a beleza do seu, em você.
— Frena…
— Só amigas. Já sei Emma. — Ela diz rindo.
Duas paradas depois chegamos ao nosso destino, um restaurante as margens do canal, mesas ao ar livre e uma visão tão bela que sinto dificuldade de descrever, era simplesmente perfeita.
— Que lugar lindo. — Digo.
— Sabia que iria gostar.
— Você é incrível.
— Farei tudo que estiver ao meu alcance para surpreende-la e também para que perceba que seu lugar é em Amsterdã.
— Amsterdã é linda, mas ainda amo San Francisco.
— San Francisco parece ter lhe dado muitas coisas ruins. Enquanto Amsterdã tem lhe dado apenas alegria.
— Você está certa, mesmo assim não posso esquecer San Francisco.
— Tem alguém lá?
— Frena, existem milhares de pessoas em San Francisco. — Digo e ela cai na gargalhada.
— Você me entendeu. Tudo em você é um mistério Emma, você não me contou nada e… — Somos interrompidas pelo metre.
— Boa noite Senhoras. Gostariam de pedir agora?
— Sim. Eu gostaria de peixe, com a opção de salada número quadro. — Frena diz. — E você Emma?
— Também quero peixe, mas com opção de sala número dois. — O homem se retira.
— Como eu estava dizendo. Você é uma incógnita para mim.
— E complicado.
— Temos um jantar inteiro para conversar sobre isso e um bom vinho também.
Contei toda história, a fome de Frena por detalhes e ação do vinho me tornaram um livro aberto.
Falei de como me sentia antes e depois de Savannah, eu não tinha como esconder meus sentimentos em relação a ela, bastava citar seu nome e as emoções fluíam dentro de mim, ela era como um rio indomável e eu a frágil represa que tentava segura-lo.
— Savannah Owens. — Frena diz. — Ela é a razão que fez você deixar San Francisco e se fechar para tudo?
— Bem, você resumiu tudo.
— Ela deve ser uma mulher incrível.
— Ela é simplesmente isso.
— Mas, não está ao seu lado, é uma tola eu diria.
— Ela teve seus motivos.
Terminamos o jantar e caminhamos um pouco em torno do canal, falar de Savannah é como abrir feridas muito profundas, por mais que eu tente não é possível apaga-la da minha mente e muito menos do meu coração. Frena é uma mulher linda, não nego que sinto atração por ela, mas existe algo que me impede de sentir algo mais forte.
— Escrevi algo para você — Ela diz certa hora. Frena é escritora, tem muito talento e seus trabalhos já lhe renderam vários prêmios.
— E mesmo? Onde está? — Paro e estendo uma das mãos a qual ela segura.
— Está em minha mente. Bem, e em meu coração. — Tento retirar minha mão da sua. — Não fique tão assustada Emma.
— Eu já expliquei que…
— “Onde está o brilho dos seus olhos? Não os vejo. Será que te fato algum ladrão os roubou de ti? — Frena começa a dizer.
— O sorriso que tua boca mostra é a metade do teu sorriso verdadeiro. Pergunto-me se foi o mesmo ladrão que o levou.
Teu coração não é de todo teu. Mais uma vez me pergunto se foi o mesmo ladrão que o roubou de ti.
Permita que eu vá em busca do brilho dos teus olhos, do teu sorriso verdadeiro e de teu coração incompleto. Permita que eu devolva o brilho dos teus olhos, teu sorriso e também teu coração.
Permita que eu vire dono do brilho desses mesmos olhos, assim como de todo o teu sorriso e de todo o teu coração. ”
Frena se aproxima de mim, estou encantada por suas palavras.
— Me permita Emma cuidar de você, permita que eu conquiste você — Sua mão acaricia meu rosto. — Permita que eu lhe faça esquecer. — Ela aproxima seus lábios dos meus. — Permita…
Então eles se tocam, um toque lento e delicado sem pressa, ela apenas sente meu gosto e eu o dela, meus lábios dão passagem para sua língua a qual dança em sincronia com a minha, suas mãos vão para minha cintura, enquanto as minhas enlaçam seu pescoço.
Eu estava plenamente consciente do que eu estava fazendo, eu estava beijando outra mulher além de Savannah, eu sabia que mesmo tentando evitar comparações elas estavam lá.
Uma era calmaria e a outra era caos, meu medo é que meu coração goste mais do caos.
Fim do capítulo
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