- E então, pode me contar porque entrei no escritório e você estava com aquele sorrisinho de quem está aprontando.

Bianca falou assim que ela e Helena sentaram numa mesa do restaurante para almoçar.

Era tarde de quinta-feira e Helena tinha convidado a amiga para ir até o restaurante, precisava de alguém para conversar.

- Não estou aprontando nada, boba!

Helena deixou sua mente vagar até Martina, podia sentir calafrios só de lembrar do sorriso dela. Contou tudo que vinha acontecendo, dos encontros, da aproximação, das sensações que só sentia na presença de Martina.

- Eu não sei o que está acontecendo comigo, Bia! – Confessou após um longo suspiro. – Parece que eu perdi o controle sobre meus sentimentos.

- Para mim é muito óbvio o que você está sentindo, Leninha. – Helena encarava a amiga esperando pela resposta. – Atração, desejo, encanto, fascínio, posso nomear de muitas formas.

Helena negou com a cabeça.

- Não. Talvez eu só esteja admirada por ser uma mulher tão jovem e tão segura.

- Você pode tentar enganar a si mesma, amiga, mas escuta o que vou te falar: esse desejo que você está sentindo não vai passar enquanto você não ceder as suas vontades.

Helena não acreditou no que ouviu.

- Bianca, eu te chamei aqui pra me ajudar, não para me enlouquecer de vez. Eu jamais permitiria que qualquer coisa acontecesse.

- Helena, você sabe que eu adoro seu marido, mas, amiga, ninguém merece só ter experimentado um sex* a vida inteira, vocês deveriam abrir o relacionamento e experimentar coisas novas.

Helena não aguentou e caiu na risada. Estava ali tensa falando sobre o assunto e Bianca não tinha o menor tato para falar o que pensava.

- Renato sempre foi suficiente para mim, Bia. Eu jamais faria algo para machucá-lo.

- Antes disso, lembre-se de não machucar a si mesma. Aniquilar seus desejos em prol seu casamento não vai te fazer feliz.

Antes que Helena pudesse responder, seu celular tocou com uma mensagem de Martina. Assim que leu, Helena abriu um sorriso encantado.

- Acho que estou testemunhando o efeito Martina. – Bianca falou sorrindo.

- Martina disse que meu perfume ainda está impregnado em sua sala.

- Ah, por Deus, Helena! Está com essa cara de bocó por isso? Se não fosse algo tão recente, eu diria que você está apaixonada.

- Bia, eu não sei explicar, é tudo tão novo e confuso, mas tão familiar. – Helena olhou para a amiga que dava risada de sua situação. – Eu estou perdida!

O resto daquele dia passou correndo para Helena, com tantas coisas para resolver e ainda tinha o jantar em sua casa que precisava organizar. Quando deu por si, já era noite de sexta-feira e estava em casa recebendo os convidados.

Seus filhos estavam na casa da irmã de Renato e Helena esperava que fosse uma recepção tranquila. Para aliviar o tédio que sempre sentia nesses jantares de negócios do marido, convidou Bianca para fazer companhia a ela.

Martina também tivera dias corridos, mas estava se roendo de ansiedade para encontrar Helena naquele jantar. Sentia vontade de estar junto de Helena e também queria conhecer ainda mais aquela mulher tão fascinante para si.

Estava no carro com o pai e a irmã, mas não conseguia conter sua ansiedade.

- Quer parar de balançar essas pernas? – Catarina cochichou para que o pai não ouvisse. – Desse jeito vai ter uma síncope antes de chegar lá.

Martina não deu ouvidos a irmã, só queria ver Helena mais uma vez. E não poupou esforços para estar radiante naquela noite, queria ser notada por Helena. Mais do que isso, queria ser desejada.

Helena estava conversando com Bianca enquanto tomavam um vinho, quando bateu os olhos em Martina entrando na sala de sua casa.

Sentiu a garganta secar.

Não prestou atenção em quem chegara junto com ela, toda sua atenção voltou-se para aquela mulher, que parecia ainda mais linda naquela noite, trajada com um macacão preto que ajustava seu corpo com perfeição.

Martina buscou rapidamente com os olhos a mulher que tanto procurava e não demorou a encontrar. Não pode evitar sorrir imediatamente.

- Amiga, olha, agora eu te entendo! – Bianca falou ao notar o olhar de Helena sobre Martina e não pode deixar de reparar que havia muito mais do que só admiração ali.

Helena sequer ouviu o que a amiga falou. Observou Martina cumprimentar todos que estavam por ali e se dirigir até ela, acompanhando de uma mulher que Helena só notou naquele momento e não reconheceu.

- Quem é essa aí com ela? – Perguntou mais para si mesma, já que Bianca certamente não saberia.

- Eu vivi para ver Helena de Camões com ciúmes! – Bianca comentou divertida.

- Cala essa boca. – Helena falou baixo assim que Martina chegou até elas.

- Boa noite, Helena!

Martina se aproximou sutilmente e deu um beijo no rosto de Helena.

- Olá, como vai? Martina, muito prazer! – Falou direcionada a Bianca, que estava se divertindo ao ver a amiga tão desconcertada.

- Tudo bem, Martina? Sou Bianca, amiga de Leninha, muito prazer!

- Helena, gostaria de te apresentar minha irmã, Catarina.

Helena ainda estava em êxtase pelo encontro inesperado, sentia uma corrente elétrica passando por seu corpo.

- Olá, Catarina, é um prazer te conhecer! – Helena escutou o marido chamar seu nome e aproveitou a deixa. – Por favor, fiquem à vontade, espero que aproveitem a noite.

Bianca que não era nada boba, resolveu continuar ali e conversar com Martina, queria conhecer aquela mulher que estava virando sua amiga do avesso.

As três mulheres, de fato, iniciaram uma conversa entrosada e divertida, mas Martina não deixava de procurar Helena a todo momento, esperando um momento certo para se aproximar.

Helena tentou se distrair na companhia do marido e dos amigos, mas sentia os olhares de Martina sempre lhe procurando. Resolveu tomar um pouco de ar e foi até a piscina.

Martina viu quando Helena foi para a área externa da casa e pediu licença para se afastar das meninas, que se olharam e sorriram, entendendo o que estava acontecendo.

Observou Helena próxima a piscina, perdida em pensamentos, e se aproximou sutilmente.

- Eu não canso de admirar como você consegue estar cada vez mais linda!

Helena deu um leve sobressalto ao ouvir a voz de Martina tão próxima, mas gostou do que ouviu.

- Eu poderia lhe dizer exatamente a mesma coisa.

Martina sorriu e entregou a taça de vinho que trouxera para Helena.

- Me perdoe por ter vindo de penetra na sua festa. – Martina comentou divertida após tomar um gole de vinho. – Vim porque eu precisava te ver mais uma vez, algo dentro de mim parece pedir por você.

Martina falava sem desviar o olhar de Helena, causando sensações e arrepios imediatos na mulher.

- Não peça perdão por isso, estou feliz que tenha vindo!

Helena sentia o olhar de Martina lhe observando atentamente, quase como uma provocação.

- Não posso deixar de dizer o quanto sua casa é linda, Helena.

- Obrigada! Vindo de você é uma honra!

Helena queria estar perto de Martina, mas a todo momento vinha em sua cabeça as palavras ditas por Bianca no dia anterior, a ideia da amiga de que precisava ceder ao que sentia lhe deixava ainda mais confusa.

- É impressão minha ou você está preocupada com alguma coisa?

Helena suspirou. Todo o motivo de sua confusão estava diante de si questionando seus pensamentos.

- Vem comigo, Martina?

Martina observou Helena a segurar pela mão e sorriu. Sentia a mulher mais tensa que o normal e podia imaginar que estava num conflito interno.

Martina passou por um pequeno portão ao lateral da casa e chegou a um espaço atrás da casa, um deck aconchegante, que tinha a cara de Helena.

- Fica à vontade, eu volto em um minuto.

Martina estranhou, mas não ousou discordar ou desobedecer.

Ali tinha um sofá em forma de balanço, onde Martina se acomodou.

Um minuto depois, Helena voltou carregando uma garrafa de vinho.

As duas se olharam e sorriram.

- Antes tinha um parquinho para as crianças aqui. – Helena comentou ao se acomodar do lado de Martina e lhe servir mais vinho. – Depois que elas cresceram e perderam o interesse, eu transformei no meu cantinho, sempre venho aqui para ler ou só pra descansar a mente.

- É lindo e aconchegante, tem um ar de leveza e calmaria. É a sua cara! – As duas trocavam olhares carregados de admiração e desejo. – Às vezes eu acho que é disso que estou precisando na minha vida.

As duas ingressam num assunto interessante e animado, repleto de olhares, toques sutis e gargalhadas.

Martina contou sobre suas aventuras na época de faculdade enquanto morou fora do país, as loucuras que fez, as paixões que viveu. E Helena estava adorando ouvir aquilo tudo, tão diferente de sua realidade.

As duas nem sequer notaram que tomaram toda a garrafa de vinho.

- Me diz, quantos anos você tem? – Helena perguntou curiosa.

- 28 anos, por que?

Helena sorriu antes de responder.

- Nessa idade eu já era mãe de duas crianças. Nunca vivi nada disso.

- Você fala como se estivesse velha, Helena. Você ainda pode viver o que quiser viver!

Helena sorriu sem acreditar naquelas palavras.

- Eu sou mãe em tempo integral, Martina. Casa, filhos, trabalho, essa é minha rotina.

- Helena, olha para mim?

Martina pegou uma das mãos de Helena e iniciou um carinho singelo.

- Você ainda pode viver tudo o que quiser! – Repetiu. – Você é uma mulher jovem, linda, forte, dona de si. Para de colocar empecilhos nos seus sonhos e desejos, você não merece isso!

Helena fechou os olhos ao sentir o carinho que Martina passou a fazer em seu rosto.

- Permita-se viver o que você almeja, Helena. Permita-se sentir vontades, desejos, anseios, sonhos e viva tudo que seu corpo e sua alma desejarem. Você não precisa abrir mão da sua vida porque é mãe e, tenho certeza do que falo, seus filhos serão muito mais felizes se você estiver feliz também!

- Tudo que eu mais queria agora é poder me deixar levar pelos meus desejos. – Helena confessou totalmente envolvida.

- Eu sei. – Martina colou seu rosto ao de Helena. – Eu sei porque tudo que você está sentindo, eu também sinto. Há uma semana eu não penso em outra coisa que não seja você, seu sorriso, seu cheiro, sua pele, sua presença. Meu corpo deseja você e eu sei que você sente a mesma coisa.

Helena sentia um misto de nervosismo e desejo. Um arrepio passava por seu corpo inteiro.

- Me deixa te mostrar o quanto isso pode ser gostoso, eu sei que você quer tanto quanto eu!

Martina deu fim ao resquício de distância que existia entre elas, sutilmente juntou os lábios ao de Helena, esperando por uma resposta.

Mas Helena lembrou-se de onde estava e de tudo que envolvia aquela situação. Mesmo com todo seu corpo pedindo por mais contato, Helena se afastou.

Martina não pode evitar um olhar de decepção para Helena, que tirou uma mecha de cabelo que caía sobre o rosto de Martina e aproveitou para fazer um leve carinho.

- Desde que você apareceu falando comigo naquela reunião alguns dias atrás, eu não tenho mais controle do que quero e do que sinto, principalmente quando você está por perto. – Helena expôs tudo o que vinha sentindo. – Eu me sinto confusa, perdida dentro de mim mesma. Não posso fazer isso agora!

Martina observou Helena se afastar e suspirou, decepcionada. Sabia desde o começo que aquela não seria mais uma história de aventura de sua vida e isso a deixava confusa, sem saber como agir da melhor forma. Sua única certeza era que queria Helena e não desistiria.

Bianca viu quando Helena entrou pálida dentro de casa e foi direto para o banheiro. Já tinha percebido que a amiga estava sumida há algum tempo e imaginando que tinha algo a ver com Martina, foi atrás da amiga.

- Helena, abre a porta? Sou eu, Bianca.

Helena pediu um minuto. Após lavar o rosto e respirar com mais calma, abriu a porta e deu de cara com Bianca com um sorriso sarcástico.

- Ficou um tempão lá fora e voltou sem fôlego, amiga?

Helena deu um tapa na amiga.

- Fala baixo, sua maluca! – Pediu levando a amiga para mais longe. – Bianca, eu não posso mais ficar perto daquela mulher. Eu não vou conseguir me controlar mais uma vez!

- Eita! O que rolou, Helena? Me conta logo!

- Não rolou nada, eu praticamente fugi da Martina!

Bianca gargalhou da cara de desespero da amiga.

- Meu Deus, eu pagaria o dinheiro que fosse para ter visto isso!

- Cala a boca, Bianca! Você só fica me perturbando e não ajuda em nada. – Helena resmungou, mas não estava brava de fato com a amiga.

- Bom, eu já dei minha opinião sobre o assunto... Viva, sinta, faça!

Bianca saiu e deixou uma Helena reflexiva para trás.

O resto da noite se deu com Martina mais quieta, que ficou na companhia da irmã e logo foi embora sem se despedir de Helena. Achou melhor dar um espaço para a mulher depois da aproximação que tiveram alguns minutos antes.

Helena notou quando Martina foi embora sem se despedir e não pode evitar sentir uma pontada de chateação por isso.

Assim que todos os convidados foram embora, Helena subiu para tomar um banho. Seu marido tentou entrar no banho junto com ela, já um pouco alegre por tudo que tinha bebido durante o jantar, mas Helena não estava com cabeça para aquilo.

Seus pensamentos ainda estavam em Martina e no desejo incontrolável que sentiu de esquecer tudo e beijar aquela mulher.

Observou seu marido trocando de roupa na sua frente e num rompante de coragem, fez uma proposta.

- Renato, e se a gente transformar nosso casamento num relacionamento aberto?

Fim do capítulo