Capitulo 3 - Sensações
Martina chegou em casa sentindo como se estivesse andando sobre as nuvens.
Desde aquela festa, no momento em que viu Helena chegar, toda sua atenção se voltou a ela, todos os seus pensamentos giravam em torno de Helena.
De fato, Martina tinha consciência de que estava se metendo numa história que não era sua é que poderia se machucar, mas algo dentro de si a impedia de parar, era como se precisasse viver aquela história e não tinha uma explicação lógica para isso.
Adriana também estava perdida em pensamentos e, principalmente, questionamentos sobre tudo que vinham sentido.
Estava dormindo e acordando com os pensamentos em Martina e não sabia decifrar seus próprios sentimentos. Sem saber o que fazer, a mulher teve a ideia de conversar com sua filha, que poderia ordenar um pouco o que estava tão confuso para ela.
Na quarta-feira de manhã, Helena tomou coragem para falar com Clara, mas não tinha ideia de como abordar o assunto com a adolescente.
- Filha, posso te perguntar uma coisa?
Helena falou sem jeito enquanto pegava algumas roupas jogadas no chão, tentando organizar um pouco o quarto de Clara, que estava se arrumando para a aula.
- Sim né.
- Você por acaso já se interessou por meninas?
Clara olhou assustada pra mãe.
- Nossa, mas que pergunta esquisita pra fazer as 6h da manhã de uma quarta-feira, mãe.
Helena deu uma risada nervosa, sem saber como explicar o motivo da pergunta para a filha.
- Só estou curiosa sobre uma coisa, Cacá.
Clara achou estranho o comportamento da mãe.
- Não, mãe. Nunca senti nada por meninas. – A adolescente respondeu sincera.
- Mas você tem amigas que se relacionam com meninas, né?
Clara deu risada, estava achando bizarro a mãe estar perguntando aquelas coisas sem motivo nenhum.
- Sim, mãe, algumas das minhas amigas são lésbicas ou bissexuais.
- E como elas sabem que são lésbicas ou bissexuais ou qualquer outra coisa? – Helena viu a filha a olhar com uma cara esquisita.
- Mãe, o que te deu hoje? – Clara perguntou curiosa. – Elas sabem do mesmo jeito que todo mundo sabe. Mas isso de ficar rotulando e dando nome pra tudo é bem chato. É só fazer o que te faz feliz e está tudo bem!
Helena notou que a filha falava de modo tão natural. Não que tivesse qualquer tipo de preconceito, na verdade, Renato foi seu primeiro e único homem e Helena nunca havia sequer sentido atração por outras pessoas, fossem homens ou mulheres.
Aquele sentimento causado por Martina, a sensação de sentir seu corpo reagir somente por lembrar dela e se arrepiar toda vez que estavam perto, era algo que Helena não entendia.
E a verdade era que não sentia isso nem mesmo pelo próprio marido.
- Entendi. Obrigada, filha! Agora vamos descer antes que a gente se atrase.
Helena saiu do quarto sem dar chance para Clara questionar qualquer coisa. A menina ficou curiosa para saber porque a mãe viera com aquele assunto, mas achou que poderia ser só curiosidade mesmo.
Mais tarde, Helena estava no escritório do restaurante, perdida no meio de vários papéis e das burocracias que tinha para resolver, quando ouviu o toque de seu celular e notou que se tratava de um número desconhecido por ela.
- Alô!
- Helena?
Helena ainda estava distraída lendo um documento qualquer e não reconheceu a voz.
- Sim, eu mesma! Quem fala?
- Poxa, achei que já conhecesse a voz da sua arquiteta.
- Martina! – Sequer notou o sorriso que aparecia em seu rosto. – Me desculpe, estava distraída com algumas coisas. É claro que já conheço a voz da minha candidata a futura arquiteta.
- Candidata? Magoou meu coração! – Martina sorriu ao escutar a risada de Helena. – Pois eu tenho um convite para te fazer e tenho certeza que depois disso me tornarei oficialmente sua arquiteta.
Helena encarou a papelada toda que estava em sua mesa, ainda pretendia ter um dia longo para resolver tudo aquilo.
- Me desculpe, Martina, mas eu estou preso no meio de vários documentos, tenho muitas coisas para resolver ainda hoje.
- Jura que não consegue fugir nem por uma horinha? Tinha uma surpresa para você!
Helena notou pelo tom de voz que Martina ficou um pouco chateada com seu declínio, mas precisava terminar o que estava fazendo.
Martina não prolongou muito mais a ligação, com a desculpa que não mais atrapalharia Helena em seus afazeres.
E Helena até tentou concentrar-se no trabalho, mas pouco mais de uma hora depois daquela ligação a mulher percebeu que não estava conseguindo manter o foco, sua mente parecia ter uma força a levando até Martina. Só conseguia imaginar que surpresa era essa que Martina havia falado. Imaginava como ela estaria, o que estaria fazendo.
Num súbito rompante de coragem, Helena pesquisou o nome da mulher no Google e encontrou um endereço de trabalho.
- Bruno, surgiu um compromisso urgente e vou precisar sair. – Falou ao encontrar o funcionário. – Se alguém me procurar, diga que não sei se retorno hoje ainda.
No caminho para o escritório da arquiteta, Helena pensava que não estava se reconhecendo. Sequer conhecia Martina, tinha a visto duas vezes na vida e, ainda assim, saiu do trabalho num dia cheio para ir até o encontro da mulher.
Helena não sabia explicar o que deu em si para tomar aquela atitude, mas estava sorrindo só de pensar que encontraria Martina.
Helena chegou ao local indicado, que parecia ser uma galeria de arte, e foi informada que o escritório de Martina ficava no segundo andar.
- Bom dia, tudo bem? Vim para encontrar a Martina Santoro.
- Bom dia. Ela está na sala dela, um segundo que vou anunciar sua chegada.
- Não, por favor. – Helena falou rapidamente. – Ela não está me esperando, quero fazer uma surpresa.
A moça ponderou por alguns segundos, mas Helena não parecia apresentar qualquer perigo, então não viu problemas.
- Tudo bem! Pode ir lá. É a sala ao fim do corredor.
Helena sentia seu coração disparado enquanto caminhava até a sala de Martina.
Bateu duas vezes à porta, mas não obteve resposta, então abriu devagar.
Para sua surpresa, encontrou uma Martina que ainda não tinha visto. A mulher estava sentada em um sofá com as pernas esticadas, seus pés descalços e os cabelos presos num coque frouxo. Parecia concentrada no trabalho, pois não tirava os olhos do notebook em seu colo.
Helena sorriu admirando a visão, até que finalmente foi notada por Martina.
- Helena! Não acredito que você está aqui!
Martina estava sem saber o que fazer pela primeira vez diante de Helena, mas ficou tão feliz que foi até Helena e a abraçou.
As duas sentiram o corpo reagir com aquele abraço.
- Como você soube chegar aqui?
- Você está achando que só você tem seus truques? – Martina a encarou desconfiada. – Foi só colocar seu nome no Google.
As duas caíram na risada.
- Vem, senta aqui comigo. – Martina naturalmente pegou Helena pela mão e a guiou. – E desculpa te receber descalça e descabelada.
- Foi a parte que mais gostei. – Helena deixou escapar e Martina sorriu.
- Fique à vontade, vou pedir um vinho para nós!
Helena sentiu no sofá e aproveitou para observar a sala de Martina. Tudo ali realmente tinha a sua cara, tudo tinha muita personalidade. Admirou também a mulher enquanto a olhava ao telefone, estava encantada por encontrar Martina desmontada daquela imagem de mulher super confiante e impecável de sempre. Ali, andando descalça em sua sala, a mulher parecia ainda mais fascinante aos olhos de Helena.
- E então, qual era a surpresa que tinha para mim?
Helena perguntou assim que Martina sentou ao seu lado.
- Tenha calma, senhorita! – Falou sorrindo. – Vou te apresentar ao meu mundo, depois vem a surpresa.
As duas se perderam no tempo naquela tarde. Martina fez questão de apresentar seu trabalho, alguns projetos, o espaço de trabalho e Helena, mesmo sem entender muita coisa daquele mundo, estava atenta e encantada com a paixão e leveza com que Martina lhe mostrava tudo.
Por fim, Martina apresentou um escopo do projeto que teria para o restaurante. Tinha passado dois dias praticamente se doando aquilo para que ficasse perfeito e agradasse Helena.
- E então, o que achou? Por favor, seja sincera.
- Eu amei, Martina! Juro! – Helena estava sendo sincera. – Mudaria alguns detalhes, mas o projeto é moderno, contemporâneo, sólido, é exatamente o que eu estava procurando!
Depois das duas garrafas de vinho que já estavam vazias, Martina não conteve sua felicidade e deu um beijo rápido no rosto de Helena.
- Eu estava tão ansiosa para te mostrar, mas com tanto medo que não gostasse.
- Se eu disser que agora você é oficialmente minha arquiteta, você acredita que eu realmente gostei?
Martina não estava se contendo de alegria, tamanha a felicidade por ter agradado Helena e por pensar que a teria por perto por mais tempo.
- Jura? Você não sabe o quanto isso me deixa feliz, ainda mais por saber que vou estar perto de você.
Helena sentiu seu rosto queimar ao ouvir aquelas últimas palavras.
Martina notou que a deixou sem jeito e aproximou-se dela. Sem querer assustá-la, afastou uma mecha de cabelo que caía sobre seu rosto e fez um leve carinho.
- Eu não consigo tirar você dos meus pensamentos desde que te vi pela primeira vez, Helena.
Ali naquele tapete, a distância entre as duas era curta, os rostos estavam a poucos centímetros um do outro e Helena se pegou encarando os lábios de Martina, enquanto a escutava dizer aquelas palavras.
Helena poderia dizer exatamente aquelas palavras para Martina. O encontro entre as duas parecia ter as marcado da mesma forma.
A quantidade de vinho tomada pelas duas também ajudara no clima, deixando Helena mais à vontade.
- Você é fascinante, Martina! – Helena confessou o que estava em seu interior. – Eu estou encantada em te conhecer cada vez mais.
Martina aproveitou aquelas palavras para encurtar a distância. Agora seus corpos se tocavam e ambas sentiram um arrepio imediato.
Martina colou o rosto ao de Helena, num leve roçar carinhoso, enquanto arranhava suavemente a nuca da mais velha.
Helena sentia-se totalmente entregue ao que estava sentindo naquele momento. Tudo em seu corpo implorava por Martina. Mas num rompante a realidade lhe invadiu em cheio. Tinha um marido e dois filhos a sua espera em casa.
Helena respirou fundo ao olhar nos olhos de Martina.
- Eu preciso ir embora.
- Eu posso ao menos te levar em casa?
- Não precisa, estou de carro. – Helena finalmente se afastou e ficou de pé. – Obrigada pela tarde, Martina.
Martina também ficou de pé e sem perder tempo, segurou na mão de Helena, iniciando um carinho devagar.
- Eu que agradeço, é sempre uma delícia estar contigo. E espero que nossa parceria profissional esteja de pé!
- Está! Eu não menti ao dizer que me encantei com o projeto. Falaremos mais sobre isso!
Martina deu um beijo na mão de Helena e a viu sair de sua sala.
Sentiu a frustração lhe atingir em cheio, mas não demonstrou, não forçaria nada que fizesse Helena se afastar.
Helena, por sua vez, saiu dali sentindo um misto de sentimentos. Se tivesse continuado tão perto de Martina por mais um segundo teria se deixado levar por todas as vontades que tomaram conta de seu corpo naquele momento.
Ao mesmo tempo, não conhecia deixar de pensar em sua família que estava em casa a sua espera.
Lembrou das palavras da filha naquele dia mais cedo. Basta fazer o que te faz feliz e tudo estará bem.
Helena chegou em casa, mas não tinha forças para sair do carro. Ainda sentia a pele arrepiada pela proximidade, pelos toques, o perfume de Martina parecia impregnado em seu corpo. Nunca tinha sentido isso na vida antes, nunca ninguém lhe despertou tantas sensações e vontades, ainda mais em tão pouco tempo.
As duas ainda estavam interligadas pelo pensamento. Helena ouviu o toque do celular e viu o nome de Martina no visor.
- Martina? - Atendeu insegura.
- Oi. – Martina sorriu somente por ouvir aquela voz. – Sua presença e seu cheiro ainda estão aqui. Chegou bem em casa?
Helena suspirou, cada palavra que Martina dizia causava efeito imediato em si.
- Sim, acabo de chegar em casa. Ainda está no trabalho? Está tarde, vá para casa descansar.
- Acho que hoje dormirei aqui nesse tapete mesmo, somente por dormir sentindo seu perfume tenho certeza que será melhor que qualquer cama.
- Não faça isso, amanhã estará um caco, meu perfume não faz milagres. – Helena aconselhou sorridente.
- Você que pensa, seu perfume e seu sorriso são capazes de curar todas as minhas dores. – Helena riu daquele galanteio exagerado. – Mas você está certa, já estou indo para casa. E só liguei mesmo para saber se chegou em segurança.
- Tudo bem então. Tenha cuidado ao ir embora, qualquer coisa me ligue. Boa noite, Martina!
- Boa noite, Helena!
Helena suspirou ao finalizar a ligação. Mais calma, entrou em casa e encontrou o marido e os filhos sentados à mesa jantando.
- Oi, meu bem. Que bom que chegou a tempo de jantar conosco!
Renato falou ao ver a esposa, mas Helena não sentia a menor fome, precisava tomar um banho e refrescar a mente.
- Oi, Renato. Oi, crianças! – Deu um beijo em todos. – Obrigada, mas não sinto fome agora, preciso subir e tomar um banho.
Renato imaginou que a mulher estivesse cansada do dia de trabalho e não se opôs. Quando a esposa já estava se distanciando, lembrou de algo.
- Leninha! – Helena olhou para o marido. – Sexta-feira ofereceremos um jantar ao Adam e algumas pessoas do trabalho aqui em casa, tudo bem? É a despedida do Adam.
- Tudo bem! Me fale amanhã quantas pessoas serão para eu providenciar tudo que for necessário.
Helena subiu e foi direto para o banho. Deixava a água cair sobre sua cabeça tentando organizar seus pensamentos, mas tudo que vinha a sua mente era a imagem de Martina.
Martina também chegou em casa carregada com a mesma sensação de êxtase pelo corpo. Nunca na vida esteve tão envolvida com alguém, ainda mais em tão pouco tempo.
- Ultimamente só a vejo chegar em casa com esse sorriso de quem está nas nuvens!
Martina teve um leve sobressalto ao ouvir a voz de Catarina, sua irmã mais nova, que estava sentada no sofá da enorme sala da casa.
- Pois acredite, Cata, o que estou sentindo é muito além de “estar nas nuvens”, acho que sequer tem expressão que defina. – Respondeu ao jogar-se no sofá, deitando no colo da irmã.
Catarina riu, mas estava um pouco surpresa, nunca viu a irmã naquele estado e, como melhores amigas que eram, esteve próxima da irmã em todas as paixões e namoros.
- Uau! Quem é o alienígena que te deixou assim, Tina?
Martina fez cara feia para a irmã.
- Ora, pra te deixar com essa cara de bocó, tem que ser de outro mundo.
Martina acabou dando risada da gracinha da irmã.
- Não duvido que seja, ela é linda demais para ser desse mundo!
- Ai, Martina, mas que melação também viu! Quem é? Me fala logo.
Martina contou para a irmã tudo que estava acontecendo desde o dia da festa, tentando colocar em palavras tudo que estava sentindo e todas as sensações que Helena lhe causava.
- É, de fato, essa Helena não é desse mundo, te deixou assim sem você ter levado ela pra cama logo na primeira noite.
Martina deu um tapa leve na irmã.
- E eu tenho culpa se as mulheres não resistem ao meu charme? – Perguntou convencida.
- Bom, parece que a Helena tem resistido muito bem.
Martina ameaçou dar outro tapa na irmã, mas levantou do sofá, estava cansada depois de tanto vinho.
- Helena vai ser minha, pode acreditar!
- Ainda bem que já tenho data marcada para conhecê-la. Preciso ver com meus próprios olhos essa mulher!
Martina não entendeu o que a irmã queria dizer.
- Como assim já tem data marcada para conhecer a Helena?
- Sexta à noite terá um jantar na casa dela e do marido, oferecido para o tal americano que está por aqui. Papai me pediu para acompanhá-lo.
Martina não pensou duas vezes para responder a irmã.
- Diga a papai que coloque meu nome na lista de convidados. – Disse com um sorriso que misturava alegria e malícia.
Fim do capítulo
Olá, meninas!
Mais um capítulo, que espero que gostem e deixem suas impressões, nesse começo é muito incentivador!
Aproveito para dizer que as postagens serão as segundas e quintas (estou adiantando a de amanhã, que é feriado).
Beijos.
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mtereza
Em: 20/11/2021
Eita acho que esse jantar vai dar o que falar o clima entre elas já está pegando fogo vamos ver até quando o marido vai ser impedimento para Helena viver essa paixão até quando ela vai resistir , acho que não muito kkkk
Gostando muito das suas historias
Resposta do autor:
eita, será que não aguentam muito? hahaha
que bom que está gostando!
bjs
Resposta do autor:
eita, será que não aguentam muito? hahaha
que bom que está gostando!
bjs
Resposta do autor:
eita, será que não aguentam muito? hahaha
que bom que está gostando!
bjs
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