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  • MANUAL NADA PRÁTICO PARA SOBREVIVER A UM GRANDE AMOR
  • CAPÍTULO 48– LIÇÃO 42: EXISTE PAZ NA INQUIETAÇÃO

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MANUAL NADA PRÁTICO PARA SOBREVIVER A UM GRANDE AMOR por contosdamel

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Palavras: 6949
Acessos: 1915   |  Postado em: 18/11/2021

CAPÍTULO 48– LIÇÃO 42: EXISTE PAZ NA INQUIETAÇÃO

Como a nossa estadia seria mais longa do que planejávamos a princípio, tratei de mudar nossas acomodações para um apartamento, também próximo ao hospital através do aplicativo consegui um contrato mais flexível por temporada. O bairro Paraíso era um lugar privilegiado no coração da zona sul paulistana, considerado uma área nobre da cidade, ficava próximo ao Parque do Ibirapuera, e da avenida Paulista. Todo o cuidado na escolha se deu não só pelo nosso conforto, mas, principalmente para ouvir menos queixas de minha mãe.

 

O impacto do meu reencontro com Marcela tomou uma proporção que eu não supunha vivenciar, eu cria inocentemente, que havia superado nossa história, que o tempo havia se encarregado de nos dar as respostas sobre o caminho de cada uma. Eu estava com uma mulher incrível, até então eu nutria algumas certezas sobre meu futuro em terras inglesas considerando até mesmo hipóteses sobre casamento e a maternidade. Essas eram minhas crenças até rever Marcela e eu ressentir aquela confusa sensação de história inacabada.

 

Tudo que eu sabia de Marcela eram informações de redes sociais, já faziam alguns meses que eu me policiava para não stalkear minha ex-namorada, não sei se por negar aquele desejo latente de acompanhar sua vida, ou se por medo de amargar a decepção de testemunhar seu caminho com outra mulher. Até voltar ao HCor para internar meu pai, cedi a tentação de visitar o perfil de Marcela, e para minha frustração nada se referenciava a sua vida pessoal, aquele perfil havia mudado, fotos antigas foram arquivadas ou excluídas, e no lugar delas, apenas postagens de cunho profissional, além da divulgação de outro perfil com informações relacionadas aos seus locais de atendimento na cidade de São Paulo. Em suma: eu não sabia nada da vida atual de Marcela, exceto que ela estava na equipe do estudo clínico que cuidaria do meu pai, e que ela continuava linda, e não era mais uma menina como eu me recordava.

 

O que eu mais temia aconteceu: a constatação que o reencontro com Marcela me perturbaria a ponto de ficar ansiosa para revê-la, ter sonhos confusos misturando passado e presente.

 

A internação do papai foi tranquila, ele era o mais otimista, e seu bom humor logo conquistou a equipe que cuidava dele, por muitas vezes ele era o responsável por quebrar as insistentes diligências da mamãe em achar algum defeito no serviço do hospital. A maratona de testes incluindo o de novos esquemas farmacológicos, eram documentados por enfermeiros e médicos, desde os mais experientes que lideravam a pesquisa até os residentes em cardiologia e nesse meio, sabem quem eu procurava, não é? Não sei qual o sentimento predominava, se era ansiedade, frustração ou alívio por não encontrar Marcela nos dois primeiros dias da internação do papai.

 

No final de semana, depois de muita insistência minha, mamãe se rendeu e foi dormir no apartamento, as noites mal dormidas lhe despertaram uma crise de labirintite, medicada por um dos médicos da equipe, recomendou o repouso, assim ela me deixou a cargo de passar a noite sozinha com o papai no hospital.  

 

Depois de responder e-mails e falar com Ivy e Ben pelo Facetime, me recolhi naquela caminha apertada de acompanhante sob as luzes da janela que dava uma bela visão da noite paulistana. Desfrutava de um sono leve, temia que papai precisasse de algo e eu teria que despertar facilmente, por esse motivo, qualquer barulho no quarto poderia me acordar. Contudo, o cansaço me fez cochilar mais profundamente, não notei a porta se abrir, talvez estivesse em um sonho, já que nos últimos dias, aquele rosto era constante neles... Com dificuldade abri meus olhos e vi sentada bem próxima a mim, em um espaço minúsculo na pontinha da cama, a própria: Marcela, que parecia contemplar meu sono.

 

--Marcela? O que faz...

 

 

 

-- Shi... Vai acordar seu pai...

 

 

 

            Marcela se levantou e fez sinal para que eu a acompanhasse. Ainda sem saber se era sonho ou realidade, sai para o corredor envolta com o moletom da universidade de Cambridge, presente da Ivy.

 

 

 

-- Que horas são? O que faz aqui? – Perguntei esfregando os olhos.

 

 

 

-- Pouco mais de meia noite, desculpe-me te acordar, não tive a intenção...

 

 

 

-- Mas, o que faz aqui, em plena madrugada de sábado?

 

 

 

-- Luiza, sou médica, trabalhar nos finais de semana, dar plantão, faz parte... – Marcela fez uma careta, me lembrando a menina que conheci.

 

 

 

-- Ah... Está de plantão? Então veio checar o papai?

 

 

 

-- Uhum. – Marcela respondeu sem jeito, eu conhecia os sinais no seu tom de voz quando mentia. – Ele está bem, na segunda-feira vamos inserir o dispositivo, a partir daí é outra etapa no protocolo.

 

 

 

-- Que bom ouvir isso. Bom também ver que você conseguiu o que queria: médica pesquisadora! Olha só você... isso foi assunto de uma de nossas primeiras conversas, até na entrevista do GRUFARMA, você falou disso. Fico feliz, está clinicando e pesquisando... era o que você queria para sua carreira!

 

 

 

            Falei com um certo tom melancólico, mas também demonstrando minha satisfação com seu sucesso. Marcela olhava para o chão, e me respondeu com um sorriso tímido:

 

 

 

-- É, você foi fundamental para essas realizações, digo... A experiência no grupo de pesquisa da faculdade...

 

 

 

-- Fico feliz que a experiência tenha ajudado a definir o que você queria para sua carreira, estou feliz e orgulhosa.

 

 

 

            Alguns segundos de silêncio enquanto nos olhávamos procurando as melhores palavras para continuar aquela conversa aparentemente descompromissada.

 

 

 

-- Hum... Cambridge? Pensei que estivesse em Oxford...

 

 

 

            Marcela observou meu moletom. E eu como se precisasse assumir alguma culpa por um delito, me atrapalhei para explicar:

 

 

 

-- Ah... esses moletons são vendidos em todo lugar, e são universidades “irmãs” – fiz o sinal de aspas com as mãos – São cidades próximas, é comum...

 

 

 

-- Ei, Luiza, calma. Só estava puxando assunto...

 

 

 

            Sorri sem graça, captando as entrelinhas, Marcela sabia de algo que me vinculava a Cambridge, ela provocou e eu caí na armadilha.

 

 

 

-- Se precisar de algo, é só pedir no posto de enfermagem para me localizar. Vou para o repouso médico, aproveitar que está tudo tranquilo, e você pode voltar para sua caminha apertada perto do seu pai.

 

 

 

            Sorri, e acenei em acordo. Marcela me abraçou rapidamente como uma conhecida de longa data, um gesto que poderia soar como algo trivial exceto no ponto que nossos rostos se cruzaram no desenlace dos braços fazendo com que nossos olhares se encontrassem com poucos centímetros de separação, e acidentalmente os lábios se tocarem de raspão quando tentei beijar sua bochecha.

 

 

 

-- Desculpa, é... Eu... Não quis...

 

 

 

-- Mah, sossega... Obrigada por ter vindo e... A gente se vê para um café?

 

 

 

-- Claro, Malu...

 

 

 

            A gente sorriu, e eu entrei no quarto do meu pai, com o coração sobressaltado, com as pernas trêmulas, com aquele simples roçar de bocas e o tom doce da voz de Marcela me chamando pelo apelido que ela tinha me dado, inebriada pelo seu perfume em mim, revivi o que há anos estava dormente e meu pensamento passou a ser dela novamente.

 

Se faltavam motivos para minha insônia, agora eu tinha dezenas. Assisti da janela a noite dar lugar ao dia, e mal o sol nasceu, minha mãe já despontava no quarto, apressada para receber “o plantão”.

 

-- Como ele passou a noite? Está tudo bem? Por que você está de pé? E essas olheiras?

 

 

 

-- Bom dia pra senhora também, mãe. O papai ainda está dormindo...

 

 

 

-- Ela está de pé desde a madrugada, acho que ela está treinando para assumir a guarda da rainha da Inglaterra, ficou aí de pé praticamente a noite toda...

 

 

 

Meu pai me surpreendeu falando ainda de olhos fechados.

 

-- O senhor dormiu que roncou a noite toda, como sabe se estou acordada há tempos ou não? Já que o senhor está aqui consertando esse coração aí, devíamos aproveitar pra dar um jeito nesse ronco do senhor, impossível dormir com esse trator operando a noite toda! Como a senhora aguenta, mãe?

 

 

 

Minha mãe segurou o riso, certamente não queria dar o braço a torcer em concordar comigo.

 

-- A sua sombra perto da janela me fez sonhar conversando com o Batman.

 

 

 

            Meu pai brincou e dessa vez nós três gargalhamos juntos.

 

 

 

-- Pode ir minha filha, já que não dormiu nada, vá descansar, cuido do seu pai.

 

 

 

-- Tem certeza, mãe? A senhora está melhor da labirintite?

 

 

 

-- Estou bem, qualquer coisa eu te ligo.

 

 

 

            Concordei, não queria também quebrar aquela frágil harmonia entre minha mãe e eu, sentia que aquele tempo juntas cuidando do papai, acabou por nos aproximar. Na saída do hospital, enquanto eu chamava um carro por aplicativo, ouvi a voz familiar que recém tinha voltado a tirar minha paz.

 

 

 

-- Bom dia, doutora Luiza!

 

 

 

-- Bom dia, doutora Marcela.

 

 

 

-- Acabamos juntas o plantão?

 

 

 

-- Parece que sim, acabei de render o meu plantão à minha mãe.

 

 

 

-- Então, quer uma carona?

 

 

 

-- Ah, não precisa, já estava chamando um Uber, não se preocupe, deve estar exausta.

 

 

 

-- Estou acostumada... Mas, você me deve um café, estou precisando de um bom café da manhã, quer me acompanhar?

 

 

 

            Marcela não me deu tempo de responder, insistiu:

 

 

 

-- Vamos lá, não tem waffles nem panquecas como os que você está acostumada, mas, tem pão de queijo fresquinho...

 

 

 

-- Jogou baixo heim? Saudades de pão de queijo!

 

 

 

            Marcela só fez um gesto com a cabeça apontando a direção do estacionamento, e eu, a segui. Mantínhamos uma certa cautela sobre os assuntos a serem falados, mesmo que casualmente, como se evitássemos questões sensíveis, mas, não pude deixar de notar ela observando minha preocupação em responder mensagens rapidamente.

 

 

 

-- Eu sei que tenho histórico de te levar pra comer em food trucks, e em locais não muito elegantes, e não vai ser hoje que vou mudar essa referência. A padaria é bem simples, mas eu garanto que o pão de queijo é caseiro e muito bom!

 

 

 

            Marcela falou enquanto estacionava, eram pouco mais de dois quarteirões do hospital.

 

 

 

-- Poderíamos ter vindo a pé, tão pertinho...

 

 

 

-- Ah, eu não sabia que você tinha aderido as necessidades do planeta de diminuir a emissão de gás carbônico... Quatro anos na Inglaterra e você volta assim? Civilizada e politicamente correta?

 

 

 

            Fiz menção em responder com irritação, só depois percebi que era uma provocação jocosa da jovem médica.

 

 

 

-- Você deveria aderir também, e evitar o usar o carro para pequenas distâncias, combater o sedentarismo, sabia que isso faz bem ao coração?

 

 

 

-- Uau! Um plow twist! Boa, doutora! Vamos entrar e pegar uma mesinha, daqui a pouco não vai sobrar uma.

 

 

 

            Era uma padaria bem simples, mais parecia uma lanchonete, muito comum no cotidiano paulista, perto do balcão grandes chapas que preparavam o típico pão na chapa, ovos mexidos, mas, o que me atraía era o cheiro do café coado tomando de conta do local e dos pães de queijo frescos. Marcela falava com familiaridade com os funcionários, pedindo o de sempre para nós duas.

 

 

 

-- Não recomendo o chá das cinco aqui para a senhora, os chás daqui não são uma boa pedida. – Marcela brincou.

 

 

 

-- Você está adorando zoar da minha cara, não é?

 

 

 

-- Não estou zoando, estou tentando te ajudar na adaptação nesse país selvagem. -Marcela abriu um sorriso largo.

 

 

 

-- Acha que eu tornei uma esnobe só por que vivi alguns anos na Inglaterra? Para ser bem honesta, esses hábitos ingleses não me atraíram em nada! Muito menos a culinária, passei por apertos no começo lá...

 

 

 

-- Eu me lembro das suas reclamações sobre a falta de sabor nas refeições na universidade...

 

 

 

-- É verdade, eu te falei, não é? Mas no inverno piorou, comi tantas tortas diferentes, devo ter engordado uns oito quilos... O que me salvou foi meu novo hábito de pedalar.

 

 

 

-- Pedalar? Luiza, você me disse que eram pouco mais de 2 quilômetros da sua casa até o campus... – Marcela gargalhou.

 

 

 

-- Você não sabe de nada! Eu até competi em uma maratona, tá? Peguei gosto, não pedalava só para ir ao campus!

 

 

 

-- Ui, ela virou ciclista! Desculpe-me doutora, isso a senhora não postou em Instagram, como eu poderia saber?

 

 

 

            Por segundos nos encaramos, não soube disfarçar a informação que Marcela acabara de revelar: o monitoramento por redes sociais era um hábito de via dupla entre nós. O silêncio foi quebrado com a chegada da porção de pão de queijo e a xícara de café com um pingado de leite.

 

 

 

-- Au au, quente, quente.

 

 

 

            Quando mordi a iguaria, não esperava todo aquele vapor escaldante. Marcela não escondeu como se divertia ao me ver afoita avançando no pão de queijo sem me precaver da temperatura implícita no pão de queijo recém saído do forno.

 

 

 

-- Não sabia que estava tão faminta, Luiza.

 

 

 

-- Não era fo-me – Falava soprando para dentro o ar, sentindo a língua queimada.

 

 

 

            Marcela pediu ao garçom uma água e me serviu.

 

 

 

-- Bebe devagar, para não sufocar, neném.

 

 

 

            Franzi a testa contrariada com o palavreado infantil sob os risos de Marcela e bebi a água fria. Marcela abriu um dos pães no prato com dois guardanapos, soprou delicadamente e me entregou.

 

 

 

-- Pronto, agora, pode experimentar.

 

 

 

            O cuidado dela, e seu olhar doce me despertou uma miscelânea de sentimentos de aconchego na minha alma, era aquela paz de estar exatamente no alinhamento perfeito do universo. Na prática havia uma grande disparidade nesse alinhamento, mas, não existia outra sensação que definisse a serenidade que eu experimentava diante de Marcela, depois de anos separadas, por minutos não parecia ter havido afastamentos, sacrifícios, ausências.

 

 

 

-- E então? Aprovado? – Marcela perguntou.

 

 

 

-- O que?

 

 

 

-- O pão de queijo, Luiza!

 

 

 

-- Ah! Não estou sentindo muito a língua... – vi a decepção na expressão de Marcela – Estou brincando! É delicioso, Mah! Mas... o cachorro quente daquela Kombi em Ipanema, é bem melhor!

 

 

 

-- Não misture as estações, são iguarias diferentes, doutora!

 

 

 

            Assenti com um gesto, já que não podia falar de boca cheia. Como combinado, Marcela me deixou no prédio que eu estava hospedada, logo após tomarmos o café.

 

 

 

-- Está bem acomodada aí? – Marcela apontou com os olhos para o prédio.

 

 

 

-- Ah sim, é um bom apartamento. Até agora, minha mãe não achou defeitos, então, deve ser muito melhor do que a propaganda anunciava.

 

 

 

-- Esse trecho é ótimo. Tem alguns restaurantes bons por aqui, se precisar comer fora, ou pedir...

 

 

 

-- Conhece?

 

 

 

-- Sim, moro a umas cinco quadras daqui, mas na rua de trás.

 

 

 

-- Jura?

 

 

 

-- Perto do hospital, e da clínica que atendo...

 

 

 

-- Dois empregos, pai do Cris? – Ri, me referindo a série de TV “Todo mundo odeia o Cris”.

 

 

 

-- São três na verdade... A cada quinze dias eu atendo em uma clínica em Ribeirão Preto.

 

 

 

-- Estou impressionada... Como consegue dar conta?

 

 

 

-- Isso por que não te falei ainda que concluí meu mestrado...

 

 

 

-- Meu Deus! Você está bem? Tem tido tempo de fazer outra coisa que não seja trabalhar?

 

 

 

-- Foi uma fase louca, Malu. Mas, acabou dando certo, e agora está tudo organizado, consigo fazer mais do que trabalhar.

 

 

 

            Minha tentativa de saber mais sobre a vida pessoal de Marcela foi frustrada com uma resposta evasiva.

 

 

 

-- Então, não vou te prender mais, aproveite seu descanso... Muito obrigada pelo café, pela carona...

 

 

 

-- Obrigada pela companhia, é sempre a melhor.

 

 

 

            Mais uma vez o magnetismo de nossos olhares nos prendeu por segundos, ali mesmo dentro do carro, um desejo crescente, latente no peito me prendia na companhia de Marcela, e antes que abríssemos espaço para algo mais visceral entre nossos corpos, a chamada de Ivy no meu telefone rompeu o clima que beirou o romantismo saudoso.

 

-- Eu preciso atender, desculpa.

 

 

 

-- Claro... Amanhã nos vemos, vou participar do procedimento do seu pai.

 

 

 

-- Bom saber... Tchau Mah.

 

 

 

            Uma carga de culpa se instalou nos meus ombros pelo simples fato de desejar não ter sido interrompida pela ligação de Ivy. Nem ao menos poderia afirmar que aconteceria algo entre mim e Marcela naquela despedida dentro do carro, mas, como eu desejei que tivesse acontecido. A culpa não era só por ter desejado, era principalmente por continuar desejando e agir como se nada tivesse acontecido ao telefone com Ivy.

 

 

 

-- Hey baby, liguei em hora ruim? As vezes me perco com o fuso horário.

 

 

 

-- São nove da manhã aqui, deve estar perto do almoço por aí, ótimo horário, baby. Como foi a apresentação do Ben? Ele estava tão ansioso ontem...

 

 

 

-- Ah, vou te mandar o vídeo! Não há Peter Pan mais lindo!

 

 

 

-- Tenho certeza disso, e como você está?

 

 

 

-- Eu sinto sua falta, como está seu pai? Quais são as próximas etapas?

 

 

 

-- Amanhã farão o procedimento para inserir o dispositivo, e aí vamos passar mais alguns dias fazendo alguns testes para monitorá-lo.

 

 

 

-- Baby, pelo que vejo, você deve demorar ainda no Brasil, vou planejar minha ida, passar alguns dias com você.

 

 

 

            Silêncio no telefone. Se minha culpa falasse ela bradaria, se meu desejo fosse exposto eu gritaria com mais fervor, ao invés disso, eu travei.

 

 

 

-- Luiza? Algo errado?

 

 

 

-- Ah não, baby, só estava colocando o celular no carregador... Ficaria muito feliz se você pudesse passar alguns dias comigo aqui no Brasil, quando voltarmos ao Rio.

 

 

 

-- Então planejaremos melhor quando você deixar São Paulo.

 

 

 

-- Isso, baby.

 

 

 

            Contornei a situação com algum grau de angústia, por estar enganando Ivy, por omitir meu encontro com Marcela em São Paulo, ela conhecia nossa história, pelo menos superficialmente quando falávamos de relacionamentos passados, o nome de Marcela era o mencionado com mais frequência.

 

            O pior dessa situação era meu excesso de pudor, a vergonha em experimentar aqueles sentimentos tinham uma dimensão tão descomunal que me impedia de compartilhar com algum amigo o que eu sentia. Escondi até mesmo o fato de ter encontrado Marcela no Hcor e que ela era da equipe que estava cuidando do papai. Entre os mais próximos que eu poderia desabafar eu pressentia a reação de cada um, talvez a Cris pudesse entender, mas esta era a presidente do fã clube Ivy, tinha certeza que ela classificaria meu comportamento como uma traição, Clarisse me aconselharia a ficar longe de Marcela e o Ed, bem, ele me incentivaria a resolver de uma vez por todas meus sentimentos duvidosos com uma tórrida noite de sex*, mas certamente não ia conseguir guardar segredo da Cris sobre isso, o melhor que eu poderia fazer era organizar meus pensamentos e focar apenas no tratamento do meu pai.

 

            O procedimento da inserção do Cardiversor desfibrilador implantável foi tranquilo. A doutora Ana Carolina veio com Marcela até a recepção para nos tranquilizar, e avisar que naquela noite, por precaução ele ficaria na UTI cardiológica, apesar do procedimento não ter sido invasivo, o monitoramento das primeiras 24h teria que ser muito rigoroso, e somente a terapia intensiva dispunha de equipamentos para tanto.

 

-- Vamos para casa, mãe. Voltamos quando o papai for transferido para o quarto.

 

 

 

-- Não gosto disso, não quero ficar longe do Antônio.

 

 

 

-- Dona Helena, ele está bem, se a senhora quiser pode vê-lo por alguns minutos, ele está consciente, respirando sozinho, tem uma equipe muito competente mimando-o, eu garanto.

 

 

 

            Marcela falou de maneira amável, segurando as mãos da minha mãe, que apertou os olhos e disparou:

 

 

 

-- Você é muito gentil... Não te conheço de algum lugar?

 

 

 

            Marcela me olhou imediatamente, e eu, pálida só balancei a cabeça negativamente, franzindo minha testa, ela entenderia o sinal.

 

 

 

-- Meu rosto é muito comum, dona Helena, estive na primeira consulta do seu marido aqui...

 

 

 

-- Não, não... naquele dia mesmo eu achei seu rosto familiar.

 

 

 

            Eu precisava mudar de assunto, com um pouco de esforço minha mãe juntaria um mais dois e a equação estaria resolvida. Ela viu Marcela por chamada de vídeo umas duas vezes quando namoramos e ainda teve a cena no aeroporto na despedida, de boba minha mãe não tinha nadinha.

 

 

 

-- A senhora vai querer ver o papai, antes de irmos?

 

 

 

-- Ah sim, quero, por favor.

 

 

 

-- Venha comigo dona Helena.

 

 

 

            Doutora Ana Carolina conduziu minha mãe até pelo corredor e eu suspirei aliviada.

 

 

 

--Luiza, está com vergonha de mim? – Marcela indagou desconcertada.

 

 

 

-- Com vergonha de você? Claro que não, Marcela! É que... Tem sido dias muito complicados na relação com a minha mãe, nervos a flor da pele, cicatrizes e feridas também... Longa história, só quis te poupar de uma cena dela, acredite, não seria nada agradável.

 

 

 

-- Achei que ela gostasse de mim, foi o que pareceu nos nossos poucos encontros.

 

 

 

-- Ai Marcela, como alguém não gostaria de você? Mas, a questão não é com você, é comigo... Mamãe não aceita que a única filha dela seja gay, isso ficou muito claro com a doença do papai.

 

 

 

-- Sei... Dramas familiares...

 

 

 

-- Obrigada pela paciência com a mamãe...

 

 

 

-- Faz parte do trabalho, Luiza, não precisa agradecer, está no combo da cardiologia: lidar com esposas devotadas.

 

 

 

            Sorri desejando protelar aquela conversa.

 

 

 

-- Será que você tem um tempinho para um café... Enquanto eu espero a mamãe...

 

 

 

-- Desculpa, Luiza, eu tenho uma consulta daqui a pouco, na verdade consultas, até a noite.

 

 

 

-- Ah... Tudo bem então, vai lá, e mais uma vez, obrigada.

 

 

 

-- Mas... Se você topar, podemos jantar mais tarde, bem mais tarde, por que eu só devo sair daqui depois das 20H.

 

 

 

-- Topo!

 

 

 

            Meu aceite instantâneo talvez tenha soado como um berro da minha ansiedade em estar a sós com Marcela de novo, na verdade pareceu meio desesperado. Marcela sorriu depois de arregalar os olhos.

 

 

 

-- Eu já tinha um texto preparado para te convencer... Foi fácil demais heim, Luiza?

 

 

 

-- Tá convencida heim? Se achando né?

 

 

 

            Marcela deu de ombros, sorrindo.

 

 

 

-- Passo para te pegar as 21h, não se atrase. Ah! -Marcela se aproximou. – Dá aqui – pegou meu telefone – Você não me pediu, mas, esse é meu telefone, caso tenho deletado meu contato.

 

 

 

-- Por que eu deletaria seu contato?

 

 

 

-- Isso explicaria por que não me ligou por tantos anos...

 

 

 

            O sorriso saiu do meu rosto dando lugar a uma expressão mais séria. Notando minha reação, Marcela emendou:

 

 

 

-- Mas te dei meu telefone só para o caso de um imprevisto, de precisar atrasar, ou cancelar... Sou uma médica séria, nada de ficar me mandando memes e mensagens motivacionais, ok? Não tenho tempo para isso.

 

            Notei o tom jocoso na expressão de Marcela e acenei em acordo.

 

 

 

-- Pode deixar, doutora.

 

 

 

            Marcela só acenou se despedindo quando viu mamãe se aproximar. Afim de testá-la mandei uma figurinha divertida pelo whatsapp, de um cachorrinho lambendo a tela, e imediatamente ela respondeu com outra figurinha de outro filhote escorregando. De longe trocamos um sorriso, fato que foi observado atentamente pela minha mãe.

 

 

 

            Eu sabia que aquela observação da mamãe não ficaria sem uma alfinetada, ao ver eu me aprontando para sair, contrariando nossa rotina de diálogos nos últimos dias, ela disparou:

 

 

 

-- Já dispensou a inglesa que era sua mais nova família?

 

 

 

-- Já o que?

 

 

 

-- Você não tinha uma mulher lá na Inglaterra? Não tem mais?

 

 

 

-- Tenho uma namorada na Inglaterra, e a senhora sabe o nome dela, mãe.

 

 

 

-- Então é assim entre vocês? Sai com uma e outra, não tem compromisso... Como querem ser levadas a sério? E olha que você falou de família...

 

 

 

-- O que a senhora está insinuando, mamãe, desembucha aí esse veneno.

 

 

 

-- Não estou insinuando, você vai sair, não é? E com outra mulher, a médica novinha, não é?

 

 

 

-- Que mania a senhora tem de colocar tarjas, rótulos como se não soubesse o nome das pessoas...

 

 

 

-- Fugindo do assunto, tão típico de você, Luiza.

 

 

 

            Mamãe saiu do meu quarto, me deixando profundamente irritada.

 

 

 

-- Não estou fugindo de nada, não vou responder por que a senhora está cheia de insinuações maldosas, a senhora já tem suas conclusões sobre minha vida, meus relacionamentos e elas não me interessam.

 

 

 

-- Eu sei que não te interessa mesmo minha opinião, nunca ligou.

 

 

 

-- Já superei essa fase de me preocupar com a opinião da senhora, mamãe. Só posso lamentar que seja tão preconceituosa e me julgue tão mal, só mostra que a senhora não me conhece tão bem como diz.

 

 

 

-- Talvez eu só conheça o que você quer que eu conheça, não sei muito da sua vida, mas isso é culpa só minha?

 

 

 

            Até ensaiei continuar respondendo a minha mãe, mas aquelas discussões com ela me sugavam as energias. Concentrei-me em me arrumar para Marcela... Deus! Eu estava me arrumando para Marcela! Como eu podia me sentir ofendida pelas conclusões da mamãe? Eu tinha uma namorada e estava me arrumando para sair com outra mulher que claramente mexia comigo de uma maneira que eu mesma não sabia o que representava para mim. Não sabia a proporção ou o significado desses sentimentos que eu experimentava desde o reencontro com Marcela. Não sabia se era só saudosismo, atração, curiosidade, ou se meus sentimentos estavam adormecidos, esperando um mínimo esforço para vir à tona com toda a força que eu temia que ainda existisse.

 

            Como uma menina apaixonada, eu estava ali no hall do prédio, ansiosa olhando a cada 30 segundos para o relógio, esperando Marcela, que avisara por mensagem estar a caminho. Juro que engoli meu coração umas três vezes até entrar no carro dela, e uma quarta, quando a cumprimentei com um beijo no rosto.

 

 

 

-- Nossa... Você numa superprodução e eu estou com a mesma roupa que saí de casa hoje de manhã... Agora estou constrangida, acho que não fui clara no meu convite, não é um “jantar”... – Marcela trincou os dentes fazendo uma expressão engraçada-  Como que eu explico isso para uma pesquisadora esnobe da Inglaterra... É só uma refeição, doutora, não é um date.

 

 

 

-- Você esperava que eu estivesse usando a mesma roupa de hoje de manhã? Desculpe-me doutora, meus hábitos incluem banho e roupas limpas.

 

 

 

            Marcela levantou os braços, conferindo o cheiro das axilas.

 

 

 

-- A carapuça não me serviu, Rexona não me abandona. E minhas roupas estão limpinhas.

 

 

 

-- Então não tem com o que se preocupar, vamos comer, já que esse é o propósito, estou faminta!

 

 

 

            Em pouco tempo estávamos na Vila Mariana, Marcela estacionou e logo anunciou:

 

 

 

-- Não sabia que culinária te agradaria mais, aqui encontramos de tudo... Mas, já que você me deu a dica do cachorro quente...

 

 

 

            Marcela apontou para uma pracinha com vários food trucks estacionados.

 

 

 

-- Doutora Marcela, você tem três empregos, e me chama para jantar na rua? Não conhecia esse seu lado mão de vaca!

 

 

 

            Marcela gargalhou.

 

 

 

-- Deixa de ser esnobe! E eu conheço seu passado, doutora Luiza! Você adora comida de rua!

 

 

 

-- Então eu me produzi toda, para comer ali no banquinho de plástico?

 

 

 

-- Ops, prefere um banquinho de madeira de jacarandá ou marfim rosa?

 

 

 

-- Ah, Marcela! Para de chatice, vamos comer!

 

 

 

            Marcela andou dois passos e apresentou a pracinha à frente:

 

 

 

-- Aqui nós temos a culinária do mundo: temos comida mexicana, árabe, baiana, portuguesa, não desdenhe, aquele food truck ali até ganhou um investimento de um tubarão no Shark Thank.

 

 

 

-- Huum, e você parece uma frequentadora assídua...

 

 

 

-- Sou...Mas... Estou brincando com você. – Marcela deu meia volta

 

 

 

-- Ué, não vamos comer?

 

 

 

-- Vamos, mas não aqui na rua...

 

 

 

            Marcela entregou as chaves do seu carro para um rapaz uniformizado, um manobrista.

 

 

 

-- Nas segundas, ali, tem um rodízio de comida japonesa espetacular, vamos.

 

 

 

            Entramos no prédio e avançamos dois lances de escadas e estávamos em um restaurante oriental bem decorado, um ambiente particularmente charmoso.

 

 

 

-- Não te levaria na primeira vez que te pago um jantar, para um food truck, Luiza.

 

 

 

-- Pouco me importaria em comer em qualquer lugar que fosse com você, Marcela, especialmente por que agora eu sei que você vai pagar a conta.

 

 

 

            Sorrimos enquanto a hostess nos mostrava uma mesa.  Devidamente acomodadas, Marcela não perdeu tempo para pedir as entradas.

 

 

 

-- Pronto, doutora, vamos começar a satisfazer sua fome.

 

 

 

-- Que comecem os jogos então! Faz muito tempo que não como sushi...  Até os sushis na Inglaterra são estranhos...

 

 

 

-- O que mais é estranho lá?

 

 

 

-- Tantas coisas... Sabe o quanto é difícil comer arroz e feijão? As praias, definitivamente eram as mais estranhas para mim... Não tem a vida que tem aqui. O açúcar parece que não adoça o café... E dirigir um carro no lado direito é muito estranho! Eu me sinto muito mais segura na minha bicicleta.

 

 

 

-- Você me falou essas mesmas coisas quando chegou lá... Pelo menos durante os primeiros meses que a gente se falou...

 

 

 

-- Acho que o fuso horário nos afastou... – Tentei brincar.

 

 

 

-- O fuso? Temos outra interpretação então...

 

 

 

-- Eu achei que você estava seguindo sua vida, como você disse que seria... Respeitei quando as mensagens demoravam a ser respondidas, e quando as respostas não passavam de emojis...

 

 

 

-- Estava te deixando livre, Luiza.

 

 

 

-- O que você chama de liberdade, eu chamo de solidão.

 

 

 

-- Então a liberdade durou pouco...

 

 

 

            Quando pensei que tinha cutucado Marcela, ela me deu uma resposta afiada, e um traço de mágoa escapou na sua expressão.

 

 

 

-- Você quer me dizer alguma coisa? Ou vamos continuar com essas meias palavras?

 

 

 

            O silêncio se instalou quando os primeiros pratos chegaram, engoli seco o ceviche, sob o olhar de Marcela.

 

 

 

-- Está bom? – Marcela quis saber.

 

 

 

-- Uhum...

 

 

 

-- Não está estranho?

 

 

 

-- O peixe não...Mas, com certeza o clima entre nós, agora está.

 

 

 

-- Não precisa ficar...

 

 

 

-- Sério, Marcela. Se você quer me dizer alguma coisa, fala. É a segunda indireta que você me dá hoje, desde que nos reencontramos... Eu sinto que a gente deveria conversar, sei que você tem muito a me falar e eu também.

 

 

 

-- Eu não acho que tenha algo a te falar, mas, se você tem, por favor, Luiza...

 

 

 

-- Deixa pra lá. Preciso beber algo, minha garganta está seca.

 

 

 

            Marcela chamou o garçom e eu me adiantei:

 

 

 

-- Uma dose dupla de vodka, por favor. Com gelo.

 

 

 

            Marcela levantou as sobrancelhas estranhando meu pedido. E quanto a mim... Nem sei qual santo baixou em mim que me fez mudar de ideia de água para vodka.

 

 

 

-- Excelente harmonização do paladar: vodka com peixe cru... Isso definitivamente é estranho, costume inglês também?

 

 

 

            Minha cara deve ter sido muito cômica, revirei os olhos e fiz um barulho qualquer com a boca, infantil, que soou como um som de “pum”.

 

 

 

-- Nossa, Luiza, nunca pensei que seria eu a te chamar de infantil.

 

 

 

            A vodka chegou e olhando para o sorriso provocador de Marcela, me senti desafiada a virar aquela dose como quem fazia aquilo com costume.  Mas a quem eu queria enganar?  Ao entornar a bebida que desceu queimando minha garganta, minha careta não foi das mais bonitas, mas foi honesta. Logicamente despertou a risada de Marcela, e em segundos, a minha também.

 

 

 

-- Porr*, como a Cris consegue fazer isso?

 

 

 

            Não foi proposital, mas, aquela cena foi suficiente para quebrar o clima tenso entre nós e desfrutamos do resto do jantar falando amenidades, evitando claramente novos embates fugindo de histórias dos últimos anos. No trajeto de volta, ao escutar uma música na rádio   “Vou deixar” de Skank, fiz um comentário banal:

 

 

 

-- Adoro essa música.

 

 

 

-- Escolhi essa música para minha entrada no baile de formatura.

 

 

 

-- Excelente escolha...

 

 

 

            A música acionou um gatilho, Marcela foi direta, antes mesmo que a música acabasse, o semáforo fechado, ela me encarou e perguntou objetivamente:

 

 

 

-- Por que você não veio para minha festa de formatura?

 

 

 

-- Uau... Vamos começar por aí a nossa conversa sensível?

 

 

 

-- Não precisa ser uma conversa sensível, só te fiz uma pergunta direta. Acho que mereço uma resposta, te mandei o convite com muita antecedência, gastei um bom dinheiro para garantir que ele chegasse a tempo de você se organizar para vir... Uma semana depois da minha formatura eu recebi um Littman de última geração e um cartão. Achou mesmo que essa foi uma atitude digna, Luiza?

 

 

 

            O sinal abriu, depois de ouvir buzinas, Marcela arrancou cantando os pneus do carro, e eu procurava as melhores palavras para explicar minha decisão.

 

 

 

-- Marcela, durante todos esses anos, foi a única vez que eu planejei de verdade voltar ao Brasil. Eu quis muito. Mas, eu não sabia como eu ia enfrentar você e Milena juntas...

 

 

 

-- Eu e a Milena? Mas que diabos, Luiza!

 

 

 

            Marcela freou o carro e estacionou em um posto de gasolina. Desceu do carro batendo forte a porta. Desci em seguida controlando minha respiração, nervosa pela atmosfera que se desenhou:

 

 

 

-- Eu vi uma postagem no seu Instagram... A gente não se falava mais há tempos, você foi se afastando de mim aos poucos, eu supus que você estava seguindo sua vida com a Milena.

 

 

 

-- Luiza, eu nunca tive nada com a Milena! Ela era minha colega de quarto, quantas vezes eu repeti isso? Milena era minha amiga e só! Uma grande amiga, que me suportou na pior fase da minha vida...

 

 

 

            Marcela falava gesticulando nitidamente perturbada.

 

 

 

-- O que você queria que eu pensasse? Fotos de viagens, legendas românticas, os comentários dela... Eu não ia conseguir ver vocês duas justamente na sua formatura, algo que planejamos...

 

 

 

 

 

-- Viagens? Luiza eu viajei uma vez com a Milena e para sua informação foi nessa viagem que ela conheceu o marido dela, o comentário que você se refere como evidência, com certeza não era pra mim... Quando ela o conheceu ele era casado, ela passou meses tendo uma relação secreta com ele. Acha que se eu estivesse com outra mulher, especialmente a Milena, uma pessoa com quem eu dividia um teto, eu te convidaria para minha festa? Você leu a minha dedicatória no convite, Luiza?

 

 

 

-- Claro que li, eu me emocionei, você lembrando o quanto fui importante na sua graduação...fiquei muito balançada, te juro, Marcela que eu cheguei a reservar passagem... Mas, eu sabia que te ver com outra mulher justamente na sua formatura ia ser muito doloroso.

 

 

 

-- Caralh*, Luiza! Como pode uma mulher do seu naipe, com a sua inteligência, conseguir ser tão idiota e cega, quando o assunto não está em um periódico científico?

 

 

 

            Marcela já falava em um tom mais alto, andando de um lado para outro.

 

 

 

-- Na verdade eu fui a estúpida. Achei que minha dedicatória no convite te diria tudo que você precisava saber para estar comigo naquele baile. Até essa música imbecil, eu escolhi fantasiando cantar para você, dedicar a você.

 

 

 

            Eu estava perdida naquela cena. A mágoa de Marcela, aquelas revelações e eu tentando lembrar a letra da música, e as palavras exatas que estavam na dedicatória do convite enviado. Nem me ofendi com os xingamentos de Marcela.

 

 

 

-- Por que você continuou a usar nosso anel por tanto tempo? Eu os via nas suas fotos, eu pensei que era um sinal... Burra! Como eu fui burra!

 

 

 

            Agora ela se auto ofendia, eu tentava me aproximar temendo que Marcela me afastasse querendo distância de mim.

 

 

 

-- Faz muito pouco tempo que parei de usar o nosso anel de compromisso, Marcela. Na verdade, ele está aqui...

 

 

 

            Abri minha carteira, tirei o anel de dentro de um compartimento com zíper e mostrei a Marcela.

 

 

 

-- Mesmo sem estar no meu dedo, eu sempre carrego ele comigo.

 

 

 

            Sem que eu esperasse, Marcela deu passos rápidos em minha direção, segurou meu rosto entre suas mãos e me beijou. A força do beijo era tanta, que tirou meu equilíbrio, ao mesmo tempo estava emocionada com a carga de sentimentos que havia naquele encontro de bocas. Nossos músculos tremiam, nossa respiração estava descompassada naquele beijo suplicante, necessário, desejado e guardado há anos. Retribui o gesto apaixonado acariciando seu rosto, enquanto ouvíamos piadinhas dos frentistas do posto de gasolina.

 

 

 

-- Vamos sair daqui Mah...

 

 

 

            Marcela não conseguia falar, só acenou em acordo multiplicando pequenos beijos nos meus lábios. Enxuguei suas lágrimas e ela fez o mesmo comigo, segurei-a pela mão e entramos no carro.

 

 

 

-- Pode soar cafajeste... Mas eu sempre quis perguntar isso – Marcela falou depois de dar a partida no carro.

 

 

 

-- O que?

 

 

 

-- Para minha casa, ou para a sua?

 

 

 

            Gargalhei.

 

 

 

-- Isso é muito cafajeste, mesmo. E se você não se importar em topar com a mulher do seu paciente no meu apartamento...

 

 

 

-- Eu só queria falar isso mesmo, sempre vi nos filmes... Claro que vamos para minha casa.

Fim do capítulo

Notas finais:

Oi meninas!

Chegando o fim de semana, e com ele mais um capítulo emocionante! 

Espero qie curtam muito!


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Comentários para 48 - CAPÍTULO 48– LIÇÃO 42: EXISTE PAZ NA INQUIETAÇÃO:
patty-321
patty-321

Em: 29/11/2021

Eira reencontro cheio de emoções. A Luiza sempre sendo mala. 

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theycallmeangel
theycallmeangel

Em: 20/11/2021

Anseio para que essas duas fiquem juntas!! 

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Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 19/11/2021

Vixe confusão da peste !

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LeticiaFed
LeticiaFed

Em: 19/11/2021

Uauuuu!! 

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NovaAqui
NovaAqui

Em: 18/11/2021

A terra vai tremer no próximo capítulo. Essas duas vão tirar todo atraso rsrs

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