• Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Cadastro
  • Publicar história
Logo
Login
Cadastrar
  • Home
  • Histórias
    • Recentes
    • Finalizadas
    • Top Listas - Rankings
    • Desafios
    • Degustações
  • Comunidade
    • Autores
    • Membros
  • Promoções
  • Sobre o Lettera
    • Regras do site
    • Ajuda
    • Quem Somos
    • Revista Léssica
    • Wallpapers
    • Notícias
  • Como doar
  • Loja
  • Livros
  • Finalizadas
  • Contato
  • Home
  • Histórias
  • AINDA SEI, Ã? AMOR
  • CAPÍTULO 7: DE VOLTA AO RIO

Info

Membros ativos: 9525
Membros inativos: 1634
Histórias: 1969
Capítulos: 20,492
Palavras: 51,967,639
Autores: 780
Comentários: 106,291
Comentaristas: 2559
Membro recente: Azra

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Notícias

  • 10 anos de Lettera
    Em 15/09/2025
  • Livro 2121 já à venda
    Em 30/07/2025

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Recentes

  • Legado de Metal e Sangue
    Legado de Metal e Sangue
    Por mtttm
  • Entre nos - Sussurros de magia
    Entre nos - Sussurros de magia
    Por anifahell

Redes Sociais

  • Página do Lettera

  • Grupo do Lettera

  • Site Schwinden

Finalizadas

  • Corações Entrelaçados
    Corações Entrelaçados
    Por Scrafeno
  • CEO APAIXONADA
    CEO APAIXONADA
    Por Luciana Araujo

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

AINDA SEI, Ã? AMOR por contosdamel

Ver comentários: 3

Ver lista de capítulos

Palavras: 4510
Acessos: 1317   |  Postado em: 18/11/2021

CAPÍTULO 7: DE VOLTA AO RIO

Durante a rápida viagem, eu e Bernardo involuntariamente fizemos uma corrente pela vida de Olivia, viajando de mãos dadas com nosso coração em oração. Em menos de uma hora desembarcamos no Galeão.

 

-- Bê onde ela está internada?

 

-- Foi transferida para um hospital particular, atualmente é um dos melhores do país em politraumas.

 

                  Fomos direto para o hospital, angustiados pedimos informações sobre Olívia, subimos para o andar indicado, e lá encontramos os pais da Lili abraçados. Ao nos ver correram em nossa direção:

 

-- Isa, Bernardo! Que bom que vocês chegaram... Ninguém nos explica o que está acontecendo com nossa filha! Chegamos cedo aqui nessa cidade, mas ainda não temos uma informação!

 

                  Dona Deise, mãe de Olívia, desabafou emocionada.

 

-- Acalme-se Dona Deise, vou procurar informações com os médicos responsáveis, vem comigo Isa?

 

-- Claro Bernardo.

 

                  O médico responsável pelo atendimento de Olivia era um experiente e renomado traumatologista, reconheci-o pelo nome, era um dos preceptores da residência de emergência.

 

-- A doutora Olivia nesse momento foi estabilizada. Conseguimos controlar o choque hipovolêmico, ela passou por uma cirurgia de urgência, está entubada, mas os sinais vitais estão estáveis.

 

                  Bernardo foi pedindo detalhes das lesões de Olívia, como chefe de emergência ele estava mais familiarizado com os quadros de politraumas. Tratei de tentar acalmar os pais de minha amiga, mediando inclusive a visita deles a Olivia na terapia intensiva.

 

                  Durante dois dias eu e Bernardo nos revezamos nos cuidados com Olívia, graças ao prestígio de nossa amiga no meio da medicina carioca, tivemos toda liberdade de participar de todo o tratamento, e acompanhar a boa evolução do seu quadro. No terceiro dia, Olivia já respirava melhor, com ajuda mínima de aparelhos, e finalmente recuperou a consciência.

 

                  Foi uma festa na UTI, liguei para Bernardo que estava no hotel descansando, em pouco tempo estávamos os dois paparicando Olivia enquanto os médicos faziam a avaliação do seu estado.

 

-- Vocês dois podem, por favor, parar de chorar?

 

                  Olivia falou com dificuldade. Rimos.

 

-- Seus pais estão angustiados lá fora, nós vamos sair para que eles entrem. – Avisei a Lili.

 

-- Ai voltem logo... Esses bip bip dessa UTI me dão nos nervos...

 

-- Pode deixar... Até com litros de sangue a menos e toda quebrada, ela é enjoada do mesmo jeito não é Isa?

 

                  Bernardo brincou piscando o olho para mim saímos da terapia intensiva e descemos até a cantina com a alma tomada por um sentimento de alívio inestimável.

 

-- Eu não sei o que faria da minha vida sem vocês duas Isa... Só de imaginar me dá um aperto no peito... Vocês são minha família...

 

                  A voz embargada de meu amigo e seus olhos marejados me emocionaram, as lágrimas correram no meu rosto, apertando as mãos de Bernardo sobre a mesa:

 

-- Você é meu irmão Bê... Também não consigo imaginar minha vida sem você e a Lili comigo.

 

                  Passamos alguns minutos nessa comoção até Bernardo com seu jeito peculiar de quebrar o clima disse:

 

-- Já chega desse chororô, está borrando minha maquiagem toda!

 

                  Gargalhei enxugando as lágrimas.

 

-- Esse hospital é luxo... Bem parecido com os que Dr. Moreti das novelas de Manoel Carlos trabalha...

 

                  Bernardo disse fazendo caras e bocas.

 

-- Mas você é bobo né?

 

-- Mas é Isa! Tudo de primeiro mundo, medicações, equipamentos... Vamos ver a emergência amiga?

 

-- Bernardo só você mesmo... Não é parque de diversões não bicha!

 

-- Ai deixa de ser chata! Você sabe que adoro esse setor, além do mais pode ter algo novo que eu posso implantar lá em Campinas... Vamos antes que a Olivia mande uma enfermeira nos procurar!

 

                  Bernardo saiu me arrastando até o elevador, e descemos até a emergência do hospital luxuoso. Como em toda emergência a movimentação de funcionários era intensa, transporte de pacientes, com a diferença na organização dos leitos, o silêncio incomum nesse setor, até a chegada de uma ambulância.

 

                  Um dejaviu aconteceu: na ambulância que chegava, desembarcou junto com uma paciente na maca, uma mulher, com as roupas cobertas de sangue, ela pressionava um ferimento no tórax da paciente, gritando informações sobre os sinais vitais da paciente de quarenta e seis anos, chamando atenção para a escala de coma que a paciente se encontrava, provavelmente por conseqüência de traumatismo craniano.

 

                  Em meio àquela confusão de vozes, aquele tumulto de pessoas correndo, aquela mulher, apesar de estar coberta de sangue, suada, cabelos despenteados, chamou-me a atenção de uma maneira insana! 


                  Eu não entendi por que não conseguia tirar os olhos dela, por alguns segundos houve um silêncio e os movimentos dela se desenhavam como se fossem em câmera lenta, com meus olhos fixos nela, apesar de toda aquela confusão que o cenário fazia dela, me detive nos seus traços, nas suas expressões, e desci meus olhos pelo corpo dela, enquanto ela saía de cima da maca, retirando o casaco sujo, deixando visível seu colo perfeito e sua cintura ajustada por baixo daquela blusa colada ao seu corpo definidos com um jeans apertado.

 

                  Bernardo apesar de impressionado com a cena não deixou de comentar:

 

-- Querida, Deus é justo, mas essa calça...

 

                  Surreal... Inacreditável, senti-me numa realidade paralela, o silêncio agora era só na minha mente, o barulho que encheu a ala não me atingia. Meus ouvidos só se detiveram a uma voz, a mesma que me tirou de um mundo razoável e comum, a mesma voz que trouxe uma nova vida. Diante de mim, mais uma vez, anos depois, numa ironia do destino, exatamente como da primeira vez: Suzana.

 

                  Ela continuava linda, os sete anos que se passaram foram muito generosos com Suzana, os cabelos estavam mais curtos e apesar de assanhados, só intensificavam a beleza natural de seu rosto. Fiquei paralisada vendo cada movimento da médica que coordenava a equipe dando ordens aos residentes e equipe de enfermagem dominando a situação.

 

                  Depois de alguns minutos Bernardo se deu conta do meu transe naquela cena, apertou os olhos e em segundos soltou um suspiro de susto levando a mão à boca:

 

-- Minha santa protetora das ex-namoradas perdidas! Não pode ser quem eu estou pensando! Minhas lentes de contato importadas estão me enganando só pode!

 

                  Não satisfeito com a descoberta escandalosa, chamou um dos enfermeiros com o qual ele fez amizade e perguntou:

 

-- Meu querido, quem é aquela médica que chegou na ambulância?

 

-- Doutora Suzana Andrade, uma das donas do hospital.

 

-- Ow encosto de mulher!

 

                  Bernardo resmungou para surpresa do enfermeiro.

 

-- Mas a diretora, dona do hospital, costuma fazer atendimentos assim na rua?

 

-- Ela não atende nenhum paciente aqui no hospital, aliás, ela raramente aparece por aqui, só sei que é ela por que fomos avisados que ela chegaria com a ambulância, ela socorreu essa paciente na estrada.

                 

Bernardo tentava chamar minha atenção sem sucesso.

 

-- Isa... Isa... Isabela!

 

-- O que foi Bernardo?

 

-- Vamos subir agora!

 

                  Bernardo me empurrou pelos ombros em direção ao elevador, quando seu celular tocou, era Renato:

 

-- Espera amor, me deixaeu despachar uma sapa e já falo com você... Ela está atolada aqui, mas não vou deixá-la aqui não... Não gosto do olhar dela nesse momento...

 

                  Ignorei os apelos de Bernardo, e continuei com meu olhar fixo em Suzana, como se contemplasse uma janela com as imagens do meu passado, revivendo a sensação que senti a primeira vez que a vi.

 

-- Isabela Bittencourt vamos subir agora!

 

                  Bernardo exclamou impaciente em voz alta, no exato momento que o silêncio se instalou na emergência, como uma piada dos deuses para que meu nome fosse ouvido em bom tom por Suzana que parou o que estava fazendo imediatamente voltando-se para minha direção. Nossos olhares se encontraram e por alguns segundos não existiu mais ninguém naquele imenso saguão além de Suzana e eu. Os olhos penetrantes do primeiro amor da minha vida presos aos meus fizeram meu mundo parar, melhor dizendo, retrocedeu até meu primeiro dia de residência no Rio.

 

                  Mais uma vez fui arrancada do meu estado hipnótico por Bernardo que cochichou no meu ouvido com os dentes trincados apertando meu braço:

 

-- Isa, agora, por favor!

 

                  Nervosa e sem graça por causa de minha reação diante de Suzana, segui para o elevador com Bernardo, quando ouvi a voz de Suzana se aproximando:

 

-- Levem-na para a tomografia e peçam para o Dr. Antunes me manter informada. Isabela!

 

                  Parei trêmula. Meu coração disparou, minhas mãos geladas e o frio da barriga me fizeram me senti uma adolescente mais uma vez, quando encarei Suzana agora mais perto meu sorriso se fez nos meus lábios inconscientemente, e ela retribuiu com seu charme peculiar.

 

-- Oi Suzana, como vai?

 

-- Bem, mas que surpresa você por aqui. Como vai Bernardo?

 

-- Bem Suzana, mas estamos com pressa, vamos Isa?

 

                  Bernardo foi ríspido com Suzana e praticamente me puxou em direção ao elevador, apesar de contrariada, entrei, sendo acompanhada pelo olhar de Suzana cheio de brilho, e um sorriso contido nos lábios, não escondendo a satisfação de me rever.

 

                  No caminho até a UTI, Bernardo não parou de falar um instante.

 

-- Que palhaçada foi aquela Isa? Você praticamente deixou a baba escorrer pela boca quando viu Suzana! E todo aquele papo do interesse profissional por ela? Eu sabia que isso era enrolação sua! Você por acaso esqueceu o que essa mulher fez com você?

 

-- Bernardo para com esse ataque vai, não babei nada, só fiquei surpresa de revê-la, ainda mais nessas circunstâncias... E pra falar a verdade, o palhaço foi você, sendo grosso como foi com ela!

 

-- Ela ainda não me viu sendo grosso! Ainda não disse a ela tudo que tive vontade de dizer desde que ela te traiu com aquela megera, e depois quando apareceu pra acabar com seu namoro com Camila...

 

-- Chega Bernardo... Não precisa ficar me lembrando isso... Você sabe perfeitamente que ninguém esquece uma traição.

 

-- Espero que você não se esqueça disso mesmo...

 

                  Não conseguimos esconder de Olivia o clima estranho, especialmente por que Bernardo pouco festejou a transferência de nossa amiga para o apartamento.

 

-- Tudo bem perdi sangue e o baço, mas meu cérebro apesar de tudo está intacto, o que está acontecendo?

 

                  Olívia nos conhecia muito bem, e pressionou:

 

-- Ou vocês me falam, ou, eu levanto daqui com dreno e tudo e descubro sozinha o que está acontecendo!

 

-- Ai que mulher enjoada! Paola Bracho está de volta! E essa bobona aí se derreteu toda!

 

-- Quem voltou? Estão repetindo de novo aquela novela mexicana? O que isso tem com a Isa? Ow Bernardo, você andou cheirando éter de novo?

 

-- Olívia acabei de rever a Suzana na emergência, ela é uma das donas desse hospital. E essa bicha desalmada está tirando conclusões precipitadas.

 

-- Suzana? A sua Suzana? Gente como assim?

 

                  Explicamos o que aconteceu a Lili, que se divertia com as interrupções de Bernardo na minha narrativa.

 

-- Está percebendo não é? Esses olhinhos aí brilhando... Esse tom poético que ela está usando pra contar um atendimento de emergência com sangue jorrando, tubos, laringoscópio...

 

-- Olha a palhaçada Bernardo!

 

                  Resmunguei. Ajudamos a equipe de enfermagem remover Olivia para o apartamento, onde seus pais já a esperavam. Bernardo saiu para buscar Renato no aeroporto, aproveitei a presença dos pais da Lili, saí do quarto e liguei para Elisa a fim de ter notícias sobre o andamento das atividades da pesquisa.

 

-- Alô, Elisa?

 

-- Oi doutora Isabela, não é a Elisa, ela saiu pro almoço, ela me deixou aqui na sua sala organizando os prontuários.

 

-- Virginia?

 

-- Eu mesma! Como está sua amiga?

 

-- Bem melhor graças a Deus, saiu hoje da terapia intensiva. Como estão as coisas por aí?

 

-- Tudo sob controle, mas sem a senhora por aqui, fica tudo meio sem graça...

 

                  O jeito efusivo e sincero ao extremo de Virginia, apesar de me deixar sem graça, me arrancou um sorriso tímido, como se ela pudesse-me ver pelo telefone.

 

-- Está me chamando de palhaça doutora?

 

-- Não! Meu Deus não doutora! Só quis dizer que...

 

-- Ei calma menina... Só estou brincando com você.

 

-- Quando a senhora volta? Já marcamos quase todas as consultas de reavaliação, amanhã temos as primeiras, só não conseguimos o contato com uma paciente, justamente a Suzana Andrade, vi o prontuário dela, ela é uma sobrevivente!

 

-- É verdade, muito delicado o caso dela, mas quanto a ela, eu já sei como encontrá-la.

 

-- Sério? A Pietra vai ficar louca quando souber disso...

 

-- Então seja profissional doutora Virginia e não comente nada.

 

-- Ok entendi a sutil chamada de atenção viu doutora.

 

                  O tom de deboche de Virginia arrancou outro riso meu.

 

-- E a senhora volta logo?

 

-- Ainda não sei, mas aviso assim que tiver uma data.

 

                  Desliguei o telefone com um sorriso nos lábios lembrando-me da jovem residente, quando fui surpreendida por uma voz familiar:

 

-- Boas notícias doutora?

 

-- Oi?

 

                  Era Suzana, com os cabelos molhados, roupas limpas, e um sorriso lindo nos lábios.

 

-- Você estava sorrindo quando desligou o telefone, recebeu notícias boas?

 

-- Ah... Nada demais, coisas de trabalho, sobre a pesquisa... E por falar nisso, minha equipe tentou entrar em contato com você para marcar uma consulta de reavaliação, mas não conseguiram te localizar.

 

-- Mudei meus telefones e desativei meu e-mail antigo... Mas estou bem como você pode ver, sua mulher salvou minha vida, ela merecia mesmo o Nobel de Medicina.

 

-- Você soube então...

 

-- Claro que sim, todo o Brasil acompanhou orgulhoso, inclusive eu... E... Sinceramente Isa, eu senti muito quando soube que ela estava entre os passageiros do Air Bus da AIRFRANCE.

 

                  Baixei minha cabeça e disse num tom mais baixo de voz:

 

-- Foi uma tragédia...

 

-- É... Mas estou curiosa, o que você faz aqui?

 

-- A Olívia sofreu um acidente... E foi trazida para cá.

 

-- A Lili?! Nossa sério? Mas, ela está bem?

 

-- Suzana... Você mente muito mal... Você acha mesmo que vou acreditar que você não foi investigar por que estou aqui no seu hospital?

 

                  Suzana ruborizou, sorriu e disse:

 

-- Esqueci o quanto você me conhece...

 

-- Se você não mudou muito... Acho que te conheço sim.

 

-- Já almoçou Isa? A cantina daqui é muito boa... Estou faminta... Vamos almoçar comigo?

 

-- Não almocei, estava esperando o Bernardo chegar com o marido dele para almoçarmos juntos.

 

-- O Bernardo não gostou nem um pouco de me ver, almoçar comigo então...

 

                  Sorri balançando a cabeça negativamente.

 

-- O Bernardo não sabe disfarçar mesmo...

 

-- Aceita meu convite Isa, você deve estar com fome também, e meus vermes estão gritando aqui dentro de mim...

 

-- Você ainda cria esses vermes?

 

                  Gargalhamos, e as lembranças dessa fome insaciável de Suzana que ela atribuía a esses tais vermes me trouxeram mais alguns flashes do meu passado com ela.

 

-- Pois é... Nenhum remédio os mata... Vamos Isa, por favor?

 

-- Tudo bem... Vamos lá.

 

                  Entramos no elevador, estranhei quando Suzana apertou o botão da cobertura.

 

-- Eu pensei que a cantina fosse no primeiro andar...

 

                  Suzana sorriu, quando chegamos à cobertura, Suzana me levou até sua sala, cercada de vidros escuros, abriu a porta e me mostrou a surpresa que ela me preparou: uma mesa posta, o almoço servido com a vista panorâmica do morro da Urca.

 

-- Suzana! Como você preparou isso? Como sabia que eu ia aceitar o seu convite?

 

-- Isabela, eu também te conheço bem...

 

                  Sorri sem graça.

 

-- Venha, faça valer meu esforço em encontrar comida mineira em tão pouco tempo...

 

-- Não acredito! Sério? Comida mineira?

 

-- Hurrum.

 

                  Suzana convidou-me para sentar à mesa, e me serviu imediatamente. Eu não conseguia parar de olhá-la e o pior, eu sabia que ela sentia meu olhar sobre ela, sem desviar a atenção da comida ela disse:

 

-- E então, a comida está do seu agrado doutora?

 

-- Sim, muito boa Suzana.

 

 

                  Havia me esquecido como eu me divertia vendo Suzana comer, ela tinha tanto prazer nisso, que parecia ser a melhor hora do dia para ela, lembrei-me de como ela ficava quando tomava sorvete ou comia chocolate: se lambuzava como criança.

 

-- Então... O que você tem feito além de multiplicar seu dinheiro com um hospital luxuoso como esse?

 

                  Perguntei num tom de censura.

 

-- É impressão minha, ou senti um tom de crítica na sua pergunta?

 

-- Não é bem uma crítica... Só me surpreendi quando soube que você era uma das donas de um hospital particular, você sempre defendeu o SUS...

 

-- Continuo defendendo, mas eu tinha que aplicar o dinheiro que herdei em alguma coisa e não podia ser no SUS.

 

-- Agora você faz medicina para os ricos?

 

-- Doutora Isabela, ricos também são gente, e precisam de cuidados de saúde também... Você também critica a Olivia por tratar pacientes em clínicas particulares?

 

-- Mas Olívia também se dedica ao INCA...

 

-- Mas está rica com a clínica particular na qual é sócia.

 

-- Você está bem inteirada da vida de Olivia... Algum interesse específico na vida de minha amiga?

 

                  Suzana soltou os talheres, entrelaçou os dedos das suas mãos com os cotovelos sobre a mesa e disse:

 

-- Ela é sua amiga, esse é meu interesse específico.

                 

                  Ruborizei. Desviei meus olhos dos dela antes de deixar mais evidente o quanto aquela resposta me desequilibrou, mas sabia no fundo que isso era inútil, Suzana sabia me ler, assim como sabia os efeitos que sua honestidade inesperada provocava em mim. Mudei de assunto temendo a evolução do clima romântico.

 

-- Você atende aqui?

 

-- Não, não atendo.

 

-- Então se tornou uma empresária apenas?

 

-- Isso me tornaria menos interessante para você?

 

                  Mais uma vez Suzana me desestruturou, seu instinto sedutor só aguçou mais com esses anos, e eu ao invés de me comportar como uma mulher madura e habilitada para me sair de perguntas capciosas como essas, me portei como uma inocente e despreparada mulher no jogo de flerte.

 

                  Fui salva daquele clima pela ligação de Bernardo.

 

-- Onde você está Isa? Estamos te esperando para almoçar no shopping aqui perto do hospital.

 

-- Ah... Almocei na cantina do hospital mesmo Bê, estava faminta... Encontro vocês mais tarde no hotel.

 

-- Você ainda está no hospital?

 

-- Ahan...

 

-- Está com Olivia?

 

-- Ahan...

 

-- Passa o telefone pra ela...

 

-- É... Ela acabou de dormir Bê...

 

-- Sei...

 

-- Tem outra ligação na espera Bê, depois nos falamos beijo pro Renato.

 

                  O tom desconfiado e apressado certamente deixou minha mentira estampada para meu amigo.

 

-- Acha mesmo que conseguiu enganar Bernardo?

 

-- Não mesmo... Ele me conhece...

 

-- Então sem chance de enganá-lo mais um pouco?

 

-- Pra quê? Por quê?

 

-- Não sente saudades da cidade maravilhosa? Dar um passeio pela Lagoa, tomar uma água de coco no Leblon...

 

-- Nossa... Saudades mesmo desses lugares... Mas não posso.

 

-- Mas gostaria?

 

-- Claro que sim...

 

-- Então minha companhia não seria problema?

 

-- Por que seria?

 

-- Porque te magoei muito, interferi na sua vida... E Bernardo poderia te delatar pra sua namorada...

 

                  Arregalei os olhos surpresa:

 

-- Namorada?

 

-- É...

 

                  Suzana encarou-me, mordeu os lábios, e continuou:

 

-- Seria um desperdício uma viúva linda como você estar sozinha...

 

                  Antes que eu respondesse, dessa vez foi o celular dela que tocou.

 

-- “Oi meu bem... Sei que estou atrasada, mas, tive motivos pra isso. Não, não me esqueci de você não meu amor, comprei até um presentinho pra você oras! Não posso agora... Quando chegar aí vou te encher de beijos, fique bem cheirosa pra mim! Beijo meu amor.”

 

                  Como desejei que o chão se abrisse e eu sumisse da frente de Suzana quando ouvi esse diálogo, para que ela não notasse meu desconcerto, minha expressão decepcionada, indignada. Mas o chão não se abriu e eu não pude esconder meu semblante modificado. Levantei-me sem muitas explicações:

 

-- Preciso ir Suzana, ver como Lili está, enfim... Obrigada pelo almoço.

 

                  Suzana levantou-se rapidamente me acompanhando até a porta insistindo:

 

-- Isabela por que a pressa? E o passeio? Vai recusar?

 

-- Sim Suzana, como disse antes, não posso além do mais você também tem seus compromissos... Obrigada mais uma vez.

 

                   Meu trajeto até o andar do quarto de Olivia foi acompanhado de uma enxurrada de pensamentos, hipóteses, nenhuma delas inocentava Suzana de ter agido como uma sedutora, usando de nossa história para flertar comigo mesmo tendo compromisso com outra mulher. Seria muita ingenuidade de minha parte acreditar que uma mulher linda, inteligente e agora tão rica quanto ela estivesse sozinha.

 

                  Minha irritabilidade com o final do almoço, misturado com a auto-censura por ter agido como uma adolescente encantada com aquela mulher estonteante diante de mim quase dez anos depois não passaram despercebidos por Olivia.

 

-- Isa? Senta aqui perto de mim... Aproveitando que meus pais saíram, vamos conversar um pouco.

 

                  Sentei-me perto do leito de minha amiga que mesmo debilitada, foi sensível ao meu momento de confusão.

 

-- Agora me fala... O que está acontecendo?

 

-- Do que você está falando Lili?

 

-- Isa... Não estou com perda cognitiva, o acidente parece não ter seqüelas... Pensa que não notei o quanto você ficou mexida com o reencontro com Suzana?

 

-- Ai Li... Estou me sentindo uma idiota!

 

-- Por quê? Suzana é uma grande mulher e foi seu primeiro amor, nada mais natural que você se sinta balançada ao reencontrá-la depois de tantos anos... A história de vocês foi muito forte.

 

-- Li, o destino parece estar brincando comigo... Hoje de manhã... Nosso reencontro foi exatamente igual ao nosso primeiro encontro... E ela está ainda mais linda Lili...

 

-- Mais linda e mais rica... A fama desse hospital é justa.

 

-- Pois é... Isso me incomodou, me encantava a paixão que Suzana tinha pela medicina, a dedicação dela com os pacientes, agora ela é uma daquelas figuras que sempre criticamos, os doutores de jaleco e gravata que transformam a medicina em um negócio lucrativo.

 

-- A medicina também precisa de médicos empreendedores Isa, isso não desmerece Suzana como médica, olha a importância de ter um hospital de ponta pra atender com eficácia uma emergência como a minha... Graças ao treinamento e o suporte daqui, minha vida foi salva e minha recuperação está sendo a melhor...

 

-- A grande questão é que poucos tem acesso a esses recursos Li... Mas a discussão não é essa... Ela mudou... E ao mesmo tempo, é mesma sedutora de sempre... E mesmo assim, me deixou atordoada.

 

-- Sedução é defeito?

 

-- Não... E é uma característica da personalidade de Suzana, ela seduz com gestos, com seu olhar, com suas palavras, sua simpatia seduz, sua energia seduz... Está na essência dela... Não é simplesmente a sedução ligada a sensualidade, mas ao dom que ela tem de conquistar as pessoas, seja mulheres, seja amigos, seja pacientes...

 

-- E pelo jeito ela te seduziu mais uma vez, não é?

 

-- Eu nem processei direito o que aconteceu hoje Li, foi tudo tão rápido e inesperado... Ela preparou um almoço pra mim na cobertura do prédio, na varanda de sua sala... Serviu comida mineira... Acreditei que ela estivesse flertando comigo sabe...

 

-- E você estava gostando disso não é?

 

-- Talvez... Talvez ela nem estivesse flertando, estivesse só sendo agradável, atenciosa, mas como tudo que ela faz eu enxergo sedução...

 

-- E essa sua angústia toda é por não saber se ela estava flertando ou não?

 

-- Não sei Li! No final do almoço... Ela recebeu o telefonema de uma mulher, foi toda melosa, falou com intimidade, chamando de meu bem, meu amor...

 

-- Ah! Agora entendi tudo... Você queria que ela estivesse flertando com você, mas quando soube que ela estava com alguém e viu que interpretou a atitude dela erroneamente se decepcionou, se irritou não foi?

 

-- Não sei Lili, estou confusa! O Bernardo ficou me enchendo, passando na minha cara o que ela me fez, mas eu não sei explicar o que senti ao revê-la naquela situação...

 

-- Quando você estava com ela, pensou alguma vez nas coisas ruins que ela te fez?

 

-- Não...

 

                  A pergunta de Olivia calou fundo dentro de mim. Minha resposta instintiva e sincera surpreendeu a mim mesma que ainda não tinha parado pra pensar nessa ótica a minha reação diante de Suzana.

 

-- Isa nosso coração é cheio de surpresas, como um labirinto cheio de caminhos tortos, as vezes trilhamos o mesmo caminho, mas que parece novo pra nós a ponto de nos deixar perdidas mesmo sabendo que já passamos por aquele momento, já vivemos aquela história, e o mais interessante disso é que a gente sempre descobre uma forma de se encontrar por que o caminho é um só: o amor.

 

-- Não conhecia seu lado filosófico Li... Agora eu fiquei ainda mais perdida...

 

                  Olivia riu, apertou minha mão e disse:

 

-- Estou querendo dizer que seu sentimento por Suzana pode ter se perdido nesse labirinto quando amor por Camila te encontrou, mas o seu caminho se encontrou mais uma vez com o de Suzana e apesar de você conhecê-la e já ter vivido essa história com ela, o sentimento pode te enganar e te fazer ressentir tudo de uma maneira nova...

 

-- Li sua reflexão não me ajudou muito amiga...

 

-- Pode não fazer sentido pra você agora, mas fará quando você se aquietar e processar direito o que aconteceu hoje.

 

Fim do capítulo


Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]
  • Capítulo anterior
  • Próximo capítulo

Comentários para 7 - CAPÍTULO 7: DE VOLTA AO RIO:

Em: 24/12/2021

Cara Léa, também pensei como você. Suzana pode s ter uma filha e também ser a causa da discórdia com Pietra.

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Lea
Lea

Em: 17/12/2021

Algo me diz que esse telefonema que a Suzana atendeu,foi de uma filha!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

carollbh
carollbh

Em: 18/11/2021

Que capítulo emocionante!

Parabéns pela história!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Informar violação das regras

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:

Logo

Lettera é um projeto de Cristiane Schwinden

E-mail: contato@projetolettera.com.br

Todas as histórias deste site e os comentários dos leitores sao de inteira responsabilidade de seus autores.

Sua conta

  • Login
  • Esqueci a senha
  • Cadastre-se
  • Logout

Navegue

  • Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Ranking
  • Autores
  • Membros
  • Promoções
  • Regras
  • Ajuda
  • Quem Somos
  • Como doar
  • Loja / Livros
  • Notícias
  • Fale Conosco
© Desenvolvido por Cristiane Schwinden - Porttal Web