Capitulo 72
Capítulo 72º
Narrador
Alguns dias se passaram desde a conversa em que Letícia contou sua brilhante ideia de saírem juntas com Carmem na tentativa de fazê-la se interessar por alguém. Apesar de ter detestado a ideia Alice acabou concordando. Afinal seria melhor ver a mulher com alguém do que continuarem presenciando seus olhares para Maria, sua cunhada, em cada evento que estivessem juntas.
- Tudo certo para o plano? – Anna perguntou sentando-se ao lado da amiga.
- Ainda acho essa ideia uma loucura.
- Amiga, deixa de ser covarde. É por uma boa causa. Imagina que podemos fazer com que Carmem encontre alguém e evite mais uma confusão naquela família que parece viver no “Caso de Família”.
- É somente por esse motivo que estou arriscando meu relacionamento.
- Ih! Alice, você já aguentou coisa pior da Rebeca. Está na hora dela começar a demonstrar que te ama. – completou com o ar sério.
- Também não exagera.
- Não é exagero, é apenas a realidade. Primeiro foi a gravidez, ai o Pedro, depois o pai dela. Você já tem demonstrado o quanto quer estar com ela. E se caso apenas essa nossa saída seja motivo de uma briga entre vocês está na hora de repensar essa relação. Não é justo apenas uma se doar por inteiro. Não me entenda mal, adoro a Rebeca, mas antes disso amo muito você.
Alice nada respondeu. Continuou fitando seu copo de vitamina em cima da mesa, aquela foi a única coisa que conseguiu comer desde que acordou aquela manhã. Com a inauguração cada dia mais perto, a jovem decidiu que não iria para a empresa durante uma semana até que tudo estivesse certo para a grande festa. Como resultado dessa decisão estava vendo a namorada apenas de manhã e à noite. De início, Rebeca estava se sentindo um pouco sozinha. Já havia se acostumado com a presença de Alice na parte da tarde na empresa, e ao final do dia quando iam juntas para casa. Mas a mulher entendia que era o trabalho da namorada.
A pouca luz natural que entrava pelas janelas da sala deixava claro o avançar das horas do lado de fora. O barulho da avenida movimentada ao lado não podia ser escutado pelas duas amigas, graças aos isoladores de som que Alice fez questão de manter no cômodo.
- Depois que essa inauguração passar eu vou precisar de dois dias diretos para regularizar meu sono. – Anna comentou.
- Eu sei. Pior que Rebeca tem dormido menos a cada dia. O que me faz perder o sono também imaginando que ela possa sentir algo enquanto durmo.
- Nem imagino o quanto estão ansiosas para a chegada dele. Afinal, já tem nome? Não vai dá para ficar chamando de bebê, neném.
- Não. Ainda não. Acredito que Rebeca queira conversar isso com o Pedro. – afirmou Alice.
- É bom te ouvir falar dele sem revirar os olhos. – implicou com ar de riso. – Sabe, no fundo acho que ele não é um cara ruim, só não sabe lidar com o ego frágil. Perder um mulherão como Rebeca deve mexer com a cabeça de qualquer um.
- Nisso eu concordo. Rebeca é uma mulher maravilhosa. Por isso cuido tão bem dela. O que me faz lembrar que vou mentir hoje. – passou as mãos nos cabelos nervosa.
- Detesto o quanto você é certinha. – resmungou Anna. – Mas se preferir pode dizer: “Amor, então. Estamos saindo para levar sua mãe para conhecer uma bocet* diferente da que ela quer comer.” – falou como se imitasse a voz de Alice.
- Eu não falo assim. – reclamou atirando um pedaço de papel amassado nela.
- Tudo bem. Não fala. Eu assumo que exagerei. – respondeu rindo.
- Idiota.
- Mas você me ama e não vive sem mim.
- Não sabia que tinha virado oxigênio agora. – ela revirou os olhos.
A cada minuto o celular de Alice acendia indicando a chegada de uma nova mensagem. Carmem era pura empolgação com a saída logo mais à noite o que só mostrou a Alice o quanto ela precisava mesmo sair e se divertir. O único empecilho nesse plano de Letícia era o fato de terem que manter segredo. Detestava mentiras, e mais ainda mentir para a namorada.
Decidida a não sofrer por antecedência se perdeu na quantidade de trabalho que tinha para fazer. Deixaria para se preocupar com o que aconteceria depois que acontecesse.
Por dias passou a se colocar no lugar de Carmem. Imaginando como sua vida deve ter sido infeliz por tantos anos. Vivendo presa a um casamento ao qual não queria estar com um marido que fez tantas coisas ruins. E mais ainda, saber que a mulher que ama passou tantos anos feliz ao lado de outra pessoa.
Para Alice era doloroso demais pensar na possibilidade de acontecer algo semelhante com ela e Rebeca. A amava demais para conseguir viver dessa forma. Agradecia sempre pela reciprocidade de sentimentos que as unia. Esse pensamento de não querer perde-la é a única coisa que faz com que ela aceite Pedro em seu caminho.
Sabia e entendia bem a função que o homem tem na relação dos dois. Ele é pai da criança e isso nunca vai mudar. Sua única alternativa é tentar conviver com ele da melhor forma possível, tanto por Rebeca como pelo bebê. Não é que isso a agradasse muito. Só não havia outra saída.
- O carregamento de bebida chegou. – Tiago avisou quando abriu a porta.
- Você vai? – Alice fitou Anna.
- Vou sim. – concordou.
- Ótimo. Obrigada Tiago. – sorriu para o rapaz que deu uma piscadela e saiu.
Voltou sua atenção ao que fazia. Já era noite quando saíam juntas da sala. Estava faltando poucas coisas para deixar tudo em ordem. Marcou uma reunião com o pessoal que iria trabalhar para elas na sexta a noite. Precisavam de uma ultima conversa apenas para acertarem detalhes.
- Preparada para colocar o plano em ação? – indagou Anna da porta de seu carro.
- Não. Só que não tem outro jeito. – Alice levantou a cabeça para responde-la.
- Não vai ter erro. Elas vão para a cobertura. Carmem diz que não está afim. Letícia vai dizer que teve uma cirurgia de urgência. E nós algo aqui na boate. Isso é mamão com açúcar.
- Tudo bem. – concordou.
Alice sentia aquele típico frio na barriga de quando era criança e ia aprontar alguma coisa. Como quando perdeu um dos brincos de Isabella, mesmo que ela tenha dito para não usar. Ou quando fugiu da escola com Anna para irem ao cinema e acabaram sendo descobertas. Não tinha vocação para o crime. Sim, na cabeça dela essas coisas são extremamente erradas dignas de uma pena.
Batucou na direção acompanhando o ritmo que ecoava baixo no carro. Sua atenção estava em alta, talvez pela tensão de estar agindo errado. Parou no sinal e uma moto ao seu lado. O motoqueiro olhou para ela. O capacete escuro, as roupas pretas e botas. De certa forma causaram um pouco de medo nela. Apesar de saber que o motoqueiro não estava vendo-a. Assim que o sinal abriu o motoqueiro cortou o carro a sua frente e arrancou com tudo.
- É cada uma. – resmungou consigo mesma.
Escutou uma buzina e só assim começou a se movimentar. Chegou à cobertura em alguns minutos. Sentiu o cheiro delicioso da comida invadir suas narinas. Deixou as chaves na mesinha de sempre. Viu a mesa da sala de jantar arrumada e caminhou em direção a cozinha.
- Boa noite. Tereza. – cumprimentou a mulher que abriu um sorriso.
- Boa noite, Alice. E tira a mão suja da minha comida. Vocês vão receber visitas e eu não quero ninguém reclamando que comeu mal. – a senhora de cabelos negros falou batendo na mão da loira com um pano de prato.
- Impossível alguém provar da sua comida e falar mal. Eu estou engordando desde que você começou a trabalhar aqui. – falou sentando-se.
- Que mentira, mal tem comido em casa. Acha que não notei que a comida que deixo para você sempre está do mesmo jeito na manhã seguinte? Daqui a pouco vai desmaiar na rua de tão fraca. Se a Maria vier reclamar comigo, juro que me demito.
- Terê, relaxa. Eu estou comendo sempre que dá tempo. E a Maria não vai brigar com você por não me alimentar.
- Não vai? Você não conhece a minha irmã, ela me ligou de vídeo chamada só para reclamar que te viu com uma roupa amarrotada. – Alice começou a rir imaginando que Maria seria mesmo capaz de fazer aquilo.
- Então quando a gente mudar daqui eu prometo levar minhas roupas para ela passar. Já que não está satisfeita.
- Alice, nem me brinca com uma coisa dessas. – falou em desespero.
- Tudo bem. Não está mais aqui quem falou. Cadê a Rebeca?
- Disse para ela ir tomar um banho para relaxar, os pés estavam inchados. Acho que está na hora dela sossegar o traseiro em casa. Onde já se viu trabalhar com a barriga pelas goelas.
- Concordo com você. Agora tenta convencer ela a fazer isso. – falou já tentando mexer nas comidas. – Aí! – reclamou recebendo um tapa na mão. – Vou dizer a Maria que você não está me alimentando.
- Olha se eu aguento isso! Vai tomar banho, na hora do jantar você come. Agora sai da minha cozinha. – ordenou.
- Tudo bem. – deu as costas, mas antes pegou um pedacinho de maçã que ela cortava para usar no salpicão.
Abriu a porta do quarto e viu a luz do banheiro acessa. Uma música tocava baixinho. Assim que se colocou para dentro sentiu o cheiro das essências de banho que Rebeca adorava usar. Escorou-se na parede admirando a namorada que mantinha os olhos fechados, a espuma lhe cobrindo todo o corpo deixando de fora apenas seu rosto.
- Você é linda de uma maneira que eu nem sei explicar. – falou baixo arrancando um sorriso dela.
- Nem vi que chegou. – abriu os olhos lentamente.
- Estava conversando com Terê na cozinha. – falou se aproximando e tocando se lábio no dela em um beijo delicada. – Na verdade, ela estava brigando comigo. Dizendo que estou magra.
- Terê é a típica avó que quer empanturrar os netos de comida. Se dependesse dela eu já nem caberia mais nessa banheira. – disse rindo. – Deveria entrar aqui. – sorriu com malicia.
- Deveria. Mas não podemos. Daqui a pouco o pessoal chega para o jantar. – tentou fugir das mãos ágeis dela.
Mas não demorou para seu corpo ir parar na água. O que arrancou risos de Rebeca.
- Quero só ver como vamos fazer alguma coisa agora. Já tentou tirar roupas molhadas?
- Esse nem é um problema, afinal eu estou totalmente pelada. – falou com a sobrancelha erguida. Se aproximando como uma predadora fatal.
- Amor. Não brinca comigo.
- Nunca brincaria. – beijou seu rosto, em seguida o pescoço e por fim abocanhou sua boca com desejo.
Alice não era de ferro, suas mãos ganharam vida logo percorriam as curvas da namorada. Que ansiava por mais beijos, toques e gemidos. Quando Alice tocou seu ponto de prazer Rebeca se sentiu levada ao paraíso. Entre estocadas, caricias e beijos. Ela gozou deliciosamente sentindo os dedos da namorada lhe preencherem.
- Eu te amo. – sussurrou afastando os lábios. – Tenho sentindo sua falta.
- Eu sei amor. Também tem sido difícil para mim te ver apenas algumas horas do meu dia. Mas eu tomei uma decisão, quando o bebê nascer vou me dedicar exclusivamente a vocês dois. – afirmou segurando sua mão na dela.
- Mas e a boate?
- Anna pode dar conta. Agora eu preciso ir para o chuveiro. Me acompanha?
- Sim.
O banho não foi demorado. Apesar de Alice não conseguir parar de admirar a namorada. Enquanto se vestiam conversavam sobre como havia sido seus respectivos dias de trabalho.
- Mas Tália tem ficado com uma demanda grande de trabalho. – comentou Rebeca.
- Então vamos seguir meu plano, Anna com a boate Tália com a empresa.
- Me ajuda aqui. – pediu ficando de costas para ela abotoar seu sutiã. – Acho pouco provável Tália aceitar, o máximo que vai acontecer é a sua mãe ficar no meu lugar e ela auxiliar.
- Não me importo em como vai ser resolvido. Só sei que já acho que está na hora de você parar. Até Terê já concorda.
- Já vi que existe um complô. Daqui a pouco fazem uma reunião de intervenção.
- Ótima ideia. – Alice sorriu divertida.
O casal saiu em seguida do quarto. Enquanto Rebeca foi saber se o jantar estava pronto Alice abriu um uísque e se serviu. Olhou o relógio com ansiedade. Com o avançar das horas fica ainda mais inquieta. A culpa por mentir para Rebeca lhe consumia. Virou o copo de uma única vez se servindo novamente.
- Tudo certo com o jantar. – Rebeca falou sentando ao lado da loira que lhe sorriu. – Você está bem? Parece nervosa.
- Não. Eu estou bem. Só cansada. - a campainha tocou. – Acho que as meninas chegaram. – tratou de se levantar e ir em direção a porta.
Rebeca percebeu que algo não estava certo com Alice. Mesmo que ela insista em dizer que está tudo bem. Desde o dia que Carmem e Letícia conversaram com ela na piscina da casa de Amélia, parecia que algo incomodava a namorada.
- Oiii! Espero não termos chegado cedo. – Anna falou com entusiasmo.
- Entrem fiquem à vontade. – Alice deu passagem para o casal.
- Oi amiga. Ainda estou sem entender o que significa esse jantar no meio na semana. – Tália falou sentando ao lado de Rebeca.
Alice ficou completamente congelada próxima a porta. Anna lhe deu uma cutucada fazendo-a caminhar até o sofá.
- Desde quando precisamos de um motivo para juntar os amigos? – falou Anna ficando ao lado da namorada. – Então, temos algo para beber?
- Eu vou buscar uma cerveja para você. – a loira foi em direção a cozinha.
- Você está bem? – Terê indagou para ela. Alice parou com as mãos apertando a cerveja.- Já sei, está passando mal por fraqueza. Deveria comer alguma coisa.
- Não é nada disso. Eu só preciso de um segundo. – respirou fundo tentando controlar suas emoções. Era por isso que nunca mentiu na vida. Detestava se sentir daquela forma.
- Você precisa relaxar. – Anna falou entre dentes. – A Rebeca vai desconfiar. É uma coisa boba.
- Mentir não é bobagem. – respondeu entregando a cerveja a ela.
- Não está mentindo. Apenas omitindo uma coisa que não diz respeito a você. – insistiu. – Agora para de fazer tempestade em copo de água. E volta para a sala. Antes que sua namorada arranque a verdade de você. – apontou na direção. – Ela não toma jeito. – reclamou tomando um gole direto da garrafa.
Tereza escutou o diálogo sem entender nada do que falavam. Não demorou para Amélia e Letícia chegarem. Os três casais iniciaram uma conversa descontraída durante todo o jantar. Ver o quanto os relacionamentos estavam indo bem alegrava imensamente Rebeca. Adorava ver a amiga feliz com Anna, e mais ainda, se encantava com o quanto sua irmã demonstrava toda sua felicidade ao olhar de forma apaixonada para Letícia.
- Elisa deve estar amando ficar com Nina e Maria. – Tália comentou se servindo novamente.
- Com certeza, e mesmo que eu tenha proibido que ela coma doce eu acredito que minhas ordens não serão cumpridas. – disse isso de forma divertida.
- E a mamãe, por que não quis vir? – Alice começou a tossir, pois quando a namorada fez a pergunta estava bebendo uísque. – Amor, vai com calma. – Rebeca bateu em suas costas.
- Eu estou bem.
O jantar seguiu se mais emoções. Já passava das oito quando respectivamente Anna, Alice e Letícia receberam uma mensagem.
- Eu preciso ir para a clínica. É uma emergência.
- Agora, amor? – Amélia indagou.
- Sim, querida. Infelizmente. Acredito que não devo demorar. Deveria me esperar aqui.
- Preciso ir te deixar.
- Não.
- Gente na verdade, nós também temos que ir. – Anna disse olhando para Alice.
- Por qual motivo? – Tália indagou com curiosidade.
- Aparentemente estourou um cano na boate. Nós precisamos ir ver. Então de dou uma carona. – falou olhando para a Letícia.
- Ótimo. – beijou Amélia. – Assim que eu terminar volto para você. – piscou para ela.
- Vou te esperar aqui. – afirmou.
- Voltamos em algumas horas. – Alice beijou Rebeca.
- Certo. Mas vão de motorista. Todas beberam. – concordou mesmo achando esquisito que todas saíssem ao mesmo tempo.
Letícia foi a primeira a se levantar começando a andar em direção a porta. Alice não ousou olhar para trás. Assim que as três entraram no elevador Anna desatou a rir.
- Isso não é engraçado. – reclamou Alice.
- Relaxa, não estamos indo cometer nenhum crime. Nem trair ninguém.
- Elas estão desconfiadas. – Letícia falou pensativa.
- Claro que estão, não são burras. – Alice afirmou. – Olha, eu só quero fazer logo isso e deixar para lá.
- Certo. – responderam em coreto.
Alice deu a localização para irem buscar Carmem na casa de Amélia. As três estavam ansiosas esperando a mulher aparecer. Anna já estava perdendo a paciência quando olhou para a entrada e perdeu a fala com a beleza da mulher. Letícia segurou o próprio queixo e em seguida o de Anna que estava literalmente de boca aberta. A quarta ocupante do carro usava um vestido justo, preto, com saltos agulha na mesma cor. O decote era um tanto vantajoso. Os cabelos em cachos indo até os ombros.
- Ela é muito gata. Nesse momento quase me arrependo de estar namorando. – Anna falou antes que ela chegasse.
- Anna! – Alice e Letícia falaram juntas.
- O quê? Eu não sou cega, e ela claramente era o número da antiga eu. – completou com um sorriso indecente.
- Olá, garotas. – Carmem falou com um largo sorriso.
- Olá. – responderam em coreto.
A mulher sentou-se, fazendo seu perfume enebriar as outras ocupantes. Anna piscou diversas vezes tentando afastar os possíveis pensamentos nada decentes que invadiam sua mente.
- Estão preparadas e certas do que estamos fazendo? – Carmem indagou só para ter certeza. Notou que Alice era a mais nervosa.
- Sim. Estamos.
- Ótimo. O que acontecer lá fica lá. E só para avisar. Não estamos indo para o bar. – disse isso fitando Letícia.
- E para onde está nos levando.
- A boate que sempre vou. – comentou sorrindo.
Alice sentiu o estomago revirar. Detestava boates, apesar de hoje ser dona de uma. Quando ia com Rebeca era diferente das vezes que foi obrigada a ir sozinha com os amigos, aquele sem dúvida era o caso.
- Adorei. – Anna se empolgou.
- Por mim tudo bem. – Letícia completou.
- Alice?
- Eu...eu...
- Ela vai. – afirmou Anna.
Durante o percurso Alice parecia estar apenas em stand by. Não conseguia pensar em nada, não parecia viver. Escutava as vozes de suas companhias ao longe, mas não compreendia o que elas falavam. Só imagina o quanto iria dar ruim se Rebeca descobrisse para aonde estão indo.
- Chegamos. – afirmou Carmem.
Já da entrada era possível notar que em nada parecia com a boate de Alice. O lugar era mais escuro, quase no meio do nada. As pessoas pareciam mais discretas e um público mais velho. Carmem foi a primeira a sair do carro, sendo acompanhada de Anna, Letícia e por último Alice que ainda parecia alheia a tudo.
- Podemos? – indicou a entrada.
As quatro caminharam juntas. Carmem deu seu nome na entrada e o segurança apenas sorriu para ela liberando sua passagem. O corredor era quase totalmente sem luz. Mas a mulher parecia conhecer o local muito bem. Não demorou e chegaram ao salão principal. Anna abriu e fechou a boca ao ver a quantidade de gente e para seu total engano de todas as idades. Os garçons usavam roupas justas e máscaras o que deixava o lugar com ar misterioso. As moças não ficavam para trás em relação as roupas e ao mistério.
Os bancos em couro vermelho. Lembrava muito os bordeis. O jogo de luzes era em tons mais claros apenas para dar um contraste. Algumas mulheres passaram encarando o quarteto que de fato chamou atenção de quase todos os presentes. Alice se sentiu arrependida assim que uma ruiva passou por ela e apertou sua bunda, fazendo-a se mover na direção de Anna. A assanhada ainda piscou para ela.
- Sejam bem vindas a Luxúria. – Carmem sorriu abrindo os braços.
- Eu vou dormir no sofá por um ano. – Anna comentou séria.
- Eu já tive a bunda apertada. – Alice resmungou.
- Eu estou adorando a Carmem assim. – Letícia disse isso indo na mesma direção que a mulher caminhava. – Vamos. – falou segurando as mãos de Alice e Anna e arrastando-as para a mesa que a mais velha escolheu.
- Meu amor, me traga uma garrafa de tequila. – piscou sorridente para a garçonete que retribuiu com a mesma empolgação.
- Eu não bebo tequila. – Alice saiu de seu transe.
- Hoje você bebe. – respondeu Carmem.
- Já estou me arrependendo de ter vindo. – revidou.
- Eu sei, você vive debaixo do pé da minha filha. – desafiou Carmem. Anna prendeu o riso adorando o rumo do assunto. – Não estamos fazendo nada de errado.
- Não é bem isso. – Alice tentou se defender. – Vocês acham que...
- SIM! – responderam antes que ela pudesse completar a pergunta.
- Aqui está a tequila. – a moça deixou na mesa. Mas fez questão de quase esfregar os seios no rosto de Carmem.
- Ela é um perigo. – Anna sussurrou no ouvido de Alice. – Acho que estou com um crush nela. – recebeu um olhar de repreensão da amiga. – Estou brincando.
- Um brinde. A Alice que conseguiu mentir para a Rebeca, a Anna que parece não ter medo de nada, A Letícia que mesmo sendo mãe não é careta. E a mim, que pretendo beijar muito na boca hoje. – bateram os copos que tinha um formato cilíndrico. – ISSO! – gritou assim que sentiu o líquido escorrer por sua garganta.
Alice bebeu a tequila sabendo que se arrependeria na manhã seguinte. Mais ainda ao saber que assim que chegasse em casa bêbada talvez acabaria contando a verdade sobre Carmem a Rebeca.
Mais algumas doses foram viradas e a essa altura ninguém se preocupava mais com nada. Apenas com a ideia fixa de encontrar alguém para Carmem ficar. A discussão sobre as pretendentes foram muitas. E Carmem se divertiu como há muito não se divertia. Aquelas três eram ótimas companhias. Talvez até nem ficasse com ninguém, mas apenas o fato de ter feito algo diferente depois de muito tempo já a animava.
- Acho que temos companhia. – Anna falou observando uma mulher se aproximar.
Carmem se virou para olhar. Seus olhos encontraram com uma linda negra de cabelos cacheados. Quando observou atentamente o corpo da desconhecia, em nada se sentiu decepcionada. A mulher poderia facilmente parar o trânsito só de existir. Fora o olhar falta que lançava em sua direção.
- Como vai? – Carmem sorriu simpática.
- Melhor agora. Sem dúvida alguma. – a troca de olhar foi intensa. – Prazer, eu sou Marta. – esticou a mão.
- Prazer. Sou Carmem, essas são Letícia, Anna e Alice. – ambas cumprimentaram com gesto de cabeça.
- Carmem, que nome forte. Se importa que eu me sente com vocês?
- Não. Fique à vontade. – sorriu apontando a cadeira.
As duas engataram em um papo animado. Deixando as três de fora. Não demorou e logo estavam se beijando para surpresa de Letícia que esperou que fosse levar mais um tempo para Carmem se sentir a vontade de fazer aquilo na frente delas. Mas aparentemente vergonha não era algo que a mulher sentia. Anna ficou de boca aberta pelo beijo quente que viu.
- Elas vão morrer sem ar. – cochichou para Alice.
- Estou passada em como ela é decidida. – Letícia completou.
O beijou durou tempo suficiente para as duas. Carmem se sentia viva de novo, assim que interromperam o contato. Marta falou em seu ouvido que precisava voltar para sua mesa, mas que adoraria encontrar com ela outra noite. Deixou seu cartão em cima da mesa e saiu. A mulher sorriu ao ver o pedaço de papel, se serviu mais uma vez e serviu as demais. Brindando novamente e bebendo todas ao mesmo tempo.
Levou apenas alguns minutos para que outra mulher viesse procurar Carmem. E como a primeira acabaram dando alguns beijos. Anna estava indignada com a facilidade que a mulher tinha em conseguir alguém para dar uns beijos.
- Ela tem açúcar? – perguntou Anna vendo-a beijar a quinta boca, ou sexta. Ela já havia parado de contar. – Se ela tem as filhas também, por isso vocês são cadelinhas delas. – completou seu raciocínio.
- Cala a boca Anna! – responderam iguais, tentaram bater uma na mão da outra, mas a quantidade de álcool no sangue não permitiu. Acabaram errando a mira.
- Ah! Não. Já vem outra e essa ainda nem saiu. – reclamou vendo uma loira de no mínimo uns dois metros se aproximar. – Ela nem precisa levantar. – completou indignada.
- Boa noite. – falou a mulher.
Alice se sentiu olhando para uma gigante. Não sabia se pelo álcool ou se de fato a mulher era mesmo grande. Mas a impressão que teve foi que levou uma eternidade para conseguir fitar seu rosto.
- Boa noite. – respondeu educada.
- Não pude deixar de notar que você está sozinha.
- Olha. Não quero ser indelicada. Mas eu namoro.
- Para mim não é problema, não sou uma pessoa ciumenta. – sorriu tentando jogar charme.
- Moça, você pode até não ser. Mas a minha mulher tem de ciúmes o que você tem de altura. – falou com ar sério. A mulher se sentindo ofendida saiu xingando Alice.
- Alice, você é muito engraçada.
- Não quis ser indelicada, falei apenas a verdade. Por falar nela. – mostrou o celular.
- Não atende. – Anna aconselhou.
- Claro que eu não vou atender. – deixou o celular tocar. – Mas juro que não vou dormir no sofá sozinha, se eu me der mal, todas vocês também irão.
- Ui! Que medo. – Letícia brincou arrancando risos de Anna. No fim até Alice riu.
Não tinha mais o que fazer, a merd* já estava concluída. Agora era torcer para quando chegasse em casa encontrar a namorada dormindo. Assim curaria o porre e evitaria que ela arrancasse a verdade.
Carmem beijou muito na boca. Recebeu muitos números de telefone e o álcool já estava em um nível bem elevado. Passava das onze quando o quarteto resolveu ir embora. Deixaram Letícia e Carmem na casa de Amélia. Que sabiam estar em casa pois o carro já estava na garagem. Em seguida fora deixar Anna.
Alice se segurou nas paredes do elevador. Fechou os olhos tentando acalmar seus olhos que corriam pelo ponteiro indicando o andar. Estava bêbada de um jeito que nem ao menos lembrava que um dia poderia ficar. Abriu a porta do apartamento. Tentou colocar as chaves na mesinha, mas acabou caindo no chão. Resolveu se abaixar para pegar o objeto, torcendo para que Rebeca não pudesse ouvir lá do quarto. Se arrependeu assim que sentiu o mundo girar. Voltou a ficar ereta, ou ao menos tentou. Apoiou as costas na porta.
- Posso saber onde você estava? – a voz de Rebeca ecoou pelo cômodo escuro.
Nesse instante qualquer álcool sumiu do corpo da loira que se sentiu mais sóbria do que nunca. Escutou os passos de Rebeca, conseguia ver sua silhueta pela pouca luz que entrava pela porta de vidro da varanda.
- Alexia! Ligar luzes. – falou a mulher com um tom irritado. – Então vai me dizer onde estava?
Levou as mãos a cintura, mostrando claramente que não estava satisfeita com a situação. Mas Alice não sabia o que responder. Nem poderia contar o que fizeram e com quem estavam. Deu um passo ainda em silêncio e isso apenas fez a raiva de Rebeca aumentar.
- Alice! Eu te fiz uma pergunta. Onde você estava?
Fim do capítulo
Oi voltei. Alguém ai tem um palpite sobre como Alice vai sair dessa?
Comentar este capítulo:
Baiana
Em: 16/11/2021
Gente,eu li esse capítulo morrendo de ri,a Carmem é uma femme fatale,se ela tivesse aparecido quando a Anna era solta na vida...
E agora José? A Alice,como péssima mentirosa e bêbada, soltará a verdade para Rebeca,ou dormirá no sofá como castigo?
Resposta do autor:
Eu escrevi morrendo de rir tbm. kkk Mulher se a Anna pega a Carmem o mundo ia incendiar. Num dava não. kkk
Marta Andrade dos Santos
Em: 15/11/2021
Misericórdia! oxe eu teria fingindo um apagão sabe desmaio de Braga pra tirar de tempo.
Resposta do autor:
kkkk. Adorei a ideia.
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CatarinaAlvesP
Em: 15/11/2021
Anna falou tudo agora, Alice já aguentou coisas demais, já provou até demais o quanto quer estar com Rebeca. Tá não hroa de Rebeca fazer isso, Anna falando tudo que o fandom do casal pensa
Resposta do autor:
kkkkkkk.FOi bem isso mesmo.
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paulaOliveira
Em: 15/11/2021
A Alice se fud3u num grau que nem sei, kkk Becca tá virada no Jyraia kkkkk
Autora, volte mais vezes com extras e atualizações pq eu amei!!
Resposta do autor:
Vocês não esquecem esses extras??? Por Deus
Virada no Jyraia foi ótimo. kk
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preguicella
Em: 15/11/2021
Volta logo, quero saber o que vai acontecer! hahaha
Resposta do autor:
sei. kkkk
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preguicella
Em: 15/11/2021
Alice vai se ferrar pura e simplesmente, ela e as duas cúmplices! Capaz de ter que ir dormir nas mães! hahaha
Resposta do autor:
kkkk. Pelo menos a casa é mais perto agora. kk
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