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  • AINDA SEI, Ã? AMOR
  • CAPÍTULO 2: REFAZENDO MINHA ROTINA

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AINDA SEI, Ã? AMOR por contosdamel

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Palavras: 4543
Acessos: 1373   |  Postado em: 12/11/2021

CAPÍTULO 2: REFAZENDO MINHA ROTINA

O meu trabalho era meu refúgio, por isso, não adiei minha volta. Na sexta-feira, me apresentei à universidade para reassumir meu posto e as propostas especialmente na área de pesquisa e extensão choveram. Mas, meu compromisso com a pesquisa de Camila era como uma missão sagrada, dessa forma, pedi apenas para voltar ao grupo de estudo, bem como coordenar a residência em neurologia e o convênio com neurocirurgia, a fim de continuar com as intervenções com o neurochip, o qual nos últimos anos, Camila fez aperfeiçoamentos incríveis, e a nossa parceria com os doutorandos de neurociências possibilitou intervenções no tratamento de seqüelas de aneurismas o que deu a nós visibilidade internacional na medicina.

 

 

 

                  O novo semestre recomeçaria em dois meses, e só então eu assumiria a coordenação, até lá, voltei para o Hospital das Clínicas para o atendimento no ambulatório de neurologia. Já fazia algum tempo que eu não tinha contato direto com pacientes. O período do doutorado foi puramente acadêmico, e na minha tese usei somente os dados dos pacientes já tratados pelo nosso grupo de estudo.

 

 

 

                  O reencontro com os funcionários do hospital foi melancólico, mas agradável. Lucas e Carla, meus colegas na residência continuavam na equipe, e Eliza, a secretária fiel de Camila se apresentou disposta a ser também minha secretária, me abraçou emocionada e eu não fiquei imune a tal emoção, revê-la me trouxe de volta tantos momentos em que ela foi fundamental para fazermos as pazes...

 

 

 

                  Bernardo praticamente teve um ataque epilético ao me ver entrando na urgência, agora chefiada por ele. Meu amigo se remexia todo, colocando a mão no peito com os olhos arregalados exclamou:

 

 

 

-- Isabela cara de remela! Devo estar alucinando! Por que minha amiga está na Europa e não voltaria sem me avisar antes...

 

 

 

-- Deixa de drama bicha, vem cá me dar um abraço.

 

 

 

                  Fingindo indignação, Bê fez uma expressão caricata, mas não tardou em ir de encontro aos meus braços abertos.

 

 

 

-- Como assim chegou sem avisar?

 

 

 

-- Ai Bê... Decidi tudo rápido, mas o importante é que estou de volta.

 

 

 

-- De volta mesmo? Sem esse papo de popstar internacional da medicina?

 

 

 

-- Exagerado... Por enquanto, só quero reassumir meu lugar no hospital e na universidade.

 

 

 

-- Ótimo! Isso pede uma super festa! Vou preparar tudo, ligo para aquela chata da Olívia e amanhã mesmo ela está aqui, assim apresento meu marido as duas de uma vez só...

 

 

 

-- Marido? Como assim? Ow festa não!

 

 

 

-- Sim e sim. Marido sim e festa sim...

 

 

 

-- Bernardo foi justamente por isso que não te avisei antes sobre minha chegada nada de festas.

 

 

 

Disse irritada.

 

 

 

-- Olha aqui dona Isabela, você está parecendo uma morta-viva, tenho certeza que sua última balada foi a troca de guarda real em Buckingham... Vou reunir alguns amigos, na minha casa nova e você vai estar lá, se não quiser que eu me transforme em seu inimigo de morte!

 

 

 

                  Não tinha como dizer não ao Bernardo, ele sabia ser persuasivo, apesar da minha indisposição para sair de casa, rever Olívia e outros amigos não era uma má idéia, antes uma festinha em casa do que uma balada LGBTQI+ tão típica do Bernardo.

 

 

 

                  No sábado à noite então, segui para casa de Bernardo, Olívia já estava lá, e o Bernardo como sempre caprichou nos detalhes da decoração, a música, bem, tinha que ter o “Tum tchunt” típico do gosto musical gay do meu amigo, e a população da classe de homens sarados e com trejeitos afeminados ou não no espaço representava uma explosão demográfica gay.

 

 

 

                  Alguns casais de meninas espalhados e eu me sentindo a última das lésbicas virgens passeando entre elas, até ouvir o grito agudo conhecido:

 

 

 

-- Isaaaaa

 

 

 

                  Era Olívia, uns dez quilos mais gorda, mas eu, obviamente não expressei tal observação, abracei minha amiga com todo carinho e saudade que sentia. Lili não seguiu nossa linha de trabalho se dedicando exclusivamente ao serviço público, voltou para o Rio para trabalhar no INCA, mas abriu também seu consultório particular o qual segundo Bernardo vivia lotado, além disso, tornara-se sócia de uma clínica privada de assistência especializada a pacientes portadores de câncer.

 

 

 

-- Amiga que saudade! – Lili disse animada.

 

 

 

-- Eu também estava com muitas saudades de vocês.

 

 

 

-- Tenho tanta coisa pra te contar... Vamos sair desse barulho, vamos pro jardim.

 

 

 

                  Sentamos no jardim e minha amiga foi me colocando a par de sua vida, e durante nossa conversa identifiquei o motivo daqueles quilinhos a mais na minha amiga:

 

 

 

-- Isa, passei por momentos tão difíceis, precisei tanto de você, da sua sensatez, mas não achei justo te encher com meus problemas, comparado à sua perda, o que eu estava passando era nada.

 

 

 

-- Lili, devia ter me ligado, me contado fosse o que fosse. O sofrimento de cada um tem a dimensão proporcional do que aquela dor representa para nós.

 

 

 

-- Definitivamente Isa, não tenho sorte com amores... Seja homem, seja mulher, eu pareço que tenho a mão toda podre pra escolher meus relacionamentos. Esse último, foi minha ruína total, minha vida financeira não entrou nessa derrocada por que o Bernardo praticamente me interditou.

 

 

 

-- O que houve afinal Li?

 

 

 

-- Conheci essa menina em uma baladinha no Rio, vocalista de uma banda, linda, sexy, envolvente. Na mesma noite me rendi a ela. Eu vinha de outra decepção, voltei a namorar o Inácio, lembra dele?

 

 

 

-- Claro... Aquele homofóbico que te proibiu de sair com o Bê...

 

 

 

--É... Mas ele estava mais tolerante... Até fizemos planos de casamento, eu estava cansada Isa, de estar sempre sozinha, queria filhos, e de repente, um casamento tradicional me trouxesse tudo que eu queria.

 

 

 

-- Mas?

 

 

 

-- Eu contei sobre minhas experiências com mulheres... E ele mostrou de novo sua face homofóbica, e nosso rompimento por pouco não acaba na delegacia da mulher, ele me agrediu fisicamente...

 

 

 

-- Que filho da mãe!

 

 

 

-- Mas enfim, expulsei-o da minha vida, e nessa noite, conhecer Fabíola foi como um sinal que a vida me reservava muita coisa boa ainda. Tivemos dias maravilhosos, muita festa, sempre a acompanhava nos shows, e apesar de perceber que ela bebia muito, não via defeito nisso. Até vê-la cheirando uma carreira de pó.

 

 

 

-- Nossa...

 

 

 

-- Outras vezes a vi fumando cigarros de maconha, mas achei normal, sei lá, o meio que ela vivia, a rotina dela... Mas o problema amiga, foi quando por influência dela, comecei a usar também...

 

 

 

-- Li...

 

 

 

-- Cheguei ao fundo do poço em poucos meses Isa... Perdi o controle, desmarcava consultas, abandonei pacientes quando estava de “ressaca”, e Fabíola, sempre me trazia mais...

 

 

 

-- Como você estava nessa situação e não me disse nada? Olívia...

 

 

 

-- Amiga você se isolou... E eu entendi e respeitei seu momento...

 

 

 

-- Mas amiga...

 

 

 

                  Minha consciência pesou toneladas. Fiquei isolada na minha dor enquanto as pessoas que eu amava sofriam, sentiam minha ausência.

 

 

 

-- Uma das minhas sócias da clínica, ligou para o Bernardo, no mesmo dia ele foi ao Rio, e no dia seguinte, eu já estava internada em uma clínica de reabilitação aqui em Campinas, por coincidência foi lá que ele conheceu o Renato, o atual marido dele como ele fala... Ele era psicólogo da clínica.

 

 

 

-- Então ele conheceu o marido há pouco tempo?

 

 

 

-- Na verdade não, já se conheciam, se reencontraram enquanto o Bê ia me visitar. O Renato namorou um amigo do Bernardo, mas estão juntos há poucos meses.

 

 

 

-- E por falar neles...

 

 

 

                  Apontei para o Bernardo vindo em nossa direção acompanhado de um moreno, magro, de cabelos grisalhos, ralos, de traços afilados, usava óculos discretos, um homem bonito sem dúvida, mas bem diferente do estereótipo dos outros namorados do Bernardo.

 

 

 

-- Aí estão elas bebê... E essa é a famosa Doutora Isabela Bitencourt.

 

 

 

                  Muito simpático Renato me cumprimentou. Conversamos como se nos conhecêssemos há muito tempo. Revi alguns funcionários do hospital, senti-me tão acolhida, que pela primeira vez desde a morte de Camila senti-me em casa.

 

 

 

                  Olívia permaneceu no final de semana em Campinas, junto com Bernardo e Renato passamos o final de semana bastante agradável, a “santíssima trindade” agora tinha um quarto componente: Renato, e nossa mafiazinha reunida me fez um bem enorme.

 

 

 

                  Nas semanas que se seguiram, dividi minha atenção com o trabalho e as visitas de minha família, Tia Sílvia e Livinha principalmente, que trouxe uma novidade surpreendente: estava noiva, e se casaria em alguns meses.

 

 

 

                  Saí algumas vezes para programas mais tranqüilos com Renato e Bernardo, me apresentaram um bar novo, na gíria deles, um bar inteligente, onde o público de entendidas era seleto. O Colors era de fato um ambiente agradável, de bom gosto. Decoração meio retro, um pequeno palco, e na lateral uma pequena pracinha com um jardim bem cuidado davam ao lugar um charme e um clima peculiar.

 

 

 

                  Em uma de nossas idas ao bar, num final de tarde, depois de sairmos do hospital, eu e Bernardo marcamos de encontrar lá o Renato, ao chegarmos, observamos sentados em uma mesa na pracinha perto do jardim Renato conversando animado com uma mulher simplesmente linda: cabelos longos e loiros presos por um rabo de cavalo charmoso, alta de pele alva, exibia os seios fartos pela abertura entre os botões da camisa branca de manga ¾, o jeans justo denunciava que sua magreza não era proporcional com as belas formas de suas pernas e bumbum.

 

 

 

-- Hum... Quem é essa racha que está com meu marido? – Pensou alto Bernardo.

 

 

 

-- Você não a conhece?

 

 

 

-- Nunca a vi antes...

 

 

 

                  Bernardo observava meu olhar na direção da mulher misteriosa, e como não era de sua índole guardar observações, disse:

 

 

 

-- Mas já saberemos quem é a perua...

 

 

 

                  Sacou o celular, rapidamente enviou um SMS para Renato que olhou em nossa direção sorrindo ao ler, segurou a linda mulher pela mão e apresentou:

 

 

 

-- Clara, esse é o Bernardo meu marido gato e essa, é a doutora Isabela Bitencourt nossa melhor amiga e médica mais interessante e competente do mundo! Bebê, Isa, essa é Clara, minha amiga desde a faculdade, e dona do Colors.


 


                  Clara era ainda mais linda de perto, olhar que parecia penetrar a alma, a sua pele parecia ser de porcelana, certamente minha expressão de encantamento pela beleza dela não passou despercebida pelo meu amigo Bernardo que me conhecia tão bem. Bernardo levantou-se para cumprimentar a amiga do seu marido.

 

 

 

-- Muito prazer Clara, você é tão linda que eu já estava olhando enciumado daqui vendo meu maridinho derretido por você.

 

 

 

-- Você é muito gentil Bernardo, obrigada. O Natinho tem me falado tanto de você... Meu amigo nunca esteve tão feliz, obrigada por fazer isso na vida dele viu!

 

 

 

                  Acompanhei com atenção os movimentos da boca bem desenhada de Clara, que parecia falar em câmera lenta. Seus gestos delicados das mãos, deslizando uma das mãos pela nuca, e pelo rabo de cavalo lhe davam uma sensualidade incomum.

 

 

 

-- Ele é que me faz muito feliz Clara.

 

 

 

-- Deixe-me apresentar a Isa amor. – Disse Renato.

 

 

 

                  Levantei-me sob o olhar atento de Clara, e a moça logo estendeu a mão para mim:

 

 

 

-- Muito prazer doutora.

 

 

 

                  Apertei a mão macia da loira e respondi:

 

 

 

-- Isabela, por favor, o prazer é meu.

 

 

 

-- Sente-se um pouco conosco Clarinha. – Convidou Renato.

 

 

 

-- Não posso agora Natinho, está cheio o bar, preciso ficar no caixa, mas assim que der venho aqui.

 

 

 

-- Ah você é a dona! Senta um pouco vai... – Insistiu Bernardo.

 

 

 

                  Rendeu-se a insistência do casal e acomodou-se em uma cadeira de frente para mim.

 

 

 

-- Eu pensei que o Colors fosse do Mateus, você nunca me disse que conhecia dona daqui amor. – Disse Bernardo.

 

 

 

-- Mateus era meu sócio, cuidou de tudo sozinho desde a inauguração, entrei mesmo só com o capital e com a idéia, ele realizou tudo...

 

 

 

-- Clara não estava no Brasil amor, eu nem sabia que ela era proprietária daqui. – Completou Renato.

 

 

 

-- Estava fora do Brasil a trabalho? – Perguntei disfarçando meu interesse.

 

 

 

A loira sorriu baixando a cabeça depois olhou cúmplice para Renato e respondeu:

 

 

 

-- Quem me dera, assim, não teria sido um ano jogado fora... Fui para Londres por causa de uma paixão acreditando que tinha encontrado o amor da minha vida, a maior idiotice da minha vida...

 

 

 

                  Renato segurou a mão da amiga confortando-a quando Bernardo disse:

 

 

 

-- Londres? Que coincidência! Será que vocês não se encontraram por lá Isa?

 

 

 

-- Ai Bê... Londres não é Valença... – Brinquei com meu amigo.

 

 

 

-- Você estava em Londres também doutora, desculpa Isabela?

 

 

 

-- Sim, passei dois anos e meio lá, fazendo doutorado, voltei há pouco mais de dois meses.

 

 

 

-- Que pena então que não nos encontramos por lá, voltaríamos juntas...

 

 

 

                  Ruborizei. Bernardo e Renato se olharam como se pensassem a mesma coisa.

 

 

 

-- O papo está muito bom gente, mas preciso mesmo ir, fiquem um pouco mais, daqui a pouco começa a apresentação de voz e violão de uma cantora excelente.

 

 

 

                  Clara levantou-se e caminhou em direção ao balcão sob meu olhar mais que fixo, eu estava praticamente hipnotizada pela beleza da dona do bar. Obviamente, em Londres, e até mesmo de volta a Campinas, vi muitas mulheres lindas, mas Clara tinha algo especial, que me atraía algo tão forte que me fez esquecer por alguns momentos minha viuvez.

 

 

 

-- Linda minha amiga não é Isa? – Comentou Renato.

 

 

 

-- Han?

 

 

 

                  Saí do meu transe, com a pergunta de Renato, minha cara devia estar mesmo engraçada, por que Bernardo não conteve sua gargalhada, em seguida fez o comentário que me deixaria ainda mais sem graça:

 

 

 

-- Tive medo da roupa da Clara desaparecer só pela força do pensamento da Isa...

 

 

 

-- Bernardo!

 

 

 

Repreendi meu amigo indignada.

 

 

 

-- Ah, mas se o pensamento da Isabela tivesse esse desejo amor, você precisa concordar comigo que ela tem bom gosto...

 

 

 

-- Renato, até você?

 

 

 

                  O casal sorriu cúmplice, e eu, mesmo sabendo que estava na mira deles, não consegui desviar por muito tempo meu olhar de Clara. Numa atitude atípica, fiquei por mais tempo no bar naquele dia. Nunca fiquei por mais tempo do que duas horas, com a desculpa de assistir ao show da cantora cover de Cássia Eller, permaneci no lugar guardando a expectativa de Clara voltar à nossa mesa, mas o movimento intenso do lugar não permitia que o alvo do meu olhar fixo deixasse seu posto no caixa.

 

 

 

                  E quando eu já me cansava daquele clima de azaração em volta, ignorando as piadinhas dos meus amigos acerca dos olhares dos quais eu estava sendo alvo, logo recebi o título de “sandalhinha ser par” mais desejada do pedaço, decidi que era hora de voltar para casa. Sob protesto dos meus amigos levantei-me e saí do bar sem olhar para trás. Caminhei até meu carro, estacionado bem próximo dali e quando apertei o botão do alarme, ouvi uma voz me chamando:

 

 

 

-- Isabela!

 

 

 

                  Era Clara, andou rápido em minha direção, estava de cabelos soltos agora, ao se aproximar de mim, respirou ofegante e disse:

 

 

 

-- Nossa, estou fora de forma... Ia embora sem se despedir de mim?

 

 

 

-- Não queria atrapalhar, você estava bem ocupada...

 

 

 

-- Está uma loucura aqui hoje... É a primeira sexta-feira que venho... Uffa...

 

 

 

                  Sorri do seu cansaço pelo pouco esforço, e sem graça perguntei:

 

 

 

-- Você sempre segue os clientes correndo que saem sem se despedir de você? Olha se for hábito, é melhor você entrar na academia pra agüentar o esforço...

 

 

 

-- Não tenho esse hábito... Só com os clientes que saem sem pagar...

 

 

 

-- Han? Ai meu Deus... Eu não paguei?

 

 

 

                  Clara abriu um sorriso desconcertante tamanha era a beleza dele.

 

 

 

-- Peguei você... Esqueceu que você não estava sozinha na mesa?

 

 

 

                  Sorri sem graça.

 

 

 

-- Vim te entregar isso...

 

 

 

                  A loira entregou-me um convite, eu perguntei:

 

 

 

-- Convite de que?

 

 

 

-- Uma apresentação especial que haverá amanhã, uma banda de rock pop dos anos 80, esse convite é para a área vip do bar, será inaugurada amanhã... Espero que você venha.

 

 

 

-- Nossa... Já subi para a categoria vip?

 

 

 

-- Se a área vip não estivesse pronta, eu teria que construir uma agora mesmo pra te receber sempre aqui como você merece...

 

 

 

-- Nossa...

 

 

 

                  Devo ter ficado multicolorida com bolinhas azuis no rosto de tão tímida que fiquei.

 

 

 

-- Desculpe-me por não ter dado atenção o suficiente... Por isso você está saindo tão cedo não é?

 

 

 

-- Não... Estou cansada, na verdade, passei mais tempo do que de costume...

 

 

 

-- Não vou te prender mais então, mas te espero amanhã, e prometo que a doutora terá tratamento vip.

 

 

 

-- Seu?   

 

 

 

                  Eu mesma me surpreendi com meu flerte descarado.

 

 

 

-- Meu principalmente.

 

 

 

 

 

                  Sorri e entrei no carro estranhando a empatia precoce que Clara me despertou. Estava tão à vontade com ela que parecia que a conhecia há anos. Voltar para casa que era a recordação mais intensa da minha vida, do meu amor com Camila, fez com que minha consciência pesasse de uma maneira absurda, o sentimento não era de traição, mas sim de vazio, como se o momento de descontração e paquera que tive não repercutisse na minha realidade solitária e sem graça sem Camila.

 

 

 

                  Uma confusão de sensações foi responsável pela minha insônia naquela noite. Como em todas as noites, sentia falta do corpo de Camila ao meu lado, mas quando eu fechava os olhos, a imagem de Clara era nítida: seu sorriso, seus gestos, sua voz... Seria possível eu estar interessada em outra mulher?

 

 

 

                  O dia seguinte começou com a visita inesperada do meu casal de amigos: Bernardo e Renato:

 

 

 

-- O que aconteceu com vocês? Formiga na cama? Vocês não trans*m não é? Essa hora da manhã em pleno sábado vocês aqui?

 

 

 

-- Viemos numa missão especial... – Disse Renato beijando meu rosto.

 

 

 

-- E respondendo à sua pergunta senhorita mau humor matinal... Nós trans*mos sim, olha nossa pele... E por falar em sex*, nossa missão tem haver justamente com a sua vida sexual...

 

 

 

-- Que vida sexual? – perguntei franzindo a testa.

 

 

 

-- Essa é a pergunta crucial! Exatamente, que vida sexual? Você não tem! E é pra dar um jeito nisso que nós estamos aqui em plena manhã de sábado.

 

 

 

                  Bernardo olhou para mim com desprezo vendo minha camisola de algodão, fez caras e bocas quando pegou no meu cabelo, olhou minhas unhas em seguida disse ao marido:

 

 

 

-- A intervenção é urgente amor...

 

 

 

-- Hurrum...

 

 

 

                  Os dois me empurraram para meu quarto, abriram meu guarda-roupas, torceram o nariz para a maioria das minhas roupas:

 

 

 

-- Muito séria, muito velha, muito antiga, ai! Que horror! Não... Não... Ai Isa, minha mãe tem roupas mais modernas que você!

 

 

 

                  Bernardo sempre me criticava por eu ser muito pouco ousada nas minhas escolhas de roupa, dizia que eu não sabia valorizar meu corpo, de fato, nunca fui muito ligada a moda, consumista como Camila era, mas depois da morte de minha mulher, relaxei total.

 

 

 

-- É mais sério do que pensava amor... Se vista Isabela, hoje nem que eu gaste toda sua herança, mas você será repaginada!

 

 

 

                  Não adiantava discutir com ele. Os dois me levaram para o maior shopping da cidade, entraram em um salão de beleza praticamente me arrastando, falaram com intimidade com os cabeleleiros, e em minutos eu estava cercada de bibas afetadas, mexendo nos meus cabelos, duas mocinhas simpáticas cuidavam das minhas unhas, pouco pude opinar três horas depois como se fosse um personagem desses programas de transformação “antes e depois” me surpreendi ao ver minha imagem no espelho, os aplausos de Renato e Bernardo confirmaram o que meus olhos atestaram, o meu amigo falou com orgulho:

 

 

 

-- Arrasou!

 

 

 

                  Bateu na mão do cabeleleiro, parabenizando-o pela obra-prima, segurou-me pela mão e disse:

 

 

 

-- Você está linda minha amiga... Primeira etapa cumprida vamos para o segundo passo.

 

 

 

-- Bê... Eu estava mesmo precisando dar um jeito no cabelo... Na pele... Nas unhas... Mas o que mais você vai me aprontar?

 

 

 

-- Confie em mim Isa.

 

 

 

                  Mais uma vez, sabia que qualquer argumentação era inútil. A peregrinação pelas lojas parecia mais longa do que ir a pé até Aparecida do Norte. Não tinha fim. Bernardo me fez provar de tudo: vestidos, saias, blusas, calças, shorts, lingerie, sapatos, maquiagem, jóias... A energia deles não tinha fim, eu já estava tão exausta que parei de reclamar, me detive em apenas assinar os comprovantes de compra do cartão de crédito.

 

 

 

                  Nosso almoço aconteceu perto do jantar praticamente, e durante a refeição o assunto foi um só: Clara.

 

 

 

-- Então Isabela, a Clara é uma mulher incrível, forte, inteligente, sensível, acho que vocês vão se dar muito bem...

 

 

 

-- Mas...

 

 

 

                  Não deu tempo concluir meu pensamento quando Bernardo me interrompeu:

 

 

 

-- Mas nada Isa, você tem que começar a conhecer gente nova, e a Clara é a pessoa ideal, que responde a todos os requisitos de uma boa amiga...

 

 

 

-- E além de tudo é psicóloga! Vai te ajudar também nessa fase de superação. – Comentou Renato.

 

 

 

-- Ai gente... Não sei se gosto disso... Agradeço a atenção e preocupação de vocês, mas... Não estou preparada para ninguém e além do mais quem disse que Clara tem algum interesse por mim?

 

 

 

-- Ahan... Senta Cláudia que você não notou o interesse dela, até convite vip você ganhou, com direito a entrega expressa! – Ressaltou Bernardo.

 

 

 

-- Você que a conhece há mais tempo Rê... Ela é...

 

 

 

-- Lésbica? – Completou Renato.

 

 

 

-- É...

 

 

 

-- Ela diz que gosta de gente bonita e interessante, o problema é que a maioria das pessoas bonitas e interessantes para ela são mulheres...

 

                  Rimos juntos e eu confirmei a idéia de Clara.

 

 

 

-- Clara é muito passional. Passou o último ano em Londres, nem esteve na inauguração do bar, investiu e deixou tudo nas mãos do Mateus e foi embora para a Europa com a namorada. – Informou Renato.

 

- Namorada? – Perguntei.

 

- Ex-namorada melhor dizendo. Essa ex, era uma administradora de empresas, foi fazer MBA em Londres, a Clara patrocinou tudo: passagens, estadia, o curso, tudo. Jogou tudo pro ar para estar mais perto dela, mas a vaca a fez sofrer horrores, comer o pão que o diabo amassou, traiu, se apropriou de uma grana alta da Clara...

 

- Que filha da mãe! – Disse.

 

 

 

-- Pois é... A Clara tem família rica, nunca precisou trabalhar, fez a faculdade de psicologia por pressão dos pais, mas o talento dela é pra lidar com público, é pra organizar eventos... Na faculdade ela era a rainha das festas, estava sempre organizando uma pra galera, daí a idéia de abrir o Colors. Mas essa ex dela detonou grande parte de suas economias, a família parou de mandar dinheiro, e por pouco Clara não ficou sem dinheiro até para voltar para o Brasil. – Prosseguiu Renato com a narrativa.

 

 

 

-- A ex ficou lá em Londres? – Bernardo perguntou.

 

 

 

-- Sim, o curso, o apartamento, já estava pago, e com a grana que ela passou a mão da Clara, estava vivendo muito bem por lá. Não me arriscaria a apresentar alguém a ela em quem eu não tivesse total segurança do caráter como tenho em você Isa.

 

 

 

-- E vice-versa não é amor? – Retrucou Bernardo.

 

 

 

-- Claro amor.

 

 

 

-- Isa, por mais receio que você tenha sobre estar preparada para outra relação... Não custa nada dar uma chance a alguém como Clara... Minha querida, seu amor por Camila é imaculado, nada mudará isso, mas você não pode passar o resto da vida sozinha...

 

 

 

                  No fundo, meu amigo tinha razão. Nada nem ninguém mudaria meu amor por Camila. O amor que sentia por ela era libertador, dessa forma, não podia me impor castigos por tê-la amado como amei e amo, a solidão não era justa com a felicidade que construí com ela, eu precisava conhecer outras pessoas e dar lugar a outros sentimentos, mesmo que não fossem correspondentes ao que vivi com Camila.

 

 

Fim do capítulo


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Comentários para 2 - CAPÍTULO 2: REFAZENDO MINHA ROTINA:
Lea
Lea

Em: 17/12/2021

Ainda está difícil assimilar essa estória sem a Camila, é muito triste!!

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patty-321
patty-321

Em: 15/11/2021

Essa parte é bem triste. Caiu um cisco no meu olho. Inesquecível dra. Camila.

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