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Beautiful and Dangeours por contosdamel

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Palavras: 4857
Acessos: 648   |  Postado em: 11/11/2021

EPISÓDIO 21: Surpresa não grata

Leticia balançou a cabeça demonstrando a insatisfação em encontrar Patrick naquela circunstância. Quando se deu conta da presença de Fernanda na sala, a insatisfação tomou ares de angústia que apertavam seu peito, o olhar da morena estava marejado, para não demonstrar um traço de fragilidade a policial baixou os olhos e cruzou os braços.

 

-- O que você faz aqui? – Letícia insistiu transtornada.

 

-- Que recepção minha querida, é assim que você recebe seu marido?

 

            Patrick alheio ao constrangimento da médica indagava com um sorriso nos lábios. Apenas ele mantinha um comportamento leve, os demais na sala, cada um por um motivo diferente manifestava um grau de desconforto.

 

-- Você chegou ao Brasil e não me procurou, não me ligou? Por que veio aqui no trabalho, importunar o delegado? – Letícia falava com a voz trêmula.

 

-- Bom, eu quis fazer uma surpresa, como o delegado é seu chefe, vim pedir autorização dele, vamos precisar nos ausentar uns dias... Tanto tempo separados...Temos muitas saudades a matar!

 

-- Patrick! Como você foi capaz disso?

 

-- Perdoe-me, não é esse o protocolo? Não sei como as coisas funcionam nesse país, nesse serviço... Desculpem-me, estou sendo inconveniente? Letícia por que você está tão nervosa?

 

            Nesse momento os olhos de Letícia procuravam os de Fernanda que permanecia imóvel, lutando para segurar as lágrimas que teimavam querer sair, temendo não conseguir ocultá-las, permaneceu de cabeça baixa, olhando para os próprios pés, na sua mente e no seu coração amargava a decepção, a dor de ter sido enganada, a revolta por ter se entregado a alguém que agora lhe parecia uma desconhecida dissimulada.

 

-- Delegado Wellington perdoe-me esse transtorno. Patrick, por favor, venha comigo.

 

            Letícia deixou seu constrangimento evidente, perdida, chegou a dar dois passos em direção a Fernanda, mas se deu conta não era o momento, aquela plateia não era conveniente.

 

-- Desculpe-me mais uma vez delegado. Patrick, por favor!

 

            A médica indicou com a mão a porta para o marido. Patrick seguiu Letícia. Depois dos dois saírem da sala, Wellington compartilhou com Fernanda em níveis diferentes de surpresa o que acabaram de testemunhar:

 

-- Então era esse o motivo dela recusar meus convites sempre... Mas ela não usa aliança... Será que costume só aqui no Brasil uma mulher casada usar aliança? Ela parecia bem nervosa, talvez o casamento esteja mal das pernas...

 

            As deduções de Wellington eram fichinha diante das conclusões que Fernanda arquitetava, experimentando um sentimento inenarrável de traição. Carol notando a perplexidade da amiga, e mais que isso, o quão abalada a policial estava se aproximou quase cochichando:

 

-- Vem, vamos sair daqui...

 

            Fernanda só acenou em acordo passando os dedos entre as pálpebras úmidas. Despediu-se formalmente com o delegado trocando uma informação qualquer sobre o dia seguinte na investigação e saiu com Carol, voltaram à mesma sala de reuniões.

 

-- Nanda, deve haver uma explicação para isso... – Carol buscava um argumento para consolar Fernanda.

 

-- Tem Carol. Eu fui feita de idiota de novo! Eu prometi a mim mesma não ser a primeira mulher na vida de nenhuma outra mulher, eu sempre me protegi para não me envolver, e agora olha a merd* que aconteceu: me apaixonei por uma mulher casada, com um detalhe, ela me escondeu isso!

-- Nanda não tome decisões precipitadas, dê ao menos a chance dela se explicar, ela estava surpresa, atormentada, dê ao menos o benefício da dúvida.

 

-- Você nem imagina Carol, como está doendo... Tivemos uma noite maravilhosa ontem, trocamos tanto carinho, paixão... Carol eu a apresentei à minha família! Agora se não bastasse todos os problemas que minha mãe tem comigo, de não aceitar minhas escolhas, não engolir o fato de eu ser gay, olha que maravilha: “mamacita lembra aquela mulher que apresentei como minha namorada a senhora e a todos da família, esqueci de acrescentar um detalhe, ela é casada”!

 

-- Você a apresentou à família?  Nossa... – Carol revelou seu espanto – Por isso mesmo, porque você está verdadeiramente apaixonada por ela, não deixe que suas conclusões não deem espaço a sequer uma contestação.

 

-- Carol você estava na mesma sala que eu? Não é possível que você não tenha visto a reação dela, se ele não fosse o marido dela, você não acha que ela teria dito ali mesmo enquanto ele a chamava de minha querida?  E olha que idiota, eu com a consciência pesada, tentando achar a melhor hora para contar que Gisele me beijou ontem...

 

-- Opa! Pera um pouco! A Gisele te beijou? Como assim?

 

-- Foi sem importância Carol, por isso não contei imediatamente a Letícia, ela viajou com as nossas histórias da adolescência no meio das fotos... E acabou me beijando, insistindo que ainda existe algo entre nós, e eu no clima, correspondi ao beijo, mas depois, eu revelei que estava namorando a Letícia, e estava apaixonada por ela.

 

-- Que babados! E você só despeja as coisas assim pra mim né? Nanda, você escondeu algo da Letícia esperando a melhor hora, talvez ela tenha feito o mesmo...

 

-- Ah sério? Você quer comparar um beijo a um casamento?!

 

            Fernanda dizia em meio a lágrimas, sensibilizando a amiga que nunca vira a morena tão vulnerável.

 

-- Nanda...

 

-- Ah Carol, me deixa tá! Eu preciso descarregar toda essa raiva, de mim, dela, daquele marido... Não posso ficar aqui.

 

            Fernanda saiu batendo forte a porta da sala. Ignorou os colegas que a chamavam pelo corredor e seguiu para o vestiário, vestiu sua roupa de treino, enxugando as lágrimas que molhavam seu rosto numa velocidade que ela queria frear, mas, não conseguia evitar.

 

            Na academia, pôs-se a esmurrar, chutar com violência o saco de areia, até deixar o suor se misturar às suas lágrimas, não demonstrava a simpatia e descontração típica aos colegas nos treinos ali, sentia-se só, com suas conclusões, com sua decepção, rememorando a cena, a expressão de Letícia, os dias que viveram até ali, o que tinha de verdade naquilo tudo? A voz de Patrick ecoava na sua mente, e diante daquela avalanche de lembranças e sensações deferiu os golpes com toda força que a raiva lhe dava, não sabia ao certo por quanto tempo permanecera lutando contra aquele inimigo invisível, até sentir-se exaurida, abraçou o saco de areia, fechou os olhos, e as lágrimas densas venceram sua fortaleza.

 

            Olhou para os lados e se viu sozinha na academia, apenas uma luz estava acesa, o silêncio permitiu que ela ouvisse passos de um salto se aproximando, e a voz familiar, embora embargada, soou:

 

-- Fer? Estava te ligando... Procurando você... Até a Carol me dizer que você poderia estar aqui... Já estava indo à sua casa...

 

-- Seu marido sabe que você está aqui? – Fernanda foi sarcástica, apoiada no saco de areia, permaneceu de costas para Letícia.

 

-- Eu sei que você está com raiva de mim, e com razão, mas, eu preciso que você me escute, antes de me julgar.

 

            Nenhuma palavra. Fernanda só respirava ofegante, como se toda raiva descarregada ainda estivesse na iminência de explodir, engolia as palavras.

 

-- Eu ia lhe contar sobre Patrick, eu te disse que existiam alguns detalhes da minha vida que eu precisava te contar...

 

-- Detalhes? Desde quando um casamento é um detalhe doutora Letícia?!

 

Fernanda bradou, virando-se bruscamente. O tom da policial chegou a assustar a ruiva, que fechou os olhos captando a raiva que irradiava na expressão da namorada.

 

-- Detalhe doutora Letícia para mim, é uma mania, uma preferência, uma cicatriz! Não um casamento! Eu me abri pra você, eu te trouxe pra minha vida de peito aberto, apresentei você à minha família, a única mulher que levei a casa dos meus pais... E agora tem esse detalhe da sua vida que muda tudo, que me torna uma adúltera, uma qualquer, seu segredinho sujo...

 

-- Não Fer! Nada disso meu amor!

 

            Letícia já deixava o pranto cobrir seu rosto, sentindo o que causara a Fernanda.

 

-- Para de hipocrisia, de me chamar de meu amor! Você é uma mentirosa! Estou com nojo de você, quando eu me lembro daquele homem se apresentando como seu marido, eu sinto arrepios imaginando os dois engomadinhos como um casal feliz...

 

-- Não! Fernanda para e me escuta! As coisas não são assim! Para de falar assim comigo, você está me magoando sem necessidade!

 

-- Eu estou te magoando? Ah não Letícia, não tenho que ouvir isso, aliás, não tenho que ouvir mais nada de você. Volta lá pra seu médico almofadinha, seu marido que veio pedir autorização para passar uns dias curtindo a saudade da esposa...

 

-- O que? Do que você está falando?

 

-- Do pedido que seu marido veio fazer ao seu chefe, nosso chefe, aliás, que ficou muito decepcionado ao saber que a doutora é casada.

 

-- Para de falar bobagem! Deixe-me explicar...

 

-- Explicar o que doutora? Que desculpa você vai me dar? Ah quem sabe aquela típica: “eu não era feliz no meu casamento”.

 

-- Ah quer saber? Eu estou aqui tentando conversar com você, mas é inútil, você está mostrando toda sua petulância, arrogância, a ignorante que conheci. Mas, apesar disso, eu... – Leticia embargou a voz – Estou completamente apaixonada por você, e só por isso, eu vou deixar que você se acalme, depois nós conversamos, quando você me der o direito de falar, não vou ficar aqui sendo outro saco de pancadas, como esse que você socou por horas.

 

-- Não haverá depois. Acabou Letícia.

 

            Fernanda disse segura. Enxugou o rosto, e saiu da academia, deixando Letícia com seu choro silencioso.

*************

 

            As informações que Dulce e Gisele obtiveram de Miriam não acrescentaram muito, dadas as novas hipóteses que Fernanda fez depois da conversa com Agnes, na verdade, só confirmaram o que a advogada relatara.

 

            Os dias que se seguiram até a exumação do corpo de Mauricio da Silva ser agendada, foram marcados também pela ausência de Letícia na delegacia. Formalmente a médica pediu alguns dias de antecipação de suas férias para resolver assuntos pessoais.

 

            O humor da agente Garcia teve seus piores dias, mas, acompanhado disso, um olhar pesado, rosto abatido era notado pelos colegas mais chegados. Carol tentou por várias vezes abordar o assunto Letícia com ela, mas as tentativas eram frustradas, Fernanda sempre a deixava falando só, retornando à sua postura reclusa quanto aos seus sentimentos.

 

            Letícia também tentou contato com Fernanda por mensagem, acabou percebendo que seu número fora bloqueado pela policial. Mas, a morena ficou curiosa ao ver na sua caixa de e-mail, uma mensagem da ruiva:

 

“Sei que você tem seus motivos para estar magoada comigo, não esperava a atitude infantil de bloquear minhas chamadas e mensagens, não darei explicações através de um e-mail, nossa história não merece esse tipo de recurso para decretar nosso futuro. Precisei me ausentar e em breve estarei de volta e vou cobrar a chance que você me recusou no nosso último encontro de me deixar explicar o contexto da situação que estive envolvida. Até breve, Lê”.

 

            Fernanda deletou imediatamente com os olhos marejados.  Carol se aproximou notando a perturbação da amiga.

 

-- Nanda? Está tudo bem?

 

-- Tudo na mais perfeita ordem, exceto por essa exumação do corpo não ter acontecido ainda, está tudo bem sim.

 

-- Nunca vi você emocionada com uma investigação... Esses olhinhos úmidos aí, esse olhar perdido...

 

-- Ai Carol não começa...

 

-- Se o que te atormenta tanto é a data da exumação... Só que não né?  Mas, se era isso... Ela saiu, o corpo será exumado amanhã, a família já foi comunicada.

 

-- Enfim uma notícia boa! - Fernanda disse batendo as mãos na mesa.

 

-- Nanda... Você não vai mesmo escutar o que a Letícia tem a dizer?

 

-- Carol, já encheu esse assunto, você sabe que não volto atrás nas minhas decisões. Quando voltei, deu merd*... Ah quer saber? Vou indo, vou mais cedo, eu mereço, saindo agora dá tempo bater uma bolinha na praia.

 

            Sem olhar para trás, Fernanda pegou seu casaco e saiu do prédio da delegacia com destino a Copacabana. A desculpa de jogar uma partida de vôlei era mesmo para despistar para a amiga e os demais colegas seu estado frágil, que a qualquer citação do nome de Letícia despertavam lágrimas nos seus olhos.

 

            Seguiu de fato para orla, mas do Leblon, parou ao ver uma partida de vôlei de areia, sentou-se ali em um dos bancos, sem se ater aos detalhes da partida, na verdade olhava para o mar, os óculos de sol escondiam as lágrimas que corriam, lembrando-se do último passeio que fizera com Letícia na praia.

 

            A partida que assistira chegou ao fim e conseguiu identificar vindo pela areia em sua direção, uma bela mulher usando boné e óculos de sol, top e short curto, uma das jogadoras do time. Ao se aproximar, Fernanda pode identificar: Agnes.

 

-- Nanda? – Agnes indagou surpresa.

 

-- Agnes? Nossa, nem te reconheci sem aquela roupa de executiva... Você também continuou jogando vôlei?

 

-- É, eu continuei, você disse também, por quê? Também continuou? – Agnes disse sacodindo a areia dos óculos.

 

-- Jogo em Ipanema.

 

-- Tá um pouquinho longe de Ipanema né?

 

-- É, hoje vim dirigindo sem rumo, me distraí, quando me dei conta estava no Leblon, parei, respirar novos ares.

 

-- Vou tomar uma chuveirada, e depois uma água de coco, me acompanha?

 

            Fernanda acenou em acordo. Sentou no quiosque mais próximo e não pode evitar reparar no corpo de Agnes sob aquele chuveiro. Se a ex-colega de time chamava atenção muito bem vestida, daquele jeito, conseguia ser o centro das atenções sem esforço.

 

            Agnes sentou-se na cadeira de frente para Fernanda, colocou sobre a mesa o boné e os óculos de sol, enquanto o garçom chegava com os dois cocos.

 

-- Então o que te fez se perder no Leblon? – Agnes disse sacudindo a ponta dos cabelos molhados.

 

-- Nada importante, problemas cotidianos. – Fernanda desviou o olhar.

 

-- Já que você não quer falar dos problemas cotidianos... Vamos falar de algo do nosso passado em comum.

 

-- Ai, sério? Quer falar de trabalho?

 

-- Trabalho? Eu estava me referindo ao vôlei... Mas, já que você citou, bem, a Miriam me ligou, e me falou que a exumação foi marcada.

 

-- É, e se minhas suspeitas se concretizarem, logo você terá que defendê-lo de novo, mas dessa vez, por assassinatos.

 

-- Quando você fala no Maurício como se tivesse certeza que ele está vivo, chega a me dar arrepios.

 

-- Acho melhor você considerar essa possibilidade Agnes. E temo por você, afinal, a família confiou a você o reconhecimento do corpo, se o defunto não era ele, como você pode se confundir?

-- Impressão minha, ou você está me acusando de algo Nanda?

 

-- Acusando? Não... Ainda não, só o farei se eu tiver provas, é meu trabalho.

 

            Agnes ficou séria. O pôr-do-sol começava a se fazer e a paisagem parecia exaltar a beleza da advogada.

 

-- Se o Mauricio estiver vivo Nanda, eu serei a primeira pessoa a colaborar para encontrá-lo e se ele for o assassino dessas mulheres, ajudarei a fazer justiça.

*************

 

            A exumação enfim foi realizada, dada a urgência do resultado, o laboratório de criminalística priorizou os trâmites para realização dos testes de DNA do corpo, comparando com as amostras da mãe e irmã de Maurício da Silva.

 

            O resultado saiu no dia seguinte à exumação. As suspeitas de Fernanda se confirmaram, o corpo não pertencia a Maurício da Silva. A comunicação à família foi feita por Agnes que não escondia seu transtorno diante daquela revelação.

 

            Cabia a Fernanda e seus colegas descobrirem a possível identidade que Mauricio assumira para sair da prisão, essa tarefa não foi difícil, visto que, no mesmo dia em que o traficante supostamente fora morto, outro interno recebeu alvará de soltura: Reinaldo dos Santos Lima, condenado por latrocínio.

 

            As buscas por Reinaldo começaram, uma vez que a investigação apontava que essa seria a nova identidade de Maurício da Silva. Nos bancos de dados da polícia nada foi encontrado, exceto as informações do seu crime, condenação e prisão. Era a vez de buscar em outras fontes oficiais, como departamento de trânsito, movimentações financeiras, envolvendo assim na equipe além dos policiais, peritos que promoveram o cruzamento de dados a fim de localizar o principal suspeito dos assassinatos.

 

            As investigações tomaram um ritmo frenético, Fernanda não dispunha de tempo para pensar na sua desilusão amorosa, mas contava os dias da ausência de Letícia. Recusou os convite de Gisele diversas vezes, para sair, não queria que o término do seu namoro desse esperanças a escritora. Dulce fazia sua investigação particular, mantendo o contato com Fernanda diante de qualquer novo elemento.

            Era noite quando Fernanda saíra da delegacia, exausta depois de dois dias quase ininterruptos de batidas policiais nos últimos endereços registrados de Reinaldo dos Santos. Não conseguindo nada mais do que testemunhas que confirmavam o perfil de Maurício, especialmente pela deficiência física da mão, no entanto, o suspeito não residia mais em nenhum dos endereços. No carro recebeu uma ligação de um número desconhecido, como distribuíra seu número para algumas testemunhas, atendeu, podia se tratar de alguma nova informação do paradeiro de Maurício:

 

-- Agente Garcia falando, pois não?

 

-- Nanda, sou eu, Agnes.

 

-- Agnes? Que surpresa você me ligar, pensei que ia ter que intimá-la...

 

-- Nanda, não seja cruel. Eu estou abalada com isso, imagine como foi revelar a família de Mauricio que elas enterraram e choraram pelo ente errado, por que eu o reconheci como morto.

 

-- Difícil mesmo entender isso. Você será chamada para dar explicações, sabe isso não é?

 

-- Sei, e vou colaborar no que for necessário. Mas, estou te ligando porque preciso falar com você extra oficialmente.

 

            O tom de Agnes era tenso, Fernanda notou a voz da advogada embargar-se.

 

-- Aconteceu algo? O Maurício te procurou?

 

-- Nanda, aconteceu sim, mas não posso falar por telefone. Nem quero ir à delegacia, preciso de um lugar seguro para falar... Gostaria que Dulce e Gisele estivessem presentes.

 

-- Ok, estou indo para minha casa, pode nos encontrar lá?

 

            Fernanda ditou o endereço em pouco tempo já estava em casa, esperando a visita da advogada e das amigas, primeiro Dulce e Gisele chegaram. Poucos minutos depois, o porteiro anunciou a chegada de Agnes. Fernanda a recebeu de pronto, observando a tensão da antiga colega, pediu que se sentasse e indagou curiosa:

 

-- Então, qual o motivo de tanto segredo? O que você quer me contar?

 

-- Antes de falar meninas, preciso que vocês me prometam que tentarão me entender.

 

-- Ok, prometo tentar.

 

            Só Dulce respondeu. Gisele acenou em acordo. Fernanda sentou-se de frente para Agnes e parecia tão tensa quanto ela, imaginando que tipo de revelação a defensora teria a fazer.

 

-- Naquela época do colégio, do Nossa Senhora das Graças, eu estava sempre por perto de vocês sim, tentava acompanha-las nas suas atividades, estar em todos os grupos de vocês quatro, admirava vocês, queria ser amiga de vocês, mas eu parecia invisível. Eu não tinha muitas amigas, a Mari era a única que era simpática, generosa comigo, mas, quando o grupinho de vocês se reunia, eu ficava invisível de novo, eu queria ser amiga, não adiantou nada ser do seu time, do clube de literatura da Gisele, e do teatro com a Dulce, nem muito menos do coral com a Mari, era sempre só vocês quatro...

 

-- Nós nos lembramos disso outro dia Agnes, mas o que isso tem de segredo?  - Gisele perguntou.

 

-- Bom... Aí vem a parte que você tentará me entender. Eu queria fazer algo para chamar a atenção de vocês, conquistar a amizade de vocês, e tive uma ideia louca que se transformou em tragédia...

 

-- Não me diga que o incêndio foi provocado por você! – Fernanda vociferou.

 

            Agnes fechou os olhos e as lágrimas caíram densas e rapidamente.

 

-- Eu não imaginava que tomasse aquela proporção... Minha intenção era salvar vocês, e aí vocês seriam gratas a mim e assim seriam minhas amigas... Quando vi a dimensão que o fogo estava tomando eu saí correndo para buscar ajuda, deixei a porta dos fundos aberta, por isso vocês conseguiram sair, mas, a Mari ficou presa tentando sair pela porta da frente...

 

            Fernanda levou as mãos à cabeça. Levantou-se e ficou andando de um lado para outro sem saber o que falar naquele momento, enquanto Agnes soluçava relembrando a tragédia.

 

-- Você poderia ter matado todas nós! O que você tinha na cabeça sua louca?! Por isso toda essa atenção com a família da Mari, lógico, você a matou! –Dulce bradou com o rosto banhado em lágrimas.

 

-- Como você acha que encarei toda essa culpa minha vida toda?! Eu tinha que ajuda-los... – Agnes tentava se defender

 

-- Você tinha era que pagar pelo que fez! Um incêndio criminoso! Com uma vítima fatal! – Fernanda disse deixando escapar um choro revoltado.

 

-- Nanda você sabe que não daria em nada. Eu tinha dezesseis anos, não seria crime, seria um ato infracional... Com a influência da minha família o máximo que me aconteceria como punição eram me mandar estudar fora do país. Eu preferi encarar minha culpa, apoiando a família. Fui a melhor amiga do Mauricio, na doença do pai da Mari, eu paguei a maior parte das despesas, a Miriam tem um bom emprego graças a mim e dona Eliete conseguiu a aposentadoria antecipada por meu intermédio também.

 

-- Ora, agora quer me convencer que isso paga o fato de você ter causado a morte da filha e irmã deles? Acha que eles vão concordar quando souberem da verdade?

 

-- Nanda não faz isso, não fala nada pra eles, já é sofrimento demais pra uma família só...

 

-- Causado por você! – Gisele berrou apontando o dedo para Agnes.

 

-- Eu era uma menina sem nada na cabeça, eu agi como uma adolescente idiota, querendo ser uma heroína, ser popular, ser aceita como vocês, pertencer a um grupo... Eu sei que nada justifica, mas era só pra causar um susto, mas o fogo pegou na fiação elétrica e se espalhou rápido...

 

-- Que loucura... A Mari... Que estupidez – Fernanda não conseguiu mais falar, chorou.

 

-- Nanda, eu precisava falar, por que eu acredito que vocês estão correndo risco. O Mauricio sempre falou de vocês três com mágoa, que vocês eram amigas da Mari por caridade, que vocês eram patricinhas esnobes, no fundo ele achava que vocês deixaram a Mari morrer naquele incêndio.

 

-- Eu quase morri tentando tirar aquela viga de madeira que prendia a perna da Mari, a Dulce encontrou a porta dos fundos e veio nos chamar, mas eu não queria sair dali sem a Mari, até que ela pediu a Gisele que me puxasse e fosse buscar ajuda, por que eu não teria forças para levantar aquela viga... – Mais uma vez Fernanda pausou o relato emocionada.

 

-- Eu sei disso, mas o Mauricio precisava achar um culpado para tragédia, vocês sumiram após o incêndio, nunca apareceram lá na casa deles, só reforçou a revolta dele. Ele era muito próximo da Agnes, ele nutriu esse ódio por vocês a vida toda. Mesmo que eu defendesse vocês, minha culpa só aumentava quando testemunhava ele se perdendo nas drogas e no meio dos surtos chamava pela Mari...

 

-- Por sua culpa não é? – Gisele revoltada insistia apontando para Agnes.

 

-- Para de dizer isso, eu já carrego essa culpa por todos esse anos, mas não quero ser culpada pela morte de vocês agora. Estou aqui não para confessar minha culpa no incêndio, mas, para alertar vocês. Algumas coisas que o Mauricio me falava enquanto estava preso, começaram a fazer sentido diante dessa série de assassinatos.

 

-- O que? – Dulce interrogou.

 

-- Ele me dava detalhes da vida de vocês, antes de ser preso, ele sabia, por exemplo, que você era policial, que a Dulce trabalhava em uma revista, e que Gisele morava fora do país. Informações que eu só soube depois. Ele planejou essa vingança Nanda, matou pessoas ligadas a vocês, mas, os alvos são vocês, ele me dizia sempre: “um dia aquelas assassinas vão pagar pelo que fizeram a minha irmã”.

 

-- Nós assassinas? – Fernanda perguntou sarcástica.

 

-- Nanda, o Mauricio teve acesso a todo tipo de literatura na prisão. Eu não sei exatamente o que ele lia, mas com certeza, serviu para o plano de vingança dele. Ele começou assassinando o próprio Reinaldo dos Santos para sair no lugar dele...

 

-- A morte desse Reinaldo foi um meio para ele concretizar o plano de vingança. Matou pessoas próximas a nós para nos avisar que está por perto, para nos fazer experimentar o sentimento de perda dele. A Agnes está certa, nós somos os alvos. – Gisele exteriorizou suas conclusões.

 

            As quatro se entreolharam assustadas, as três amigas mais que isso, estavam revoltadas. Um silêncio perturbador se instalou, até Dulce interromper disparando para Agnes:

 

-- Você mais do que todas nós deveria estar preocupada. Se esse homem está rondando nossa rotina, traçando como será nossa morte, ele está observando também sua aproximação de nós, você pode ser alvo também.

 

-- Eu sei. Mas isso não vai me impedir de ajudar a encontra-lo, e vou lutar para que ele tenha um julgamento justo, está claro que o Maurício está doente, ou já era doente há muito tempo e eu não soube identificar.

 

            Dulce recebeu uma ligação e avisou:

 

-- Nanda tenho uma pista, uma fonte... De um cara de compra drogas de um cara que chamam de “mãozinha”. Preciso ir lá conferir se a informação bate...

 

-- Vou com você! – Fernanda disse pegando o casaco.

 

-- Não mesmo! Você com essa cara e postura “dos home” vai é assombrar os “brow”.  – Dulce respondeu.

 

-- Posso te levar, quem sabe eu possa ajudar. – Agnes se ofereceu.

 

-- Não sei se garanto sua segurança...

 

-- Não tenho medo, já defendi muitos traficantes...

 

-- A sua segurança, me refiro a eu me controlar pra não te dar uma surra, por que isso você merece no mínimo!

 

 Dulce respondeu séria, mas Gisele prendeu o riso. A jornalista acabou aceitando a oferta a contragosto de Fernanda que fez mil recomendações. Depois que as duas saíram, Gisele viu a oportunidade que esperava para ficar a sós com Fernanda.

 

-- Quem podia esperar por essa não é? – Gisele puxou assunto.

 

-- Que o incêndio foi estranho eu sempre achei, depois que soube desse testemunho da Agnes então... Mas essa história toda, eu não podia supor, mas, é um bom enredo para seu próximo livro.

 

-- Vou deixar isso para Dulce, me dá arrepios essa história que dirá reproduzi-la em um livro meu...

 

-- A Dulce vai ter mesmo uma grande história pra contar.

 

-- E você está bem? Soube que você e a Letícia terminaram, outra surpresa heim? Ela ser casada...

 

-- Essa amizade da Dulce com Carol ia dar merd* eu sabia, começou a fofoca. – Fernanda resmungou.

 

-- Para de ser chata, sou sua amiga, estou preocupada com você. Na nossa última conversa você deu a entender que estava apaixonada por ela, e descobrir que ela é casada...

 

-- Gisele não quero falar nisso. Estou exausta, tá com dois dias que dormi pouco mais de duas horas... Meu ombro tá me matando...

 

-- Quando você fica tensa seu ombro grita... Era sempre assim antes das finais dos campeonatos, lembra o que resolvia?

 

-- Lembro...

 

-- Senta aqui então, vou te fazer aquela massagem...

 

            Fernanda obedeceu, estava mesmo precisando de uma massagem, e se lembrava como as mãos de Gisele eram delicadas nessas situações. A loira afastou os cabelos de Fernanda, baixou as alças da camiseta regata que a policial usava e começou a massagear os ombros, coluna cervical, pescoço.

 

            Relaxada, Fernanda fechou os olhos, permitindo-se aquele afago, quando ouviu a porta se abrir, destrancada depois da saída das meninas.

 

-- Nossa, você é mesmo rápida. Não perdeu tempo.

 

            Letícia disse com os olhos marejados e voz embargada ao ver aquela cena.

Fim do capítulo


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Comentários para 21 - EPISÓDIO 21: Surpresa não grata:
patty-321
patty-321

Em: 12/11/2021

É muito rolo dessas duas, agora a Le  não.vai querer ouvir a banda  eita

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