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Beautiful and Dangeours por contosdamel

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Palavras: 4938
Acessos: 876   |  Postado em: 15/11/2021

EPISÓDIO 22 – “ É magoa, andam dizendo por aí”

Letícia deu mais dois passos à frente e continuou a falar diante da surpresa que Gisele e Fernanda manifestavam no olhar:

 

-- Ambas foram rápidas e não perderam tempo.

 

            O tom sarcástico de Letícia denunciava também a magoa recente. Fernanda ajeitou as alças da blusa e se levantou perguntando:

 

-- O que você está fazendo aqui? Acabou a lua-de-mel com seu marido?

 

            Letícia encarou fixamente Fernanda o brilho dos seus olhos verdes estava nublado e marejado, enquanto a morena evitava permanecer presa às esmeraldas da ex. Gisele sentiu-se perdida na situação, não sabia se deixava Fernanda e Letícia a sós para uma conversa que obviamente era necessária, ou, se permanecia ali, eliminando qualquer chance de entendimento entre as duas, ficou ali observando a reação da médica e da ex-namorada, tentando ser uma mera expectadora.

 

-- Se fosse uma lua-de-mel, foi curta, e mesmo assim, você se apressou para fazer a fila andar como se fala aqui no Brasil não é? – O tom de Letícia era carregado de mágoa e ciúme.

 

-- Com que direito você me julga? O que você viu pra criar deduções que te coloca como vítima aqui?

 

-- Não é preciso ser uma investigadora habilidosa como você para interpretar o que acabei de ver, não estou julgando. Mas, não vou estender minha presença aqui, não quero atrapalhar nada.

 

            Letícia enxugou os olhos, encarou Gisele e Fernanda e seguiu até a porta, antes disso, Fernanda interrogou:

 

-- Não vai me dizer o que veio fazer aqui?

 

-- Não faz mais sentido dizer o que me trouxe aqui Fernanda. Você demonstrou que não vale a pena justificar algo a você. Você fez suas conclusões sem me ouvir, não me deu chances de explicar, e seguiu sua vida rapidamente. Parece que superestimei nossa relação. Boa noite, desculpe-me o incômodo.

 

            Letícia saiu lentamente do apartamento, no elevador, deixou o pranto percorrer seu rosto. Fernanda como se esperasse a ex-namorada sair, desabou no sofá, deixando as lágrimas banharem seu rosto igualmente, despertando a compaixão de Gisele.

 

            A escritora sentou-se ao lado da morena e disse em voz baixa:

 

-- Nanda eu sinto muito...  Eu não poderia imaginar que ela apareceria aqui e...

 

-- Para Gi. Você não tem motivos para se desculpar. – Fernanda disse com a cabeça jogada no sofá, de olhos fechados.

 

-- Eu vou me odiar depois por dizer isso, mas, eu tenho que dizer... Nanda, você devia escutar o que a Letícia tem a dizer sobre essa história do casamento dela.

 

-- Não Gisele, você também? Cara você não vê o quanto isso é absurdo? Esconder que é casada?

 

-- Nanda tem tantas hipóteses a ser consideradas nisso, você como boa policial sabe que um fato só o é, depois de todas as outras hipóteses serem descartadas.

 

-- Gisele! Você não estava lá, não viu o cara, não viu a reação dela...

 

-- Nanda! Se eu bem te conheço, você deve ter explodido de raiva, e não ter dado chances a ela de explicar-se, ela não é uma adolescente que não sabe o que quer, não desconte seus traumas de relacionamento nela.

 

-- Não tem explicações para o fato dela ter me escondido que era casada.

 

-- Não sou formada em Direito, mas, pelo que pesquisei para meus livros, há uma máxima que afirma que todos são inocentes até que se prove o contrário.

 

-- Ela não negou que ele era o marido dela, então, isso já a tira da condição de inocente.

 

            O olhar carregado de mágoa da morena, comoveu Gisele, não foi preciso grande esforço para Fernanda aceitar o afago, deitou-se no colo da amiga, que acariciou seus cabelos, com ternura, naquele momento, Gisele se deu conta que Dulce estava certa, não amava Fernanda como na adolescência, não sentiu ciúmes por Fernanda estar sofrendo por outra mulher, mas se culpou porque um dia causou aquela mesma dor nela.

 

            Gisele compreendeu o seu sentimento por Fernanda, e tudo que desejava era cuidar, consolar, era uma amiga, nada mais que isso. O carinho era verdadeiro, especialmente porque Fernanda estava ali no seu colo mostrando seu lado frágil. Perdeu-se em suas conclusões silenciosas acariciando a amiga, mal percebeu que finalmente a policial se entregava ao cansaço, dormindo no seu colo. Com delicadeza, retirou as botas da policial, acomodou-a no sofá, providenciando um cobertor e deixou Fernanda dormindo.

*************

 

            Dulce e Agnes conseguiram confirmar as informações sobre um traficante apelidado de “Mãozinha” agindo no Morro do Borel. No seu celular, Agnes tratou de confirmar o reconhecimento do traficante, mostrando uma foto antiga de Maurício ao contato que seria a fonte de Dulce.

 

            No dia seguinte o novo dado foi repassado para Fernanda. Na sala de reuniões da delegacia, a Agente Garcia traçava os passos seguintes da investigação para prender Maurício da Silva. Uma grande operação fora montada para vasculhar o Morro do Borel, na Tijuca, em busca do “Mãozinha”.

 

            Alertada por Agnes, Fernanda pediu que o sigilo da operação fosse prioridade, uma vez que Maurício não poderia desconfiar que a polícia estava no seu rastro. Assim, Fernanda não participou na ação, mas monitorou toda a ação da central de informações da delegacia, devidamente equipada com câmeras e pontos de comunicação entre ela e seus colegas.

 

            Na invasão em um dos barracos, Beto encontrou o que denunciava ser a casa de Maurício da Silva. Um painel de fotos de Fernanda, Dulce e Gisele estava disposto em uma das paredes. Recortes de jornal com reportagens assinadas por Dulce, páginas policiais nas quais Fernanda aparecia como policial responsável pela operação, e logicamente, as notícias dos assassinatos do “Capitão Gancho”.

 

            Observando as imagens captadas pela câmera que transmitia tudo para a central, Fernanda ficou boquiaberta.  Só vira aquilo em filmes americanos, Beto narrava detalhes para a parceira:

 

-- Nanda, o cara é mesmo maluco, e pior, sabe a rotina de vocês, pelo menos a sua dá pra identificar. Tem fotos suas na praia, na porta do seu prédio, na porta delegacia, esse lugar não conheço, mas tem mais de uma foto sua lá...

 

-- Aproxima a câmera... – Fernanda pediu

 

            De pronto Fernanda identificou, era a portão da casa de Letícia. Lembrou-se da ocasião que sentira que estava sendo seguida observada. Foi tomada por pânico, imaginando que acabou colocando Letícia também como alvo do assassino por seu envolvimento com ela.

 

-- Reconhece Nanda esse lugar?

 

-- Sim, as fotos são recentes. Beto não mexam em nada, fotografem tudo, não quero que ele desconfie que buscamos ele pelos assassinatos. Vasculhe tudo que puder, presença de ketamina, anotações.

 

-- Pode deixar parceira... Olha só tem uma pasta aqui, são arquivos da notícia do incêndio do Nossa Senhora das Graças Nanda. Ah, esse é nosso cara, definitivamente! Livros da Catherine Morgan, bingo!

 

Definitivamente ali era a residência do assassino, todas as confirmações foram feitas. Restava a vigilância a fim de prender Maurício da Silva. Todos envolvidos sabiam que dificilmente o criminoso voltaria à sua casa, vizinhos, ou até mesmo comparsas no tráfico avisariam sobre a visita inesperada da polícia ali. Mas ainda assim, a vigilância fazia parte do protocolo.

 

As fotos colhidas na batida, levantaram um medo legítimo de Fernanda, reforçado depois de uma rápida conversa com sua amiga Carol.

 

-- Nanda, essas fotos recentes suas, que o assassino tirou, onde você estava?

 

-- Na casa da Letícia.

 

-- Eu sei que não preciso dizer isso, mas, vou dizer mesmo assim: você sabe que ela pode estar em risco também, se esse psicopata estiver perseguindo todas as mulheres que estão próximas a você não é?

 

-- Se pensarmos assim, você também está em risco...

 

-- Nanda...

 

-- Tá eu sei! Passeei com a Letícia várias vezes, nos visitamos, se ele está mesmo nos vigiando, eu sei que ela corre risco. Mas, pelo menos agora ela não corre mais riscos, uma vez que não temos mais nada.

 

-- Eu a vi hoje, ela voltou.

 

-- Eu sei que ela voltou.

 

-- E você vai fazer o que quando ela te procurar? Por que ela vai te procurar, vai continuar ignorando e sofrendo sem saber o que houve?

 

-- Ela já me procurou, e sim, continuarei sem saber o que houve, ela viu uma cena tipo nada a ver com a Gisele no meu apartamento, ficou toda ofendida, como se tivesse esse direito...

 

-- Pera... Nanda ela chegou ontem dos EUA e foi direto te procurar no seu apartamento e você estava com a Gisele e ela não tem o direito de se ofender? Você estava de romance com a sua ex, quinze dias depois de você sequer dar a chance a ela de se explicar e ainda se acha a certa?

 

-- Ei! Eu não estava de romance com ninguém! Ela deduziu isso por si só! A Gisele estava só me fazendo uma massagem nos ombros. A Letícia chegou de surpresa, não me deixou explicar nada também, nem muito menos se esforçou pra explicar nada do casamento e da viagem de lua-de-mel dela!

 

-- Não devia te dizer isso sabia? Mas, sou uma amiga das poucas que acredita que em baixo dessa turrona tem uma mulher apaixonada morrendo de medo de dar o braço a torcer que estava errada.

 

-- Lá vem...

 

-- A Letícia estava fora do Brasil para formalizar o divórcio dela. Ouvi sem querer a explicação dela ao delegado quando ela se reapresentou hoje de manhã.

 

-- Mas... Tinha que ir lá... E só agora essa separação formal por que? – Fernanda gaguejou, disfarçando o nervosismo mexendo nos papéis da mesa.

 

-- Esses detalhes eu não sei, e acho que ela não precisava contar ao delegado. Ela teria dito a você se você a tivesse escutado, antes mesmo dela viajar, ou enquanto ela estava lá, ou ainda na volta dela quando ela foi te procurar! Mas não, a tolerância zero da moral e da autoproteção tinha que bancar a inabalável...

 

-- Carol, para...

 

            A escrivã percebeu que conseguira chamar a atenção da amiga para sua intransigência. Fernanda sentou-se na poltrona e baixou os olhos.

 

-- Nanda, a Letícia merece uma chance de se explicar. Você está com a cabeça mais fria agora, será que não é capaz de dar um passo em direção a ela?

 

-- Acho que não é a hora mais adequada agora não é? Além dela estar achando que voltei a ter algo com a Gisele, estar próxima a mim, representa um perigo para ela. Melhor deixar as coisas como estão.

 

-- Nanda, deixa de ser cabeça dura! Você fica aí sofrendo, e vai deixar que a Letícia sofra também pensando que você é uma insensível galinha, e ignorante que não é capaz de escutar as explicações de mulher que você se dizia apaixonada por ela?

 

-- Carol, não consigo. Não dá. Ela ter se divorciado não muda o fato de ter me enganado.

 

            A discussão entre as amigas continuaria, se não fosse a interrupção de Agnes que chegou batendo na porta da sala de reuniões.

 

-- Nanda? Podemos conversar?

 

-- Oi Agnes, claro, entre, por favor.

 

            Carol saiu deixando a amiga e a advogada a sós.

 

-- Então, aconteceu alguma coisa? Algum contato do Maurício?

 

-- Na verdade Nanda, vim te perguntar se posso conversar com a família dele, sobre essa investigação, suspeito que ele tenha mantido contato com a Miriam e dona Eliete, se elas souberem no que ele está envolvido, podem ajudar.

 

-- Ou podem alertá-lo, ele pode fugir, ou pode apressar os planos dele, e ainda te colocar um alvo na testa, sabendo que agora, a defensora que ele tanto confiava, está do lado das assassinas da irmã dele.

 

            Agnes ficou muda, refletindo nas hipóteses levantadas pela policial. Não conteve as lágrimas, despertando a atenção de Fernanda.

 

-- Ei, calma... Vamos te proteger, apesar achar que você não merece...

 

-- Não é medo Nanda, é culpa! Tudo culpa minha, se tem alguém que merece morrer pra que seja feita a justiça, esse alguém sou eu!

 

-- Ei, para de falar bobagem! Ninguém vai te matar, eu não vou deixar, e você não tem culpa da psicopatia do cara!

 

            Fernanda disse sentando-se de frente para a advogada, e segurou suas mãos, enxugou seu rosto com um lenço de papel retirada de uma caixa sobre a mesa. Nesse momento, Letícia entrou e outra vez viu a cena que aos seus olhos enciumados, tinha outra conotação.

 

-- Você não tem limites?  Existia mesmo uma fila esperando você?

 

            Letícia disse com a voz embargada balançando a cabeça negativamente, sentindo os olhos marejarem, saiu da sala sem nem mesmo adentra-la. Agnes encarou Fernanda com uma grande interrogação no rosto enquanto ela mesma pegava outro lenço de papel. A morena lamentou repetindo o gesto da médica, balançou a cabeça negativamente pensando consigo mesma:

 

-- Definitivamente não é a nossa melhor hora...

 

            Agnes insistiu com Fernanda sobre a chance da família de Mauricio colaborar, Fernanda sugeriu que ao invés disso, fosse realizada vigilância nas casas de Miriam e de Dona Eliete, se Mauricio manteve contato nos últimos anos, certamente procuraria a mãe ou irmã para pedir abrigo, depois de saber que sua casa fora investigada pela polícia. Seguindo a linha de pensamento da policial, Agnes sugeriu também a queda do sigilo telefônico da família de Mauricio, e desconfiada, completou:

 

-- Se você tem desconfianças a meu respeito, não precisa nem solicitar, abro meu sigilo telefônico também.

 

-- Agnes eu vou pedir sim, porque faz parte do processo você sabe disso. Mas, é para resguardar você também, não desconfio de sua participação nos assassinatos, mas, quando o caso for a júri, é bom que isso fique provado não é?

 

            A advogada acenou em acordo.

 

-- Até lá, vou pedir proteção para você.

 

-- Não é preciso Nanda, o Maurício não me faria nenhum mal.

 

-- Agnes, se não aceita como proteção, aceite como vigilância, já que você é “suspeita” também.

 

            Fernanda piscou o olho para Agnes, que acabou aceitando o oferta da ex-colega.

***********

 

            Letícia trancou-se em seu consultório, colocou as duas mãos sobre a boca como se desejasse sufocar um grito. Sua postura contida, seus sentimentos comedidos, extravasaram num choro que deu espaços a soluços altos. O que a médica sentia era o sentimento de decepção mais intenso que experimentara em sua vida até então.

 

            A mulher pela qual se apaixonou não existia. Sentia-se vítima da sua própria fragilidade e imaturidade para lidar com o amor, especialmente naquela circunstância: inédita, visceral, livre, despudorada e o principal: absurdamente inteira, o mais próximo que ela conseguia associar à felicidade que descreviam de pessoas apaixonadas.

 

            Lembrou-se magoada da reação de Fernanda em todas as vezes que a procurou depois do episódio com o Patrick na delegacia. Primeiro usou de sua grosseria e arrogância típicas e superficiais, com intenção de feri-la de fato, negando o direito de que ela desse as explicações legítimas e justas no seu julgamento. Depois, quando ignorou suas chamadas e mensagens, bloqueou seu número, não respondeu seu e-mail. E por fim, nas últimas tentativas de conversar pessoalmente, conheceu outra face da policial, de conquistadora, sedutora. Sentiu-se traída, enganada por alguém que a conquistara por capricho, à menor chance de acabar o relacionamento, a descartou, não tardando em suprir sua suposta ferida com outras mulheres.

 

            Ao mesmo tempo, sentia uma falta absurda da presença de Fernanda, do seu sorriso, do seu abraço, da paz que a morena lhe trazia, a chama de vivacidade que ela despertava, o quanto ela lhe inspirava como mulher, o quanto ela a excitava, como seu corpo reagia ao mínimo toque, ao beijo mais delicado e também como correspondia com volúpia a cada carícia. Pareciam duas mulheres distintas, a que lhe despertou o amor, e a que lhe magoara de maneira descomunal.

 

*************

 

            Os dias de vigilância acabaram por reaproximar ainda mais as três amigas de infância: Fernanda, Gisele e Dulce. O fato de estarem juntas facilitava, diminuía o número de policiais protegendo-as, Fernanda foi a primeira a sugerir, entendendo que ela mesma podia se proteger, mas como  existia um protocolo a ser cumprido, obedeceu ás exigências de Wellington.

 

            Como o apartamento que Gisele alugara era maior, acomodaria melhor as três. Relutando e reclamando todo tempo, Fernanda foi obrigada a mudar-se temporariamente para o luxuoso duplex em Copacabana.

 

-- Nanda para de implicância, olha vista desse apartamento, e o quarto é quase do tamanho do seu apartamento todo! – Dulce dizia enquanto acomodava a bagagem da amiga.

 

-- Exagerada! Não avacalha meu apartamento, ele é ótimo pra mim.

 

-- Olha só, vai ficar aqui no meu quarto, quer dizer no quarto que a Gisele me cedeu, e eu fico com a Gi, pra não ficar clima estranho entre vocês, e claro, não precisa você ficar dormindo em sofá, com esse tamanho todo, vai ficar toda quebrada na primeira noite...

 

-- Valeu Dulce, mas acho que a Gisele desencanou, demorou, mas acho que sim. E será muito provisório, esse cara não pode ficar sumido por muito tempo, logo prenderemos ele.

 

-- É acho que a Gisele desencanou mesmo, eu a ouvi falando que está só esperando essa investigação ser concluída pra voltar aos EUA, o agente dela já arranjou uma casa nos Hamptons pra ela terminar o romance novo dela...

 

-- E você? Nada de emprego?

 

-- Estou registrando tudo da investigação pra publicar Nanda, vou conseguir transformar essa tragédia em livro... A Gisele conseguiu mediar com a editora dela.

 

-- Isso é ótimo Dulce, vai ficar famosa heim! Era seu sonho!

 

-- Ah, voltar a trabalhar em algo que gosto e me sustentar está me bastando Nanda! Mas, e você? Tem visto a Letícia? Como estão as coisas?

 

-- Não, as coisas estão nos seus devidos lugares Dulce. Ela na perícia médica, e eu correndo atrás de pegar bandido...

 

-- Nanda...

 

-- Depois que acabar esse pesadelo, vou me dedicar aos estudos. Fiz inscrição no concurso da delegado federal.

 

-- Sério? Ai amiga, vou ficar torcendo... Mas... Procure a doutora... A Carol me disse que vocês ficam se olhando com olhos pidões, que tá o maior clima na delegacia...

 

-- Ai, eu sabia que essa amizade de vocês não ia dar certo. Já não basta uma, agora se uniram pra alcovitar minha vida! Não dá, você não percebe que eu a Letícia não nos encaixamos no mundo uma da outra? Se você visse, o marido, ex-marido sei lá, um almofadinha, ela é fina demais, uma hora isso ia dar merd*, melhor que seja agora, enquanto não tem tanto envolvimento.

 

-- Quem não se envolveu Nanda? O Wellington né? Só ele não se envolveu nessa história, só você não tá vendo que todo mundo tá envolvido nisso, torcendo, opinando, observando, e vocês duas perdendo tempo em se entenderem.

 

            Fernanda fez uma careta qualquer, sem conseguir contra argumentar. O seu celular tocou, era da delegacia:

 

-- Oi Cacá, alguma novidade?

 

-- Prenderam um cara que entrou na casa do Maurício no Morro do Borel, Nanda, o Beto está interrogando ele, pediu que te chamasse.

 

-- Estou a caminho!

*******

 

            Fernanda chegou à delegacia, e assistiu pelo vidro o interrogatório de um suspeito que invadiu a casa de Maurício da Silva. Informações como a última vez que manteve contato com o traficante, sobre a rotina dele, algo que pudesse ajudar na busca ou localizá-lo. Não tiveram sorte, tratava-se de um simples usuário de drogas, um comprador, que invadira a casa de “Mãozinha” em busca de drogas, uma vez que soubera pelo pessoal da comunidade, que o traficante sumira desde que “os homi” entraram na sua casa.

 

-- Não é possível que esse cara tenha simplesmente evaporado da face da Terra! – Fernanda resmungava.

 

-- Calma Nanda, ele vai dar um passo em falso, tem muitos agentes envolvidos, uma hora a gente pega ele. – Ferreira ponderava.

 

-- Ferreira, por isso mesmo, muitos agentes envolvidos, estão pressionando o Wellington com razão, é muito dinheiro e gente mobilizada em torno de um caso só! – Fernanda desabafou.

 

-- Calma Nanda, avançamos muito, é um assassino em série, coisa cinematográfica, coisa de CSI! Essa delegacia está estreando todo esse aparato com um caso de repercussão.

 

            Beto concluiu a discussão. Inconformada Fernanda seguiu para os laboratórios da perícia da tecnologia de informação, localizado no oitavo andar do prédio, sentou-se em uma das cadeiras giratórias, observando as grandes telas interativas, os mapas e imagens da cidade via satélite. Os peritos explicavam um dado ou outro, alguma movimentação das equipes, mas Fernanda pressentia que a prisão de Maurício não seria fruto de toda aquela tecnologia simplesmente.

 

            A noite chegou e Fernanda decidiu voltar ao apartamento de Gisele, combinara com Agnes encontrarem se lá também, a advogada parecia tentar se redimir pelo que fez no passado a todo custo, as três amigas compartilhavam um sentimento de culpa estranho por nunca ter dado atenção a uma menina que estava sempre tentando agradá-las, por esse motivo, permitiam involuntariamente a sua aproximação.

 

            Era tarde, só a equipe de plantão permanecia na delegacia. Fernanda entrou no elevador, e apertou o botão do subsolo, iria direto para o estacionamento. Surpreendeu-se quando imediatamente o painel anunciou a chamada do elevador para o sétimo andar, a porta se abriu e ela estava lá, linda, como sempre: Letícia.

 

            Encararam-se por segundos, Letícia fez menção de entrar, mas ao se dar conta que ficaria a sós com Fernanda naquele cubículo, recuou e disse:

 

-- Pode fechar a porta, vou no próximo.

 

            Fernanda assentiu, mas as portas não fecharam, por mais vezes que a morena apertasse os botões, velozmente, sentindo seu corpo trêmulo na presença tão próxima de Letícia, o painel não respondia, nem tampouco, outro elevador chegou. Depois de alguns minutos, que pareceram uma eternidade, Fernanda acionou o telefone de emergência do elevador e foi informada sobre a pane dos elevadores no prédio, como se tratava de uma situação emergencial e com pouco fluxo, a empresa passaria a noite fazendo manutenção.

 

-- Ah que ótimo! Descer oito andares de escada... – Fernanda resmungou.

 

-- Bom, se não tem outro jeito...

 

            Letícia caminhou em direção às escadas.

 

-- Vai descer os sete andares em cima desse salto doutora?

 

-- Não vejo problemas nisso.

 

            Fernanda começou a implicância típica de quando elas se conheceram.

 

-- Vai estragar seu salto de alguma grife metida a besta...

 

-- O que você sugere, que eu pule a janela?

 

-- Talvez retirar os sapatos, mas seus pés finos e elegantes não ficariam descalços nesse chão contaminado, empoeirado...

 

            Letícia como se respondesse a um desafio, a médica retirou seus sapatos envernizados tão elegantes como todo seu visual, posicionou melhor a alça da bolsa no mesmo tom dos calçados e seguiu descalça em direção às escadas, deixando os papéis soltos que carregava sobre a pasta voarem pelo corredor, despertando o riso de Fernanda.

 

            Em uma atitude instintiva, a policial foi ao encontro da  ruiva, para ajudá-la naquela pequena bagunça armada no corredor andar da perícia médica. Por uma fração de segundos os olhares se cruzaram quando as mãos se tocaram acidentalmente. Aquela faísca ainda estava ali. Letícia foi a primeira a se esquivar, puxando a mão com alguns papéis para si. Fernanda amontoou os demais e estendeu para a médica.

 

-- Obrigada.

 

            Letícia respondeu sem encarar a policial, sabia que o rubor do seu rosto denunciava seu estado nervoso.

 

-- Você quer ajudar pra descer com essa bagagem toda? Afinal agora tem mais o par de sapatos... Derrubar tudo a cada andar, vai te atrasar em uma noite toda, quando você chegar lá em baixo já vai ser a hora de voltar ao trabalho...

 

            Fernanda fez piada a fim de irritar Letícia, que caiu direitinho na provocação da morena.

 

-- Isso incomoda você agente Garcia? Por que se te incomodar, posso deixar minha pasta, notebook, papéis no meu escritório, sem meus saltos, chegarei ao térreo antes de você! Ou simplesmente você não precisa ser gentil e me deixar apanhar meus papéis sozinhas da próxima vez!

 

            Contendo o riso, Fernanda insistiu com uma pergunta provocativa:

 

-- Isso é um desafio?

 

-- Que, que desafio? – Letícia já gaguejava, ruborizada, nervosa com o diálogo com Fernanda depois de mais de um mês desde a briga que representou o término do namoro.

 

-- Está me desafiando que sem os saltos, e sem a bagagem você desce os sete lances de escadas mais rápido que eu?

 

-- Por que não? – Letícia soergueu o queixo.

 

-- Ah para né! Virou uma piadista você...

 

            Surpreendendo Fernanda, Letícia voltou à porta da sua sala, e com muita dificuldade procurou as chaves de lá na sua bolsa, acabou soltando os sapatos para deixar as mãos livres, depois colocou no chão a pasta, se ajoelhou no chão procurando na bolsa as chaves para abrir a porta, visivelmente irritada. A essa altura, a policial colocava a mão na boca para esconder seu riso, mas, Letícia conhecia as expressões da morena, olhou de rabo de olho e se defendeu:

 

-- Você vai engolir esse risinho, ah se vai!

 

-- Jura? Já teria dado tempo eu subir e descer os sete andares só enquanto você procura a chave da sua sala...

 

-- Deveria tê-lo feito então... A julgar por sua agenda lotada, deve ter alguma outra idiota te esperando em algum lugar...

 

            O saldo de mágoa e ciúmes deixava-se à mostra, palavras que escaparam quase que involuntariamente, um pensamento que teimou em se exteriorizar, expondo parte da ferida que as separava.

 

-- Elas esperariam o tempo que fosse preciso, e seu marido não aguentou muito tempo separado de você não é? Veio matar as saudades...

 

            A alfinetada foi trocada. Letícia calou-se com o nó na garganta que se fazia, achou a chave enfim na bolsa, levantou-se, encarou Fernanda que numa postura desafiadora aguardava a resposta sarcástica da ex-namorada.

 

-- Meu ex-marido esperou o tempo necessário para formalizarmos nossa separação, mas, a minha ex-namorada não foi capaz de esperar alguns dias, melhor dizendo, nem uma hora, antes de me julgar e sentenciar, e por consequência me punir. Como dizem por aí, cada cabeça uma sentença.

 

            Letícia enxugou uma lágrima que não pode conter. E entrou na sala guardando sobre a mesa sua pasta, papéis e caminhou de volta para sair, quando viu Fernanda parada na porta.

 

-- O que quer Agente Garcia? Espezinhar-me um pouco mais, ou só atestar que ainda é capaz de me ferir com seus comentários sarcásticos?

 

            O tom embargado da voz de Letícia foi de encontro aos olhos marejados de Fernanda, que relutava em responder qualquer coisa.

 

-- Fala alguma coisa Fernanda! Ou saia da minha sala, por que ver você dói, sabe por quê? Por que eu me lembro das coisas que você me disse antes e depois de terminar comigo daquela maneira estúpida e rude! Por que eu me lembro de cada vez que eu tentei ouvir sua voz, tentei confiar no que sentíamos para que pudéssemos nos entender como duas mulheres adultas que somos e você recusou covardemente simplesmente me ignorando. Brigar, gritar comigo seria mais digno do que me ignorar. Saia da minha frente por que olhar para você dói! Dói saber que você não era nada do que eu acreditei que fosse, por que você me fez conhecer o peso de uma decepção, dói imaginar você nos braços de outras mulheres em tão pouco depois que você estava nos meus, dói escutar a aspereza da voz que me trazia paz e hoje tudo que me provoca é dor, dói reconhecer que amei em vão!

 

            Letícia já falava alto não controlando seu pranto. O rosto de Fernanda evidenciava o pranto silencioso. Mas não conseguia encarar Letícia por muito tempo, até ouvir a última frase do desabafo da médica. Os olhos da policial arregalaram-se e se antes as palavras sumiram da sua mente, depois dessa declaração, deixaram de existir simplesmente.

 

            Em um impulso, Fernanda bateu a porta com agressividade, e partiu em direção a Letícia tomando sua boca com um beijo carregado de paixão e saudade, colocando em segundo plano tudo que as separou nas últimas semanas. Letícia correspondeu ao beijo vorazmente, a saliva se misturou ás lágrimas dos rostos de ambas, as mãos apertavam cada parte do corpo que ambas alcançavam como se desejassem entrar uma na outra para nunca mais se distanciarem.

 

            As bocas não se separaram tempo suficiente para levantar questionamentos, as pausas se davam com um único intuito: recuperar o fôlego. A busca insaciável parecia responder tudo, até que em um instante, quando Letícia encarou Fernanda sentiu crescer no seu peito a mágoa guardada, e com a mesma intensidade que a beijara até ali, estapeou seu rosto e empurrou a policial.

 

 

 

Fim do capítulo


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Comentários para 22 - EPISÓDIO 22 – “ É magoa, andam dizendo por aí”:
carollbh
carollbh

Em: 09/12/2021

Saudade dessa estória! 

Parabéns pelo talento, tantas histórias com personagens tão envolventes que é difícil  de esquecer!

Parabéns!!!

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Eva Bahia
Eva Bahia

Em: 03/12/2021

Seus escritos são maravilhosos... Me encanto cada vez que os releio.. parabéns.

E volte logo com Letícia e a marrenta linda da Fernanda

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