Menines,
Nossa história mudou de ares! Marília agora mora em Palmas e uma nova etapa de sua vida começa .
Obrigada a todes que acompanham a história. Fico muito feliz a cada visualização e comentário.
Bjs e obrigada pela companhia.
Z
Capitulo 15
"SÓ NÃO SE PERCA AO ENTRAR
No meu infinito particular"[1]
- Que terra quente, cacete.
Marília repetia essa frase à exaustão, todos os dias. Já morava em Palmas há oito meses e ainda não tinha se habituado ao clima quente e seco da cidade. Não havia feito uma única amizade. Conhecia as pessoas do trabalho, mas não dava abertura para nenhum tipo de intimidade. Declinou de todos os convites para happy hour, confraternizações e almoços. Sempre comia sozinha e de preferência quando voltava para casa no meio da tarde. Não conversava com ninguém e apenas se limitava a responder, monossilabicamente, à alguma pergunta que lhe fosse feita.
Sua rotina era a mesma: casa-defensoria-terapia-casa. Só saía para fazer compras de mercado e, mesmo assim, quando era absolutamente inadiável. Gostava de levar trabalho para casa para ocupar o tempo e falava com a mãe e com André todos os dias, pois eles não lhe davam um minuto de paz, como ela gostava de reclamar.
André foi aprovado no concurso para delegado da Polícia Federal e estava finalizando o curso de formação em Brasília.
- Ma, vem me visitar, por favor. Você sabe que eu só tenho folga aos domingos ou em alguma ocasião excepcional. Fica mais fácil você vir pra cá.
- Bi, não tenho tempo. Estou atolada em trabalho. - Marília usava sempre a mesma desculpa.
- Eu sei que você não tem esses trabalhos todos e passar dois ou três dias fora não vai te matar. Pensei que você fosse minha amiga.
- Olha o drama!
- Tô com saudade, sua ingrata. Nunca passei tanto tempo longe de ti.
Marília também sentia muitas saudades do amigo, mas não tinha ânimo para conversar nem com ele. Apesar da terapia, ainda estava presa dentro de seu mundinho. Superar a dor que sentia ainda levaria um tempo.
Os meses em Palmas se arrastavam. Parece que na vida quando a gente quer que o tempo passe rápido, ele resolve parar.
***
Marília acordou em um sábado ensolarado e quente se sentindo péssima. A princípio achou que fosse a proximidade do aniversário de um ano da despedida de sua Maria, mas a dor era física. A barriga parecia inchada e se sentia enjoada. Resolveu fazer seu desjejum na varanda para tentar se distrair.
Fez um café forte e cortou algumas frutas. Tentou comer, mas não conseguiu. Enquanto lia o jornal, atendeu uma ligação de sua mãe que parece ter um radar que lhe permitia saber quando a filha não estava bem.
- Bom dia, minha princesa! Tudo bem por ai? Já tomou café?
- Oi, mamãe. Bom dia! Tudo bem, sim. Só acordei um pouco indisposta. Acho que deve ter sido alguma coisa que comi ontem.
Dona Marisa lhe indicou um remédio e garantiu que melhoraria, disse que tinha deixado o medicamento em seu kit de primeiros socorros. Falou para a filha descansar e que ligaria mais tarde. E se despediu.
Marília procurou o remédio, tomou e foi para o banho. Depois colocou uma roupa fresca e ficou assistindo TV na sala. Adormeceu e acordou com o telefone tocando. Dessa vez era André. Marília acreditava que ele e a mãe tinham uma planilha com a escala das ligações.
- Oi, Bi.
- Que voz horrível é essa?
- Acordei com dor na barriga. Tomei remédio, mas não melhorou. Acho que estou com um pouco de febre.
- Será que foi alguma porcaria que você comeu?
- Acho que foi. Ontem inventei de pedir o jantar. Por isso que prefiro meus sanduiches de queijo.
- Olha a temperatura e, se precisar, toma uma dipirona. Descansa que mais tarde ligo de novo.
- Tá certo, Bi. Beijo.
- Beijo, Ma. Se cuide.
Marília mediu a temperatura e realmente estava com febre. Tentou tomar a dipirona, mas vomitou logo em seguida. Sem querer preocupar ninguém, trocou de roupa e dirigiu até o hospital mais próximo. Foi atendida na emergência e, depois de relatar o que sentia, fez alguns exames e foi diagnosticada com uma crise de apendicite aguda.
- Marília, pelo resultado do ultrassom, você está com uma crise de apendicite que tem indicação cirúrgica de urgência. Qual o horário de sua última refeição?
- Hoje eu não consegui me alimentar, já acordei indisposta.
- Melhor assim. Vou lhe encaminhar para a internação e quando você estiver instalada no apartamento, o cirurgião e o anestesista vão conversar com você. Eu sugiro que você ligue para alguém vir lhe acompanhar.
Marília ficou sem reação. Não sabia o que fazer. Não tinha ninguém por perto. Ao chegar no quarto, trocou de roupa, foi colocada no soro e ficou pensando em como resolver o problema de acompanhante. Não queria alarmar, mas estava ficando com medo de estar sozinha, doente e longe dos seus.
O cirurgião e a anestesista entraram juntos no quarto. O médico explicou o procedimento, disse que era simples e que ela passaria entre 24 e 48 horas no hospital. Perguntou se ela tinha alguma dúvida e saiu, deixando a paciente a sós com a anestesista.
Marília não pode deixar de perceber que a anestesista era uma mulher muito bonita. Alta, devia ter quase 1,80 m de altura. Os cabelos eram castanhos escuros, lisos e bem curtinhos; a boca era cheia e bem desenhada e tinha os olhos escuros mais lindos e expressivos que já conheceu. Era a primeira vez que alguém lhe chamava a atenção, depois de tudo.
Enquanto a baixinha admirava a mulher a sua frente, ela lhe fazia algumas perguntas de praxe.
- Você tem quantos anos?
- 26
- Qual sua profissão?
- Sou servidora pública
- Você tem alguma alergia?
- Nenhuma
- Você já fez alguma cirurgia na região abdominal?
- Sim. - Marília lacrimou, o que não passou despercebido para Amanda. Esse era o nome da anestesista.
- Está tudo bem?
- Sim, doutora. Só estou preocupada. Eu não tenho ninguém na cidade. Será que posso ficar sozinha? Minha mãe demoraria umas dez horas para chegar aqui e o amigo que mora mais próximo está em Brasília.
- Marília, você não pode ficar só e a cirurgia não pode demorar para ser feita para não complicar. Ligue para eles. Eu espero lá fora.
- Se não for te atrapalhar, pode ficar aqui. Marília pegou o celular e ligou para sua mãe. Depois de relatar o que estava acontecendo, Dona Mariza surtou. Disse que chegava o mais rápido que conseguisse, já jogando umas roupas em uma mala para ir ao aeroporto tentar embarcar no próximo voo com destino a Palmas.
- Minha mãe está indo para o aeroporto. Na melhor das hipóteses, ela chega amanhã à tarde. - Falou passando a mão nos cabelos, visivelmente nervosa.
- Ligue para seu amigo. Ele está mais perto. - Sugeriu a médica.
A paciente obedeceu. Ligou para André e explicou o que estava acontecendo.
- Bi, vem pra cá, por favor. - Já pediu aos prantos. - Você sabe como não gosto de hospital. Por favor.
- Ma, eu vou. Mas só consigo chegar aí perto de uma da manhã.
- Pois vem de carro, viado. Não quero ficar aqui sozinha.
Amanda que fingia não prestar atenção na conversa da paciente, ficou de antenas ligadas com o diálogo.
- De carro, a viagem demora umas doze horas. Fica calma amiga que eu vou chegar o mais rápido que eu puder, tá?
Marília consentiu enquanto chorava baixinho.
- Tá.
A médica ficou consternada com a situação e, em um impulso, pegou na mão da paciente com carinho e, de uma forma doce, propôs um acordo:
- Olha, não precisa ficar triste não. Vamos combinar assim. Eu fico com você até seu amigo chegar. O que acha?
- Doutora, eu não posso lhe atrapalhar dessa forma.
- Não atrapalha em nada. Meu plantão está acabando, sua cirurgia vai ser a última de hoje e não tenho nenhum compromisso marcado. Prometo que quando você acordar, estarei segurando sua mão. Pode ficar tranquila.
- Não sei nem como agradecer. Muito obrigada. De verdade. - Falou tentando esboçar um sorriso no rosto que estava banhado em lágrimas.
Logo depois da conversa, Marília foi levada ao centro cirúrgico onde era esperada pelo cirurgião e por Amanda. A anestesista enquanto preparava a medicação e os equipamentos que utilizaria, percebeu que a paciente estava em pânico. Ela achava que era medo de precisar fazer uma cirurgia em uma cidade onde não conhecia ninguém, mal sabia do trauma de hospital que perturbava a mente de Marília.
- Calma! Eu vou ficar do seu lado o tempo inteiro. Vai dar tudo certo.- Falou enquanto acariciava a mão da baixinha. - Você quer dormir logo? Posso te dar um remedinho.
- Quero sim. Quero que acabe logo.
- Vai ser rápido e não esqueça que quando acordar eu vou estar com você.
A cirurgia aconteceu sem intercorrências e Amanda estava ao lado de Marília quando ela acordou na sala de recuperação. Quando a baixinha percebeu onde estava, teve uma crise de ansiedade e de choro que a anestesista precisou lhe administrar um tranquilizante.
Amanda não sabia o que tinha acontecido com aquela moça, mas percebeu que era algo que lhe causava muito sofrimento. Após conferir os sinais vitais da paciente, autorizou sua transferência para o quarto, permanecendo a seu lado, conforme o prometido.
O voo de André pousou em Palmas quase uma e meia da manhã e ele foi direto para o hospital. Tinha anotado o número do apartamento da amiga e ficou passado quando abriu a porta e se deparou com Marília dormindo na cama e uma mulher enorme sentada na poltrona segurando sua mão. A primeira coisa que pensou foi que a traíra tinha uma namorada e não tinha contado e, pior, ainda o fez se tacar praquele fim de mundo sem necessidade.
- Boa noite! Atrapalho?
- Boa noite! Você deve ser o amigo da Marília que veio de Brasília. Tudo bem? Eu sou Amanda. Eu que anestesiei sua amiga para a cirurgia.
- Falou, estendendo a mão. André a cumprimentou e se apresentou.
- Obrigado por ter ficado com ela. Não consegui chegar antes e a mãe dela só vai chegar mais tarde. Eu estava preocupadíssimo porque minha baixinha tem trauma de hospital.
- Eu percebi que ela não estava bem. Inclusive, precisei sedá-la quando acordou da anestesia, pois ela teve uma crise de ansiedade e de choro muito forte.
- Ela já sofreu muito. Não tem as melhores lembranças de hospital. Eu achava que ela não conseguiria entrar no centro cirúrgico. Amanda estava curiosa, mas não quis perguntar o que tinha acontecido, mas não precisou.
- No fim do mês fará um ano que ela perdeu a filha com oito meses de gestação, teve uma complicação e precisou fazer uma histerectomia de emergência. Ela ainda não se recuperou. Minha amiga era tão alegre e feliz. - Lamentou.
A conversa entre os dois continuou madrugada a dentro. Eles rapidamente se identificaram, falaram sobre a vida de ambos, sobre a vida de Marília, sobre a mudança de cidade. Amanda falou que era de Goiás e que também tinha mudado para longe da família, mas que tinha bons amigos em Palmas e que sempre ia à Brasília, lugar onde cursou medicina.
Falaram muito e de tudo que nem se deram conta da hora que Marília acordou e ficou acompanhando aquela interação.
- Doutora, você ainda está aqui? Bi, que bom que você chegou. - Disse, Marília.
A voz demonstrava que ainda estava um pouco zonza das medicações.
- Oi, meu amorzinho. Como você está se sentindo? Amanda me passou seu boletim. Sua mãe chega mais tarde e você vai poder ir pra casa. - Falou, depositando um beijo na testa da amiga.
- Estou bem. Um pouco tonta e envergonhada por ter tomado o tempo da Dra. Amanda.
- Marília, foi um prazer te fazer companhia! E ainda ganhei o André de presente. - Riu.
- Ele é assim mesmo. Já está me trocando.
- Ma, deixa de besteira. Você sabe que meu coração é seu, mas que cabe novas amigas. Mesmo que ela tenha 1,80m de altura. - Se divertiu.
- 1,78 m - corrigiu a médica, no mesmo tom de brincadeira. - Vou deixar vocês e vou pra casa. Amanhã passo pra te ver. Se precisar de qualquer coisa, deixei meus contatos com o André.
Marília agradeceu toda a gentileza de Amanda e, após a saída da médica, dormiu o resto da noite, sendo acompanhada pelo amigo que se aconchegou no sofá do quarto.
No dia seguinte, Amanda passou no hospital, conforme o prometido e informou que a paciente teria alta após o almoço. Quando Dona Mariza chegou em Palmas, a filha e André já estavam no flat.
- Minha menina, que susto que você me deu? Como você está? Cuidaram bem de você?
André se adiantou para responder:
- Cuidaram bem demais, tia. Você nem imagina.
Marília lançou um olhar fuzilador pro amigo e respondeu a mãe:
- Correu tudo bem, o atendimento foi bom. Só tive um pouco de pânico do centro cirúrgico e quando eu acordei da anestesia. Mas está tudo bem. Em uma semana, já posso voltar a trabalhar.
- Essa menina só pensa em trabalhar! Você precisa é descansar, minha filha.
- Tia, eu vivo falando isso, chamando pra ela passar um fim de semana comigo em Brasília. Estava combinando com a Amanda pra gente ir pro Jalapão. Ela disse que é lindo demais. É só a bonita ficar boa que eu levo nem que seja amarrada.
- Quem é Amanda, perguntou a mãe de Marília.
- É a médica que anestesiou a Ma. Nós ficamos amigos. Ela é de Goiás, mas já tem um tempinho que mora em Palmas. Gente boa, nos gostamos de cara.
- Que coisa boa. Faz a amizade da Marília com essa moça, meu filho. Ela precisa de amigos aqui.
-Vou fazer, tia. Tenho certeza que ela vai adorar ser amiga da Amanda.
Olhou para Marília e deu uma piscadinha, se divertindo. Marília fez de conta que não entendeu e fingiu que assistia a televisão. André ficou mais dois dias com a amiga e precisou voltar para Brasília, não sem antes passar o contato de Marília para Amanda. A mãe da amiga ficou dez dias em Palmas e voltou para Fortaleza preocupada em deixar a filha sozinha, mas agradecida por ter passado, ao lado de Marília, o dia que completou um ano da perda da neta.
Foi um dia estranho. A filha passou o dia sentada em um canto da varanda. Ela falou pouco, não quis comer e, por algumas vezes, Dona Mariza a flagrou chorando.
Naquela semana, Marília teve três sessões de terapia que lhe ajudaram a enfrentar a data.
***
Amanda sempre ligava e mandava mensagens para Marília e, por insistência da médica, começou a se construir uma amizade entre elas.
- Marília, tudo bem? É Amanda. Estava pensando em te convidar para um cinema. O que acha?
- Oi, Amanda, tudo bem. E com você? Eu estou cheia de trabalho, não sei se consigo. - Deu uma desculpa esfarrapada.
Mas Amanda estava determinada a se aproximar da defensora.
- Vai ser rapidinho. Não aceito não como resposta. Posso passar pra te pegar às 19h? André me falou que você odeia dirigir.
- Odeio mesmo. – Soltou um risinho tímido e aceitou o convite.
Depois do cinema, fizeram outros programas tranquilos como sair para jantar e ver o pôr do sol na Praia da Graciosa. Amanda lhe levou para explorar os arredores da cidade.
Os finais de semana da defensora ganharam novas cores ao lado de Amanda. Conheceu a Ilha Canela, a praia do Prata, o Parque Cesamar e as muitas cachoeiras próximas à capital de Tocantins. E tinha o Jalapão, mas essa viagem seria com a presença de André, já que foi a primeira coisa que ele e a médica combinaram ao se conhecer.
Em uma conversa entre os três no MSN, combinaram os detalhes da viagem que duraria 6 dias. André contava os dias para o fim do curso para que pudessem pegar estrada.
- Bi, e o Marcos? Não vem mesmo?
- Ma, não quero falar daquele sujeito. Depois que vim para Brasília ele assumiu a personalidade de solteiro cafajeste. Não quero mais. Já deu.
- Tá certíssimo, André. Nem conheço esse Marcos, mas você é gente boa demais para aguentar um tipo desse.
- Verdade. Eu gostava muito do Marcos, mas depois dos últimos acontecimentos é melhor partir pra outra.
- Falar nisso, Amanda você não tem nenhum amigo escândalo para me apresentar não?
Todos riram da situação. Conversaram mais sobre algumas trivialidades, mas a médica precisou se despedir porque entraria no plantão e precisava se aprontar. Se despediram e André ligou para Marília logo em seguida.
- Ma e ai? Já rolou alguma coisa entre você e a sapatãozona escândalo?
- Bi, você sabe que não estou pronta. Nós somos amigas e eu gosto muito da companhia da Amanda.
- Nesse ritmo, quando você se achar pronta, ela já vai estar em outra. É muita mulher para ficar aí esperando. Ela é bonita, inteligente, bem-sucedida, simpática, paciente, madura e tem uma mão enorme. Você prestou atenção no tamanho daqueles dedos? Ai, se eu ficar dizendo as qualidades da minha nova amiga não vou conseguir terminar hoje. - Riu. - E o mais importante! Ela gosta de você e se importa desde o momento em que vocês se conheceram.
- Verdade, Bi. Queria que rolasse, mas eu tenho medo. Estou trabalhando isso na terapia. Eu gosto muito dela. Quem sabe não rola no Jalapão?
- Pois vamos apressar essa trip! Não vejo a hora de te ver bem e feliz como você merece!
Marília se emocionou com as palavras do amigo.
- Eu te amo, Bi. Muito.
- Eu também te amo, meu chaveirinho.[1] Infinito particular. Marisa Monte
Fim do capítulo
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