CAPÍTULO 44 – LIÇÃO 38: Espere o inesperado
Como de costume, abri minha semana com a reunião no final da tarde do GRUFARMA, mas, antes de chegar ao laboratório recebi cumprimentos e felicitações de colegas, alunos, mesmo estranhando agradeci. No meu telefone várias notificações nos grupos, em negação eu rejeitava a ideia do obvio, desde a ligação insistente de Beatriz na última sexta.
Ao chegar no laboratório fui aplaudida pelos membros do grupo de pesquisa e pelos técnicos do laboratório. Sorri amarelo, me perguntando como eles sabiam de algo que estava em segredo com a Beatriz até então. Recebi com algumas reticencias as palavras de incentivo que outros colegas professores me diziam, ainda atordoada.
-- Grande conquista, doutora! Parabéns!
Desconcertada fiquei de verdade ao encontrar os olhos de Clarisse, que ao contrário dos demais naquela sala me fuzilava. Pedi licença para o grupo e me refugiei com a desculpa que precisava fazer algumas ligações no meu pequeno escritório, Clarisse me seguiu:
-- Qual é o seu problema, Luiza?
-- Nesse momento? Essas dezenas de mensagens e ligações perdidas que ignorei...
-- Você vai embora para a Inglaterra e não nos contou nada?
-- Eu não sabia que seria liberada, decidi contar depois que meu pedido de afastamento fosse concedido. Mas, por que está todo mundo sabendo? Nem sabia que tanta gente acompanhava o diário oficial do estado...
-- Você tá brincando né? Que diário oficial, Luiza?
-- Saiu hoje né, eu recebi o e-mail. Nem contei a Marcela ainda...
-- Marcela? Vocês estão juntas de novo?
-- É, estamos – Não escondi o sorriso. – Eu tenho que conversar com ela, para decidirmos o que fazer...
-- Conversar com a Marcela? Luiza, o que você tem para decidir com a Marcela, se você está indo para Inglaterra com a Beatriz?
-- Oi? Tá doida, Clarisse?
-- Doida está você! Olha aqui!
Clarisse abriu o site da universidade e estava lá nas notícias, e também nas redes sociais uma foto minha com Beatriz, antiga, de quando fomos a um congresso em Oxford, com a legenda: “professoras do departamento de ciências da saúde são convidadas pela Universidade de Oxford para compor grupo de pesquisa de cooperação internacional, as cientistas serão as únicas brasileiras a participar de estudo inovador no tratamento de câncer”.
-- Beatriz? Mas... como ela conseguiu...Puta que pariu! Preciso falar com a Marcela, agora!
Catei minhas coisas e saí apressada. Clarisse me acompanhou.
-- Espera, Luiza! Você não tinha visto isso?
-- Claro que não! Estou me entendendo com Marcela, a gente nem pega em celular no final de semana, só conferi os e-mails hoje de manhã, por que eu olharia site da universidade?
-- Luiza, a decisão do seu afastamento saiu em diário oficial, você não soube antes?
-- A Beatriz me ligou, mas, eu ignorei... Clarinha, estou focada em me entender com a Marcela, estávamos nos poupando de distrações.
-- Você nem pensou em contar pra ela sobre sua mudança para o outro lado do planeta com sua ex?
-- Que? O convite foi feito para mim, não sabia de nada da Beatriz até ver essa notícia. Não tenho ideia de como Beatriz se meteu nisso, ela estava só acelerando a papelada para mim...
Clarisse estava tão perplexa quanto eu. Eu nem quis prolongar mais nossa conversa, parti direto para o hospital, enquanto mandava mensagens para Marcela, com uma vaga esperança de que ela não soubesse através das redes sociais aquela notícia. Encontrei Milena na saída do hospital e não hesitei em perguntar o paradeiro de Marcela.
-- Desculpa, Luiza. Não a vi hoje. Ela está rodando na cirurgia, mal nos vemos esses dias. Até por que ela mal para em casa, está sempre com você.
-- Deve ser por isso que ela não me atende, deve estar acompanhando alguma cirurgia, não é?
-- Deixa eu perguntar aqui no grupo dos residentes, tenho uma amiga que é da cirurgia.
Alguns minutos, e Marcela retornou as minhas ligações:
-- Só peguei o celular agora, estava em cirurgia.
-- Estou aqui fora, te esperando com a Milena.
-- Você com a Milena? Nossa... Devo me preocupar?
-- Não meu amor, só vim te buscar, tenho uma novidade.
Enquanto esperava Marcela, um tanto aliviada por que ela aparentemente não sabia de nada, conversava amenidades com Milena.
-- A gente tem que marcar de sair qualquer dia, Luiza. Preciso de retribuir aquele jantar maravilhoso.
-- Claro, vamos sim.
-- Se bem que... Acho que vai demorar um pouco até poder pegar um jantar na Inglaterra...
Milena mostrou a foto que recebera no grupo de residentes, com a notícia estampada. No mesmo momento em que virei meus olhos para a entrada do hospital, Marcela estava parada olhando para o celular, com aspecto de espanto.
-- Acho que a Marcela não estava sabendo disso, né?
Balancei a cabeça, e fechei os olhos. Caminhei até o encontro de Marcela, que me olhou com os olhos marejados.
-- Vamos sair daqui eu preciso te explicar...
Marcela não esboçou reação, só guardou o celular, e caminhou com os braços cruzados. No trajeto dentro do carro, ela não falou nada, hora mexia no celular, hora enxugava o rosto, e por mais que eu quisesse falar algo, não encontrava as palavras certas para tentar entender o que se passava na cabeça dela. No meu apartamento, Marcela continuou muda, sentou-se no sofá colocando uma almofada entre as pernas, e pouco tempo depois, inclinou-se sobre a almofada e sufocou seu grito nela.
Depois do berro contido pela almofada, Marcela levantou os olhos e me olhou com aquela mágoa que não era desconhecida para mim. Como me doeu enxergar nos seus olhos claros aquele sentimento eclodir de novo por minha culpa.
-- Quando você pretendia me contar? Quando estivesse de malas prontas?
-- Eu estava adiando... Recebi o convite quando estávamos separadas, eu achei que seria uma boa saída... Ficar longe por um tempo.
-- Eu te pedi um tempo, um espaço e você decide ir para a Inglaterra?
-- Mah eu nem sabia se meu afastamento seria aceito, eu ia te falar, não contava que saísse tão rápido a resposta...
-- Como não seria aceito? É uma pesquisa gigante, em Oxford, depois do escândalo que você protagonizou, lógico que iriam te liberar!
-- Não importa mais, estamos juntas. Eu não vou ficar longe de você.
-- Para com isso, Luiza. Claro que você vai! Não está louca de recusar uma oportunidade como essa!
-- Não, Marcela. Não tem sentido ficar longe de você... Estamos nos acertando...
-- A gente está se acertando? Sério, Luiza? Você esconde uma coisa como essa e acha que estamos nos acertando?
-- Estamos juntas de novo, com leveza, sem peso, sem pressão, como você pediu...
-- Sem pressão... Só o fato de você aceitar um convite para uma pesquisa gigante do outro lado do mundo, levando sua ex psicótica a tira colo.
-- Eu não sei nada sobre a Beatriz, eu juro! Fui pega de surpresa com essa publicação do site.
-- Ela te ligou na sexta-feira, Luiza, você não quis atender, claro que você sabia que essa noticia ia vazar, e o que você fez? Nada! Preferiu esconder, queria me enrolar um pouco mais? Ganhar tempo para que exatamente? Qual é seu plano?
-- Meu plano é ficar com você, só tenho esse plano. Seguir o que tínhamos planejado, esperar você se formar, casarmos... Não eram esses nossos planos?
Mostrei nosso anel de compromisso no meu dedo.
-- Quando você me deu esse anel, nossa relação era outra, você sabe disso. Eu confiava em você cegamente, agora, mesmo tendo todos os cuidados, você me enganou de novo...
-- Não, Marcela. Só escondi por que não sabia como te falar isso sem parecer que eu tinha desistido de nós.
-- Mas, foi isso que aconteceu. Se eu não tivesse te procurado naquela noite...
-- O fato foi que você me procurou, e a gente se ama, não vou embora. Vou ficar aqui, do seu lado, reconstruindo nossa história.
-- E perder uma chance dessas? Luiza é uma pesquisa de cura para o câncer!
-- Então, venha comigo! A gente dá um jeito, tenho certeza que consigo uma bolsa de pesquisa, temos uma parceria com Oxford, pode fazer uma parte do seu internato lá, como um intercâmbio!
-- E como seria isso, Luiza? A gente morando junto na Inglaterra, você me sustentando, eu ficando longe da minha família, dos meus amigos, saltando no escuro sem saber o que é uma graduação em outro país... Você seria meu único porto seguro, eu dependeria de você pra tudo...
-- Imagina que experiência incrível para você, como enriqueceria seu currículo! Nós juntas em Oxford!
Estava tão empolgada com a ideia que sequer percebi o tom pesado que Marcela colocara nas suas previsões.
--- Era esse seu plano? Pensou em tudo né? Intercambio, bolsa de pesquisa...
-- Acabei de pensar nisso...
-- Conta outra, Luiza! Já te ocorreu que eu tenho meus planos e sonhos para minha carreira? Tenho pouco mais de um ano para me formar, quero trabalhar, Luiza, conquistar minha independência, quero a melhor residência, quero ser uma médica respeitada.
-- E será! Tenho certeza! Tendo um período do internato em Oxford...
-- Luiza, para! Não é o que eu quero, dar um passo desse tamanho na nossa relação, ficando completamente dependente de você, das suas influencias, de novo minha imagem estaria associada ao seu passado de degrau acadêmico das suas namoradas...
-- Se você não quer ir, eu não vou. Não preciso ir.
-- Luiza...
Antes que Marcela continuasse a argumentar, tentei me aproximar dela. Segurei suas mãos e insisti:
-- Tomei essa decisão por que tinha perdido as esperanças de ficarmos juntas, você estava com tanta raiva, tão magoada comigo, eu quis fugir. Mas, eu acredito em nós, eu te amo...
O interfone tocou interrompendo nossa conversa.
-- Eu não vou atender... Deve ser a Cris e o Ed surtando com a notícia.
-- Vai atender sim. Chega de fugir.
O porteiro anunciou que Beatriz estava subindo, por certo, era algum novato que desconhecia que ela não era bem vinda ali. Logo a campainha tocou e Beatriz nem esperou que eu recusasse sua entrada quando abri a porta.
-- Eu sei que você não quer falar comigo, mas como não atende telefone nem responde mensagens, eu vim e você vai me escutar!
Olhei para Marcela que não se moveu do sofá. Beatriz, desconcertada encarou minha namorada e ficou sem ação.
-- Já que se deu ao trabalho, fale o que tem pra falar, Beatriz.
-- Podemos conversar a sós?
Marcela levantou-se, e antes que ela saísse da sala, a impedi:
-- Não precisa sair, Mah. Beatriz, seja o que for, pode falar, não tenho segredos com Marcela.
-- Não preciso, mas quero sair.
Marcela saiu da sala em direção ao quarto me deixando contrariada a sós com Beatriz.
-- Pronto. Fala Beatriz.
-- Eu sei que você deve estar pensando que me aproveitei de você, dessa sua oportunidade e estou pegando carona na sua carreira, mas, não foi nada disso. O seu colega, meu orientador do doutorado me falou de uma seleção para professor visitante em Oxford em outro departamento, não é o mesmo que está desenvolvendo a pesquisa que você vai participar, eu arrisquei, fiz a minha inscrição, e deu certo! Fiquei sabendo na sexta, te liguei mas você não me atendeu... Nem saiu ainda minha liberação no diário oficial, entrei com o meu pedido hoje.
-- O Renato agora te bajula assim?
-- Ah, eu não sei o que aquele cara tem, se é um transtorno dissociativo, ou bipolar... Mas, a recomendação dele deve ter contado... Luiza, não tive culpa da publicação lá no site, o pessoal da comunicação se atrapalhou, ou quiseram uma manchete sensacionalista...
-- É bom que corrijam... Vai ficar feio entre os outros professores pesquisadores que sabem que sua linha de pesquisa em nada se encontra com drogas antineoplásicas.
-- Vou desafazer o mal entendido. E não se preocupe, sei que não somos mais nem amigas, não vou te perseguir, você nem precisa me cumprimentar lá em Oxford...
-- Não preciso mesmo... Eu não vou para Oxford.
-- O que? Luiza! Como assim? Já está tudo acertado!
-- Posso declinar do convite, não firmei nenhum compromisso.
-- Mas por que diabos você desistiria de uma pesquisa dessas?
-- Motivos pessoais que não te interessam.
-- Acabei de te falar que não somos amigas, mas, eu quero seu bem. Você é uma pesquisadora fantástica, você faz milagre com os recursos que temos. Luiza esse país não apoia pesquisa, imagina os recursos que terá lá, grandes mentes do mundo em um projeto dessa dimensão e você desistir por motivos pessoais? Luiza, é um legado que você está ignorando.
-- Menos... Beatriz estão fazendo alarde, são bons resultados para alguns tipos de câncer...
-- Mesmo assim! Como você vai se sentir lendo as publicações que você poderia estar fazendo de um avanço como esse?
-- Existem coisas mais importantes, Beatriz, você não entenderia.
-- Não estou te entendendo mesmo... Por causa dessa garota? Luiza, não acha que é um peso grande demais pra ela carregar? Ser a responsável por você recusar a fazer parte da história da ciência moderna?
-- Acho que isso não é da sua conta, Beatriz.
Sem argumentações, Beatriz deixou o meu apartamento e eu, busquei Marcela no quarto, afim de encerrar nossa conversa, com a minha decisão tomada de permanecer no Brasil. Ao entrar no quarto, me deparei com uma cena que me cortou o coração de novo, Marcela recolhia suas roupas em uma mochila, guardadas na gaveta separada para ela.
-- O que você está fazendo, Marcela?
-- Recolhendo minhas coisas...
-- Por que?
-- Por que a Beatriz está certa. Não quero esse peso para mim... Não posso ser a responsável por te tirar de uma pesquisa como essa.
-- Marcela, a escolha é minha, não é sua.
-- Não vou te dar escolha, Luiza. Se você ficar, nosso relacionamento terá essa amarra, e eu não quero, se você ficar, não será mais minha namorada...
-- Mas, Marcela...
-- Se o que te prende aqui é o nosso relacionamento, bem... Ele não vai continuar. Acho que ignoramos demais os sinais de que esse não é o nosso tempo. Tenho coisas para viver sozinha, e você apesar de se dizer realizada... Ainda tem muito a fazer, e não vou ficar empatando seu destino, que é grandioso.
-- E você me chamou de controladora... Você está tomando a decisão por nós duas!
-- Uma vez você me disse que eu não sabia o que queria, bom, agora eu sei. Quero que você vá para Oxford, seja a pesquisadora mais foda no meio dos grandes, marque seu nome na ciência do mundo e me deixe trilhar meu próprio caminho, do meu jeito.
Marcela terminou sua fala enxugando as lágrimas, e eu, vi meu chão sumir.
-- Não faz isso com a gente...
-- Não era pra ser Luiza, ou talvez não seja nosso tempo... A vida não nos colocou em sintonia... São momentos diferentes de vida.
-- Se eu pudesse parar o tempo e ajustar essa linha...
-- A gente não pode, nem eu posso te fazer me esperar, nem você pode me pedir isso. É muito, Luiza... É demais.
Marcela retirou do dedo nosso anel de compromisso e o deixou sobre a cabeceira da cama, pegou sua mochila e beijou minha bochecha.
-- Não quero que sofra mais por nós, já choramos o suficiente nessa relação. Seja feliz, Luiza, você merece.
Por mais que eu me sentisse impelida a contestar, a postura madura de Marcela me freou. O tom que ela usou não era só de mágoa, era de uma constatação dura, óbvia, irrefutável. Talvez a atitude de Marcela tenha me colocado em outra perspectiva, finalmente eu enxergava com os olhos dela o que ela sempre me repetia: “você é muito para mim”. Ela não se referia a superioridade, mas, a ter bagagem demais para carregar, expectativas demais para superar e ânsia apressada em construir uma relação duradoura, estável.
Era muito para Marcela caminhar ao meu lado por que claramente meu ritmo era outro e isso nos fez e nos faria tropeçar muitas vezes. Queria mesmo recriar o mundo que coubéssemos juntas nele, na mesma linha temporal, olhando para o mesmo horizonte. De fato, a vida estava descompassada para nosso relacionamento, não tinha sentido seguir assim. Encarar o término sob aquela ótica me deu uma tranquilidade inesperada.
Se eu sofri? Claro que sim! Contudo, minha história intensa com Marcela naquele tempo todo mudou muita coisa em mim, agora eu podia enxergar isso. Sabe aqueles capítulos de sofrência patrocinados por ansiolíticos e lenços? Isso não fazia mais parte de mim. Apesar de todos os desencontros, Marcela me fez feliz, me tornou mais forte e mais segura, ela acreditava mais em mim do que eu mesma, o suficiente para me tirar da zona de conforto de uma carreira consolidada no Brasil para me aventurar em terras estrangeiras.
Nossa história não merecia um término fatídico. Por isso os dias que anteciparam minha mudança para Inglaterra foram práticos, objetivos para tomar decisões necessárias. Reservaram momentos deliciosos com meus amigos e minha família, aproveitei cada despedida com serenidade, não havia motivos para tristeza, eu estava partindo para construir um sonho ou um legado como Beatriz descreveu. Eu estava inteira, não mais aos cacos, por que o que vivi com Marcela me ensinou a não mais me despedaçar para amar.
No dia que embarquei para Londres, meus pais e meus amigos fiéis: Cris, Ed e Clarisse fizeram questão de me acompanhar ao aeroporto, meus pais mais pareciam que estavam me enviando para uma excursão na Disney, tamanha era a animação infantil deles, enquanto para a minha tropa, parecia que eu partia para a Lua e nunca mais voltaria, era uma choradeira só.
-- Gente, assim vocês assustam meus pais! – Consolei Cris, abraçando pela terceira vez.
-- Odeio dar razão a Clarisse... Mas, até eu que não entendo nada de pesquisa, sei que essa daí que você vai se meter durará anos!
-- Vocês podem ir me visitar, não estamos no século XIX! Em doze horas vocês chegam lá, mais perto do que ir de ônibus para Salvador, Cris, e nós já fomos só pra você conhecer uma menina, lembra?
-- Ah, Luiza! Fala como se fosse um pulo... Bem ali em Búzios.
-- Não seja dramática, vai...
-- Eu vou! Mas, você não ouse me trocar por meia dúzia de chatos nerds, quando eu for, quero turistar com você na Europa, baby! – Ed fez bico, segurando o choro.
-- Claro, meu querido, vou cobrar sua visita! E você? Vai ficar emburrada comigo até quando? – Puxei Clarisse pelo braço para abraça-la.
-- Até você voltar...
-- Clarinha... Para com isso!
Enquanto eu consolava meus amigos, com promessas intermináveis sobre responder mensagens e chamadas de vídeo sob a pena de ser sequestrada de volta ao Brasil, olhei em volta e avistei Marcela, um tanto tímida me observando um pouco mais afastada. Pedi licença aos meus pais e amigos e fui ao seu encontro sem deixar de ouvir meus pais:
-- Essa é aquela menina que falamos pelo computador, não é?
Aproximei-me de Marcela, que sorria timidamente.
-- Oi.
-- Oi, Malu.
Sorri, só ela me chamava assim.
-- Mudou de ideia? Quer vir comigo? Cadê sua mala? – Tentei descontrair com uma brincadeira.
-- Acha que caibo na sua mala de mão?
-- Não, Mah... Você é muito... – Usei as palavras dela. – Muito linda para eu levar escondida numa malinha...
-- Não vale roubar meu texto.
Marcela sorriu, baixou a cabeça e quando ergueu os olhos, com a lágrima contida, disse:
-- Eu precisava me despedir direito de você. Desculpa ter vindo aqui, assim, não tive coragem de te procurar em casa...
-- Ei, não tem por que se desculpar... Sendo bem sincera, eu já tinha perdido a esperança de te ver antes de ir, tantas festas de despedidas fizeram para mim naquele campus, pensei que te veria em alguma.
-- É que... Uma parte de mim não queria te ver partir...
Marcela não segurou mais o pranto e eu imediatamente a abracei.
-- Basta uma palavra sua, e eu desisto...
Nem sei por quantos minutos permanecemos abraçadas, deixando as lágrimas escoarem abundantes por nossa face.
-- Eu fico, Mah...
Marcela saiu do meu abraço, segurou meu rosto, com delicadeza enxugou minhas lágrimas e sorriu:
-- Não, nada mudou, Malu. Você é muito, e é por isso que eu te amo tanto, e é justamente por isso que você precisa ir e eu preciso ficar.
-- Eu também te amo...
Lembrei do que eu tinha guardado em minha bolsa. Rapidamente peguei o anel de compromisso que ela deixou na cabeceira e o coloquei na palma de sua mão.
-- Não posso te pedir que me espere, e eu sei que você não me pediria isso também... Mas... Fica com ele, pra lembrar de nós, da nossa história...
Ignorando a plateia, Marcela segurou meu rosto de novo, mas, dessa vez para alcançar minha boca com um beijo apaixonado.
-- Até parece que eu preciso de algum objeto para lembrar de você... Você está dentro de mim, isso também não mudou.
Marcela apertou a mão guardando o anel no bolso. Clarisse de aproximou:
-- Desculpa interromper... é que, está na hora do seu embarque, Lu.
Beijei Marcela suavemente e caminhei até o portão, acenei para todos uma única vez e acelerei os passos sem olhar para trás, já não tinha tanta certeza de que estava fazendo a coisa certa em deixar o Brasil, deixar Marcela.
Fim do capítulo
Oi meninas,
Acho que passou da hora de concluir essa novela. Aguardem, até o próximo final de semana tentarei postar os dois capítulos finais.
Beijos
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NúbiaM
Em: 07/11/2021
Fora de sintonia...
Momentos diferentes de vida...
Bastante maduro as decisões tomadas pelas personagens, mas são as tais diferenças.
Já defendi muito que o amor supera diferenças, hoje, não mais!
Resposta do autor:
Vivemos momentos diferentes, amores diferentes, as próprias diferenças são diversas. Talvez nos falte reconhecer quais são os amores e as diferenças valem a pena a nossa luta.
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