CAPÍTULO 43 – LIÇÃO 37 : AINDA EXISTE AMOR PRA RECOMEÇAR
Aqueles dias afastada de Marcela represaram um desejo que nem mesmo eu tinha a dimensão do quão voraz era minha saudade do seu corpo. Talvez a melhor expressão que me descreveu naquele momento era fome. É, eu estava faminta por Marcela, queria devorá-la, com minhas mãos, meus lábios, minha língua, meu sex*. Em nome dessa fome arranquei as roupas de Marcela e senti o fogo consumir meus olhos: seus mamilos eriçados, o suor percorrendo sua barriga em caminho do umbigo, bebi aquela chama.
-- Quero sentir seu corpo no meu, Luiza.
Marcela sussurrou segurando meu pescoço.
-- Vamos para o quarto, aqui está quente...
Em meio a beijos vorazes carreguei Marcela para o quarto e desnudas nos entregamos a toda fome que nos consumia. Roçamos nossos corpos em movimentos sincronizados, nosso encaixe de quadris, nossas coxas entrelaçadas naquela frequência cadenciada, de intimidade, de cumplicidade, parecia recarregar as energias nos fazendo avançar na troca de carinhos incessantes. Marcela ficou de costas para mim, recuperando o fôlego, mas puxou minhas mãos para mais perto dela, isso equivalia a lançar fogo à gasolina: apertei seus seios, percorri seu corpo com minhas mãos, enquanto encaixava minha boca em sua nuca, mordiscando suas costas enquanto ela se derretia em gozo pela cama, se contorcendo, esfregando seu bumbum no meu sex*.
A nossa fome era tanta, que preencheu toda a noite, não cabia mais nada naquela noite: nem explicações, nem palavras, muito menos decisões. Como uma obra de arte perfeita, não cabia nenhum retoque, ou ajuste, foi o que conclui ao contemplar Marcela caindo no sono, envolta em meus braços.
Mas, a noite acabou. O dia se apresentou e a perfeição do cenário foi se desfazendo com o alarme do celular de Marcela, nos despertando as seis da manhã. Procurando o aparelho em meios as roupas espalhadas pelo chão, Marcela desligou o alarme e se jogou na cama de novo, dessa vez, não se aninhou no meu corpo. Puxou o cobertor e se cobriu inteira, e eu, sendo a problemática da relação enxerguei no gesto um gatilho para trazer à tona os acontecimentos da noite anterior.
Perdi o sono, caminhei pela casa, juntei as roupas de Marcela, organizei-as como era meu costume. Lembra do gatilho? Na noite da obra de arte perfeita, não cabia identificar cheiros diferentes, mas naquela manhã sim. No casaco que guardava o celular de Marcela, havia um perfume diferente, não era dela, sequer parecia com o aroma que ela gostava. Imediatamente veio a minha mente aquelas imagens, de trocas de carícias e de mãos dadas pelo bar entre ela e outras mulheres.
Eu não tinha ideia do que se passava pela cabeça de Marcela sobre o significado daquela noite para ela, tampouco saberia como agir quando ela acordasse, devia agir como se não tivesse visto nada, ou ia fingir que era uma mulher segura e evoluída o suficiente para ignorar as aventuras dela confiante na intensidade da nossa noite de sex*. A quem eu queria enganar? Segura, eu? A cada vez que o celular dela acendia meu impulso era de pegar e ver quem era a pessoa que mandava tantas mensagens...
Fugi para cozinha, coloquei uma capsula de café na máquina e fiquei ali hipnotizada com os pingos que a cafeteira deixava vazar lentamente. Fui surpreendida com a voz de Marcela:
-- Bom dia...
-- Oi! Bom dia, Marcela. Quer um? – Apontei para o café.
-- Tem cappuccino?
-- Deixe-me ver...
Marcela se aproximou e identificou rapidamente a cápsula, com um olhar sedutor a apresentou para mim.
-- Você conhece de longe né?
Sorri, e entreguei a xícara com seu cappuccino. Marcela se recostou no balcão e me olhou por cima da xícara enquanto tomava a bebida, e eu, praticamente cozinhava minha língua bebendo o café em um gole só.
-- Acordou cedo? – Marcela perguntou.
-- Junto com o alarme do seu celular.
-- Desculpa... A falta de hábito de ter um sábado livre...
-- Tudo bem... Acordo cedo sempre.
-- Mas, nós dormimos tarde ontem, não está cansada? – Marcela mordeu os lábios.
-- Cansada de que? Até parece que você não me conhece...
--É, eu te conheço, você é mesmo incansável.
Sorrimos. Marcela, se aproximou da minha boca enquanto colocava a xícara na pia. Senti seu hálito com aroma de canela, respirei fundo para me controlar e não avançar em sua boca.
-- A qualidade do café caiu por aqui... Da última vez que dormi aqui, tinha uma bandeja de café da manhã me esperando...
-- Ah, Marcela, sério?
Ela sorriu e pressionou seu corpo contra o meu. Minhas pernas ficaram bambas, acabei me segurando no balcão, mas não me fiz de rogada. Tomei os lábios de Marcela que correspondeu na mesma intensidade e com ar de menina travessa, segurou minha mão e provocou:
-- Incansável?
Quando dei por mim, já estávamos entrelaçadas de novo, nuas na minha cama. As manhãs de preguiça do sábado ao lado de Marcela era algo que me fazia muita falta, especialmente quando acordávamos assim, cheias de desejo uma pela outra. Mas, como eu falei, o dia chegou e na claridade eu não conseguia fugir da memória recente. Antes que eu perguntasse algo, Marcela indagou:
-- Acha que daria certo, se recomeçássemos assim?
-- Assim? Você está se referindo a que? A uma noite de sex* ardente, seguida de uma manhã de sex* gostosa?
-- É... – Marcela sorriu, me olhou e continuou a falar – Recomeçar de um ponto que a gente nunca se desentendeu...
-- Como seria isso, Marcela? Você curte a noite com sua galera, enquanto eu te espero em casa, pra ser o seu final de noite?
-- Eu tinha pensado em algo mais como: meu destino final ser sempre os seus braços.
Engoli seco. Arrependimento instantâneo mesclado com o medo do rumo daquela conversa.
--O que aconteceria com você até chegar ao seu destino final? Uns amassos nos barezinhos... Em algum banheiro, com alguns contatinhos?
-- Porr*, Luiza...
Marcela se sentou na cama contrariada. Como eu cometo esses sincericídios, nada estava ruim o suficiente que eu não pudesse piorar um pouco mais.
-- É esse o recomeço que imagina para nós? Eu ser o seu segredinho?
-- Como se isso fosse novidade... Eu não fui seu segredinho por tanto tempo?
-- No passado, já passamos dessa fase, Marcela.
-- Estamos em que fase exatamente, Luiza? Eu achava que estávamos falando sobre recomeçar.
-- É, você me pediu espaço, tempo... Eu pensei que o problema fosse eu, mas, eu acho que o espaço envolvia mais gente à sua volta, não é?
Marcela se levantou, e procurou suas roupas.
-- Eu não vou estragar esse momento que tivemos... Melhor eu ir embora.
-- Espera, Marcela...
Segurei seu braço.
-- Luiza... A gente teve uma noite maravilhosa, por que não pode ser assim? Leve... Será que você não sentiu o mesmo que eu?
-- Claro que senti, a gente se ama, Marcela...
-- Então... O que você não entendeu sobre recomeçar assim, leve, sem tanta pressão... Construindo de novo a nossa confiança, cada uma no seu espaço.
-- Você está me propondo um relacionamento aberto?
-- Por que a gente precisa de um rótulo?
-- Rótulo era o nome daquela mulher saiu de mãos dadas com você do banheiro do bar? Ou a dona daquele perfume adocicado no seu casaco?
-- Vai se fuder, Luiza!
Eu me assustei com a interjeição de Marcela, parecia uma frase banal para ela, como uma gíria, mas, nunca dita por ela a mim. Acho que ela acabou percebendo minha surpresa.
-- Não precisa fazer essa cara, Luiza, falo isso pra todo mundo.
-- Todo mundo? Eu sou todo mundo?
-- Luiza esse seu drama costumava ser seu charme... Mas, tem horas que...
-- No começo tudo é lindo, depois vira defeito...
Marcela revirou os olhos, impaciente.
-- Você não é todo mundo, Luiza. Eu não durmo na casa de todo mundo, nem bato na porta da casa de todo mundo doida de tesão...
-- Espero que não!
Marcela deixou um riso escapar.
-- Marcela, eu... Não quero ver aquilo...
-- Ei...
Marcela calou meus lábios com sua mão. Abraçou-me por minutos.
-- Eu te amo, Luiza. Ontem foi uma prova disso.
-- Ontem provou o que?
-- Que eu só quero você... Eu tentei, mas... Todas as vezes, só vem você na minha cabeça... Ontem, depois que eu te vi saindo do bar, tive um medo real de te perder...
-- Todas as vezes? Quantas vezes?
-- Luiza... Você só prestou atenção nisso? Acabei de te dizer que te amo e que não consigo te esquecer em nenhum momento...
-- Marcela, quantas vezes? Com quantas você ficou nesse espaço que te dei?
-- Esquece, Luiza. Não vou entrar nesse enredo, acho que a gente só vai se magoar mais.
-- Magoar mais? O que mais você pode dizer para aumentar mais ainda a mágoa que “tô” amargando agora?
Minha voz já embargava. Marcela balançou a cabeça negativamente e respondeu:
-- Você só focou no pior da noite. A gente se entregou uma pra outra aqui, nesse lugar que é tão nosso, eu pensei que pudéssemos recomeçar sem pesos, a partir desse carinho e intimidade que já temos... Um passo de cada vez...
-- Desculpa, Marcela... Você tem razão... Tenho esse hábito de olhar só pelo lado negativo... Sabe o que é? Eu fico meio sombria longe de você...
Marcela me abraçou mais uma vez, acariciou meu rosto e cochichou:
-- Eu estou aqui... Não quer olhar o lado bom?
Afastei-a, coloquei minhas mãos na cintura, andei em círculo em volta dela observando-a:
-- O que foi, Lu?
-- Estava fazendo o que você sugeriu e acontece que...Todos os seus lados são maravilhosos, meu amor.
-- Idiota! Você é muito bobona!
Gargalhamos juntas. Passamos o resto do dia assim, gargalhando, trocando carinho, matando a saudade. Com muita insistência, Marcela topou passar mais uma noite, pactuamos que não mexeríamos em celulares, aquele tempo era só nosso.
-- A gente junto... É tão fácil assim... Isso aqui, parece tão certo, Lu.
-- Por que é o certo, eu te amo, Mah.
-- Promete que vai ficar assim? Leve, vamos com calma... Não tem que ter mais ninguém, outro capitulo de nossa história.
-- Eu prometo.
Parecia tudo certo. Perfeito demais para ser um capítulo do meu manual nada prático de sobrevivência. Eu sendo calma, seguindo o ritmo compassivo de um relacionamento com uma estudante, pior, uma interna de medicina, que só tinha tempo para conversar alguns minutos por telefone, marcando uma fugidinha no final de semana.
Eu queria muito mais da Marcela, a queria comigo no final do dia, de todos os dias, abrir os olhos e vê-la ao meu lado, fazer planos, assumi-la para o mundo! Mas, não era isso que Marcela queria, e eu torcia para que aos poucos ela aceitasse mais de nós. Insistia em separar lugar para as coisas dela no meu armário.
-- Deixa uma muda de roupas suas aqui... Poxa, poupa tempo...
E Marcela foi cedendo. Em poucas semanas meu apartamento já tinha o cheiro dela, a minha geladeira tinha as frutas preferidas dela e as cópias das chaves voltaram para seu chaveiro.
Parecia mesmo tudo certo. Tudo pronto para uma maratoninha de série na TV com os belisquetes escolhidos por ela na nossa troca de mensagens. Seria mais um programa íntimo, Marcela ainda temia nossa exposição depois do processo que sofri, nossos programas se restringiam ao meu apartamento, da minha parte não teria pressão, nem mesmo a dos meus amigos que elaborariam mil teses sobre nosso status.
-- Vou pegar pipoca! – Marcela disse enquanto caminhava até a cozinha. – Amor, seu celular está tocando, é a Beatriz.
Marcela falou inocente, me avisando, já que o celular estava carregando na cozinha. Sabe o click? O gatilho? O nome Beatriz me fez lembrar do processo que eu dei entrada no meu luto, eu devo ter ficado muito pálida e paralisada, sequer respondi a Marcela, que dirá atender a Beatriz.
-- Não vai atender? Sua chefeeee – Marcela fez bico.
-- Depois eu retorno, não vou perder tempo com a Beatriz, vem cá com essa pipoca!
O universo te manda uns sinais... Mas, pra quem é distraído, não adianta viu universo? Não mande sinais, mande uma tempestade, um terremoto, não seja tão sutil! Deixei passar o sinal, fui punida.
Fim do capítulo
Hei meninas!
Capítulo para animar o feriadão!
Curtam bastante e passem lá no conto novo: Efeito Órion
Beijos e até a próxima!
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LeticiaFed
Em: 06/11/2021
Finalmente consegui reler alguns capítulos e atualizar a história! Adoro!! Luiza, Luiza...essa criaturinha é fogo e tem memória de pulga, pelo visto rsrs. De qq forma torcendo pela dupla. Quem sabe uma residência em Londres hein? Nada mau ;)
Acarolinnerj
Em: 02/11/2021
Aurltora eu li essa história incrível em menos de 48h e estou surpreendida o quanto fiquei presa..
Aproveitei muito bem minha folga com essa leitura.
Estou ansiosa por próximos capítulos..
Adorei sua história, Parabéns!!!
Xeruh
Resposta do autor:
Que bom! Estou prometendo há muito tempo encerrar essa história, mas, as personagens tem vida própria, mas, de vdd, estamos no final!
Obrigada pelo carinho
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