Termo a que. Ponto que determina o fim de uma ação.
CAPÍTULO 36- Terminus ad quem
Até chegarem ao apartamento o máximo de palavras trocadas entre as duas foi:
-- Você está bem?
-- Sim, e você?
Interiormente ambas se questionavam a dimensão das consequências de tal atitude de Diana. Para a loirinha, dezenas de indagações preenchiam a reflexão sobre sua revelação aparentemente intempestiva, no entanto, o que aliviada sua angustia era a certeza que sua coragem agradara a namorada, que tanto lhe cobrava tal atitude. Quanto a Natalia, a avalanche de pensamentos confusos lhe acometia da mesma forma. Sentia orgulho pela força que Diana demonstrara assumindo o namoro publicamente, mas, diferente do que a namorada supunha assumir para Lucas no calor da discussão foi também uma atitude egoísta de Diana ou pior, fruto de sua vaidade por estar namorando a garota que ele e Pedro desejavam.
Em meio a tantas interrogações e conclusões mentais, Diana ainda precisava resolver outra importante questão: a segurança de sua namorada. A semana recomeçaria, e as ameaças de Sandro tinham que ser sanadas definitivamente. O telefonema do pai na noite de domingo pareceu providencial.
-- Oi pai. Aconteceu algo com a mamãe?
-- Não, ela está bem. Estou ligando para saber se aquela questão que você me pediu interferência foi resolvida.
-- Mais ou menos pai. Como não pode perseguir a menina publicamente, ontem ele tentou atropelá-la com uma moto sem placa, atingiu o Pedro que sofreu traumatismo craniano, ele está bem, mas desmemoriado.
-- Pra esse tipo de safado só tem um jeito e você sabe que posso providenciar isso!
-- Pai por mais que eu me sinta tentada a aceitar sua oferta, não posso concordar. O ideal seria que esse cara ficasse o mais longe possível.
-- Posso providenciar isso também.
-- Pai... Já disse esse seus métodos não!
-- Não critique meus métodos! Mandei fazer um levantamento da vida financeira da família desse rapaz, e descobri que ele está na lista de devedores do BNDES, retirou grande quantia emprestada, para ampliar sua fábrica, mas, não pagou, descumpriu prazos e a regra básica para receber o financiamento: gerar mais empregos, assim, perdeu os benefícios e seus bens já foram solicitados pela justiça para executar a dívida.
-- Pai o que o senhor pretende? Oferecer dinheiro?
-- Ah claro que não! Não desperdiço meu dinheiro assim, especialmente por alguém que não tenho interesse algum. O que farei é oferecer minha influencia para que ele consiga renegociar a divida, em troca, ele manda o marginal do filho dele para fora do país.
-- Parece justo. Pai o que isso vai me custar?
-- Você me ofende assim... Não posso fazer algo para agradar minha filha?
-- Sei que tudo que o senador Acrisio Toledo Campos tem um preço.
-- Não é o senador que está fazendo isso, é seu pai.
Mesmo não convencida das boas intenções do pai, Diana fugiu de traçar hipóteses acerca dos planos do senador e seguiu para o quarto a fim de enfrentar o fim do silêncio entre ela e Natalia. Encontrou a namorada secando os cabelos, envolta em uma toalha de banho.
-- Eu estava mesmo precisando de um banho... – Natalia suspirou ao notar a chegada de Diana
-- Dia difícil para todos não é?
-- Verdade, principalmente para Pedro e a família dele.
-- Ele vai ficar bem. Está fora de risco logo vai estar totalmente recuperado.
-- Fisicamente sim Diana, mas e os efeitos na vida do Pedro? Sem memória, sem referências. Ele estava a um semestre de concluir o curso, com propostas de vários escritórios de renome para trabalhar ainda esse ano depois do exame da ordem, que ele passaria sem dificuldades. Mas e agora? O que ele fez por mim pode ter custado muito caro...
-- Você não tem que se sentir culpada assim Nat. A culpa é daquele louco do Sandro! Creio que esse problema será resolvido pelo meu pai e ele nos deixará em paz, fique tranquila.
-- Ficar tranquila? Diana! Eu ferrei com a vida de um cara maravilhoso, e vou continuar prejudicando-o depois do que você revelou ao Lucas hoje à tarde! O que seu pai e todo poder sujo dele podem fazer quanto a isso?
-- Opa, espera aí! O que você quer dizer com isso?
-- Diana, nós estávamos conversando sobre adiar a decisão de assumir nosso namoro pelo bem do Pedro, ajudar na recuperação dele é o mínimo que posso fazer. E o que você faz? Não respeita minha vontade, e dispara para Lucas nossa verdade. Por que isso?
-- Por quê? Eu pensei que isso estava claro! Por que isso é o certo! Por que você me pediu isso, por que não queremos mais enganar ninguém!
-- Será que esses são mesmo seus motivos? Será que não foi medo de me perder? Será que não foi pela necessidade de estar sempre se mostrando vitoriosa no quesito conquista? Deixar claro olha Lucas, nem você nem o seu irmão por mais que façam tudo podem ficar com a Natalia, por que eu “to pegando”!
-- Eu nunca ouvi tanto absurdo! O Pedro bateu a cabeça, mas quem enlouqueceu foi você! Deve ser a convivência com Laura!
-- Diana eu te pedi pra esperar o melhor momento de falar a verdade, ao invés disso você berra no corredor do hospital que somos namoradas, ainda me arrasta pela mão pra provar sua posse! Não era você que não queria exposição? O que mais seria tão expositor como isso?
Diana balançou a cabeça, com os olhos marejados.
-- Diana a essa altura o Lucas deve ter contado tudo ao tio e a mãe dele que devem me julgar uma egoísta ingrata!
-- Não se preocupe, seu título de boa moça está seguro. O Lucas não contará nada até conversar comigo exigindo explicações.
-- Talvez possamos contornar essa situação, pelo bem do Pedro.
-- Temo que “nós” não possamos contornar essa situação pelo “nosso” bem Natalia.
-- Di desculpe-me, estou nervosa...
Natalia tentou se aproximar de Diana, mas a loirinha se esquivou. Uma mágoa se instalara entre elas, e isso ficou evidente nesse gesto.
-- Vou tomar banho, com licença.
************************
Diana se levantou cedo, como não era seu costume. Depois de uma noite mal dormida no quarto que transforma seu estúdio, a loirinha evitou a namorada, saindo antes mesmo que Natalia acordasse e seguiu para o hospital.
Encontrou Laura no quarto de Pedro, aparentemente acabando de acordar.
-- Oi minha querida! Tão cedo por aqui? Ou fui eu que perdi a hora?
-- Não Laura, ainda é cedo mesmo.
-- Aconteceu alguma coisa Diana? Estou te achando com uma carinha tão triste e preocupada...
-- Preocupada com o Pedro, só isso. Como saí sem me despedir ontem, vim me desculpar, tive uma emergência pra resolver...
-- Pelo jeito, você e Natalia tiveram coisas urgentes para resolver.
Laura comentou arrumando os cabelos, nem notou Diana empalidecer ao deduzir que Lucas poderia ter revelado tudo à mãe.
-- Como assim? – Diana sondou.
-- Ela também foi embora sem se despedir, o Pedro estranhou.
-- Ah sim... Ele passou bem a noite?
-- Dormiu como um anjo. Preciso de um bom café, duvido que o daqui seja bom, mas... Você ficaria aqui enquanto vou até a lanchonete?
-- Claro Laura fique à vontade.
Poucos minutos depois que Laura deixou o quarto, Pedro despertou:
-- Diana? É você?
-- Oi Pepê, sou eu sim, como você está se sentindo?
-- Meio vazio por dentro, mas deve ser fome. – Pedro brincou.
-- Acho que seu café-da-manhã deve estar chegando...
-- E você o que houve? Ainda é cedo não é? Caiu da cama, ou está vindo direto da balada?
-- Mais ou menos. – Diana sorriu amarelo disfarçando a tristeza.
-- Sabe, minha memória a respeito de você está intacta, pra seu azar!
Diana sorriu fazendo careta.
-- E por isso, eu digo com certeza que essas olheiras não são de ressaca. O que houve?
-- Nada demais Pepê.
-- Deixa-me chutar: problemas com mulher?
-- Isso aí acertou em cheio.
- Não sei por que terminou com a Julia... Pra ficar pegando uma e outras?
- Uma mulher dá trabalho Pedro, imagine várias! Não quero problemas, não terminei com a Julia pra isso e pra falar a verdade, ela terminou comigo.
- Eu sabia! Difícil ser dispensada hein? Pra você deve ter sido um golpe no seu super ego!
-- Ai para com isso seu bobão!
-- Diana, você que é minha memória agora, me diz como que consegui uma gata como a Natalia pra namorar? Cara, eu sou o campeão dos foras, todas preferem o Lucas, até você!
-- Deixa de ser mané! As mulheres são umas bobas por te darem foras, você é um chato, mas é maravilhoso...
-- Você está enchendo minha bola só por que estou com a cabeça quebrada...
Diana sorriu fazendo carinho no rosto do amigo.
-- Eu não tenho a menor ideia de como serão meus dias daqui pra frente, reconstruir minha vida... As pessoas geralmente fazem isso quando querem esquecer o passado, e eu parto do contrário, reconstruir meu passado pra ter meu presente de volta... Engraçado isso não é? Mas, ter uma amiga como você vai deixar tudo mais fácil com certeza.
-- Vou fazer tudo que estiver ao meu alcance pra te ajudar nisso Pepê.
-- Tenho certeza que sim Diana. Mas, confesso que saber que tenho uma namorada como a Natalia me anima mais. – Pedro brincou.
-- Pedro... Você tem que fazer as coisas pensando em você, na sua faculdade que você estava concluindo como um dos melhores alunos...
-- Diana nesse momento eu sou apenas o seu amigo, irmão gêmeo do Lucas, filho da dona Laura e sobrinho do Doutor Alberto, e ah! Namorado da Natalia. É tudo que tenho de memória, ou seja, o que vivi de ontem pra hoje. Acho que já é um bom começo não é?
Com o peso de toneladas na consciência Diana sorriu como aceno de acordo.
-- Muito doido isso viu? Não me lembro da Natalia, mas meu sentimento sim. Meu coração parece que se enche de esperança quando olho pra ela... Ontem meu tio contou que estou aqui por que me joguei na frente de uma moto quando ela ia ser atropelada... Eu me senti um herói de filme, e tive a certeza que amo essa “desconhecida”, muito doido.
A reflexão de Pedro caiu em Diana como uma sentença acerca do seu futuro com Natalia. A loirinha ficou muda, disfarçando sua angústia servindo o café da manhã de Pedro, depois se despediu do amigo com a chegada da mãe dele. Jogou seu corpo contra a parede no corredor do hospital amargando o pressentimento de sacrifício que lhe aguardava.
-- Veio terminar o que começou ontem Diana?
Lucas a abordou com olhar magoado.
-- Do que você está falando Lucas?
-- De você e sua namoradinha fuderem com a vida do meu irmão! Droga Diana a gente confiava em você!
-- Lucas eu não vou conversar com você sobre isso agora.
Diana se afastou, mas, Lucas segurou seu braço.
-- Eu não disse nada a ninguém, agradeceria muito se você poupasse minha família desse detalhe sórdido.
-- Não há sordidez por enquanto Lucas.
Diana se desvencilhou irritada, procurando um refúgio para descarregar sua tristeza. Encontrou a capela, a mesma que há semanas atrás lhe abrigou na sua angústia por Natalia. Outra vez a mesma sensatez e gentileza personificada surgiram. Rosana, a psicóloga que lhe ajudara sentou-se ao seu lado.
-- Estou começando a achar que você tem mais problemas espirituais que eu...
Diana levantou a cabeça curiosa e atestou de quem se tratava para responder:
-- E eu estou começando a desconfiar que você me persegue.
Rosana sorriu desarmada.
-- Você está interferindo na minha rotina moça! Então deve ser você a me perseguir.
-- Sua rotina é encontrar pessoas em igrejas? Você não tem cara de freira.
-- Ufa! É bom saber disso. Mas, me referia a minha rotina aqui no trabalho. Todas as manhãs antes de iniciar meu dia de trabalho e quando o encerro, passo uns minutos por aqui.
-- Não se ofenda com o que vou dizer, mas você também não tem cara de religiosa.
-- Estamos mesmo falando de “cara”?
Rosana perguntou franzindo a testa, enquanto Diana passava os olhos pelo resto do corpo da psicóloga.
-- Menina! Esse não é um lugar pra esse tipo de olhar analítico!
Rosana brincou, arrancando um sorriso sincero de Diana.
-- E respondendo à sua observação, meu hábito não tem nada com religião especificamente, por que sequer tenho uma, faço isso por uma necessidade minha, é meio que um ritual, que separa minha vida pessoal da profissional. Venho aqui de manhã para deixar meus problemas pessoais para que eles não interfiram na minha dedicação aos pacientes, e no final do dia, faço o contrário, deixo aqui os problemas dos meus pacientes para que eu tenha paz para viver minha vida pessoal.
-- Sábio de sua parte. Um bom hábito.
-- E você? Mais problemas com sua amiga?
-- De certa forma sim. Mas estou aqui no hospital por causa de meu amigo, para livrar a Natalia de ser atropelada pelo mesmo agressor, ele se machucou.
-- Nossa! Temos um cavaleiro destemido então? Mas como ele está agora?
-- Está fora de perigo, mas o traumatismo causou amnésia nele.
-- Que coisa... Vou ver o que posso fazer para ajudar. Terapia nesses casos é fundamental.
-- Obrigada doutora.
-- Mas, toda essa nuvem negra pairando sobre sua cabecinha é só preocupação com seu amigo?
-- De certa forma sim...
-- E Natalia como está?
Diana calou, mas sua expressão gritava a angústia que lhe consumia.
-- Ops, parece que toquei em assunto proibido. Você quer conversar sobre isso ou acha que sou uma intrometida sem noção?
Diana apertou os olhos e respondeu:
-- Você... É uma intrometida profissional.
Rosana gargalhou.
-- Nunca fui chamada disso, mas não me ofendi. Diga-me o que te incomoda nessa história?
-- Mencionei que o fato de que o heroísmo do Pedro tornou a Natalia a mocinha por assim dizer, logo, namorada dele?
-- Oh ow... Ninguém sabe que ela é sua namorada?
Diana arregalou os olhos e viu o um sorriso no canto dos lábios da psicóloga.
-- Como assim minha namorada?
-- Minha cara, só sendo muito hetero pra não captar a energia sexual entre vocês duas...
-- E você captou? - Diana indagou curiosa.
Rosana sorriu e emendou uma pergunta se esquivando de dar resposta:
-- E agora? Você se torna amante de sua namorada?
-- Ninguém sabe de nossa relação. Quer dizer, ontem eu confessei ao Lucas que agora me odeia. O Pedro e o Lucas caíram de amores pela Natalia desde que a conheceram, nos envolvemos e adiei a verdade por medo de perder a amizade deles, e insegura a respeito do meu futuro com ela.
-- Insegura?
-- Sou a primeira mulher da Natalia. Você imagina a confusão na cabeça dela. Nunca tive uma namorada na faculdade, apesar de não esconder de ninguém minha sexualidade, não quero que me rotulem. Já tenho popularidade suficiente, não preciso de mais holofotes, assumir namoro com Natalia seria muita exposição, pra mim e pra ela, temi que isso estragasse tudo.
-- Posso entender. É por isso que você está aqui? Procura uma luz para definir sua decisão?
-- Meu melhor amigo está com a cabeça quebrada por ter salvado a vida da minha namorada, agora ela é namorada dele de mentirinha, mas, não parece disposta a acabar com essa mentira, por se sentir em dívida com Pedro. Se eu contar a verdade, viro uma amiga megera que rouba a pouca memória do amigo que já está fudido! Se eu não contar, vou ter que assistir o namoro deles e aceitar ser “a outra” com todo risco de decretar o fim do meu namoro de verdade.
-- Ow! Espera que eu já estou confusa!
-- É mesmo muita confusão...
-- Diana gostaria de conversar mais sobre isso com você, quem sabe eu possa te ajudar, mas, tenho pacientes para atender...
-- Você é mesmo boa nisso de se intrometer na vida dos outros né?
-- Imagina que ainda me pagam pra isso...
Sorriram juntas.
-- Está aqui o meu cartão. Procure-me se quiser minha ajuda, nem que seja pra te escutar.
-- Obrigada.
Rosana levantou-se e disse:
-- Diana lembre-se de uma coisa: mentiras só prevalecem quando não acreditamos nas nossas verdades.
Diana ficou pensativa. Da porta da capela Rosana voltou e comentou com ar de riso:
-- Ah e a propósito: sim eu captei a energia entre vocês.
*******************************
Natalia que praticamente não dormira sentindo a ausência da namorada ao seu lado na cama, sentiu um profundo arrependimento por dar tanta importância ao seu orgulho e não ter cedido e procurado Diana durante a noite para conversarem e juntas acharem a solução para tamanho problema. Mas, não o fez. Revirou-se na cama por toda noite, praticamente assistiu o amanhecer olhando para o despertador.
Vagou pela casa ainda relutando procurar Diana, até enfim dar o braço a torcer e bater à porta do seu estúdio, deduzindo que a loirinha dormira ali.
-- Diana? Você está aí? Melhor acordar, chegaremos atrasadas... Diana?
Intrigada com o silêncio abriu a porta, encontrando apenas os vestígios que a namorada d fato dormira ali, mas, já não estava. O arrependimento deu lugar à irritação, pelo fato de Diana ter saído sem lhe avisar. Lutou contra a vontade de ligar e cobrar explicações apressou-se em arrumar-se e seguiu para a faculdade sozinha.
Mal conseguiu se deter na aula, até se render e ligar para Diana:
-- Posso saber onde a senhorita está?
-- Bom dia pra você também minha querida.
-- Desculpa Diana, mas pow, sai de casa e nem avisa?!
-- Precisava ver o Pedro sozinha, por isso saí cedo.
-- Diana não me diz que você fez o que estou pensando...
-- Não se preocupe, sua honra de namorada perfeita está a salvo, não falei nada.
-- Estou uma pilha de nervos, me perdoa?
-- Onde você está?
-- Na faculdade, precisamente no banheiro, sai da aula pra te ligar, não estava conseguindo me concentrar. Estou com medo de a qualquer momento aquele louco me empurrar pela escada, me afogar na piscina, ou invadir os corredores com uma arma letal...
-- Não se preocupe... Estou aqui pra te proteger.
-- Aqui?
-- Sim aqui.
Diana surpreendeu Natalia entrando no banheiro.
-- Você quer me matar de susto? – Natalia disse afobada.
-- Esperava matar as saudades só...
Com cara de menina levada, Diana mordeu os lábios fazendo charme para Natalia, que não resistiu, puxando a loirinha pelo suspensório para uma das cabines do banheiro, tomando sua boca com sofreguidão.
-- Beijando assim você não terá como se proteger de mim...
Diana sussurrou, mordiscando a orelha de Natalia enquanto descia sua mão pelas coxas da namorada que não escondia sua excitação na respiração acelerada e ofegante.
-- Estou sem defesas... Sou sua...
Natalia murmurou acendendo ainda mais o desejo da loirinha que não protelou a entrega. Intensificou os beijos, passeou com as mãos pelo corpo quente de Natalia, alcançou seu jeans e o desabotoou habilmente, dando espaço para o toque ansiado por ela.
-- Ai Diana... – Natalia gem*u.
-- Shi...
Diana calou a namorada com um beijo, ouvindo passos se aproximarem. Saber que não estavam sozinhas ali não arrefeceu o clima. Natalia segurou a namorada pelos cabelos e mordeu os lábios da loirinha deslizando sua língua pelo queixo e pescoço demonstrando que não queria encerrar aquele momento de paixão. Entendendo a mensagem, Diana continuou explorando o prazer que emanava entre elas até seu ápice.
*******
O rompante de paixão entre Natalia e Diana pareceu ser apenas uma trégua no dilema que as afastava. Antes de se despedirem na faculdade a tensão entre elas ficou evidente:
-- Precisamos conversar Nat o quanto antes.
-- Eu sei Di. Mas, marquei de me reunir com o grupo de estudo, próxima semana começa as provas, tenho muito assunto acumulado com essas faltas que tive.
-- Tudo bem. Tenho assuntos de trabalho para resolver também, agendar eventos, enfim, todos esses dias não trabalhei, preciso me organizar para as provas também. Então nos falamos em casa mais tarde?
-- Claro.
-- Você vai ao hospital hoje? – Diana perguntou disfarçando a apreensão do tema.
-- Eu preciso ir. Lucas já me ligou mais cedo perguntando.
-- Você quis dizer cobrando não é?
-- Di, eu sei que toda situação é complicada, que você está magoada com a reação do Lucas. Mas, lembre-se que ele está se sentindo enganado e só quer proteger o irmão. Se a situação fosse outra, você faria o mesmo por eles não?
-- Nat eu não sei. Nesse momento, a única reação que me interessa é a sua.
Diana deixou Natalia com um sentimento de despedida, de término de um ciclo. Interiormente sua decisão estava tomada desde que entrou no campus falando ao telefone com Natalia.
O tom misterioso da afirmação de Diana foi para Natalia um prenúncio de que o conflito instalado chegara ao ponto de opções cruciais para ambas. Por isso, apesar de todo seu esforço, naquela tarde suas tentativas de voltar a atenção aos estudos foram em vão. Toda sua concentração estava direcionada para seus próximos passos naquela comédia grega que sua vida se transformara.
Cansada de lutar contra seus pensamentos, Natalia recolheu seus livros e seguiu para o hospital. Seu desejo era fugir de novos encontros com Pedro e sua família, no entanto, seu sentimento de gratidão se transformara em uma obrigação moral, e contra ela, não se sentia à vontade para combater.
Como esperado, foi recebida com o carinho e atenção extremados por todos. Excepcionalmente por Lucas que exagerava nos gestos diligentes. Pedro já estava em um quarto na enfermaria, recebera alta da unidade semi-intensiva.
-- Pessoal será que posso ficar alguns instantes a sós com minha namorada? –Pedro pediu.
-- Claro meu querido! Que falta de tato o nosso... Fiquem à vontade, vamos à cantina. – Laura avisou.
O mal estar de Natalia era óbvio. Mal conseguia encarar Lucas. Entretanto, o desconforto maior era sem dúvida com Pedro.
-- Não precisa ficar sem graça, vem cá, fique perto de mim.
Pedro se acomodou melhor no leito, abrindo espaço para a moça sentar-se ao seu lado.
-- O Lucas me contou sobre esse cara que vem te perseguindo. É por isso que você está tão nervosa? Ou você tem mesmo esse jeitinho acuado?
-- Nervosa?
-- É... Minhas lembranças não são grande coisa, mas o que me lembro de você, ou seja, desde ontem, você me parece tensa, tímida pelos cantos...
-- Bom você correu risco de vida para me salvar, e supostamente esse cara ainda está por aí, acho que tenho motivos para ficar tensa não acha?
-- Sim tem.
O rapaz segurou a mão da sua suposta namorada e falou afetuosamente:
-- Eu vou sempre te proteger. Você já viu que sou cabeça dura, e já que não me lembro de ter feito nada pra te ajudar... Você ainda tem créditos comigo! Pode usar seu “vale-salvamento” com seu namorado aqui.
Pedro brincou. A brincadeira não relaxou Natalia, pelo contrário deixou-a mais tensa. Ele insistiu:
-- Estou do seu lado pra tudo, se fiz isso por você, é porque você vale a pena.
Pedro segurou o rosto de Natalia e se aproximou para beijá-la, inerte, a moça se apenas se deixou beijar, sem esboçar resistência ou retribuição ao gesto.
O beijo que nada representou para Natalia, para Diana que o assistiu silenciosamente quando abriu a porta do quarto foi a evidência mais conclusiva sobre a sustentabilidade daquela mentira.
-- Oi Diana!
Pedro exclamou empolgado ao afastar os lábios de Natalia.
-- Oi, desculpe-me, não queria atrapalhar. – Diana disse visivelmente deslocada.
-- Não atrapalha nada! Entra aí!
A passos lentos a loirinha entrou evitando olhar para Natalia que desejava que o chão se abrisse para mergulhar nele.
-- Só passei pra ver como você estava Pedro, mas preciso ir agora, tenho uma sessão de fotos daqui a pouco...
-- Eu também preciso ir, muita coisa pra estudar. Você me dá uma carona Diana? – Natalia perguntou.
-- Desculpe Natalia, estou indo para o lado oposto da sua casa. Com licença.
Diana deixou o quarto sem graça, foi seguida pela namorada que se despediu rapidamente de Pedro surpreso com a sua pressa. Natalia alcançou Diana no corredor:
-- Diana! Espera.
-- Natalia, eu estou com pressa, volte e fique lá com o seu “namorado”.
-- Ei!
Natalia segurou o braço da namorada indignada.
-- Você não vai sair assim.
Diana revirou os olhos. Natalia a puxou para uma sala, um consultório vazio.
-- Ok, o que você vai me dizer? Que não foi nada disso do que eu to pensando?
-- Não foi mesmo! Não significou nada.
Diana suspirou fatigada.
-- Olha só Natalia, não vale a pena.
-- Como assim? Do que você está falando? O que não vale a pena?
-- Esse desgaste, essa pressão. Não estou acostumada com isso, e pra mim já chega.
-- Chega? De que?
-- Do nosso namoro Natalia. Acabou.
-- Você só pode está brincando comigo.
-- Não Natalia eu não estou. Não é esse tipo de relacionamento que quero. Não vale a pena arriscar minha amizade com os meninos por um namoro de dois meses. Nesse tempo parei minha vida, praticamente não trabalhei...
-- Diana se isso for brincadeira não tem a menor graça...
Os olhos de Natalia marejaram, sua voz trêmula tocou Diana que por um momento hesitou em continuar seu plano de deixar Natalia livre para Pedro, desviando o olhar falou:
-- Natalia eu não vou ser um empecilho na recuperação de Pedro, ele te ama, se arriscou por você, nada mais justo que você fique do lado dele agora. É muita coisa sendo colocada em risco por um namoro tão recente.
-- É isso que sou pra você? Só um namorinho recente? Como assim é justo que eu fique com o Pedro? E o que eu sinto não importa? E o que nós sentimos uma pela outra não vale a pena? Diana eu estou apaixonada por você!
Diana empalideceu, por dentro vibrava com tal declaração, sua vontade era gritar que também estava apaixonada por Natalia, mas não se permitiu isso. Tinha um propósito depois de refletir toda aquela situação e ia segui-lo, julgando que era o melhor para todos.
-- Eu entendo você achar que está apaixonada por mim. Está traumatizada com homens, sou sua primeira experiência lésbica, mas vai passar quem sabe você até descubra que não goste mesmo de mulheres...
-- Eu não admito que você reduza o que nós vivemos a uma experiência comum assim, sem importância.
-- Não me entenda mal, é claro que teve sua importância... Mas, não vale a pena arriscar coisas mais importantes...
-- Cala a boca Diana!
Natalia se aproximou da namorada bruscamente.
-- Você está mentindo pra mim... Não é isso que você pensa! Eu sei te ler, nos amamos hoje a tarde Di... Eu sei que você sente o mesmo que eu. Vamos sair daqui e dizer toda a verdade para o Pedro e a família dele, pronto está decidido, mas, para de encenar.
A proximidade e o discurso emocionado de Natalia estremeceram Diana, que notando o perigo se esquivou.
- Eu sei que é difícil aceitar Natalia, mas essa é a verdade. O Pedro precisa de você, e você deve isso a ele.
- Eu estou apaixonada por você sua idiota!
Diana engoliu seco. Com a voz trêmula usando uma força herculínea declarou:
- Paixões são passageiras caipira. Desde que me apaixonei por minha melhor amiga na adolescência devo ter tido uns quatro “amor da minha vida”. Você vai me esquecer logo.
Diana saiu desenfreada pelo corredor do hospital não conseguindo mais conter as lágrimas que estavam presas durante a conversa com Natalia. Desconhecia a dimensão daquela dor, tinha esperança que seu próprio discurso enganoso tivesse um fundo de verdade e aquele sentimento fosse passageiro, mas, experimentando aquela sensação de vazio dilacerante teve a triste certeza que não seria fácil seguir com sua decisão.
Fim do capítulo
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