Capitulo 4
Às vezes você vê coisas tão belas que se sente meio hipnotizado por elas. Bem, é assim que me sinto no momento, hipnotizada. O rosto que eu tanto queria ver era constituído de traços fortes e suaves ao mesmo tempo. O nariz delicado e a boca com lábios levemente cheios me chamaram a atenção, seus cabelos negros repousavam em seus ombros, ela usava um gorro azul, seu braço direito em uma tipoia, a impressão que tenho é que ela está dormindo tranquilamente e acordará a qualquer momento.
— Emma? — Ouço Penélope me chamar.
— Sim?
— Você precisa conversar com ela, querida.
— Claro, claro… — Confesso que eu não sabia o que dizer, então comecei com o bom e velho comprimento da família Clark. — Oi! Sou Emma Clark e estou aqui para lhe fazer companhia por um tempo, bem para todos os efeitos sou sua dama de companhia. — Digo rindo e Penélope faz um sinal de positivo, ela parece ter gostado da minha atitude.
— Olá querida. Lembra de mim? Sou a enfermeira que ficou com você ontem. Hoje não poderei ficar com você durante a manhã, mas voltarei à tarde, enquanto isso Emma ficará aqui com você. Ela parece ser o tipo de pessoa que tem várias histórias para contar. — Penélope se vai e quarto fica em total silêncio.
— Então, isso é meio maluco — começo a falar novamente. — Sabe, eu não sei se você quer realmente conversar ou está pedindo internamente para que eu fique de boca fechada, mas prefiro acreditar que você quer me ouvir falar. Nós não nos conhecemos de um jeito muito normal, bem sou a garota do carro em que você resolveu se chocar violentamente. Pensei que você fosse um urso. Sei que ursos são bem raros nessa região, mas qual é?! Você parecia enorme naquele momento, eu fiquei apavorada. Agora você deve estar se perguntando a razão que me trouxe até aqui. Bem, eu não tenho essa resposta, eu só sinto que devo ajudar você, por isso me tornei voluntária e estou aqui para deixar seus dias menos chatos ou mais chatos ainda, depende do ângulo que você veja isso. — Falei durante horas, estava esperando que a qualquer momento a mulher mistério acordasse e me mandasse calar a boca, mas nada aconteceu. Penélope voltou no final da manhã, exames seriam realizados para tentar identificar alguma melhora. Me senti um pouco frustrada estava gostando de ficar ali, me despedi das duas e fui para o trabalho onde recebi as reprovações de Jennie.
— Emma, por Deus onde você se meteu? — Ela fala exasperada.
— No hospital, estava fazendo trabalho voluntário.
— O quê?
— Trabalho voluntário Jennie, ajudar o próximo, fazer algo por alguém.
— Sei o que significa. Eu só não sei a razão que levou você a fazer esse tipo de trabalho.
— A mulher que atropelei, estou fazendo companhia para ela durante a manhã.
— Emma, eu não acredito nisso! Você enlouqueceu de vez? Deixe essa mulher para lá, você não teve culpa nenhuma.
— Quero e vou ajuda-la. Agora será que você pode me deixar trabalhar?
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No dia seguinte, no mesmo horário eu estava no quarto da Mulher Mistério, dessa vez trouxe livros e um MP4 com minhas músicas favoritas. Li para ela “Um amor de Detetive” de Sarah Manson, é um livro de comédia romântica, comecei a gargalhar na primeira linha lida. Mais uma vez o tempo voou, na hora do almoço Penélope retornou e eu tive que ir para a floricultura, mas antes expliquei a ela sobre o MP4, fiz várias play lists para que a mulher mistério ouvisse em determinados momentos do dia, principalmente quando estivesse sozinha, Penélope adorou a ideia.
Esse foi meu roteiro durante as últimas seis semanas, eu ia para o hospital pela manhã e à tarde trabalhava, as vezes almoçava com Dome ou Jennie e por duas vezes encontrei com Michael, ele continuava viajando muito e quase sempre discutíamos devido ao trabalho voluntário, imagine só a guerra que será caso ele descubra que estou pagando o hospital, como ninguém se responsabilizou, ela acabaria sendo transferida para um hospital menor e isso não seria bom. Dome é a única que me apoia, suspeito que grande parte desse apoio se deva por Paige, ela está obcecada pela médica, seu novo passatempo é tentar conquista-la. Ela mandou flores, fez convites para almoço, jantar e até para o chá, mas Paige recusou os convites e devolveu as flores, porém nada conseguiu desanimar Dome, a cada “NÃO” que ela recebia mais insistente ela ficava.
— Ela não aceitou o chocolate também. — Dome diz enquanto desce as escadas com uma caixa de chocolate em mãos, eu estou no sofá usando o pijama que ela odeia.
— Você devia simplesmente desistir.
— Não desistirei, enquanto não levar aquela médica para minha cama e faze-la gem*r sem pudor!
— DOME!
— O quê? Falei isso alto? — Ela ri.
— Infelizmente sim. Você está se comportando como um romântico clichê com todas essas flores, chocolates e convites. Qual será seu próximo passo, realizar uma serenata em baixo da janela da doutora? — Digo rindo, mas não sou acompanhada por Dome, que no momento tem uma expressão confusa no rosto.
— E isso! Emma, você é um gênio! — Dome diz pulando em cima de mim.
— O quê? Você não está pensando em fazer uma serenata, está?
— Homem… Talvez.
— Dome, isso seria o cúmulo do ridículo. — Olho para ela e vejo uma expressão travessa em seu rosto. — Você não desistirá da serenata, não é?
— NAOOO…
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Hoje faz dois meses que comecei a visitar a Mulher Mistério, ela continua a dormir, nesse meio tempo já li três dos meus livros favoritos para ela e contei sobre as tentativas malucas de Dome para conquistar Paige, espero que a Mulher Mistério não tenha nada contra lésbicas e não ache Dome maluca.
— Dominique atacou novamente — digo enquanto fecho o livro que estava lendo e me sento mais confortavelmente na poltrona perto da cama. — Lembra que falei sobre a operação “Serenata”? Bem, foi um verdadeiro desastre. Primeiro Dome não canta muito bem, na verdade ela é péssima. Segundo ela cantou na janela errada. Terceiro, uma Senhora de 55 anos achou esplêndido uma jovem de 25 cantar em baixo de sua janela e chama-la de gostosa. Agora Dome está trancada no quarto há uns dois dias. — Começo a rir ao me lembrar da expressão de Nicole, ela estava tão vermelha quando chegou em casa, seus cabelos estavam mais alvoroçados que o normal. Minha gargalhada toma conta do ambiente, mal consigo abrir os olhos devidos as lágrimas causadas pelo riso excessivo e seguro minha barriga que começa a doer devido às gargalhadas. Começo a me recompor aos poucos, de repente tenho a sensação de estar sendo observada, me levanto rapidamente olhando em direção a porta, esperava ver Penélope ou algum médico, mas não tinha ninguém, porém a sensação permanecia, foi aí que me virei para a cama, a minha frente, meus olhos procuraram a Mulher Mistério e lá estava ela com os olhos abertos, olhando-me com tanta intensidade que me senti intimidada. Minha expressão deve está cômica. Tenho a boca aberta pela surpresa, o rosto vermelho devido ao riso descontrolado, os olhos exageradamente arregalados e hipnotizados pelo verde dos seus. Seu olhar permanece em mim como se ela pudesse ver todos os meus segredos. Em questão de segundos seu olhar se torna frio, o verde intenso fica opaco, seu nariz começa a sangrar e uma expressão de dor toma conta do seu rosto, mas ela não emite nenhum som. Corro e aperto a campainha de emergência, rapidamente um médico e duas enfermeiras entram no quarto e eu sou expulsa do local, antes de ser completamente arrastada encaro a Mulher Mistério mais uma vez, ela também está olhando para mim, e percebo que ela não ficará acordada por muito tempo, um desespero insano me invade, um medo surreal de que ela não desperte novamente, e que eu nunca mais consiga ver o verde daqueles olhos outra vez.
Fim do capítulo
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