Capitulo 1
— EMMA… EMMA… ACORDE!
— Humm… Pare com isso!
— Estamos atrasadas, sua irresponsável! — Sinto meu cobertor sendo puxado, a cabeleira revolta e avermelhada da minha irmã está combinando com o tom rubro de suas bochechas.
Dome está gritando a mais ou menos quinze minutos, ela provavelmente bebeu demais e esqueceu que hoje é domingo, eu poderia ter avisado sobre esse detalhe, mas vê-la se arrumar de forma frenética é bem mais divertido.
Levanto em meio ao caos criado por uma Dome de ressaca, são 9:00 da manhã, o dia está perfeito em San Francisco o clima do Mediterrâneo traz uma brisa fresca e suave. Dirijo-me ao banheiro, retiro meu confortável pijama com estampa de flores vermelhas, que na opinião de Dome é o cúmulo do mau gosto, preciso esconde-lo todos os dias em lugares diferentes, pois ela sempre tenta se livrar dele, sua última tentativa envolvia molho de churrasco e maionese, segundo ela seria completamente acidental.
— Emma anda logo, já passa das 9:15. — Dome dá socos na porta do banheiro enquanto seguro uma gargalhada. — EMMA CLARK. — Ela grita mais uma vez.
Tomo banho por mais de 30 minutos, Dome deve ter gasto todo seu arsenal de palavrões após me ofender em alemão, russo, italiano e chinês.
Ter uma irmã como Dominique é uma bênção e também uma maldição. Passar pelos prazeres e desprazeres da adolescência foi desafiador, principalmente tendo ela como minha conselheira amorosa. Apesar de ser mais nova, Dome descobriu tudo antes de mim, aos 12 anos ela beijou seu primeiro e único garoto, com 13 ela beijou sua primeira de muitas garotas, enquanto a mim, beijei meu primeiro cara com 15 e nunca beijei uma garota. Agora aos 27 estou noiva de um homem adorável, gentil, educado e sensível, infelizmente está viajando pelo país para divulgar os negócios de sua família, sinto falta de poder estar com ele, porém tento ser compreensiva, afinal estaremos casados em breve, e a distância não será mais um problema.
Visto um roupão e saio do banho, encontro Dome na cama em posição de lótus, ela abre um dos olhos e respira profundamente.
— Sabe Emma, eu estava aqui imaginando uma forma de matá-la sem levantar suspeitas, mas antes você precisa me declarar como sua única herdeira.
— Muito engraçado, Dominique! — Digo indo em direção ao closet.
— Você sabia que eu estava bancando a idiota e mesmo assim não me avisou que não era segunda. Eu só descobri porque a Senhora Karter está trajando aquela camisola ridícula que ela sempre usa aos fins de semana para trans*r com o Senhor Karter.
— Dome, a vida sexual do Sr. e Sra. Karter não devia ser de seu conhecimento.
— Está brincando? Ouço os dois lá do meu quarto, eles sempre fazem sex* sábado e domingo à noite, usam brinquedinhos e....
— Chega! — Dome ri. — Bem, eu não deixei que se arrumasse à toa, visitaremos Amélia. ela irá adorar uma visita surpresa.
— Já estou até vendo o enfarto que causaremos naquele velho coração.
— DOME!
— Ok, ok… Você sabe que amo aquele saco de rugas. Seja rápida, esperarei lá embaixo, não quero estragar minha manhã vendo esse seu traseiro branco.
Escolho um jeans qualquer, não é preciso muito para um domingo em família, encontro dome na sala comendo uma maçã e vendo TV, ela também está usando jeans, o seu tem um tom escuro, sua blusa é de um amarelo desbotado e possui um decote maior que a minha, seu cabelo está apontando para todas as direções possíveis, ela é bonita de um jeito único. Vou até à cozinha e preparo torradas, como tudo rapidamente, a casa de Amélia. não é exatamente perto, ela preferiu morar em uma área mais afastada da cidade.
— Pronta? — Pergunto a Dome que mexe no celular distraída.
— Sempre pronta.
Vamos até à garagem e meus olhos se enchem de alegria ao verem meu lindo Honda Fit, entro e logo sinto todo conforto do seu espaço amplo, Dome revira os olhos enquanto coloca seus óculos escuros, para ela meu carro é muito "mocinha”, mas já que sua Picape está na revisão ela terá que aguentar.
— Você olha com mais desejo para esse carro do que para Michael.
— Você sempre baseia tudo em desejo?
— Só estou dizendo que falta química entre vocês dois.
— Temos muita química! Nosso amor é tranquilo e paciente.
— Quantos orgasmos ele te proporciona?
— DOME!
— Emma, é necessário ter um orgasmo vez ou outra, isso liberta a alma. Liza estava comentando que gostaria de lhe proporcionar um, já que você tem cara de quem não sabe o que é isso.
Vou o resto do caminho em silêncio, Dome é tão grossa às vezes, ela sempre faz comentários maldosos constrangendo a mim e Michael, ambos não se dão bem, Dome é sempre provocativa, Michael apenas se mantém paciente e centrado.
Duas horas depois chegamos a estrada de terra que leva a casa de Amélia., o dia está quente e o sol reina grandioso no céu. Em poucos minutos avisto os primeiros traços da casa, não consigo parar de me impressionar com a beleza da mesma. Antes um celeiro, suas paredes foram demolidas e a estrutura ganhou um revestimento de painéis de cedro, dando um aspecto rústico e moderno, a casa ainda conta com pequenos arbustos cortados em forma de esfera e uma linda varanda, Amélia escolheu tons avermelhados para a casa, definitivamente vermelho é a cor dela.
Avisto a figura baixa de cabelos grisalhos antes mesmo de estacionar, ela está com um pano de prato em mãos e com seu avental especial para macarronadas, presente de Dome, parece que escolhemos um excelente dia para visita-la.
— Que bons ventos as trazem? — Amélia nos abraça e beija nossas bochechas.
— O ar aqui é tão puro que tenho medo de passar mal com tanto oxigênio.
— Dominique, você está sempre reclamado. Não é a ausência de álcool que está provocando esse mau-humor, é?! — Dome revira os olhos. — Emma, querida, você está linda.
— Ela está linda e eu estou com cara de quem está sofrendo de abstinência? Você é muito gentil Amélia.
— Ora Dominique, eu mal vejo seu rosto devido a essa quantidade absurda de cabelo.
— E minha marca registrada, sou como uma leoa, as garotas adoram.
Amélia dá uma sonora gargalhada enquanto nos guia até a cozinha, a enorme mesa de madeira está repleta de potes com diferentes temperos.
— Como vai Michael?
— Bem, no momento ele está em Boston e ainda demora umas semanas para voltar.
— Você devia aproveitar esse tempo e arranjar um amante.
— Dome, eu amo Michael e jamais o trairia.
— E só para você viver algo diferente Emma, você sabe, experimentar uns orgasmos selvagens.
— Você não pensa em nada que não seja orgasmo? Amélia, por favor me ajude!
— Orgasmo é importante! — Amélia comenta fazendo Dome gargalhar.
— AMÉLIA!
O almoço ocorre cheio de piadas sobre o desempenho sexual do meu noivo, Dome não cansa de diminui-lo. Michael não é exatamente um amante selvagem, somos controlados, o que de certa forma funciona bem para nós dois, nunca fui acometida por intensas paixões, acredito ter tido sorte de encontrar o amor primeiro, e no fim não é isso que as pessoas realmente buscam? Amor?!
Ainda existem vazios em mim que nem mesmo Michael conseguiu preencher, talvez sejam apenas dúvidas a respeito do futuro, mas o casamento me dará a certeza de que tudo esta certo e em seu lugar.
— Emma, vamos! — A voz de Dome me tira dos meus devaneios.
— Estou indo. — nem mesmo notei quando saíram da cozinha.
O dia passou rápido, a noite já começava a se fazer presente, beijo e abraço Amélia e entro no carro, vejo Dome abraçá-la, mas antes de se afastar completamente bagunça seu cabelo, Amélia fica rubra e Dome corre em direção ao carro.
— Ande logo Emma, antes que ela me alcance.
Pegamos a estrada principal ainda ouvindo os palavrões desferidos por Amélia, Dome não tira o sorriso do rosto, ela sabe que terá volta, mas para ela o risco sempre vale a pena.
Uma chuva torrencial começa a cair, o tempo aqui é sempre bipolar, às vezes se têm um sol escaldante, para minutos depois o céu se transformar completamente nos presenteando com chuva por horas a fio. Diminuo a velocidade por questão de segurança, o asfalto está um pouco escorregadio. Dome dorme tranquilamente enquanto baba no próprio ombro, a cena me faz querer dar risada… E, é aí que acontece. Meus olhos nem sequer conseguem registrar o primeiro ato, tudo que consigo ver é algo grande rolar sobre o capô do carro, coloco os dois pés sobre o freio fazendo o veículo deslizar para o acostamento, depois de alguns segundos consigo recuperar o controle. Meu coração bate forte, abro a porta do carro e saio correndo em direção a forma misteriosa que atropelei, espero que não seja um urso, doei 50 dólares para uma ONG que luta pela segurança deles, imagine só atropelar um.
— Emma o que houve? — Dome vem correndo atrás de mim.
Vou na direção da minha vítima, minhas pernas estão tremendo, e quando em enfim descubro a forma do que atropelei, eles tremem ainda mais, para minha surpresa não é um urso ou qualquer outro animal selvagem.
Vejo uma mulher totalmente desacordada, usando apenas calcinha e sutiã, ela tem cabelos negros que cobrem seu rosto e sua pele é muito, muito, muito branca.
— Caramba, Emma! — Dome diz levando as mãos a cabeça.
— E… El… Ela se jogou na frente do carro, eu não vi, eu juro que não vi. — Começo a andar de um lado para o outro, meu rosto fica ensopado pelas lágrimas e pela chuva.
— Fique Calma! Ligarei para a emergência. — Dome vai até o carro pegar o celular.
Fico ali sozinha, olhando para aquela mulher… E se ela tiver morrido? Será que irão me prender? Oh Céus! … Emma Clark, você é uma assassina.
Fim do capítulo
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Rizzardi
Em: 08/12/2021
Amei, amei, amei... Muito interessante, altamente divertido, acima de qualquer coisa, intenso, muito intenso. Ele toca-nos mesmo, mesmo no fundo da alma. Foi difícil segurar as emoções. Senti medo, o coração parou mais de não sei quantas vezes... As partes finais causam calor e frio ao mesmo tempo...
Parabeniza-la seria pouco. Tem uma verdadeira arte dentro de si, não entendo muito de literatura, mas sou amante da leitura e para mim é uma auténtica escritóra.
Sucesso, felicidades... Continue a brindar-nos com um dos seus talentos... " O amor pela escrita"
Um forte abraço...
Tudo de bom...
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