Assunto delicado. Apesar de não ser bem descrito o que aconteceu pode causar algum tipo de gatilho em algumas pessoas. Então aconselho a que não se sente bem com o assunto sobre abuso sexual que não leiam. Ou pulem a parte que é contada.
Para mim foi uma vitória conseguir escrever isso sem derramar uma lágrima por coisas que já passei. Minhas feridas foram curadas e se as suas não foram ainda procurem ajuda.
Beijo no coração e boa leitura.
Capitulo 64
Capítulo 64º
Rebeca
O clima descontraído durante o jantar não me fez esquecer o assunto que preciso tratar com tia Nina. Isso tem me perturbado muito e estou decidida a saber o que houve de verdade, já que percebi que minha mãe me contou apenas uma parte da história.
Amélia me olhava como se soubesse o que eu desejava e seu olhar era de pura repreensão. Mas vi o momento certo e acabei perguntando se poderíamos conversar. Tia Nina concordou e me acompanhou até o escritório de Amélia.
- Está tudo bem? – indagou sentando-se ao meu lado.
- Sim. Eu só estou com uma coisa martelando a minha cabeça.
- O que houve?
- Estive em Ouro Preto semana passada. Fiquei uma semana na casa dos meus pais. – ela se ajeitou na cadeira. – Minha mãe me contou a versão dela de como vocês se afastaram.
- E agora você quer escutar a minha versão?
- Não. Só acho que ela não me contou a história toda, e eu preciso da história toda. – afirmei.
- O que ela disse?
- Que a senhora acha que ela quem contou ao vovô sobre você e a tia Maria. – ela deu um amargo sorriso. Percebi que aquela não era a verdade.
- Rebeca, já se passou tanto tempo. Certas coisas devem ficar aonde estão. Essa história deve ficar no passado. Nada que venha dela pode trazer boas coisas.
- Nem mesmo você voltar a falar com a mamãe? Ela sente sua falta, eu sei que sente. Não só de você, mas também da tia Maria. Ela ainda tem a foto de vocês três.
- Não pense que para mim é fácil ficar sem contato com ela. Até mesmo com vocês antes de ficarem adultas. Seu pai proibiu.
- Tia, meu pai é preconceituoso. Invadiu minha casa para me dizer que meu relacionamento com a Alice é uma pouca vergonha.
- Não permita que ele separe vocês, aquela menina te ama.
- Eu sei. Não vou permitir. Mas eu preciso saber o que houve.
- Rebeca, a verdade é que...- se pôs de pé. – Eu não posso dizer, jurei a sua mãe. Seria perigoso demais para mim.
- Como assim perigoso? Meu pai te ameaça, é isso?
- Hoje não mais. Mas sim. Ele me ameaçou, por isso viemos embora para cá.
- Mas por quê? O que você sabe que é necessário ficar longe da sua irmã e de suas sobrinhas.
- Eu acho melhor terminarmos essa conversa aqui.
- Não. Eu preciso saber a verdade. E algo me diz que isso tudo tem a ver comigo. Então preciso saber o que é.
- Rebeca. A verdade é que você é minha filha. – afirmou e eu levei um balde de água fria.
- O que...o que você está dizendo? – busquei a cadeira para sentar.
- Isso mesmo que você ouviu. A única verdade é essa. Você é minha filha.
- Não, isso é impossível. Eu sou a cara da minha irmã, como posso ser sua filha?
- Eu sou a cara da minha irmã também. E vocês tem muito do seu pai.
- Espera! Você está querendo dizer que eu sou sua filha, mas com o mesmo pai que Amélia?
- Exatamente. – ela se aproximou sentando-se perto de mim. – Você queria a verdade, essa é a verdade.
- Mas como isso é possível? Você gosta de mulher. Sempre gostou.
- Você quer mesmo saber?
- Lógico. – afirmei.
- Maria e Carmem sempre foram amigas, e eu acabei me apaixonando por Maria. Carmem sabia das preferências dela e mesmo assim nunca se importou com isso, quando eu contei o que estava sentindo. Ela ficou ao meu lado e nos ajudava nos encontros as escondidas. Mas o seu pai, descobriu e contou aos nossos pais. Aquela noite o jantar foi regado a gritos meus, e choro da minha mãe. Tentando em vão controlar a fúria do seu avô. – ela respirou fundo, secando as lágrimas que insistiam em cair. Percebi que aquilo ainda a abalava muito. – Carmem se sentia culpada pelo que ele fez. E com isso acabou terminando o namoro que tinham. Mas ele convenceu seu avô que havia tirando a virgindade da sua mãe e naquela época isso era um enorme tabu. Como ele foi assumir, claro que o nosso pai acredito na palavra dele ao invés da filha. Mulheres não tinham voz. Como resultado eles casaram, mesmo contra a vontade de Carmem. – ela parou novamente, parecia reviver todas as cenas. – Não demorou e sua mãe engravidou de Amélia. Eu continuava tentando manter meu relacionamento com Maria, mesmo com o meu pai tendo arrumado um pretendente para mim. No final o cara era gay, e isso foi um ótimo disfarce para nós dois. Alguns anos depois em um descuido meu, seu pai conseguiu entrar no meu quarto. Já que na época morávamos todos na mesma casa.
- Para. – pedi imaginando o que ela iria dizer a seguir.
- Se quiser posso mesmo parar. – segurou minha mão.
- Não, eu comecei quero ir até o final.
- Bom, ele me forçou aquela noite. Dizendo coisas sobre como me ensinaria a não ser uma abominação. Que eu precisava de um homem de verdade. – a voz dela falhou. Cada palavra que disse era como cortar minha pele com uma navalha. – Depois que ele terminou, me deixou estirada na cama. Eu me senti suja, não só por ter sido ele. Mas por não ter conseguido me defender. Por estar traindo a mulher que eu amava. – levantou-se ficando de costas para mim. – Alguns meses depois sua mãe anunciou que estava grávida do segundo filho. E eu já sabia que também estava, a barriga já aparecia. Mas não contei a ninguém, pois meu pai me obrigaria a casar com o rapaz que eu estava supostamente namorando. Por muitos dias a culpa me correu por inteira. Até que não aguentei mais e contei sobre a gravidez a Carmem. Mas quando ela indagou quem era o pai, eu comecei a chorar desesperada, pedindo desculpas, dizendo que não tive culpa. E assim não foi difícil ela perceber o que eu tentava contar. Naquela noite ela discutiu com seu pai. Os dois tiveram uma briga séria. O que resultou em um aborto. Seu pai me culpou pelo que aconteceu. E disse que eu daria você para que eles criassem.
- Mas como? Vocês moravam na mesma casa.
- Seu pai conseguiu um emprego aqui. E com a desculpa de que eu iria estudar e me manter longe de Maria, ele convenceu seu avô a me deixar vir com morar com eles.
- Mas ele te abusou outras vezes?
- Não. Carmem dormia comigo todas as noites. Quando você nasceu, ele me fez jurar que eu jamais contaria essa história a ninguém. Pois caso o contrário ele iria matar Maria. E eu não poderia permitir que isso acontecesse. Em Ouro Preto, todos acreditavam que sua mãe ainda estava grávida, por isso ninguém nunca desconfiou. Depois disso eu decidi que iria lutar pelo amor de Maria, nem que para isso precisasse esquecer a minha família. Rebeca, te entregar foi a coisa mais difícil que eu já fiz. – falou tocando minha mão.
- Não. Não me toca. Essa história é uma loucura, não acredito que meu pai seja esse monstro. Não acredito que você seja minha mãe. – indaguei com a voz baixa.
- Essa é a verdade.
- Eu preciso ir embora. – me pus de pé. Me senti um pouco tonta.
Abri a porta e mesmo escutando tia Nina me chamar não parei. Eu precisava sair dali, precisava respirar. Tinha algo prendendo meu ar, me impedindo de oxigenar meu cérebro. Chamei Alice para me acompanhar. E perdi o controle quando escutei tia Nina me chamar de filha. Aquela palavra pesou sobre mim. Depois de gritar para que ela não me chamasse assim, Alice percebeu que eu não estava bem e me tirou de lá.
Senti o conforto do estofado do banco do carro me aquecer. Era muita coisa, era coisa demais. Coisas absurdas até mesmo para o meu pai. Não que ele fosse um santo, afinal tenho percebido o tipo de homem que ele é. Mas um abuso? Um abuso com a cunhada? Era demais. Meu estomago revirou, fechei os olhos respirando fundo tentando me acalmar. Minhas mãos estavam frias.
- Desculpa por aquilo. – falei ainda com dificuldade, pois as lágrimas insistiam em cair.
- Não precisa se desculpar. Você está bem? – indagou e sabe aquele momento que nada está bem e quando alguém pergunta sua única vontade é chorar? Foi isso que senti.
- Não. Parece que o ciclo de coisas ruins na minha vida não tem fim. – confessei.
- O que houve, amor? – ela estava preocupada.
- O que houve é que a tia Nina acabou de me contar uma história absurda. – voltei a chorar novamente.
- Calma, respira fundo. Não precisa me contar o que ela disse.
- Preciso, preciso por que eu vou explodir se não falar para alguém.
- Tudo bem. O que ela disse?
- Que é minha mãe.
Alice freou o carro abruptamente. Eu já não conseguia mais controlar meu choro. Apertei minha cabeça tentando controlar todas as vozes que apareceram. Com ideia de ser fruto de um abuso. A vergonha apenas em contar aquilo a Alice. Era demais para mim. Senti seus braços me embalarem em um abraço apertado. Assim me permiti chorar ainda mais. Levei alguns minutos até que consegui ao menos me controlar.
- Está tudo bem? – ouvi um dos seguranças bater no vidro do carro.
- Sim. Nós estamos indo. – Alice falou. – Você está bem? Podemos ir para casa? – não consegui falar nada, apenas confirmei gesticulando a cabeça.
Acompanhei as luzes pela janela, sem interesse algum no percurso feito. Quando percebi já estávamos na garagem de casa. Alice me esticou a mão, mas eu não consegui segurar. Ela me olhou sem entender nada. E eu apenas fechei os olhos enquanto o elevador nos levava para o último andar.
Eu estou com nojo de mim, me sinto suja. Resultado de uma atrocidade, um crime. Que o meu próprio pai cometeu.
- Amor, quer um chá?
- Não. Só preciso de um banho e dormir. – falei sem ânimo.
Segui para o banheiro. Fiquei de baixo do chuveiro tentando limpar minha alma. E por mais que eu me esfregasse ao ponto de deixar minha pele vermelha não conseguia me sentir limpa. Essa sensação é desesperada, e comecei a chorar por imaginar que foi exatamente isso que a tia Nina sentiu aquela noite em que tudo aconteceu. Passei as mãos com força nos meus braços, começando mais uma vez a chorar.
- Amor, o que está fazendo? – Alice indagou me segurando pela cintura. Meu corpo estava fraco. Eu me sentia completamente fraca. – Meu amor, você está me preocupando.
- Eu só... eu só... – não conseguia falar nada.
Alice me pegou nos braços e levou até a cama. Suas roupas estavam enxarcadas. Já que entrou no box vestida. Minha cabeça doía demais.
- Vou ligar para Letícia. Ela precisa te dar algo para se acalmar. – não consegui responder. Ela já havia saído do quarto.
Alice
A história que ela me contou de fato parece coisa de novela. Mas não acredito que seja apenas por isso que Rebeca se encontra nesse estado todo. Quando saímos do carro que tentei segurar a mão dela, e nem ao menos fez menção em aceitar foi que eu tive certeza que algo estava muito errado.
Deixei que ela fosse para o banho sozinha. Enquanto isso avisei a Amélia que já havíamos chegado. Percebi que ela estava demorando demais e fui ver se algo havia acontecido. Mas a cena que vi fez meu coração doer. Rebeca passava com força uma bucha de banho em seus braços. E seu corpo aos poucos foi escorregando em direção ao chão.
Minha única reação foi ir de encontro a ela. Sem me importar com minhas roupas e inclusive meu celular que estava no bolso da minha calça. Segurei o corpo dela e levei-a até a cama. Movida por todo o medo do que possa ter acontecido, e sem saber o que fazer decidi ligar para Letícia. Só então me dei conta do meu celular completamente enxarcado e com a tela preta.
- Droga! – falei.
Lembrei do celular de Rebeca e fui até sua bolsa procurar. Desbloqueei o aparelho e já havia mensagens de Amélia. Disquei o número de Letícia. Chamou uma vez, duas, na terceira vez ela atendeu.
- Rebeca, você está bem? – indagou aflita.
- Sou eu, Alice. Rebeca não para de chorar, não sei mais o que fazer. Ela esta nervosa demais. Você não acha melhor vir para cá? Sei lá, dá alguma coisa para ela dormir.
- Nós vamos. – escutei a voz de Amélia ao fundo.
- Obrigada. – agradeci.
Alguns minutos depois a campainha tocou. Amélia segurava Elisa que estava completamente apagada em seu colo. Letícia me olhou aflita.
- Cadê ela?
- No quarto. – indiquei a porta e ela seguiu. - Podemos coloca-la na cama do quarto de hospedes. – falei para Amélia.
- Certo.
Concordou e fomos até lá. Escutamos as vozes de Letícia e Rebeca, mas não deu para entender o que estavam falando. Amélia deixou Elisa na cama e voltamos para a sala.
- O que aconteceu, Nina contou alguma coisa? – Amélia se sentou passando as mãos nos cabelos. – Amélia, eu estou angustiada sem saber como ajudar.
- Você não pode ajudar. A coisa é maior do que tudo o que poderíamos fazer para ajudar a Rebeca.
- O que pode ser tão grave além do fato de que ela é filha de Nina? – indaguei confusa.
- Alice, o meu pai abusou da tia Nina. Foi assim que a Rebeca foi concebida. – sabe aquele programas de tv que se abre um calabouço e o participante do jogo cai? Foi assim que me senti quando recebi essa notícia.
- Isso é...- busquei a palavra certa.
- Uma loucura? Eu sei. Não consigo nem imaginar como ela deve estar se sentindo.
- Ela está envergonhada. Não quis segurar minha mão. Estava se limpando com muita força, chegou a ficar vermelha. O que vamos fazer?
- Não sei. Sabia que ela deveria ter deixado essa história de lado. Algo me dizia que não ia acabar.
- Amélia, por pior que a verdade seja, Rebeca merecia saber.
- Mas não precisava ser agora. – afirmou. – Como ela está? – indagou ficando de pé ao ver Letícia aparecer.
- Ela está muito agitada. Reclamou de dores de cabeça, e a pressão está um pouco alta. Dei algo para ela relaxar e dormir. Mas acho melhor dormimos aqui. Para o caso de algo acontecer. Você se importa? – me indagou.
- Não. De forma alguma. Até prefiro. Vou organizar o quarto para vocês.
Já passava da meia noite quando me deitei ao lado de Rebeca. Ela dormia um sono agitado, se mexia muito de um lado para o outro. Algumas vezes percebi ela conversar algo. Aquilo me despertou. Sentei na cama e velei seu sono quase toda a madrugada. O dia já estava amanhecendo quando consegui apenas cochilar.
- NÃO. NÃO FAÇA ISSO. – escutei ela gritar ao meu lado.
Assustada me sentei buscando seu corpo. Ela estava completamente banhada de suor.
- Está tudo bem, foi apenas um pesadelo. – falei me aproximando dela. – Volta a dormir, estou aqui com você.
Ela repousou a cabeça em meu peito e aos poucos voltou a dormir novamente. Acariciei seus cabelos tentando tranquilizar ainda mais seu sono. Consegui adormecer por alguns minutos. Mas o sol entrava forte pela janela. Me levantei com cuidado e fui até a janela. Fechei as cortinas. Fiz minha higiene matinal e me dirigi até a cozinha para fazer o café.
Letícia e Amélia aparentemente ainda dormiam tranquilas. Inicie os preparativos para o café. Esqueci que meu celular deu perda total na última noite. Precisava avisar a Anna e Tália o que aconteceu. Não tenho condições de ir para a faculdade e muito menos deixar Rebeca ir até a empresa.
Enquanto terminava o café, me perdi em pensamentos. E fui tirada dos meus devaneios pela campainha que começou a tocar insistentemente. Respirei fundo imaginando quem poderia ser aquela hora da manhã.
Não me preocupei com as roupas que estou vestindo. Pois lembrei do que Rebeca uma vez disse sobre pessoas que chegam sem serem convidadas e sem avisa e ainda exigem que você esteja vestida adequadamente. Para completar ainda coloquei o pano de prato no ombro.
Abri a porta e diante de mim apareceu Amélia. Em uma versão bem mais velha. A mulher me olhou de cima a baixo, julgando minhas vestimentas com certeza. Não me intimidei pelo olhar. Estava bem vestida, com grife dos sapatos aos óculos de sol que segurava nas mãos.
- Posso ajudar?
- Sim. Quero que chame a minha filha.
- Não é um bom momento. – falei e ela sorriu.
- Preciso falar com Rebeca.
- No momento ela está descansando.
- Me deixe entrar e esperar que ela acorde.
- Não é uma boa ideia. – a mulher deu um longo suspiro.
- Eu sei que você quer apenas proteger minha filha. Mas eu preciso conversar com ela.
- Mamãe? – Amélia disse ao nos avistar.
- Ótimo, você pode me deixar entrar? O pinscher raivoso não quer deixar. – comentou me encarando. Mas o jeito que ela falou não foi debochando de mim, pareceu gostar da minha atitude. Dei passagem para ela. – Obrigada. – sorriu.
- Como a senhora chegou aqui tão cedo?
- Nina me ligou ontem. Como está sua irmã?
- O que a senhora acha? – respondeu um pouco arrogante. – Ela descobriu tudo de uma forma um tanto quando delicada. Ainda mais agora. Na gravidez dela. Como puderam esconder isso?
- Amélia. Seu pai...
- Não, chega de falar dele. Você foi conivente com tudo isso.
Adorei a resposta dela. A mulher me encarou como se esperasse que eu saísse para que elas pudessem conversar a sós.
- Não adianta. A casa é delas. – Amélia disse ao perceber a intenção.
- Vou preparar o café. – disse saindo.
Não consegui mais escutar o que elas conversaram. Carmem parece ser uma mulher assustadora. Letícia apareceu na cozinha alguns minutos depois.
- O que está acontecendo? – indagou baixo.
- Sua sogra.
- Carmem está aqui?
- Sim. Acredito que veio tentar amenizar os resquícios das merd*s do marido.
- Tenho até medo de mais podres. – sentou-se.
- Café?
- Por favor. – pegou a caneca. – Ela dormiu?
- Mais ou menos. Teve pesadelo.
- Escutei ela gritando.
- Pois é. – ficamos em silêncio.
- Você é uma pessoa maravilhosa, Alice. Poucas seriam as que aguentaria tudo isso que tem acontecido na vida de Rebeca.
- Eu a amo.
- Ela também te ama. – afirmou. – Mas o momento agora é outro. Não é apenas uma gravidez. Essa história vai mexer muito com o psicológico dela.
- Eu sei. Ela não quis segurar minha mão ontem. Acredito que está envergonhada.
- Deve estar se achando suja. É normal nesses casos. – afirmou. – Ela precisa de terapia.
- Vou dar um jeito nisso.
- Oi, amor. O que ela quer? – falou ao ver Amélia entrar na cozinha.
- Amenizar o peso da culpa. – respondeu irritada.
- Vai funcionar?
- Ela não vai ver a Rebeca. – afirmei. – Vai ser outra discussão. Ela não precisa disso agora. Peça para voltar depois.
- Já fiz isso. Mas ela se recusa a ir. – respondeu cansada. – Vou só levar café para ela. – revirou os olhos.
Letícia e eu continuamos conversando. Enquanto Amélia tentava convencer Carmem a voltar outra hora. Quando percebeu que Rebeca estava dormindo demais, a mulher decidiu ir embora. Letícia nem ousou ir para sala conhece-la.
- Alguém aqui ainda vai trabalhar hoje? – questionei me sentando.
- Tenho pacientes me esperando. Mas vocês podem me ligar caso precisem.
- Eu vou ficar aqui, se não se importar. – Amélia me olhou.
- De forma alguma. – falei tranquila.
- Então, você pode deixar Elisa comigo.
- Certeza? – Letícia indagou com ar surpreso.
- Sim. Alice me ajuda a tomar conta dela. – me sorriu.
- Claro. – concordei.
Depois que Letícia saiu Amélia ficou trabalhando do escritório. Elisa dormiu boa parte da manhã. Era hora do almoço quando a campainha tocou. Elisa sorriu imitando o som. Estávamos no tapete da sala, com vários brinquedos espalhados pelo chão.
- Já volto. – falei para ela. Mas sorri quando ela com esforço ficou de pé e me esticou a mão dizendo que ia comigo. – Tudo bem. – dei de ombros.
- Sua piranha.
- Olha a língua, estou com visita. – olhei para o chão.
- Piãiah. – Elisa repetiu. Anna me olhou em seguida olhou para ela. Elisa riu e correu.
- Se perguntarem não fui eu quem ensinei. – falou entrando.
- Pode entrar. – reclamei.
- Quero saber o que aconteceu? Enfiou o seu celular no c...
- Olha a boca. – repreendi. Elisa estava parada nos olhando apenas esperando mais uma palavra para seu curto vocabulário.
- Ouvido. Ia dizer ouvido.
- Anna, aconteceu muita coisa.
- Eu sei. Tália me obrigou a vir aqui, por que disse que Rebeca também sumiu. Jurei que se vocês estivessem trans*ndo eu ia matar as duas por nos deixar preocupadas. Mas vejo que estão de babá. Aonde está Rebeca?
- No quarto. Dormindo.
- O que houve?
- Senta. – indiquei o sofá.
Comecei a contar tudo o que aconteceu e Anna estava completamente em choque. Para mim repetir tudo aquilo ainda parecia uma história surreal demais para ser verdade. Ao final minha amiga estava de boca aberta.
- E agora?
- Não sei. Isso me assusta. Ela está se sentindo culpada.
- Não é para menos. Olha o absurdo que você acabou de me dizer. É novela mexicana. Eu preciso avisar a Tália que vocês estão vivas. Em parte.
- Tudo bem. Se importa de dar uma olhada em Elisa?
- Não. Só não demora.
- Vou apenas dar uma olhada em Rebeca.
Abri a porta do quarto vagarosamente. Me aproximei da cama. Rebeca se mexeu ainda de olhos fechados. Me deitei ao seu lado. Encaixando meu corpo ao dela. Deu um longo suspiro.
- Boa tarde. – indaguei deixando meu nariz repousar na curva de seu pescoço.
- Já é tarde? – indagou com a voz rouca.
- Sim.
- Eu deveria ter ido trabalhar. – disse receosa.
- O que você deve fazer no momento é apenas tomar banho para gente almoçar.
- Estou sem fome.
- Mas não pode ficar sem comer. Amélia, Anna e Elisa estão aí. Sua irmã dormiu aqui com Letícia. Estavam preocupadas com você.
- Desculpa. Não quis dar trabalho.
- Você não deu trabalho. Só precisa tomar um banho para irmos almoçar. Levanta?
- Você vem comigo? – questionou e eu sorri.
- Sempre, meu amor. – beijei seu ombro.
Ela foi na frente. Fitou seu reflexo no espelho.
- Eu estou horrível.
- Nada disso. – falei enlaçando sua cintura. – Você é perfeita até com essa cara de sono. – ela esboçou um sorriso. – Isso, eu me derreto toda com esse sorriso perfeito. Eu te amo. – encarei seus olhos pelo espelho.
- Mesmo que eu seja fruto de um abuso sexual?
- Isso não foi sua culpa. Eu te amo. E todos lá fora te amam e se preocupam você. Ninguém se importou com o que aconteceu. Todos estão preocupados único e exclusivamente contigo.
- Eu sei. Podemos tomar banho? – mudou de assunto.
Me doí o coração ver o quanto ela está machucada com isso tudo. Terminamos o banho e saímos do quarto. Ela escolheu uma roupa folgada. Ajeitou os cabelos, antes de sairmos ela se virou para mim.
- Obrigada por cuidar de mim. Você é um achado.
- Não precisa me agradecer. Eu te amo, sempre vou cuidar de você.
Amélia sorriu ao nos ver juntas. Cumprimentou as duas e beijou a cabeça de Elisa, que pareceu entender o que estava acontecendo. Inocente levou as mãozinhas para o rosto dela segurando-o. Deu um sorriso de apenas alguns dentes e beijou a ponta do nariz de Rebeca. Anna e eu trocamos um olhar. Rebeca sorriu e beijou a menina. Foi a primeira vez no dia que ela deu um sorriso genuíno. E eu torço para que ele possa perdurar em seus lábios.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
lay colombo
Em: 17/11/2021
Coitada da Rebeca, espero realmente q ela comece terapia pq ela vai precisar
Resposta do autor:
E como vai. A situação não é fácil.
SPINDOLA
Em: 01/11/2021
Boa noite, caríssima Cruellinha.
E não é que o véi sem vergonha e escroto fez o que imaginei, ele merecia é uma bela de uma cadeia pra pagar esse crime horrendo, e sou a favor de perpétua pra caso de estupro.
Chegou a hora de você juntar ele e as duas almas penadas, kkkkkkk, e dar um fim, já estão fazendo hora extra na história e azedando a maionese, kkkk, bando de macho escroto insignificante.
O bom é que a Beca foi premiada com a apaixonante Alice, meio caminho andando para cura do coração machucado, mas com o baque forte que levou e bagunçou seu psicológico, terá que fazer terapia.
Espero que no próximo capítulo tenha a demissão do escroto Diego, feito pela Isa e pela loirinha, esse cretino não pode ficar perto da Bequinha e da Alice não, senão vai dar ruim.
Adorei o final cuti cuti iti malia.
Quero meus extraaaaaaaaaaaaaas.
Bjs
Resposta do autor:
Olá, saudades de rir com os seus comentários maravilhosos. kkkk
Cada monstro vai ter o que merece no tempo certo. Imagina só como seria mais complicado para Rebeca passar por tudo isso se não tivesse a Alice junto dela.
Eu juro que vou escrever esses extras.
Beijos.
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Marta Andrade dos Santos
Em: 01/11/2021
Vixe o pai de Rebeca é mau caráter viu.
Resposta do autor:
Certeza.
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Mille
Em: 01/11/2021
Oi autora
Situação tensa, para Nina a Rebeca.
E nossa lista vai aumentando viu kkkk
Rebeca tem o apoio da Alice, Amélia e com certeza das sogras além da ajuda psicológica. Quando ela se sentir melhor vai procurar a tia mãe, até porque com o nascimento do filho ela vai saber que a Nina não teve muita alternativa sobre as ameaças do pai crápula.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
A lista de vilões está bem extensa. kkkk
Obga por seu comentário.
Beijos e até o próximo.
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Acarolinnerj
Em: 31/10/2021
Esse capítulo foi bem tenso..
Posso imaginar como a Beka está se sentindo..
Alice é tão perfeita que posso estar apaixonada por ela ????
Essa Carmem, Fico me perguntando qual atitude essa mulher vai ter com a Rebeca. Agora ela quer conversar?
E o Pior aconteceu tudo isso e ela permanece casada com esse Lixo?
Nojo ????
Autora meu sonho é acordar amanhã cedo e ter mais 10 capítulos para minha leitura.
Estou viciada na sua história....
Xeruh
Resposta do autor:
kkk. Rebeca ganhou uma concorrente?
Mulher, meu sonho era conseguir escrever 10 de uma vez para postar ao menos metade para vocês.
Beijoss e obga pelo carinho.
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Baiana
Em: 31/10/2021
Rapaz,essa Carmem ainda teve a cara de pau de ir conversar com a Rebeca? O que iria dizer? Que a culpa foi da vítima,como sempre? Olha que eu nutri uma certa simpatia por ela,mas depois dessa,ela está no mesmo patamar do Pedro e do Diego,nenhum vale nada. E quanto ao pai,ele também previsa ter o que merece,afinal cometeu um crime
Resposta do autor:
Acredito que mesmo diante de toda a história que aconteceu, não tem como negar o amor de Mãe que Carmem sente por Rebeca. Cuidado e a preocupação sempre vão existir.
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preguicella
Em: 31/10/2021
Eita, eita, eita! Que pressão em cima das nossas mocinhas, lugar com essa situação não deve ser fácil. Manda Rebeca pra terapia pq só Alice não vai dar conta disso tudo.
Bjuuuu
Resposta do autor:
A consulta já está marcada. kkk
beijos
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