Capitulo 59
A Última Rosa -- Capítulo 59
Jessica chegou à Ilha, onde mora a família Romano, um tanto preocupada. Gostaria de poder dar meia volta e voltar para casa sem precisar enfrentar Fábio e Salete.
Tia Inês era a única irmã de sua mãe e, obviamente, se Enrico fosse uma pessoa má, provavelmente, ela apoiaria todas as atitudes de Ana Beatriz.
Apesar de tudo o que aconteceu, Enrico era o seu pai, e saber que ele tentou uma aproximação a deixou bastante perturbada. O pouco que a tia contou ao seu respeito, não era nada agradável. Ainda assim, Jessica tinha que admitir: Enrico era seu pai e Fábio seu irmão.
A balsa parou no atracadouro e os carros começaram a ser liberados. Havia uma ponte que ligava o continente à ilha, mas Michelle queria muito fazer esse passeio, pois, além das praias maravilhosas, a paisagem era diversa, com montanhas e muitas cachoeiras.
Jessica segurou a mão de Michelle e caminharam até o carro. Sabia que seu pai, que nunca conhecera, era dono de uma mansão nos arredores da ilha. Ainda não descobrira a razão que a levará a acreditar que o irmão a receberia, mas com o incentivo da noiva, prosseguiu decidida.
-- Ei moço, como chego até a Vila das Palmeiras?
-- Siga para o Norte por uns oito quilômetros. Não tem como errar. A Vila pertence aos Romano.
-- O senhor conhece a família? -- foi difícil segurar a curiosidade.
-- Tem negócios com o Fábio? -- indagou o homem, só então notando as roupas sofisticadas dela e a semelhança com Fábio Romano.
Ela achou melhor não contar que era filha de Enrico já que não tinha certeza de em quem podia confiar.
-- Não, mas gostaria de saber como ele é.
-- Alto, magro, olhos azuis e cabelos loiros como os seus -- ele pensou por alguns instantes -- Interessante -- Naquele momento a curiosidade passou para o condutor, que a observou com maior atenção -- Caramba! Como você se parece com o falecido Enrico.
Dessa vez foi Michelle quem segurou a mão da noiva e a puxou.
-- Vamos Jess, o tempo voa -- ela sorriu para o condutor e entraram no carro.
-- Obrigada, amor. Você me salvou.
Michelle deu uma gargalhada.
-- Você estava ficando toda sem jeito.
-- Então, estava esperando o momento que ele falaria para todos ouvirem: "Ei pessoal, essa aqui é a filha que o Enrico teve fora do casamento" -- ela ligou o carro e depois estendeu a mão para tocar as bochechas de Michelle -- Vamos acabar logo com isso. Hoje conheço o meu irmão, amanhã você vai depor no caso do desvio de dinheiro do banco, daqui a três dias tem o depoimento da Augusta, depois enfim, vamos cuidar de nós, dos nossos negócios, da nossa vida. Quero cuidar de você, porque você é minha vida.
A garganta de Michelle secou, e mil borboletas bateram asas no seu estômago. As palavras de Jéssica soaram tão sinceras, tão fofas.
-- E eu vou amar -- ela disse suavemente.
Enquanto dirigia para fora do estacionamento, Jessica estendeu a mão e deslizou sobre a dela. Esfregou o polegar levemente para cima e para baixo em um de seus dedos e seguiu pelas ruas tranquilas.
Michelle inclinou a cabeça de lado para olhar para Jessica.
-- Eu não consigo imaginar não ser feliz com você.
Jessica levantou a mão e fez um carinho no rosto dela. Recostou-se em seu assento com um sorriso nos lábios.
Em poucos minutos chegaram em frente ao número 29 da Vila das Palmeiras. A residência dos Romano era maravilhosa, o tipo de lugar que ela sempre admirava. Os detalhes arquitetônicos incluíam pedras europeias esculpidas por artesãos famosos da região. A estrutura rochosa e suas torres davam à casa a aparência de um castelo à beira mar.
Jessica apoiou-se à porta do carro e afastou os fios de cabelo do rosto, pensando no que faria em seguida.
-- Mudou de ideia?
-- Não, não -- Jessica conseguiu sorrir -- Acho que preciso de tempo para pensar.
-- Pensar? Em quê, meu Deus? -- Michelle suspirou e foi entrando, apesar de Jessica querer detê-la.
-- Num monte de coisas.
Michelle sacudiu a cabeça.
-- Ah, Jess! Tem dó. Há apenas alguns minutos você estava comentando que queria acabar logo com essa novela mexicana! E agora que estamos a alguns passos do fim, já está pensando em fugir.
Num impulso, Jessica abraçou-a por trás.
-- Hei! -- rindo, Michelle virou-se para ela -- Um ataque de amor?
-- Não, não é isso. É medo mesmo -- ela olhou na direção da casa e levou um susto. A visão daquela mulher alta, sombria e ameaçadora caminhando em sua direção a fez experimentar arrepios -- Jesus! Aquela mulher nos viu!
-- Que bom, assim não precisamos invadir a propriedade.
Apreensiva, Jessica mordeu o lábio inferior.
-- O que eu falo para ela?
-- Por que não vai direto ao assunto?
-- Claro! Vou dizer assim: A senhora provavelmente não me conhece. Eu sou a filha bastarda do falecido Enrico. Será que podemos entrar e tomarmos um cafezinho com a família?
Michelle revirou os olhos.
-- Criancinha!
A mulher, muito séria, parou diante de Jessica e Michelle, com a distância do portão entre elas.
-- Bom dia! -- ela usava um vestido azul-claro, que combinava com a cor cinzenta de seus olhos e brincos de pérolas -- Posso ajudar?
Jessica travou. Ela não disse uma palavra. Apenas ficou ali, olhando-a... Voltou à realidade novamente quando Michelle, que permanecia estática a seu lado, deu-lhe um cutucão.
-- A senhora está falando com você, Jess.
-- Ah, desculpa -- ela disse, após limpar a garganta -- Eu sou a Jéssica, estou procurando por Fábio Parker Romano.
A senhora a encarou fixamente.
-- O senhor Fábio não se encontra. Ele saiu logo cedo e não sei a que horas retornará.
Jessica coçou a cabeça.
-- Então tá.
-- Espera -- Michelle deu um passo à frente -- E a dona Salete?
-- O que tem ela?
-- Ela pode nos receber? Viemos de longe para falar com eles.
A mulher se virou e olhou em direção à casa. Depois de um segundo de hesitação, ela decidiu convidá-las a entrar.
-- Por favor, me sigam.
A mulher as guiou pela elegante mansão, e Michelle apreciava os arredores.
-- Vou levá-las até o escritório que fica no segundo andar, depois, vou avisar à dona Salete que ela tem visitas.
-- Obrigada! -- Michelle agradeceu, sorrindo.
-- Aqui estamos -- disse a governanta e abriu a porta da enorme sala, para que elas entrassem -- Fiquem à vontade -- com aquelas palavras, ela saiu do escritório.
Michelle sentou-se em uma poltrona e tentou relaxar esticando as pernas e os braços.
-- Também quero uma governanta amor.
-- Já temos um mordomo, para que uma governanta? -- Jessica pensou um pouco -- Se fosse o Pepe abria a boca e chamava daqui mesmo. Pessoa sem noção! -- ela olhou à sua volta. Estava tão nervosa que nem havia notado a beleza do escritório. As paredes eram repletas de prateleiras com livros e uma impressionante escrivaninha de carvalho localizava-se diante das janelas do terraço.
-- A dona Salete já vem atendê-las -- disse a governanta ao retornar. Ela abriu as janelas, permitindo que a brisa que vinha do mar invadisse o escritório -- Aceitam um café? Chá? Alguma outra coisa? -- perguntou, prestativa.
-- Café está bom, né Jess?
-- Sim, obrigada.
Assim que a governanta saiu, Jessica começou a caminhar pelo escritório. Haviam vários porta-retratos sobre a estante. Alguns expunham fotos já amareladas pelo tempo. Mas, uma delas em especial chamou a sua atenção.
-- Michelle, veja isso! -- então, pegou a foto para observar melhor.
-- Quem é esse senhor, Jess?
-- Samuel Felipe Vaz.
Elas olharam novamente para a foto, ambas atônitas por um momento, mas logo a atenção delas se voltaram para a mulher que entrava.
-- Bom, dia. Eva me disse que querem conversar comigo.
-- Bom dia, senhora Salete. Me chamo Jéssica e preciso muito conversar com o Fábio e com a senhora.
-- Com licença -- a governanta passou por Salete e colocou a bandeja na escrivaninha, encheu todas as xícaras e saiu.
Salete pegou duas xícaras e as entregou à elas. Depois, se acomodou no sofá.
O gesto, embora pequeno, deixou Jessica mais à vontade. Ela pegou a xícara de café e tomou um gole.
-- Eu conheço o homem daquela foto.
Salete olhou-a incrédula.
-- Impossível. Samuel Felipe Vaz morreu em 1959.
-- Não disse que conheci ele vivo -- Jessica respondeu malcriada.
Michelle imediatamente interferiu.
-- O que ela quis dizer é que já viu essa foto em outro lugar. Né Jess?
-- Foi o que eu disse -- com um gesto brusco ela se levantou, colocou a xícara sobre a escrivaninha e foi pegar a foto -- Porque a foto de Samuel está aqui, ele faz parte da família?
-- Praticamente -- Salete cruzou as pernas e apoiou o cotovelo no braço do sofá -- Samuel foi um dos maiores nomes da perfumaria mundial. Ele nasceu na Itália em 1869 e cresceu em torno de jardins verdejantes, onde os aromas de flor de laranjeira, jasmim e alecrim enchiam o ar. Por volta dos seus 18 anos, Samuel conheceu o bisavô de Enrico. A partir daí, os cheiros despertaram o seu nariz para o que se tornaria um longo caso de amor. Foi nessa época que ele se rendeu ao universo dos perfumes e foi trabalhar com os Parker. Depois disso, ele teve a certeza: seria um perfumista -- Salete descruzou as pernas e inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos -- Esse assunto realmente lhe interessa?
-- Muito, por favor, continue -- pediu Jessica, demonstrando muito interesse na conversa.
Salete a fitou, sem entender, mas mesmo assim continuou:
-- Em 1889, aos 20 anos de idade, Samuel foi contratado pelos Parker como perfumista júnior. Um ano depois, foi promovido a perfumista e em 1892 a perfumista-mestre. Samuel sempre foi acima de tudo um autodidata e desenvolveu o seu próprio estilo desde cedo. As suas criações são diversas e não seguem qualquer padrão. Embora note-se uma predileção por florais. Uma grande curiosidade sobre o perfumista é que ele passou a vida inteira à procura da fragrância perfeita.
-- E não encontrou -- disse Jessica, baixinho, lançando um olhar para a janela iluminada. Agora tudo parecia tão claro.
Michelle, ao lado dela, olhou-a intensamente. Jessica sempre comentava que queria elaborar um perfume exclusivo, perfume esse que perdurasse até no além.
Revirando os porta-retratos Jessica viu também a mesma foto que havia visto na casa da Marcela. Aquele porta-retratos volta e meia estava mudando de lugar na casa.
-- E esse homem de chapéu?
-- Esse é o bisavô de Enrico -- Com um suspiro de impaciência, Salete se levantou e andou até o pequeno bar para encher um copo com bebida -- Com certeza vocês não vieram até aqui para conversar sobre essa gente morta há mais de cem anos. Não é mesmo? -- o semblante irritado apareceu. Os olhos negros sombrios sustentaram a agitação tempestuosa dos olhos azuis-oceano de Jessica. Depois deu um trago vigoroso, deixando de saborear a bebida em pequenos goles, como devia. Encheu novamente o copo antes de se afastar do bar.
-- A senhora tem razão -- Jessica comentou com um levantar de sobrancelhas. A pulsação dela disparou descontroladamente quando Salete se aproximou.
-- Então, seja direta.
-- Preferia que o Fábio estivesse presente.
Com um clique a porta se abriu.
-- Com licença -- a voz masculina soou pelo escritório.
Jessica fez uma manobra surpreendentemente rápida, a fim de segurar Michelle, antes que ela caísse inconsciente no chão.
O condutor já começava a liberar os carros, quando sentiu um toque leve em seu ombro.
-- Oi, gostoso! Como chegamos à Vila das Palmeiras?
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Marta Andrade dos Santos
Em: 24/10/2021
Oxente qual foi?
Resposta do autor:
Olá Marta.
Pois então. Muito louco né.
Beijos. Até mais.
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]