Capitulo 41
Capítulo 41º
Rebeca
- Terra chamando Rebeca! – Tália falou em frente à minha mesa.
- Oi! Desculpa eu me distraí.
- Percebi. Está tudo bem? Você tem andado muito distraída ultimamente. – me fitou curiosa.
- Só estou cansada. O que você queria?
- Deixar esses documentos e avisar que a Isabella quer almoçar com você.
- A Isabella?
- Sim, a própria. Me mandou marcar na sua agenda e tudo mais. Então não se atrasa.
- Certo. Obrigada. – sorri e ela saiu.
Tália está coberta de razão, tenho mesmo andado distraída nos últimos dias. Na verdade, desde minha conversa com Alice. Ainda não sei de onde tirei coragem para dizer tudo aquilo a ela. Não é que eu me arrependa, ao menos expressei o que sinto e nunca fui o tipo covarde. Mesmo que não seja algo reciproco. Agora posso seguir em frente.
Apesar do clima estranho que ficou entre nós, temos mantido contado. Só que com bem menos frequência. O que faz com que eu acabe pensando nela boa parte do tempo. Porém ao lembrar que possivelmente deve estar com Virgínia logo a saudade dá lugar a uma raiva que muitas vezes fica quase incontrolável.
Não é que eu deteste a Virgínia, só acho que Alice é boa demais para estar ao lado de alguém tão desequilibrada. Alice é doce, companheira, fiel, boa amiga. E Virgínia não parece entender isso. Suspirei girando a cadeira em direção a janela.
Daqui posso ver o prédio que eu moro. Daria qualquer coisa para estar na minha cama. Mas cada pedaço daquele lugar tem alguma lembrança dela. A noite que ela me mostrou o apê e dormimos juntas, o dia da confusão de Anna. Todos esses dias me trazem recordações assim que piso na minha casa. Não tenho paz nem no meu lar.
Não contei a ninguém o que aconteceu entre nós. Acho que o motivo maior era vergonha. A vergonha de ter sido rejeitada sendo que claramente me despi por completa em sua frente. Confessei tudo o que sentia, na verdade o que sinto. Apertei o braço a cadeira fazendo meus dedos doerem.
Ótimo. No auge da meia idade eu estou sofrendo por uma paixão. Por essa nem eu esperava. Não consigo lembrar a última vez que me senti assim. Claro que quando meu noivado terminou eu sofri, mas dessa vez era um sofrimento diferente. Ao lado de Diego eu vivi uma vida, mesmo que grande parte dela fosse uma mentira. Só que com Alice é completamente diferente, eu vivo com a dor da ausência de uma paixão que ela deveria sentir por mim.
Até pensei em conversar com a minha irmã, no entanto a ideia demorou apenas alguns segundos. Sei que ela ainda nutre algum tipo de sentimentos por Virgínia, e talvez se eu contasse o que aconteceu ela pudesse usar isso para separá-las. E não é isso que quero. Detestaria ver Alice sofrer novamente por Virgínia, fora que dessa vez eu não estou inteira para ajudá-la a se recompor.
Deixei meus devaneios de lado e me coloquei a ocupar a mente com o trabalho. Assim têm sido os meus dias. Chegando cedo na empresa e saindo tarde. O que me deixa exausta e quanto chego na minha cama não me resta tempo para pensar na loira.
Nem notei o avançar das horas. Fui tirada de minhas responsabilidades por batidas na porta.
- Pode entrar.
- Amiga, a Isabella já está te esperando.
- Nossa! Nem vi a hora passar. Já estou indo.
- Certo.
Peguei minha bolsa e sai em direção ao hall de entrada do prédio. Isabella estava ao telefone, irritada com alguém. Me aproximei esperando que ela terminasse o assunto e notasse minha presença.
- Não me importa, essa quantia que estão pedindo é um absurdo. Resolve isso. – encerrou a ligação. – Desculpa, detesto incompetência. Podemos ir?
- Claro.
Fomos até o carro dela, o motorista já nos aguardava do lado de fora segurando a porta para que entrássemos. Pelo caminho que ele dirigia percebi que iriamos para o Santé.
- Me desculpa te fazer desmarcar seus compromissos.
- Sem problemas. Você é minha chefe, minha agenda sempre estará liberada para você. – ela sorriu. Tocou minha perna levemente.
- Esse almoço de hoje não é com a Isabella chefe. É com a Isabella amiga. – eu arregalei os olhos. Sem saber ao certo quando nos tornamos tão íntimas.
Comecei a ficar nervosa. Sei muito bem lidar com Isabella quando se trata das questões de trabalho. Mas não tenho a menor ideia do que ela quer comigo, enquanto “amiga”. Acho que o fato de eu ter ajudado Alice, fez com que a mulher tivesse um carinho por mim. Porém não sei se chamaria de amizade.
- Chegamos. – comentou quando o carro parou.
Fomos direcionadas a uma mesa reservada no nome de Isabella. Era incrível o cuidado de todos os funcionários para com ela. Talvez o fato dela ser cunhada da dona facilitasse todo esse atendimento vip.
- Queremos a recomendação do chef. Vai beber alguma coisa?
- Preciso trabalhar depois.
- Você está comigo, prometo não contar a sua chefe. – piscou para mim. – Uma garrafa do seu melhor vinho. – fechou o cardápio e entregou ao rapaz que se retirou rapidamente. – Então, não conversamos desde que voltei de férias. Como você está?
- Bem, as coisas na empresa estão começando a funcionar melhor. Os números estão maiores do que o esperado.
- Rebeca. – me interrompeu. – Tudo isso que está me dizendo eu já sei. Quero saber de você. Se você está bem. – afirmou. – Já se adaptou a casa nova?
- Sim. Claro. A cobertura é incrível. Alice soube direitinho me conquistar. Digo, para a compra. – tentei disfarçar minha gafe. Isabella apenas sorriu.
- Minha filha é bem persistente nas coisas. Ela me parece gostar muito de você. – afirmou me observando.
- Acredito que sim, somos amigas.
- Se são amigas, acredito que já saiba que ela está namorando aquela garota. – comentou com desdém. Ela de fato não gosta de Virgínia e nem tenta se esforçar a gostar.
- Sei sim.
- E o que você acha disso? – fiquei olhando sem saber o que dizer. Ela parecia ler meus passamentos. – Pode ser sincera. Esse assunto vai ficar entre nós.
- Olha, vou dizer a mesma coisa que eu disse a ela. Não acho que Virgínia é a pessoa certa para Alice. Mas respeito a decisão dela em namorá-la. Alice é maior de idade e sabe tomar as próprias decisões.
- O que te faz pensar que ela não serve para a Alice?
- Isabella, eu não sei de deveria contar isso.
- Você gosta da minha filha. Então sim, você deve me contar. Só estamos preocupadas.
- Acho que o ciúme que Virgínia tem é doentio. Ela foi até a minha casa, apenas por Alice não ter respondido as mensagens dela. – a mulher deu um sorriso de canto. Por um segundo me pareceu uma vilã da Disney.
- Até nisso ela parece com a Alana. – suspirou. – Alana aprontava todas comigo, mas bastava eu sumir por algumas horas para ela ter um ataque de ciúmes. Quase me agrediu uma vez. Mas ela sabia que aquele seria o meu limite, então não o fez.
- Virgínia não seria capaz. Seria?
- Eu não duvido. Na verdade, eu já sabia que elas estavam juntas. Vi quando ela foi dormir lá em casa enquanto estávamos viajando.
- Como?
- Câmeras de segurança. – completou. – Vi mais uma coisa.
- O quê?
- Você gosta da Alice. – afirmou com um sorriso de canto, enquanto levava a taça a boca.
- Mas eu já disse isso. – completei sem entender aonde ela queria chegar.
- Eu sei que disse. Mas estou falando de um gostar diferente. – nesse instante senti meu rosto arder. Agradeci por nossa comida ter chegado no exato momento. – Obrigada. – sorriu para o homem. – Então. Eu vi o dia que foi lá em casa também.
Agora está tudo explicado, ela me viu babando na Alice no portão da casa. Viu o clima na piscina. Ela sabe o que sinto pela filha dela. E não sei se isso me assusta ou me deixa na vantagem, já que ela aparentemente gosta de mim.
- Rebeca, não vou ficar irritada por você gostar da minha filha de uma forma mais intensa do que uma amizade. – afirmou. – Pode relaxar.
- Tudo bem, eu só fui pega de surpresa. – confessei. – Não só por você saber, mas também por esse sentimento que tem crescido dentro de mim.
Pela primeira vez em dias, me senti com segurança para comentar tudo o que me atormenta em relação ao que sinto por Alice. E isso me deu um alivio que nem sei mensurar.
- Antes que você pense, jamais faltaria com respeito a ela.
- Eu vi. Todas as vezes que tentou lutar para sair de perto dela. – tomou um gole do vinho. – E se serve de consolo, eu vi o jeito que ela te olha.
- Não. Alice é apaixonada por Virgínia. – apesar de já ter repetido isso diversas vezes em nenhuma delas fica mais fácil essa conclusão.
- Ela pensa que é. Mas gosta mesmo é de você. Está apenas adorando ir contra minha vontade e provar que já é uma adulta e faz o que quer. – revirou os olhos.
- Você não está entendendo. Eu contei a ela no sábado, como me sinto. Depois que vi ela chorar por ter discutido com Virgínia. Senti uma vontade imensa de cuidar dela, de proteger. Então eu contei sobre como me sinto. Nós quase nos beijamos. Mas ela se afastou dizendo que não podia me beijar.
- Rebeca, você não percebe? – comentou como se fosse algo óbvio e que eu deveria saber a resposta.
- O quê?
- Não poder não significa que ela não quer. Apenas não poderia naquele momento, por namorar a “talzinha”.
- Será?
- O que aconteceu? – senti meu rosto corar apenas de lembrar que quase beijei a filha dela. – Querida, não é hora para vergonha. Por favor. – pediu com ar de graça.
Narrei exatamente como tudo aconteceu enquanto ela me ouvia atentamente. Analisando cada palavra que eu dizia.
- Ao que me parece, eu tenho razão. Alice gosta de você. Mas jamais trairia Virgínia. Isso não é do feitio dela. O que aconteceu depois desse dia, continuam se falando?
- Sim. Mas não é a mesma coisa. Ela não foi mais lá em casa, acredito que por medo que eu tente algo.
- Não. Ela tem medo de não resistir a você. É tão provável que gosta de você que mesmo depois de tudo continuam se falando. Ela te quer por perto. Isso é bom.
- Não para mim. Detesto saber que ela continua com aquela garota.
- Quer conquistar a Alice?
- Claro. – afirmei.
- Demonstre que o que aconteceu passou. Que você tem tentado esquecê-la. – me aconselhou.
- Mas é isso que tenho tentado fazer.
- De que forma? Ficando em casa?
- Sim.
- Não. Demonstre que seguiu sua vida, fique com alguém na frente dela se for oportuno. Ela vai sentir na pele o quanto é ruim não ser correspondida. Isso vai mexer com ela, e por mais que ainda tenha alguma dúvida sobre o que sente em relação a você. Quando perceber que você não se importa ela vai repensar tudo.
- Você tem certeza?
- Claro. Conheço minha filha.
Conversamos por mais alguns minutos e voltamos para a empresa depois. Não consegui esquecer o que Isabella me disse sobre como agir em relação a Alice. Apesar de não fazer a menor ideia de como iriamos estar no mesmo lugar de novo, já que ela tem me evitado.
- Então como foi o almoço com a chefe? – indagou sentando-se a minha frente.
- Você sabe, muita coisa de trabalho. – menti e ela sorriu.
- Imaginei. – comentou. – Estamos indo beber, a Anna foi liberada e está numa secura só. Tá afim?
Olhei para o relógio na tela do computador, ainda era cedo e eu tinha muita coisa para fazer. Apesar de ser sexta.
- Vou ficar mais um pouco. Depois vou para casa, preciso dormir.
- Tá, mas se mudar de ideia estamos no pub da Heloísa. – soltou um beijo no ar e deu as costas.
Parei meu trabalho quase oito horas da noite. Minhas costas já doíam de tanto tempo sentada na mesma posição. Passei a mão no pescoço, busquei o celular e havia mensagens de Tália. Dizendo que estavam se divertindo e que eu deveria ir. Em outra mensagem havia uma foto das duas. Sorri ao ver a imagem. Respondi apenas dizendo que iria para casa.
Assim o fiz, dirigi até meu apartamento. Liguei o som baixinho e fui para o banho. Enquanto relaxava na banheira meu celular acendeu indicando mais uma mensagem.
“Deveria vir, aqui está divertido. Você está precisando.”
Amiga, acabei de chegar, estou no banho.
Mandei a foto da banheira.
“Que delícia!!!!! Aproveita que já está ficando cheirosa e vemmmm. A Alice deve estar chegando.”
Pensei em toda minha conversa com Isabella e por um segundo cogitei a possibilidade dela está certa em relação ao que Alice sente.
Tudo bem. Em meia hora eu chego. Beijos.
Tomei banho na velocidade da luz. E em menos de vinte minutos já estacionava em frente ao pub. O local estava cheio, o que já me fez arrepender de não ter ficado em casa dormindo. Suspirei olhando o ambiente a procura das minhas amigas. Mas o que avistei foi Alice no bar, conversando com Heloísa. Ela me viu, sustentando seu olhar no meu. Senti um frio na barriga, o que me faz pensar que voltei a ser adolescente mais uma vez. Mantivemos nossa troca de olhares por alguns segundos, mas consegui ver as meninas na mesa, e ao lado delas estava Virgínia.
Levei um belo balde de água fria. Claro que eu sabia que poderia ter essa possibilidade, afinal as duas agora estão assumidas. O que significa que podem sair juntas. Mas precisava ser justamente hoje? Sorri para Alice e me direcionei a mesa.
- Olha quem chegou. A rainha do meu coração. – Tália brincou.
- Menos, tem alguém aí com ciúmes. – comentei olhando para Anna.
- Ela sabe que você é hetero. – piscou para mim e eu ri. Mal sabe ela que meus pensamentos em relação a Alice além de não serem decentes, não são nada heteros.
- Sim. – concordei. – Como vai Virgínia?
- Bem. – limitou-se a responder. Claramente não gostou da minha presença o que só me fez rir internamente pois a reciproca era totalmente verdadeira.
Alice se juntou a nós. Tália logo puxou um assunto qualquer e por mais que eu tentasse prestar atenção ao que era dito meus olhos não saiam da possível discussão entre Alice e Virgínia que estava com uma cara de poucos amigos. Mas percebi que elas se resolveram quando a loira a beijou. Senti uma vontade imensa de levantar e ir embora, mas sabia que não poderia. Tália começou a narrar o que ocasionou o acidente de Anna.
- Ela arregalou os olhos, saltando da cama. Gritando: “Não, não encosta isso em mim. Eu te processo.”- minha amiga repetia arrancando risos.
- O que esperava que eu fizesse? – indagou Anna com o rosto vermelho não sabia se de rir ou por vergonha.
- Que você sentasse bem gostoso. – Tália provocou.
- Deixem a putaria para o quarto. – Alice brincou.
Essa era a minha chance de jogar mais lenha na fogueira. Percebi que a cara emburrada de Virgínia não era apenas por eu estar ali, era por Alice ter conversado com Heloísa. Estou com a faca e o queijo na mão, agora só preciso acender o fogo e comer um delicioso queijo derretido.
- Não te conheci tão puritana assim. – falei chamando a atenção de todas. – Se bem me lembro você transou com a dona do pub, aqui, no escritório dela. – completei enfatizando bem a parte da trans*.
A cara que a fotografa fez foi impagável. Segurei o riso para evitar que ela notasse que fiz tudo de propósito. Alice me fitava como se quisesse me exterminar da terra. O auge foi o que Anna falou:
- Verdade, nunca senti tanto orgulho de você. Mas logo depois veio a decepção de você ter dormido no quarto de hotel com a Rebeca e nada ter acontecido.
Alice estava indignada com aquela situação. Tália começou a falar sobre outra coisa na tentativa de acalmar os ânimos.
- Eu vou ao banheiro. – Virgínia disse ficando de pé.
- Vocês são mesmo minhas amigas? – Alice indagou baixo indo atrás da namorada.
- Não temos culpa se a sua namorada não consegue lidar com o fato de você ter um passado. – respondi irritada. Aquela garota era insuportável. E ver Alice se prestar ao papel de controlar alguém com uma crise de ciúmes por conta de passado só me com raiva dela.
- Isso mesmo. – Anna concordou.
Ela saiu pisando firme indo acalmar a fera. Tália me olhou como quem queria me dizer algo.
- O que foi?
- Você exagerou.
- Não. Só fiz um comentário. A garota que é desequilibrada.
- Concordo com a Rebeca. – Anna me deu apoio.
- Para mim, você está com ciúmes. – comentou.
- De quem?
- Da Alice, assume que gosta dela. Bastou apenas eu dizer que ela estava aqui que você veio.
- Me erra, eu já viria de qualquer jeito. – mentira, não viria não, mas ela não precisava saber disso.
- Pois eu acho que você está apaixonada pela Alice, mas não quer assumir.
- Você pirou. – menti.
- Tudo bem, se você não está apaixonada por ela então fica com alguém essa noite. Temos homens para todos os tipos. – comentou sorrindo. – Já faz um tempo que você não beija na boca, desde que o Pedro voltou para Ouro Preto.
- Certo. Vou fazer melhor, vou te deixar livre para escolher. – provoquei.
- Não brinca com fogo. – indagou risonha. – Você sabe que vou te colocar para ficar com uma mulher. – me desaviou.
- Fique à vontade.
- Sério?
- O que você acha? Alguma vez fugi de um bom desafio?
- Nunca.
- Então. Faça sua escolha. – incentivei.
- Que tal aquela ruiva. – apontou na direção da mulher que abriu um largo sorriso em minha direção.
Retribui o gesto. Me pus de pé tomando toda a bebida do meu copo e encarei minha amiga que parecia não acreditar que eu ia mesmo fazer aquilo. Caminhei em direção a ruiva que mantinha seu olhar preso em mim.
- Pensei que eu ia ter que ir até você. – comentou sorrindo quando me aproximei. – Mas que bom que você é uma mulher de atitude. Gosto disso. – mordeu o lábio jogando charme. – Eu sou Letícia. – esticou a mão.
- Prazer Letícia, me chamo Rebeca. – beijei cada lado de seu rosto.
- Senta aí. – indicou a cadeira ao seu lado. – Então, eu vi que você está sozinha em uma mesa com dois casais.
- Pois é. Esqueci minha fantasia de castiçal em casa. – brinquei e ela gargalhou.
- Linda e com um senso de humor maravilhoso. Resta saber se o beijo é bom.
- Só tem um jeito de descobrir. – sorri me aproximando ainda mais dela.
Nossos lábios se tocaram em um contato quente e molhado. As línguas deslizando buscando espaço, o que aumentava ainda mais nossa vontade em não interromper o beijo. Já havia esquecido o quanto era diferente beijar uma mulher. A pele macia, os lábios delicados, o toque um pouco mais suave. Era a melhor coisa, sem dúvidas. Logo precisamos de ar e nos afastamos. Letícia sorriu para mim, segurando minha mão na sua.
- Você é uma mulher e tanto, Rebeca.
- Isso quer dizer que eu beijo bem?
- Preciso de mais um, só para ter certeza. – tomou meus lábios novamente.
Apesar de tudo aquilo ter começado com uma aposta boba, eu sai ganhando. Letícia além de linda, tem um papo muito bom. Conseguimos conversar de tudo. Ela me contou que é obstetra, e trabalha para uma clínica particular. Tem uma filha de dois anos de uma gravidez independente.
- Você tem muita coragem, ser mãe deve ser algo muito trabalhoso para se fazer sozinha. Ainda mais com a profissão que você tem. – comentei tomando um gole da minha bebida.
A conversa com ela fluiu de uma forma tão boa que nem me preocupei em voltar para a mesa. Na verdade, mal olhei na direção dela. Desvendar os mistérios daquela linda ruiva me parecia algo mais interessante do que servir de vela para os dois casais.
- Sem dúvidas é sim. Mas não tem nada melhor do que chegar do plantão e ter uma linda garotinha me esperando. Eu esqueço até o cansaço. – comentou sorrindo, típico papo de mulheres que são mães.
- Se ela puxar a você, tenho certeza que é mesmo linda.
- Ela tem os cabelos iguais aos meus.
- Vai me dizer que seu ruivo é natural?
- Vai me dizer que o seu olho é natural? – brincou e nos rimos. – Olha, eu adorei te conhecer. Mas está dando a minha hora de ir. Essa é a minha primeira folga do mês e eu precisava respirar um ar diferente que não fosse a minha casa ou o consultório. – comentou segurando minha mão. – Mas a noite foi bem divertida, e adoraria sair para almoçar com você. O que me diz?
- Claro. Anota seu número. – passei meu celular. Ela digitou rapidamente.
- Me manda um “oi”. E eu prometo que da próxima vez não vou falar sobre criança.
- Mas adorei conhecer a Elisa, mesmo sem ser pessoalmente. – brinquei.
- Você só faz com que eu goste ainda mais de você. Bom vou pagar a minha conta.
- Não, deixa que eu acerto tudo.
- Tudo bem, mas o almoço eu pago.
- Combinado. – sorri para ela.
Se inclinou em minha direção e beijou o canto da minha boca deixando apenas o gostinho do quero mais. Não vou negar que eu queria mais. Aquelas horas de conversa com ela me animaram de um jeito que eu não me senti a semana inteira.
Fui para o caixa e acertei tudo que consumimos. Em seguida voltei para a mesa das meninas. Todas me olharam assim que sentei. Menos Alice, que estava com a cara nada amigável.
- Que foi, cometi algum crime e não estou sabendo? – brinquei me sentando.
- Rebeca! Você ficou com uma mulher. – Tália falou incrédula.
- Não só fiquei como vamos nos ver de novo. – falei apenas para observar a reação de Alice. Seu olhar era furioso. Bem parecido com o que Virgínia tem quando fica com raiva, com uma diferença. Alice tenta ao menos disfarçar.
- Mandou bem, a ruiva é linda. – Anna bateu a mão na minha. – Beija bem?
- Acha que se ela não beijasse eu me ocuparia a vê-la de novo?
- Meu orgulho! – Anna fingiu secar lágrimas de emoção.
- Idiota. – resmunguei. E ela riu.
- Acho que ela te beijou por pena, já que estava de vela. – Alice provocou com a voz firme. Eu sorri. Talvez Rebeca estivesse certa, bastava eu demonstrar que estou superando o que sinto que ela vai perceber o que sente por mim.
- Não foi o que me pareceu. Mas se for também, não importa. Quis beijá-la fui lá e fiz, como ela não RECUSOU, aconteceu e foi maravilhoso. – enfatizei bem a palavra “RECUSOU” para lembra-la que foi o que ela fez comigo.
Ela semicerrou os olhos, mas sem desviar seu olhar do meu. Tália percebeu nossa guerra silenciosa.
- Meninas vamos ao banheiro? – chamou Virgínia e Anna.
- Fui agora a pouco. – reclamou a fotografa.
- Vamos. Você é a única sóbria, por tanto pode impedir que a gente caia enquanto fazemos xixi. Já pensou na vergonha? – brincou e ela acabou concordando.
Antes de levantar Virgínia beijou a namorada e saiu acompanhando as duas bebarronas em direção aos banheiros.
- O que deu em você?
- Como assim?
- O que deu em você para sair beijando qualquer uma?
- Foi uma aposta. Mas confesso que gostei de ter ganhado e ter conhecido a Letícia.
- Hum! Então vai mesmo vê-la de novo?
- Sim. Alice, por que tanta pergunta? Você saiu da mesa irritada por conta da cena de ciúmes da sua namoradinha, quando voltaram eu fiz um favor para você ao não estar mais nessa mesa. Afinal ela claramente não gosta nem um pouco de mim, e só para você saber eu não me importo com isso. Prefiro que ela não goste mesmo, assim não me sinto mal por não gostar dela também.
- Não esperava isso de você. – comentou baixo.
- O que você queria? Que eu fosse morrer de amores por você, enquanto brinca de casinha com a Virgínia? Eu não tenho mais onze anos. Sou adulta. E essa não foi minha primeira rejeição. Entendi que você não gosta de mim, mas me avisa se vai ser um problema você me ver ficando com outras pessoas, porque se for o caso eu deixo de sair com você. – estava cansada daquela conversa sem sentido.
- Não é um problema para mim. – afirmou.
- Ótimo. Agora eu vou embora. Já deu por hoje. – me levantei.
Tirei da bolsa algumas notas e deixei em cima da mesa. Ela continuava me encarando como quem quisesse dizer algo, porém não tinha coragem.
- Até mais.
- Me deixa te levar até o carro.
- Não precisa, eu estacionei perto.
Recusei e caminhei para fora do estabelecimento. Apesar de não olhar para trás eu sabia que ela me observava partir. Caminhei com pressa, sentindo meu corpo inteiro tremer. Acho que de raiva por me sujeitar aquele tipo de situação. Apesar de ter acredito que Isabella pode ter razão, não sei se quero jogar esse jogo com Alice. Que ao meu ver me parece decidida sobre o que sente por Virgínia. Não tenho mais idade para ficar de chove e não molha. Dei partida no carro e fui para casa, a única coisa me restava era dormir. E foi exatamente isso que fiz.
Fim do capítulo
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Tazinha
Em: 12/10/2021
Gente, pensa pelo lado bom. Se todos esses capítulos tivessem sido postado um por um como foi combinado três dias na semana a gente estaria entediada e muito putas. Ao menos ficando putas de uma vez só e agora acredito que virá o bom. Autora, posta mais de um hoje logo
Resposta do autor:
Foi exatamente pensando nisso que soltei todos. e daqui para frente vou tentar não deixar vocês aflitas com um final de capítulo tenso.
Beijoss
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Amelie Poulain
Em: 12/10/2021
Acho que agora deveria ter uma sequência de capítulos com Alice pistolinha de ciúmes, Rebeca poderia usar isso a seu favor.
Resposta do autor:
Causar a discórdia???? Será? E as chances de me queimarem em praça pública?
kkk
Beijos.
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Marta Andrade dos Santos
Em: 11/10/2021
Confusão kkk
Resposta do autor:
E bunda so presta grande. kkk
Beijos
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Baiana
Em: 11/10/2021
Rapaz,a Rebeca já tem até a benção da futura sogra,agora só jogar de acordo com as regras e tudo dará certo,claro que ela ainda tem que confessar para a Alice o plano inicial para separar ela da Virgínia,e pagar por isso também. Mas depois, só correr para o abraço,mas antes... quero ver ela dando uns amassos na ruiva bonitona, afinal,ela também precisa transar sem compromisso com alguma mulher kkk
Resposta do autor:
Bem isso mesmo, Isabella já tem até fã clube dedicado a Rebeca. Olha você querendo a discordia do casal antes de começar, Alice ia surtar real se isso acontecesse.
Beijosss
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Mille
Em: 11/10/2021
Rebeca ganhou a sogra kkkkk
Alice tem que decidir, ficar com ciúmes da Rebeca ou pegar a morena. Ainda acho que a Virgínia vai fazer mais escândalo antes de tudo acabar.
E essa Letícia??
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Num é, e olhe que todo mundo apostou que ia ser osso duro de roer, mas nesse caso foi até fácil. beijossss
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preguicella
Em: 11/10/2021
Eitaaaaaa! Rebeca se deu bem! Já tem a sogrinha mais durona a favor dela! Lari é pau mandado, portanto já deve ser #teamBeca! haha
Tô com peninha da Rebeca, pq Alice tá com cara de que ainda vai querer insistir em ficar com Virgínia, a louca! Aff...
O próximo sai ainda hj?!
Resposta do autor:
NAda melhor do que conquistar as sogras, né?
Beijoss
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