Cap. 57 – Júlia – O orfanato
A volta para casa foi naquela expectativa, embora precisássemos sair às vezes, nada se comparava a estar em nosso lar. A viagem foi tranquila, saímos cedo e por conta disso, conseguimos pegar o almoço na casa de meus sogros, o domingo estava um dia bem gostoso, quente, porém agradável.
Depois que saímos da casa dos pais de Layla, seguimos para a casa de minha mãe, e lá foi a festa quando o Faísca nos viu. Correu em nossa direção, já me joguei no chão recebendo os lambeijos dele, dona Helena e Anny logo apareceram, nos recepcionando também. Não demorou muito, todos estavam reunidos, Eduardo propôs um churrasco e não conseguimos escapar, mesmo estando cansadas.
Meus sogros e cunhados apareceram ao anoitecer e lá ficamos até às dez, quando resolvemos dar um fim na festa e irmos embora. No dia seguinte, nossa rotina voltaria e precisávamos descansar. Mesmo a contragosto de nossos pais, nos despedimos e seguimos para o nosso apto.
Tomamos banho e nos abraçamos na cama, e lá ficamos por alguns minutos, conversando e namorando, até o sono nos pegar e adormecermos. A paz tomava conta do nosso lar, a noite foi tranquila.
– Amor, não conseguiremos almoçar juntas hoje. – Estava me arrumando quando Layla saiu do banheiro com o celular em mãos. – Estou com a agenda lotada.
– Tudo bem! – Fui em direção a ela que fazia uma carinha tão triste, sorri beijando seus lábios, dizendo: – Podemos compensar a noite...
– É? – Beijei seu rosto seguindo para o pescoço perfumado dela.
– Unhum, prometo fazer uma massagem se estiver muito cansada.
– Estou gostando dessa proposta, não conseguirá escapar.
– E quem disse que corro de promessas?
A olhei sorrindo, jogou os braços em volta de meu pescoço, me beijando deliciosamente. Saímos juntas de casa, deixamos Faísca com Frodo, eles iriam tomar banho hoje e Jonas os levaria, depois Layla me deixou na CBM e seguiu para o hospital. Apesar de muitos relatórios para preencher, o dia foi tranquilo.
E assim se passaram dois meses, Layla finalmente conseguiu agendar um dia para irmos conhecer as casas que a amiga dela, corretora, separou para visitarmos. Foi um domingo agitado aquele, um tanto estressante também, o que faltava em uma casa, tinha na outra e assim por diante, naquele dia não conseguimos achar uma que nos agradasse.
Passaram mais quinze dias, até que Letícia, nos ligou dizendo que separou dois imóveis, com os requisitos que pedimos. Ela foi uma guerreira, porque embora não fôssemos tão exigentes, queríamos o melhor para nós, afinal, seria a nossa eterna morada, então precisava ser especial.
Logo, na sexta, pouco depois do expediente, elas passaram para me pegar na CBM e seguimos para as tais casas. Na primeira, Layla já torceu o nariz, embora estivéssemos explorando o lugar, senti também que não era o que procurávamos.
– Amor, será conseguiremos achar uma casa para nós?
Ela se colocou na minha frente desanimada, sorri tocando seu rosto e beijando de leve sua testa, sorri dizendo:
– Tenho certeza que sim, tudo no seu tempo, concorda?
Concordou, mas ainda não tinha tanta certeza, a moça se juntou a nós, dizendo:
– Vamos visitar a última então, meninas? Ou desistiram? – Ela era bem animada, sorri abraçando Layla, dizendo:
– Vai ver é essa a casa amor, não dizem que os últimos serão os primeiros?
– Estou um pouco descrente desse ditado.
– Vamos lá mulher, fazia tempo que não tinha um desafio assim, estou gostando dessa aventura com vocês. – A moça disse piscando.
– Desculpa Le, não sabia que daríamos tanto trabalho a você. – Layla disse sem jeito.
– No fim, sempre vale a pena, minha amiga. – Tinha que concordar com a moça, seguimos com ela.
Passava das oito da noite, estávamos cansadas também, a moça encostou o carro em uma casa no bairro onde minha mãe mora, duas quadras, para ser mais exata. As casas naquela região, costumavam ser bem parecidas, mas aquela não, por isso nos deixou ansiosas, uma cerca de madeira pequena na frente e um caminho de pedras ao lado da entrada da garagem grande, também na frente da casa.
Entramos e logo nos apaixonamos pelo lugar, em cima, uma suíte (com sacada), banho com hidro, 2 dormitórios, lavabo. Embaixo, living dois ambientes, um banheiro social, cozinha com bancada, despensa. Atrás, varanda, churrasqueira e um espaço grande com gramado. Quando exploramos tudo, respirei aliviada, vi nos olhos da minha pequena que era aquela.
– Encontramos ela, amor! – Sorri quando voltamos para a suíte, a puxei para meus braços, sussurrando: – Adorei aquela hidro, já imaginei muitos momentos...
– É... – Me puxou ainda mais para seus braços, deslizando os dedos pelos meus braços perguntando: – Pode me narrar uma delas?
– Posso sim... – me aproximei de seu ouvido e comecei a falar, mas...
– E então meninas?
– Ficará para depois... – sorri para Layla que me olhava com a sobrancelha arqueada em sinal de desafio, mas concordou olhando para a amiga e dizendo:
– É essa, Le, nos apaixonamos por ela. – Sorri concordando.
– Finalmente... – ela levantou as mãos, sorrimos: – Bom, alguma chance de mudarem de ideia?
– Não, com certeza não, já estamos com planos para a nossa banheira, não é amor? – Corei, lógico, mas disse:
– Sim, na verdade, quanto antes nos mudarmos, melhor. – Pisquei para a minha garota que sorriu.
– Ótimo, essa suíte é tudo de bom mesmo.
Conversamos por mais alguns minutos, depois seguimos para o nosso apto. Pedimos uma pizza para finalizarmos a noite, e corremos para o nosso quarto, onde namoramos e conversamos sobre a tão esperada aventura em nossa nova casa.
Levou mais tempo que o esperado, para começarmos a pensar em mudanças, o trabalho estava exigindo muito de nós naqueles últimos meses, Layla pegando alguns plantões a noite, e na CBM, algumas mudanças estavam sendo feitas também. Mas, estávamos na expectativa, aos poucos fomos mobiliando a casa, com ajuda de nossos pais, e em muitas de nossas visitas, quase sempre a noite, por pouco não estreamos nosso quarto.
Mas, nos seguramos para fazer daquele dia especial, faltava pouco, e por isso aproveitamos cada segundo. E quase seis meses depois que compramos a casa, finalmente nos mudamos, o final de semana foi corrido, tiramos aqueles dias para resolvermos essa situação, no final de domingo, quando nos vimos sós em casa, nos jogamos no sofá, olhei para a minha pequena que retribuiu o olhar, sorri dizendo:
– E agora?
Ela inspirou fundo, desviou os olhos dos meus, olhou em volta e sorriu dizendo:
– Agora, vamos para o nosso quarto, não vejo a hora de deitar naquela cama e dormir o sono dos justos.
– Sabe, – levantei a puxando para meus braços, beijando seus lábios, agora em meu colo seguimos para o nosso quarto dizendo: – essa é a melhor ideia de todas.
Não poderíamos estar mais felizes, jurava que nada pudesse atrapalhar o nosso momento, e assim os dias foram passando, semanas e meses. Completamos o nosso aniversário de casamento nas montanhas, um final de semana apenas, mas foi maravilhoso, Layla trazia luz a minha vida, a felicidade estava estampada em cada sorriso que lhe dirigia.
Uma semana depois do nosso momento nas montanhas, ela precisou virar a noite no hospital, estava em casa e por volta das nove, recebi um chamado da CBM, todos foram chamados, quando cheguei lá o Tenente-Coronel veio em minha direção dizendo:
– Júlia, que bom que veio.
– Senhor! – O cumprimentei e perguntei: – O que está acontecendo?
– Ainda não sei, Diego e um grupo se dirigiram ao local, mas os policiais me ligaram dizendo que algo não estava certo.
– Senhor, vamos até lá então.
Ele concordou, fomos em cinco no caminhão, de longe observamos os estragos, fumaça e labaredas tomavam conta do lugar, quando chegamos, meu amigo veio em nossa direção:
– Júlia, Tenente-Coronel, que bom que vieram, estamos tentando de tudo, mas o fogo não abaixa.
– Alguém na casa que está em chamas?
– Não, mas a casa ao lado que também estava em chamas, é um orfanato, segundo o pessoal responsável, treze crianças foram tiradas de lá, mas ainda restam quatro que estão nos fundos com um dos monitores, a parte da frente está quase desabando, estamos em uma situação muito complicada aqui.
– Saídas de emergências? – Perguntei olhando para o lugar em chamas.
– É uma casa antiga, a única passagem para os fundos, é por dentro dela.
– Bom, vamos formar três equipes, a maior fica aqui na frente tentando controlar o fogo e não deixar que ele se alastre, a outra, tentando desobstruir e abrir passagem para passarmos, caso a casa desabe, quero que usem o que for preciso para isso, eu e mais dois vamos entrar e procurar as crianças.
– Eu vou com você.
– Ok!
Conversei com nosso Tenente-Coronel que ficou aos cuidados da primeira equipe, me arrumei e peguei meu equipamento, seguimos para o interior da casa, o fogo estava consumindo rápido, porque a casa tinha todo o forro de madeira, e as divisórias do que pareciam ser os quartos das crianças, também.
Conseguimos passar pela sala, o problema maior era o fogo e esse estava quase controlado, mas a fumaça também era preocupante, Diego logo atrás, consegui avistar uma porta aos fundos, essa era de alumínio, ouvimos pedidos de socorro além de muita tosse, quando conseguimos abrir a porta, que estava bloqueada por uma viga que havia caído, vimos um rapaz respirar aliviado.
– Não consegui abrir a porta, tentei ao máximo evitar que a fumaça entrasse aqui.
– Senhor, as crianças estão bem? – Me dirigi a ele, olhando para o interior do quarto.
– Sim, três delas, mas precisamos tirá-las daqui porque estão tossindo muito.
– Claro, mas fui informada de que haviam quatro crianças e um adulto aqui, onde está a quarta?
– Não, comigo só estão essas, quem é a outra criança?
– Não sei, senhor! – Desviei os olhos dele dizendo: – Diego, você e o Júnior tira eles daqui, e confirma se eram mesmo quatro crianças, eu vou tentar passar pelo corredor e chegar ao final dele para ver se tem mais alguém.
– Ok! Júlia, mas toma cuidado, eu já retorno para te ajudar. – Concordei e ele seguiu.
Blocos e parte do telhado obstruíam a passagem, aos poucos fui conseguindo tirar e por cima consegui passar, felizmente o fogo não atingiu aquela parte da casa, ainda. Mas a fumaça tomava conta de tudo, mesmo com a máscara era difícil respirar. Estava seguindo pelo corredor atenta ao barulho ao redor, uma tosse fraquinha chamou a minha atenção. Diego logo se juntou a mim, dizendo:
– É uma criança de quatro anos, Pedro, que ainda está desaparecido.
– Eu ouvi uma tosse aos fundos, me ajude a tirar essas... – a parede ao lado desabou, ele conseguiu pular e me empurrar, mas caiu de mau jeito do outro lado: – Diego, você está bem?
– Acho que quebrei meu braço... – não conseguia levantar, o ajudei e naquele momento vi embaixo de uma das camas, um menino me olhando, mas tudo ao lado começou a pegar fogo, gritei:
– Saia daqui, Diego, esse telhado está para desabar.
– Mas, e você?
– Estarei logo atrás, vai...
Ele foi ainda olhando para trás, vi a criança se encolher e tentei chegar até ela, algo caiu na minha cabeça, não desviei a tempo e bateu em meu rosto, senti o corte, mas não dava tempo de me preocupar com aquilo, ainda tentando passar por sobre a parede que havia caído. Quando alcancei, levantei a cama com dificuldade, pois tinha pedaços da parede sobre ela, e finalmente consegui alcançar a criança, estava quase desacordado.
Agora com o pequeno em meus braços, tirei minha máscara e coloquei na pequena cabeça, para ele não inalar tanta fumaça, olhei em volta, tentando achar uma saída, mas a única, era por onde havia passado, segui por ela mesmo, com dificuldade, consegui escalar e passei. No corredor que havia passado, os lados estavam em chamas, a única forma que vi para sair dali era correndo.
Não pensei duas vezes, protegi a cabeça do garoto e a minha própria e corri, passando pelas labaredas que tentavam nos pegar, o calor era insuportável, desviando delas achei a saída, mas ao me aproximar, o teto desabou em nossa frente, consegui por pouco evitar que caíssem sobre nós, caindo por sobre uma porta que dava acesso a um banheiro. Alguém gritou meu nome:
– Estou bem, mas preciso sair daqui. A criança está comigo.
Foram segundos de tensão, até o Júnior quebrar a parede ao lado, por onde passamos e saímos da casa. O menino estava desmaiado em meu colo, o levei direto para uma ambulância que estava ali, tossia muito, inalei muita fumaça, mas os cuidados eram para com a criança. Quando o pequeno foi encaminhado para o hospital, me sentei, estava tonta, alguém se aproximou falando comigo, mas acabei desmaiando.
Fim do capítulo
Boa noite meninas!
Nossa, fiquei tão feliz com a recepção de vocês que resolvi adiantar um caps... Espero que gostem...
Sei... Juh sempre sofre, mas esperem o melhor dessa situação... ;)
Bjs a todas... Se cuidem! Nos encontramos na próxima!
Bia
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