CapÃtulo 4 – O grande inverno
Naquele ano de 2020, a Cigarra não cantou. Ou cantou: até o dia 15 de março suas apresentações aconteceram normalmente, mas os espaços foram se esvaziando, gradativamente (antes da crise sempre há o medo da crise). A partir da segunda-feira seguinte, Antônia acompanhou estarrecida pelo jornal da pensão que o Brasil entrava em quarentena. O motivo: um vírus que já tinha feito pelo menos umas dez vítimas.
Primeiro, veio o desespero: não se sentia nadinha confiante com relação ao governo, não parecia que aquela crise sanitária seria bem conduzida (sentia, com o coração apertado, que a ineficiência custaria muitas e valiosas vidas). Depois, mesmo se sentindo egoísta, se preocupou porque, com a quarentena, os bares fechariam, e assim se cessariam suas chances de trabalho. Ia se apresentar como, e para quem? Depois o problema tomou outras proporções porque Pi, o dono da pensão, avisou que sem o movimento ele seria obrigado a fechar as portas.
Entendia, em partes, que aquele era um momento delicado, que exigia de todos confiança e esperança. Mas por outro lado era intermitentemente bombardeada por pensamentos negativos, e só por isso parou de assistir televisão. Queria se alienar o máximo que pudesse.
Caminhava às vezes pela pensão vazia, os quartos ao léu, tudo quieto e triste, sem o movimento típico das pessoas. Aquele ambiente a deprimia um pouco, e ela se sentia mal por estar assim. Afinal, tinha saúde.
Um dia, lá por maio, ou abril, lembrou da Formiga, a empresária da festa de fim de ano, e imaginou como ela estaria enfrentando tudo aquilo. Afinal, a situação certamente a afetava diretamente.
Naquele ano de 2020, a Formiga não trabalhou. Ou trabalhou: até o dia 15 de março, em sistema normal, depois disso em esquema de home office. Junto com o país inteiro, acompanhou em choque às notícias que davam conta do coronavírus, e do lastro de morte que trazia por onde passava. Já no dia seguinte precisou acompanhar de perto todas as modificações necessárias para que a empresa não parasse, simplesmente porque seus funcionários teriam que se trancar em casa. Até porque a linha de produção não poderia parar, então os entraves eram também trabalhistas.
Primeiro, veio o desespero: desde o início nunca se soube de que forma tudo aquilo terminaria, e a que custo (parecia que todos acompanhariam a progressão da crise com o número de mortes pela doença). Depois, se sentiu egoísta porque estava preocupada com os números, e não com as vidas que certamente se perderiam (ela não confiava nadinha naquele governo). Aí o problema tomou outras proporções porque, a distância, seu poder de persuasão, que já era frágil, parecia quase nulo, e por isso ela começou a trabalhar muito mais do que antes.
Entendia, em partes, que aquele era um momento delicado, que exigia de todos empenho e dedicação. Mas por outro lado era intermitentemente bombardeada por pensamentos negativos, e só por isso começou a assistir televisão. Queria se informar o máximo que pudesse.
Caminhava às vezes pela empresa vazia, as baias ao léu, tudo quieto e triste, sem o movimento típico das pessoas. Aquele ambiente a deprimia um pouco, e ela se sentia mal por estar assim. Afinal, tinha saúde.
Um dia, lá por abril, ou maio, lembrou da Cigarra, a cantora da festa de fim de ano, e imaginou como ela estaria enfrentando tudo aquilo. Afinal, a situação certamente a afetava diretamente.
Fim do capítulo
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