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Amor incondicional por caribu

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Palavras: 3559
Acessos: 2440   |  Postado em: 08/09/2021

Quarenta e três

Bianca não se lembrava de alguma vez já ter ficado tão brava. Provavelmente não. Estava bastante zangada, suas mãos até tremiam um pouco e ela sentia o rosto queimar.

Tinha um desejo quase incontrolável de quebrar tudo, e se imaginou quebrando – os pratos do escorredor, os copos de dentro do armário, até a televisão. Por sorte, apenas imaginar foi suficiente para extravasar o que sentia, e convencê-la de que definitivamente ela não era aquele tipo de pessoa. Era, na verdade, a que limpa depois, e a que explica para Joaquim o que aconteceu.  

E o que teria acontecido, para justificar algo assim?

Bianca se convenceu de que nada que fosse suficiente para aquele tipo de coisa, aquele tipo de ato, de gasto. Se ancorou em Joaquim e no bebê – e funcionou! Em alguns minutos já estava novamente com clareza nas ideias e a respiração normalizada.

Refletiu então sobre a discussão que tinha acabado de acontecer. Eventualmente, Fábio e ela se desentendiam, é claro. Que casal não briga? Mas essa discussão tinha sido pior porque ela estava sentindo coisas meio inéditas – ou pelo menos mais intensificadas. Por exemplo, muita raiva do marido. Tanta que até se esqueceu de que ela própria também havia escondido informações importantes dele (mas estava convencida de que era diferente!).

Viu Fábio sair depois de mandá-lo sair, e durante os primeiros minutos não sabia se tinha sido uma decisão inteligente. Queria ele ali para gritar um pouco mais. Estava frustrada, em vários níveis (nem todos relacionados a ele, mas nem por isso ele não merecia ouvir!).

Estava brava com Beatriz também. Suspirou fundo porque com ela o problema era maior, e fazia muita coisa ficar borbulhando, o tempo todo, a cozinhando por dentro. Tinha que resolver logo essa questão. Estava grávida, precisava ficar bem para o bebê, não com uma azia constante.

Se tivesse disposição, sairia de casa naquele momento, atravessaria a cidade e se resolveria com a lésbica. Com a médica, ela se corrige. Bianca ultimamente fazia vista grossa para a sexualidade de Beatriz porque se sentia um pouco ridícula quando apontava aquilo como condição de crítica. Por mais que tivesse se esforçado, em suas inúmeras noites em claro, tentando elencar defeitos e características ruins que Beatriz eventualmente pudesse ter, uma que não encontrava, e duas que tanto faz ela ser homossexual! Tanto. Faz.

Essa mudança de postura ocorreu devido a dois motivos, basicamente: Bianca se simpatizava com Fernanda, e sabia que tudo relacionado a isso a envolvia, diretamente, e porque há meses vinha matutando sobre o assunto. Desde que um dia Fábio, do nada, levantou a possibilidade de Joaquim ser gay. Como ela lidaria com isso?

Amava o menino. E amava também o seu bebê, que ainda estava sendo gerado. Não seria capaz de rejeitá-los, por qualquer motivo que fosse. O instinto materno a tocou, e só assim viu Beatriz como uma pessoa qualquer – e até que boa pessoa! Afinal, tinha atendido Fábio de graça, depois até cancelou compromisso só para ir à festinha de Joaquim (mas este era um assunto que Bianca evitava pensar, porque sempre se envergonhava quando o evento voltava à lembrança. Tinha agido errado naquela noite. Se sentia mal imaginando Joaquim sendo destratado daquela forma).

A verdade é que graças à Beatriz, Bianca tinha começado a reparar em várias questões que permeavam seus pensamentos – muitas sem que ela até mesmo percebesse. Notou que reproduzia comportamentos e julgamentos que na realidade nem eram dela, assuntos que ela nem tinha pensado, exatamente, ou refletido. Observar (e reparar) esse tipo de coisa era mérito dela, mas também de Beatriz, e isso foi um facilitador para a mudança de pensamentos de Bianca (que englobava tudo, até a orientação sexual da mulher).

Bianca sabia, por tudo isso, que estava próximo o dia em que se entenderia com Beatriz. E tinha total consciência de que este movimento caberia a ela, porque a outra não dava mostras de querer se resolver em algum sentido, e a pressa de Bianca em breve começaria a chutar dentro de sua barriga. Ou seja, resolveria tudo por amor.

Colocou água para esquentar porque sentiu que precisava de um chá, para se acalmar. Escolheu erva-cidreira, antes conferindo na internet se era indicado para gestantes. Em geral, não era muito fã de bebidas quentes, gostava mesmo de uma cervejinha trincando, bem gelada, mas era uma mulher consciente, disposta a levar aquela gravidez até o final, com êxito.

Quando sentou com seu chá, o celular vibrou e ela viu uma foto que Teresa tinha acabado de enviar, no trabalho, com cara de tédio. Bianca riu, pensando que Teresa era uma boa amiga, merecia saber desse rolo todo de Catarina. Gravou uma mensagem de áudio:

 

- Amiga, me fala quando é sua próxima folga. Aconteceram várias coisas que não te contei, que quero te contar, mas tem que ser pessoalmente.

 

            Imaginou que a amiga demoraria a ouvir, mas antes de colocar o celular de lado notou que o sinal já estava azul, indicando que ela estava reproduzindo a mensagem. E a curiosidade foi tanta que Teresa enviou 27 mensagens ao longo daquele dia, todas insistindo para que Bianca pelo menos sinalizasse do que se tratava. A amiga tinha ótimas fofocas, sempre, babados quentíssimos, e estava agora fazendo a misteriosa.

            Bianca finalmente cedeu, e às 15h48 mandou a seguinte mensagem:

 

- Terê, eu descobri recentemente que minha finada mãe, dona Catarina, antes de mim teve outro filho. Tipo novela! A criança foi criada pelo pai, que era um figurão, cheio da grana. Era uma menina – Bianca faz uma breve pausa – É aquela médica, a Beatriz. Ela é minha irmã. Eu tenho fugido de resolver as coisas com ela, temos várias pontas soltas ainda, mas acho que em breve vou ter que resolver, porque já está começando a me fazer mal. E agora com o bebê, eu quero só é ficar bem...

 

            Bianca dá um suspiro, ainda ouvindo suas próprias palavras ecoarem nas paredes da cozinha. Pensou brevemente que deixaria os detalhes dessa história para quando a amiga fosse visitá-la, inclusive o fato de que Fábio tinha essa informação da gravidez de sua mãe antes dela mesma (e não contou!).

            Teresa levou uns 15 minutos para ouvir o áudio, e quando respondeu sua voz estava acelerada, como se tivesse corrido, e com o eco típico de quando se fala dentro do banheiro do Viver.

 

- Mulher, como é que tu me conta uma bomba dessas assim, desse jeito? Bianca! Que loucura, amiga! O que você está fazendo aí, de boa? Vai logo lá e resolve essas paradas, mulher! Eu, hein! Tá esperando o que, Bia? Se mexe, se movimenta, anda!

 

            Mais uma vez Bianca ri. Teresa era mesmo uma boa amiga, e falava sempre de um jeito que removia o peso das coisas. Olhou no relógio da parede, deu uma breve analisada na roupa que vestia e chamou um Uber. O motorista buzinou quando ela acabava de escovar os dentes, e assim que entrou no carro, Bianca deu o endereço do trabalho de Beatriz.

O mapa no celular do motorista do aplicativo indicava que chegariam lá em uma hora e alguns minutos.

O tempo foi mais do que suficiente para Bianca olhar novamente o site da clínica de Beatriz e também a página no Facebook. Não achou seu perfil pessoal, só no Instagram (e estranhou que nessa rede social a clínica nem existia). Pensou que ela precisava urgentemente de alguém que a ajudasse, porque era nítido que tinha dificuldade com ferramentas digitais (Bianca nem entendia muito, mas era boa usuária, tinha boa noção, inclusive de bom senso). Desviou os pensamentos porque se distraiu no perfil de Beatriz.

Não teve nenhuma surpresa, de imediato: era meia dúzia de foto, quase todas de paisagem, só uma de rosto, a primeira, postada cinco anos atrás, que também era a de perfil. Estava com meio sorriso, os olhos quase fechados, segurando um livro perto do rosto, de capa colorida. milhares de curtidas (literalmente!). Só então Bianca viu que Beatriz tinha milhares de seguidores (e não seguia de volta nem metade). Na foto, o último comentário era de Fernanda, e ali encontrou um prato cheio porque ela tinha muitas fotos no seu perfil! Ótimo para quem aprecia a arte de stalkear!

Ela só não teve muito tempo para analisar as imagens porque logo chegou ao destino (o motorista pegou um atalho, conhecia bem aquela região). E logo que desceu, antes mesmo de respirar fundo e se preparar, antes de pegar o elevador!, Bianca foi surpreendida por Beatriz, na entrada do prédio. E só então se tocou de que nem tinha preparado o que dizer! Como começaria aquela conversa? “Oi, Beatriz, vim aqui para a gente se resolver porque essa história está me dando gastura”?. Não parecia sensato.

Não parecia igualmente coerente aceitar àquela carona. Só queria conversar, por um momento até torceu para nem a encontrar no trabalho. Não pretendia ir à casa dela, socorro! Quis mandar uma mensagem para Teresa, pensou até em Fábio, mas também não soube como começaria aquela história. Quis rir, mesmo estando super nervosa.

Manteve o celular dentro da bolsa, Fernanda toda hora se virava para olhá-la, vai que numa dessas consegue ver o que ela estava fazendo antes de desligar o celular! Preferiu não correr nenhum risco, ficou olhando para fora da janela, imaginando como seria o desenrolar daquela noite. Não conseguiu imaginar!

            Subiram no elevador em silêncio, e por estarem bastante próximas notou que Beatriz era mais alta que ela. Reparou que usava sapatos baixos, mas de estilo diferente da namorada, que lembrava tênis. Ao levantar os olhos reparou que Fernanda era mais alta de todas, e mantinha no rosto um sorriso amigável. Seu olhar também foi amigável, quando a porta se abriu e se dirigiram ao apartamento de Beatriz.

Tudo ali parecia ter sido meticulosamente arrumado. Desconsiderando o fato de o apartamento ser repleto de miudezas, cada objeto parecia ter sido milimetricamente organizado: os enfeites na estante, as pequenas esculturas na mesinha do centro, e até os quadros aparentavam total simetria. Parecia haver uma proibição contra um desnivelamento entre as molduras. Bianca a imaginou arrumando aquilo com régua, com fita métrica.

Ela, não. A empregada, certamente. O lugar era enorme, manter aquilo tudo limpo, e ainda por cima arrumadinho assim, devia ser um inferno. Ficou até meio sem jeito de se movimentar ali, se sentiu um pouco deslocada. Por sorte, Beatriz sumiu de vista assim que entraram, pois ela deixava tudo ainda mais tenso.

Seu primeiro pensamento quando entrou foi na provável dificuldade que Beatriz teve para mobiliar cada um dos cômodos daquele lugar imenso. Além daquela sala, podia ver parte de outra sala e a porta que dava para um cômodo que tinha a luz acesa – provavelmente a cozinha, devido ao barulho incessante de pratos e talheres.

Pode ver, logo que entraram, que tinha um corredor que se  estendia, além da escada que Beatriz tinha subido. A mulher subiu uma escada! O apartamento era duplex! Dois andares para arrumar, já pensou? Será que junta muito pó quando se mora no topo de um prédio? Bianca se viu pensando se Beatriz já tinha matado alguma barata ali. Certamente pesquisaria depois se baratas voam tão alto!

Imaginava que havia pelo menos uns três quartos na parte de cima. Talvez tivesse um também naquele andar. Seriam todos mobiliados e arrumadinhos daquele jeito todo metódico?

Acabou dizendo que estava sem fome, mas queria comer. Sua barriga até roncou quando recusou o lanche, oferecido por Fernanda.

Torceu para que ela não tivesse escutado. E também para que o lanche fosse bom (sim, porque no fim ela foi mesmo buscar algo para comerem. Ela, não. “Cícera”).

            Cícera provavelmente era a general daquele quartel. Possivelmente uma pessoa de confiança que passava horas medindo com régua de reboco a distância exata entre cada objeto, cada móvel, cada coisinha.

            Deu uma risadinha e pegou o celular dentro da bolsa. Assim que ligou, a tela mostrou o perfil de Fernanda. Reconheceu que gostava mesmo dela. Não apenas devido à maneira com que conseguia colocar Beatriz novamente nos eixos, mas também sua simpatia, que era cativante. Era uma moça nitidamente bem educada, mas não no sentido de etiqueta; mas de boas maneiras, que faz mais que o mínimo. Ficou pensando o que teria unido duas pessoas tão diferentes e, na metade do pensamento, se flagrou comparando o relacionamento entre as mulheres com o que tinha com Fábio.

Beatriz era inegavelmente parecida com ela. E Fernanda, assim como Fábio, era a pessoa responsável por trazer ao romance aquela indispensável pitada de humor e calmaria. O prumo.

Ao voltar a tela para o perfil de Beatriz, acaba esbarrando sem querer na aba de fotos marcadas, e ali Bianca encontrou o que queria encontrar quando a procurou mais cedo no Instagram: milhares de fotos. Muitas dela discursando (em púlpitos, com microfones de mão, de rosto, em palcos, em salas de aula), várias outras em que aparecia com outras duas, às vezes três, quatro pessoas. Havia grupos em que ela aparecia ao primeiro plano, e atrás se via uma multidão. Aquilo a surpreendeu! Ela era popular.

 

- A Cícera está acabando de assar uma torta – Fernanda anuncia, de volta à sala. Equilibrava nas mãos uma bandeja com dois copos e uma jarra de vidro, que tilintava com as pedrinhas de gelo dentro – Não sei de que maneira, mas ela sabia que nós estaríamos acompanhadas!

- Ela é bruxa? – Bianca satiriza, sorrindo.

- Não sei... Acho que sim! – Fernanda responde, com uma careta, a voz falhando no final – Bom, se não é isso, é algo bem próximo.

 

As duas beberam um gole do chá gelado com limão, saboreando o contraste que a bebida gelada fazia com seus corpos quentes – do clima e do climão que ainda parecia persistir, embora Beatriz já estivesse provavelmente na metade do seu banho.

A sala estava um pouco na penumbra, o sol já se escondia praticamente inteiro atrás da colina e recebeu a atenção de Fernanda, que não ainda sorria, agora para o céu. Bianca, também atraída pela luminosidade que se tornava cada vez mais fraca na parte de fora, se deixou absorver pelo interior do apartamento.

 

- Uma das coisas mais lindas é o pôr-do-sol, não é mesmo? – Fernanda pergunta. Seu sorriso àquela hora mal podia ser percebido em meio ao crepúsculo que mergulhara a sala em que estavam – Acho que nunca vou me cansar de ver o sol se escondendo atrás dessa montanha!

- Sim, realmente é lindo – Bianca concorda, gentil. Sorria apenas porque a outra fazia o mesmo.

- Gosto de assistir ao entardecer. É uma das melhores lições que podemos tomar, diariamente! – ela garante, levantando-se e acendendo a lâmpada de um abajur. O interruptor era no chão, e ela acendeu com o pé – Às vezes achamos que tudo está perdido... Mas se olharmos sob o ponto de vista da natureza, quando o sol se põe, tudo parece acabado também. E o que acontece no dia seguinte?

- Começa tudo de novo? – Bianca arrisca, vendo que a outra continuava acendendo abajures espalhados pela sala. Talvez todos passassem despercebidos, caso permanecessem com suas lâmpadas apagadas. Pareciam enfeites.

- Sim! Ele ressurge e nos mostra que não importa o que a gente pensa, ou acha, e nem a dimensão dos nossos problemas: o dia seguinte nasce para nos mostrar que é possível um recomeço, é possível uma segunda chance. Uma terceira, uma quarta, pelo menos 365 por ano.

 

Bianca nunca tinha interpretado o nascer e o pôr do sol daquela maneira, e se surpreendeu em como a simplicidade do que Fernanda tinha acabado de falar fazia mais sentido do que muita coisa que já tinha ouvido (já tinha escutado cada opinião esquisita!).

 

- Não concorda? – Fernanda insiste, parando ao seu lado e sorrindo para ela.

- Sim. Totalmente – Bianca responde, pensativa, bebendo mais um gole de seu chá gelado – Você aprendeu isso quando estudava para ser médica?

- Oh, não. Minha mãe é que me diz, sempre que chego em casa com algum problema. Eu ouço isso desde criança.

- Sua mãe é médica?

- Não. É costureira.

 

Bianca sorriu para ela e não conseguiu evitar um suspiro complacente. Era notável que provavelmente um dos motivos para Fernanda ser tão diferente de Beatriz é que ela tinha sido bem educada, cresceu sendo amada e direcionada por uma mulher inteligente, sensata. A outra não teve essa chance, e Bianca se compadecia dela por isso. Sua mãe, assim como a de Fernanda, sempre tinha bons conselhos e palavras sábias, cheias de ensinamento, que soltava em frases soltas no meio das conversas. E fazia também ótimas comidas, tinha um livro de receitas que ela tinha criado, ou aperfeiçoado. Comida muitas vezes consola, Bianca pensa, com a barriga roncando novamente.

 

- Se importa em ficar alguns minutos sozinha? – Fernanda pergunta, apoiando seu copo na bandeja, provocando um estalo que a trouxe de volta – Vou ver se a Bia ainda demora a descer.

- Pode ir, não se preocupe comigo – Bianca garante, sorrindo de maneira educada.

 

A verdade é que detestava estar ali e a sensação incômoda que a invadia estava duplicando a cada segundo que permanecia sentada, sozinha, naquela sala imensa. Não queria provocar aquilo.

Levantou devagarinho, com cuidado para não fazer nenhum barulho e chamar a atenção da mulher que permanecia na cozinha. Bianca ouvia alguns sons vindos de lá, e principalmente um cheiro muito gostoso. Ela nem estava com fome, de verdade, mas aquele aroma estava provocando uma necessidade de comer. Ela nem sabia o quê!

Aproveitou que estava sozinha e se permitiu observar o máximo de detalhes que conseguisse absorver daquele lugar. Teresa ia querer saber, então se esforçou para registrar. A disposição dos móveis, a cor, o número total de abajures (nove).

A televisão era gigante, talvez de 50 polegadas, ou até mais. Era mais fina que o quadro que ficava na parede oposta (todo colorido, até se destacava diante da sobriedade de todo o resto).

Sua atenção foi desviada pelas fotos emolduradas em porta-retratos de tamanhos e cores diferentes, que enfeitavam cada espaço livre da parede perto dali. Eram várias fotos (mais do que Beatriz tinha postado no Instagram!).

À primeira vista, observou que ela não tinha mudado muita coisa depois que entrou na adolescência e a comprovação eram aquelas fotografias. Continuava magrela e sem-graça, e aquele olhar penetrante de quem está lendo a sua mente e todos os seus pensamentos era sua marca registrada há anos.

Bianca, entretanto, precisou aceitar o fato de que, quando criança, quando ainda tinha aquela inocência típica da infância, podia ser encontrado em seus olhos algo que a lembrava sua mãe. E também o cabelo, que era muito parecido, apesar de estar quase sempre preso.

E foi com um sobressalto que Bianca se agachou para observar melhor uma foto, quase no chão. Beatriz ali tinha cinco, seis anos no máximo. Estava com o rosto pintado com uma enorme borboleta azul e rosa e, ao contrário de praticamente todas as outras fotos, estava com os cabelos soltos. Colocou os dedos sobre a boca da menina na fotografia, e observou os cabelos que emolduravam o rosto e o nariz, arredondado e levemente arrebitado.

 

- Vejo parte da senhora aqui, dona Catarina – ela sorri, balançando a cabeça.

 

Ficou feliz e triste. Não soube explicar. Se levantou com um pouco de dificuldade, se perguntando como era possível nunca ter notado aquelas semelhanças entre as duas.

E agora conseguia ver similaridade em todas as fotos (e eram muitas!). Será que ela que não quis ver? Mas por quê?

 

- Muitas vezes a verdade está diante dos nossos olhos, mas existem impedimentos não nos permitem ver – Cícera fala, entrando na sala trazendo em uma das mãos um prato com um pedaço de torta. Na outra tinha uma xícara que exalava erva-cidreira – Fico feliz em te ver, Bianca – complementa, antes que ela possa dizer alguma coisa.

- Ei, eu conheço você! – Bianca afirma, em tom acusatório. Não percebeu em que momento apontou o dedo para a mulher – Conheço, sim. Você é a mulher que me falou sobre o bebê. Lá no mercado, há alguns meses, você me disse... Você falou sobre o meu bebê! – Bianca repete, um pouco atônita.

- Meu nome é Cícera – a mulher responde, sorrindo gentil – Eu não sou a “general” e aqui não é um quartel.

- O quê? Como é que você...? O que você é, afinal?

- Sou quem organiza as coisas aqui no apartamento. Tem gente que fala “secretária”, “diarista”, “doméstica”, “empregada”...

- Eu já entendi – Bianca interrompe, impaciente, fazendo com a mão um gesto que poderia ser interpretado como um pedido de calma. Ou uma ameaça de agressão – Não é isso que eu quero saber.

- Você precisa me dizer o que quer saber. E então saber como vai me perguntar – Cícera afirma, apoiando na mesa o que trouxe da cozinha.

 

            Bianca encara a mulher, e depois a torta, no pratinho em cima da mesa. Antes de comer um pedaço constatou que aquela seria uma longa noite.

 

 

Fim do capítulo

Notas finais:

 

Meninas, momento "caribu abre o coração" rsrs

Quero a ajuda de vocês para definirmos juntas um detalhe dessa história!

Faz dias que fico pensando em qual seria o novo emprego/trabalho da Bianca (porque na versão original da história isso nunca foi dito). Editando este capítulo, vi que tem duas brechas nesse sentido: algo relacionado a social media (que seria válido, mas confesso que tenho um pouco de resistência, não sei se seria o melhor caminho), ou venda de comida (marmita, quitutes, bolo, sei lá), com receitas da mãe.

Antes eu já tinha pensado em casar, de alguma forma, o novo trabalho com o site de venda da irmã da Fernanda, mas não sei...

Queria algo que ela pudesse ficar perto de casa, mas sendo dona dela mesma, sabe... <3

Me ajudem!

#umtrabalhoparaBianca #ajudeBianca #leiacaribu


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Comentários para 43 - Quarenta e três:
olivia
olivia

Em: 15/09/2021

Boa tarde autora, você surpreende a cada capítulo! Estou precisamente apaixonada pelo seu romance,ele prende tira o fôlego ! Demorei para lhe encontrar mas, valeu a pena! Todos personagens são brilhantes, o Joaquim é meu amorzinho ! Gostaria que minha terapeuta tivesse oportunidade de ler esse Romance,é de encantar qualquer um que, goste de boa leitura!! Parabéns ???? sabor de quero mais!!!


Resposta do autor:

 

Boa tarde, Olivia! Que delícia receber seu comentário, fico feliz que te surpreendo!

Um feito e tanto, depois de 40 e tantos capítulos rs

Mostra o livro pra sua terapeuta! <3 Em breve ele vai estar à venda tb, aviso quando estiver pronto!

Estou acabando de editar o próximo capítulo! Já já libero!

Beijos!

Responder

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NovaAqui
NovaAqui

Em: 09/09/2021

Acho que ela pode trabalhar com suas comidinhas no futuro, mas  antes ela pode  trabalhar nas mídias sociais da irmã, do   consultório, para tornar as mídias sociais de Beatriz uma página interessante. Depois que ela deixar isso organizado, ela parte para comidas com a ajuda de Cícera (iria sugerir essa nova atividade para ela no futuro)

Ansiosa para essa conversa Cícera e Bianca. Se Bianca souber perguntar, terá muitas respostas.

Abraços fraternos procês aí!


Resposta do autor:

 

Aprendi isso, um tempo atrás, e acho muito interessante! Temos que saber perguntar, né, pq as perguntas muitas vezes importam mais que as respostas!

Acho que ela vai acabar vendendo comida msm! Faz sentido, é acessível e envolve a mãe, a Cícera! 

Vamos ver!

Aguardemos os próximos capítulos (literalmente rsrs).

Beijos!

 

Responder

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Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 09/09/2021

Acho que venda de comidas tipo delivery.


Resposta do autor:

 

Legal!

Grata pela sugestão, querida!

Beijos!

Responder

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cris05
cris05

Em: 08/09/2021

Fernanda é muito gente boa, né. Me amarro no astral dela!

Meu Biafe é perfeito! Rs

Estava louca para esse encontro de Bia Bianca com Cícera. E agora a ansiedade me consome para a continuação dessa conversa rs. Meus dias serão longos até a próxima postagem. #sempressão 

O que será que a Cici é afinal, hein? 

caribu, quanto ao novo emprego/trabalho para a Bianca, o meu voto vai para a venda de comida com as receitas da mãe ( e quem sabe até algumas receitas de Cícera).

Beijos querida!


Resposta do autor:

 

Fernanda é ótima msm, amo! Uma personagem importante!

#biafe <3 <3

Esse finzinho deixa a desejar, né rs Acho TB rsrs 

Cici é bruxa, ué rsrsrsrs 

Legal, acho que a ideia das comidinhas é a mais plausível né! Tem mais a ver! 

Volto logo, loguinho! 

Beijos!

 

Responder

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