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Amor incondicional por caribu

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Palavras: 4028
Acessos: 2115   |  Postado em: 01/09/2021

Quarenta e dois

 

            Naquela manhã, Beatriz acordou sozinha. Levou alguns segundos para constatar isso, depois de involuntariamente ter procurado por Fernanda no colchão. Espalmou as mãos primeiro para um lado, depois para o outro, até constatar o óbvio. Tinha se esquecido de que, na noite anterior, a noiva também não estava por ali.

            Assim que abre os olhos se lembra do sonho que teve, beirando as angústias de um pesadelo. A gola da camiseta estava molhada de suor. Pareceu que durou a noite toda, e ela fugia com um bebê por uma avenida que era recorrente em seus sonhos. Acordou sem saber do que fugia, e se no fim conseguia escapar. Parecia que mantinha no corpo ainda a impressão de ter carregado durante horas um corpinho preso ao seu.

            Nunca almejou ter filhos – mesmo quando criança, época em que era comum as meninas brincarem de casinha e de mamãe e filhinha (brincadeiras que Beatriz sempre fugiu; na infância gostava de brincar de cientista e só passou a se sentir deslocada quando os adultos chamaram atenção para o fato). Adorava os livros, sua melhor amiga era a bibliotecária da escola, que sempre a deixava passar os recreios ali, mesmo sendo proibido. Teve uma ou duas amiguinhas na idade escolar porque percebeu que era impossível ser sozinha, e porque as meninas tinham pensamentos “progressistas” como os seus.

            Claro que vivendo dentro dos preceitos heteronormativos não demoraria para que ela se sentisse diferente das pessoas que a rodeavam – todas heterossexuais e de mente fechada, que se absurdavam quando a menina dizia, lá com seus oito, nove anos, que quando crescesse não se casaria, e nem teria filhos. Afirmava que seria estudiosa (adorou conhecer o termo “acadêmica”); queria aprender tudo o que pudesse sobre o mundo, e especialmente a seu respeito. Sentia que havia tanto a desbravar!

            Ainda assim, eventualmente os bebês apareciam em seus sonhos, como este, desta noite. E aí por causa disso, depois de muito tempo Beatriz se lembrou da sua recente fase de grávidas, onde este era o tema central de suas criações artísticas – que andavam tristemente bloqueadas, desde então (só um artista sabe como é angustiante sentir a necessidade da criação ser impedida por uma força maior. É uma impotência que acua, numa frequência distante da Santa Inspiração – que é divina. Um ciclo torturante).

O inconsciente humano é um universo desconhecido, e era sempre chocante constatar que mesmo depois de uma vida inteira se analisando, e analisando os outros, ela não sabia muita coisa a respeito. Não sabia muita coisa de si mesma! Isso se aplicava tanto às criações quanto à sua falta, e também às grávidas, que voltaram repentinamente ao centro de seus pensamentos. Esfregou os olhos pensando em como era fácil se render à tentação de embarcar em mil pensamentos, que certamente a consumiriam, mas tinha um dia inteiro pela frente.

            Levantou dois minutos antes do despertador, que tocou quando ela já estava debaixo do chuveiro, listando as tarefas do dia. Já estava novamente de volta ao trabalho, embora atendendo ainda uma quantidade menor de pessoas. Optou por esta estratégia quando percebeu que talvez ainda demoraria a estar 100%, mas se afastar do trabalho não era nem lógico e nem mesmo recomendado. Ao menos lá ela se distraía das suas próprias questões. Tinha mais facilidade em lidar com o que era externo, afinal de contas.

 

- Bom dia – cumprimenta, entrando na cozinha. Olhou de soslaio para mesa já posta, com uma xícara já servida de chá – E lá vamos nós...

- É só um chá, menina – Cícera responde – Bom dia.

- Nunca é “só um chá”, Cícera – Beatriz retruca, sentando-se e abrindo o primeiro caderno do jornal – Mas o cheiro está ótimo, grata –complementa, bebendo um golinho.

- Colhi esse alecrim do meu jardim, hoje de manhã, antes de vir. O chá auxilia na digestão, combate o cansaço mental, é diurético... um verdadeiro antibiótico natural – a mulher lista, vendo a outra beber mais um pouco – A natureza é uma grande farmácia, as pessoas ficariam menos doentes se aproveitassem mais do que nos é dado.

- É verdade – Beatriz responde, fechando o jornal. Não estava com humor para se informar, logo cedo. Ou melhor, estava com humor e não queria estragar, já no desjejum – Ainda há muito a se descobrir. Remédio convencional tem muito efeito colateral, muitas vezes provoca danos que nem faziam parte do quadro inicial.

- Tipo a Vilma, mulher do seu Nonô, que teve depressão tomando remédio para baixar a pressão – Cícera diz, sentando-se e se servindo do chá.

- Sim, tipo ela – Beatriz concorda, observando a mulher adoçar sua bebida – Há medicamentos, betabloqueadores, que têm princípios ativos que podem induzir à depressão. Ainda bem que o médico dela viu a tempo e mudou. Por isso é importante sempre contar tudo na consulta! – ela para de falar de repente – É sério que vamos beber o mesmo chá?

 

Tentava buscar quando aquilo tinha acontecido pela primeira vez. Era recente, lembrava, mas não conseguia se recordar do que tinha acontecido na ocasião. Cícera parecia que previa as coisas, e o chá logo cedo era sempre um indício de algum evento atípico (“excepcional”, como ela gostava de dizer). Ultimamente tinham sido algumas várias manhãs começando daquele jeito, mas só em uma Cícera a acompanhou e ambas beberam o mesmo chá.  

 

- Colhi esse alecrim no meu jardim – Cícera responde, dentro da xícara, mantendo apenas os olhos visíveis. Beatriz achou que ela sorria enquanto falava – É um ótimo diurético e antibiótico natural, combate a fadiga, ajuda a digerir as coisas – ela vai falando como se aquilo fosse novidade – Ainda há muito a se descobrir na natureza – emenda, como se aquilo fosse fala sua. Quando abaixou a xícara, estava sorrindo.

- Cícera... – Beatriz nem tinha o que falar. Sorriu também e voltou para o seu café da manhã. Comeu uma torradinha porque sabia que aquilo deixaria a mulher feliz.

- E Fernanda?

- Foi para casa – ela levanta os ombros ao responder.

- Eu achei que sabiam dela. Que os pais dela sabiam que vocês namoravam – Cícera se apressa em dizer, vendo a cara de surpresa que a outra fazia.

- Não sabiam, oficialmente – Beatriz responde, ciente de que não havia comentado nada sobre o fato de a noiva finalmente ter se assumido para a família – Tem gente que é boba.

- São pais, Bia – Cícera sorri novamente – Acredito que se sintam mais traídos pela demora dessa oficialização do que pela revelação em si.

- É, não entendo muito de relações familiares. Ou melhor, até entendo, mas de maneira distante. Em todo caso, ela disse que já está tudo bem, que todos já se entenderam, mas quis passar essa semana lá. Falou que hoje talvez venha, mas quem sabe?

- Sorte que o grande dia já está logo aí! Faltam apenas as preparações finais! Você precisa ser forte, Bia.

- Tudo bem – Beatriz diz, mas percebe que já tinham mudado de assunto, porém não teve tempo de dizer mais alguma coisa.

- Agora, tchau, vai trabalhar que hoje será um longo dia. Almoça direito, e se não der, faz um lanche. Vou mandar uma mensagem para a Cíntia te lembrar de comer.

 - Não precisa, eu vou lembrar.

- Não vai – Cícera sorri, levando as duas xícaras para a pia.

 

            Naquele dia, Beatriz e Fernanda se cruzaram rapidamente no corredor, um pouco antes do almoço. Não comeram juntas porque ela tinha uma chamada de vídeo marcada com Arthur, que a vinha sondando para assumir uma das turmas da faculdade – ao que ainda vinha respondendo com certa resistência.

            Parecia até estranho titubear, depois de uma vida toda dedicada aos estudos, mas Beatriz queria ao menos adiar aquilo tudo, que certamente tomaria várias horas do seu dia, comprometendo totalmente o seu trabalho. Por isso precisava organizar tudo na clínica, era algo que ainda tinha que tratar direito com Fernanda, que ficaria responsável pelo local. Mas ultimamente andavam com as agendas corridas, e mal conversavam sobre os assuntos diários, que dirá os grandes planos.

            Ou melhor, o maior de todos era justamente o foco do momento, afinal o casamento seria em breve. E mesmo sendo um evento simples, seriam apenas os mais próximos, menos de cem pessoas, era algo grandioso que exigia delas certa atenção.

            Assim que se despede do amigo, Beatriz olha para o relógio, triste porque a conversa se estendeu mais do que gostaria, e por isso ficou completamente sem tempo para almoçar. Já tinha se convencido disso quando, alguns minutos depois, acompanhou Cíntia entrar na sala e entregar a ela um sanduíche natural embrulhado em papel alumínio. Ela então comentou que, coincidentemente, naquela manhã tinha preparado alguns lanches, e levado dois a mais, achou que sem motivo, com um patê que Cícera tinha ensinado, mas disse que a mulher não pareceu surpresa, quando conversaram algumas horas mais cedo (e Cícera tinha pedido justamente para ela fazer Beatriz comer!).

Beatriz achou aquilo engraçado, e agradeceu a generosidade – e pontualidade (de Cíntia e Cícera!). Só teve mesmo tempo de comer aquilo, antes de iniciar os atendimentos da tarde. Foram dois, mas que a fizeram trabalhar bastante, assim que as consultas terminaram.

            No fim do dia, nem precisou olhar para a porta para saber que quem batia era Fernanda. Ela tinha um jeito específico de dar as batidinhas, desde o início, e era um hábito passar por ali quando saía de sua sala, no fim do expediente. Era caminho para a recepção, e aquele encontro já fazia parte da rotina.

 

- Tudo pronto? – Fernanda pergunta, puxando uma pasta que estava escorregando dos braços. Seu rosto transmitia o cansaço acumulado durante aquela semana, que tinha sido puxada para ela – Terminou aí? Vamos embora?

- Vamos, sim – Beatriz concorda, fazendo as últimas anotações em seu caderno, antes de desligar o computador – A Cíntia já foi?

- Já. Marcou o retorno do seu Paulo, logo que ele saiu daqui, e eu a liberei. Ele volta na terça, dia 23, a propósito.

- Ótimo. Então me libere também, doutora. Preciso muito tomar um banho e deitar, com você – ela diz, se levantando e dando um beijo na mulher, que ainda estava parada na porta – Estou com saudades de você... semanas inteiras dormindo sozinha.

- Exagerada – Fernanda mostra a língua para ela – Não deu nem uma semana completa. Vai logo, Bia. Vou guardar as pastas. Não demora.

- Te encontro em um minuto.

 

Beatriz caminhou até a estante e antes de fechar a janela deu uma breve olhada para baixo, e depois olhou para o céu. No fim, tudo tinha corrido bem, mas não quis pensar isso porque poderia ser mau agouro. Pensar nisso a fez pensar em Cícera, e ela sorriu.

Ainda estava na janela quando se lembrou do chá daquela manhã, e finalmente se recordou de quando as duas, Cícera e ela, beberam o mesmo chá. Foi quando viu Bianca pela primeira vez. O dia do churrasco, quando ela desejou fortemente nunca ter que conviver com aquelas pessoas.

Não era difícil explicar o porquê de ter tanta resistência à irmã. O problema era que, ultimamente, fugir daquilo a fazia se sentir boba, imatura, até. Mas no fim se convenceu de que não lhe faria nenhum mal fugir daquilo por mais uma noite, e fechou a janela com uma postura diferente.

 

- Finalmente parou de chover! – ela diz, encontrando a noiva na recepção. A mulher lia um papel, com a gaveta do arquivo aberta, e guardou a pasta quando a viu ali.

- Pois é, mas minha mãe disse que a previsão é de chuva para o final de semana – Fernanda sorri, caminhando até a porta do consultório de mãos dadas com a mulher.

 

Deu um suspiro profundo, pouco antes de entrarem no elevador. Imaginou que nunca se enjoaria do cheiro daquele lugar. O aroma de Beatriz misturado ao aroma da clínica era uma combinação perfeita. Típica dali!

A clínica tinha um cheiro diferente da casa de Beatriz, mas era parecido. Talvez por isso gostasse tanto. Deu um sorriso para Beatriz, que retribuiu, sem saber o que ela pensava.

 

- Hoje falei com a Fabi. Achei que gostaria de saber – ela comenta.

- Preciso falar com a Marcela, eu sei, estou enrolando – Beatriz resmunga, quase como se falasse sozinha.

- Precisa, Bia. Já faz semanas que aconteceu aquele jantar desastroso. Ela se aborreceu com você.

- Sim, eu sei – ela suspira, soltando a mão de Fernanda, e se forçando a pensar em outra coisa.

 

Pretendia estudar durante o final de semana e para isso tinha reunido alguns artigos, que encontrou garimpando na internet. Verificaria um por um no programa que detecta plágio, e só daria atenção àqueles que eram 100% originais. Se interessava por ideias assim, não copiadas. Talvez tentaria algo no ateliê; quem sabe ficando lá algumas horas, conseguisse fazer algo. Ou então escreveria.

 

- Ela é sua amiga, amor – Fernanda insiste, a impedindo de fugir do assunto – Você foi indelicada, baby.

- Sei disso também – Beatriz afirma, sorrindo quando a mulher voltou a segurar em sua mão – Eu vou falar com ela. Mas não hoje, tá bom? Hoje eu só quero paz.

- Bia, você precisa parar de fugir das responsabilidades, meu amor.

- Não é fuga. É só... – ela para de falar, porque não havia nada a ser dito.

 

Mesmo assim Fernanda sorriu para ela, num gesto de encorajamento, não julgamento. Não pretendia pesar ainda mais na mente da mulher, pois sabia que ela já se cobrava por duas. Voltou a segurar em sua mão, e deu um beijo breve, pouco antes de a porta do elevador se abrir. E, quando enfim se abriu, as reações das duas foram adversas. Fernanda arqueou as sobrancelhas, admirada e surpresa, e Beatriz suspirou impacientemente quando Bianca apareceu, de repente, em seu campo de visão. A mulher usava uma camiseta branca que tinha uma única estampa: um ramo de alecrim.

 

- Sorte que te encontrei aqui, ainda – ela diz, observando as duas, que pareciam paralisadas ali dentro.

 

Bianca olhou e rapidamente desviou o olhar das mãos das duas, com os dedos entrelaçados, quando percebeu que também estava sendo observada. Fernanda tinha até que um semblante amigável, mas Beatriz fazia cara de poucos amigos. O som do elevador, que indicava estar prestes a fechar a porta, foi o maior incentivo para que elas saíssem – e ao saírem, ficaram tão próximas que quase podia sentir a respiração do casal.

Beatriz tinha um perfume suave, mas era intenso, um cheiro meio amadeirado. Já tinha sentido aquele perfume em algumas madames no mercado. Fernanda exalava de maneira mais doce, e a roupa das duas parecia ter sido lavada com o mesmo amaciante.

Fernanda olhava ora para Beatriz, ora para Bianca. Que surpresa inesperada, e também que encontro propício para as duas finalmente se entenderem, se resolverem. Aquele era uma época boa para isso, ela sabia bem, afinal tinha finalmente saído do armário – uma expressão tão arcaica, e ela já tão velha, se sentindo tão menina diante da família reunida no jantar, revelando o óbvio, se ouviu falar aquilo, em voz alta, pela primeira vez. A emoção da revelação com o alívio de finalmente ter falado. Era tipo band-aid: se tirar rápido dói menos – e o ensinamento valia para aquelas duas.

 

- Peguei um Uber, para chegar a tempo. Nem sabia se te acharia – Bianca fala, dando alguns passos para o lado – Não pensei muito, só vim. Preciso muito conversar com você.

- Eu já estou indo para casa – responde Beatriz, seca. Tentou se soltar da mão de Fernanda, mas ela não deixou – Sinto muito, mas teremos que conversar outro dia.

- Talvez essa seja uma boa oportunidade para acabarmos de vez com esse mal-estar – Fernanda interrompe, fingindo não sentir o olhar fulminante de Beatriz – Vem com a gente até em casa, eu te levo embora, mais tarde.

- Fernanda – Beatriz chama, mas não diz nada. Não soube o que dizer, porque de repente a noiva parecia uma convidadeira, cada dia levando uma pessoa diferente para a tranquilidade de seu lar.

- Não sei se devo – Bianca responde, quase ao mesmo tempo.

- É claro que deve – Fernanda afirma, segurando em seu braço gentilmente e caminhando até a porta que dava acesso à garagem – Já passou da hora de vocês duas conversarem. Não faz sentido ficarem inventando desculpas e adiando o que é inadiável. Já deu, está na hora. Vocês precisam crescer.

- Fernanda, eu posso resolver isso sozinha – Beatriz garante, tentando se desvencilhar de sua mão.

- Sei que pode, amor. Você pode, a Bianca também pode, ninguém precisa da minha intermediação, eu sei – Fernanda sorri, soltando sua mão apenas quando chegaram em frente ao carro – Mas posso auxiliar.

 

Bianca não sabia se era sensato acompanhá-las. Nada daquilo fazia parte dos seus planos – talvez só a resistência de Beatriz, que estava notadamente aborrecida e contrariada. No fundo, tinha até torcido para chegar lá já depois de ela ter ido embora, só a viagem de ida e volta já ajudaria a esfriar um pouco a cabeça. Mas as encontrou, achou que porque tinha que ser, um minuto a mais e teriam se desencontrado. Só pareceu prudente acompanhá-las porque Fernanda impediria Beatriz de fazer qualquer coisa (não que houvesse esse risco. Ela achava que não, mas vai saber!).

Beatriz, por sua parte, se sentia assaltada por mil pensamentos e emoções. Além do cansaço, que parecia ter triplicado nos últimos segundos, estava brava porque nunca gostou de demonstrar afeto em público, em especial na frente de pessoas como Bianca. Sentiu uma pontada de dor de cabeça, o que fez a irritação aumentar e a força que usou para fechar a porta do carro foi a maneira perfeita que encontrou para demonstrar que fazia o que estava fazendo contra a sua vontade.

 

- Não se preocupe, Bianca – Fernanda fala, colocando o cinto e virando-se ligeiramente para trás – A Bia faz barulho, mas não morde – ela dá uma piscadinha no final.

- Fernanda... – Beatriz suspira, apertando o volante com força – Não queira piorar o que já está ruim, meu bem.

- Minha intenção não é brigar, gente, eu juro. Não quero também que vocês briguem por minha causa. Não quero nenhum tipo de briga, de verdade. Vim em paz! – Bianca garante, tentando disfarçar, em vão, a vontade de chorar.

- Também sou da paz, Bianca – Beatriz retruca, após alguns minutos de silêncio. Sentiu que era seu dever dar alguma resposta. Ela não era a vilã daquela história, entretanto, ao falar se sentiu infantil. Talvez por conta do timming – Mas isso não significa que só por isso seremos “amigas de infância”.

- Não quis dizer que significaria – Bianca resmunga, tentando se distrair com a paisagem que enfeitava o exterior do carro.

- Ótimo. Um ponto a menos para discutirmos – Fernanda sorri, se esforçando para amenizar o clima entre as duas. Bianca e Beatriz preferiram não responder.

 

Era visível e notável qual das duas era a bem humorada. Definitivamente não era Beatriz. Fernanda parecia, inclusive, até se divertir um pouco com a situação. Ou tentava amenizar do jeito errado, Bianca não sabia. Mas sentia que a cordialidade de Fernanda colaborava para a irritação de Beatriz, notável naquele climão todo.

Bianca não prestava atenção exatamente ao cenário que circundava aquele trajeto, mas chamou a sua atenção passarem por uma cancela. Ficou bastante surpresa quando constatou onde Beatriz morava. Já tinha visto o prédio algumas vezes nas revistas, pois o condomínio abrigava alguns famosos de novela.

Beatriz estacionou o carro de maneira quase mecânica e ao desembarcar caminhou depressa no estacionamento, rumo ao elevador. Imaginava que quanto antes começasse essa conversa com Bianca, mais depressa se livraria dela. Não que a desprezasse tanto assim; apenas não queria nenhum tipo de aproximação, ainda mais desse jeito, espontânea, de surpresa. Tinha passado o dia desejando chegar em casa, desejando Fernanda, e em nenhum momento suas divagações incluíram a principal responsável por perturbar seu sono.

            Fernanda sorri para Bianca, a deixando entrar na frente, logo depois de Beatriz. Ficou surpresa por encontrar Cícera ainda por ali, àquela hora.

 

- Eu preciso tomar banho – Beatriz anuncia, assim que entram no apartamento – Eu já desço.

- Vai, amor – Fernanda responde, com um olhar cheio de amor e cumplicidade – Vou pedir para a Cícera servir algo para a gente lanchar. Está com fome, Bianca?

- Na verdade, não – Bianca responde, um pouco sem jeito, vendo Beatriz subir apressadamente uma escada perto dali.

- Pode sentar, fica à vontade – Fernanda convida, apontando para o sofá azul, enquanto caminhava em direção à janela que tinha o mar ao fundo – Você quer água, um café? Não? Tá, vou providenciar um lanchinho para a gente, fica à vontade – ela repete, vendo Bianca finalmente se sentar –  Eu já volto, tá bom?

 

No andar de cima, Beatriz já estava dentro do box, sentindo a água forte e gelada bater contra as costas. Suspirava de maneira descompassada e se ordenava manter a calma. Não era sensato se deixar levar por todos queles sentimentos que trancafiava há dias dentro de si mesma. Além de ser irracional, era injusto: não podia esquecer que Bianca estava grávida.

Sem querer, sorriu com a lembrança. Tinha ficado penalizada com a história de Bianca, antes de conhecê-la. Sempre que ouvia Fábio falar da esposa, se compadecia com os relatos. Isso parecia ter acontecido numa época já tão distante, que ela não consegue disfarçar um muxoxo, seguido de um longo suspiro. Que reviravolta! Parecia até história de romance!

Tudo o que queria era aquela vida pacata de volta, onde se envolvia nos problemas dos pacientes como se observasse a distância, de uma caixa de sapato. Como não se envolver nos dramas quando se faz parte deles?

Esfregou os olhos pensando que boa era a época em que não precisava desenterrar o que estava morto; felizes os tempos em que seu pai era uma espécie moderna de super-herói. Era conflituoso toda aquela mudança de imagem de repente, e ela ficava brava também com Bianca por aquilo; ela que tinha provocado essas coisas.

Seu pai veio então à sua lembrança. “Faço o que faço por amor a você”, ele lhe dizia, às vezes sem que estivessem conversando sobre algo. “Tudo o que faço, e fiz, é por amor, Bia. Amor por você!”.

 

- Belo amor – ela resmunga, saindo do box e se secando, antes de se enrolar na toalha – Porcaria de amor que inclui proibir uma mãe de ver sua filha crescer. E engloba me trair, dizendo que minha ela morreu logo que nasci. Bosta de amor que te obrigou a mentir para mim durante toda a minha vida.

- A Bianca não tem culpa disso – Fernanda a lembra, entrando de repente no banheiro – Seu pai errou, mas aquela mulher lá embaixo não fez nada para você, Bia.

- Sei que não... Fico brava porque não tenho em quem descontar.

- Isso não justifica descontar na pessoa errada!

- Eu sei...

- Tente ser gentil, então – Fernanda pede, a abraçando. Nem se importou quando sentiu que o cabelo molhado de Beatriz encharcaria sua roupa. Beatriz finalmente estava chorando e tudo o que queria era consolá-la – Deixe de analisar essa situação tão friamente, querida. Permita-se viver e sentir o que está ao seu redor. É a sua vida. Sua nova família.

- Eu nem queria...

- Meu amor! – Fernanda dá uns tapinhas em suas costas.

- Se meu pai não estivesse morto, eu o mataria por isso – ela brinca, emendando uma risada ao choro que não tinha cessado.

 

 

 

Fim do capítulo

Notas finais:

 

 


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Comentários para 42 - Quarenta e dois:
Lins_Tabosa
Lins_Tabosa

Em: 05/09/2021

Como me segurei, lendo esse capítulo depois de quatro dias! Quem sabe o próximo chegue mais rápido, né?! ;D 

Será que finalmente as Bias vão conversar? Espero que sim. Fernanda perfeita em não deixar sua Bia fugir. Super ansiosa e preocupada com a conversa delas.

 

Abrs, o/

 

 


Resposta do autor:

 

SIM!

Finalmente as Bias vão conversar, e tudo será esclarecido!

Ansiosa tb!rs

Beijos!

Responder

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NovaAqui
NovaAqui

Em: 02/09/2021

Essa situação que Beatriz e Bianca estão passando me parece muito real. Poderia ser minha história. Pouco sei sobre meu pai. Sei que sou filha de um caso entre minha mãe e um homem casado. Ele não iria largar a família para ficar com minha mãe. O país de Beatriz não iria ficar com a "empregada". Enredos parecidos.

Não! Não tenho vontade de saber mais desse assunto. O que eu sei é suficiente.  Nunca me interessei pelo meu pai. Tinha tudo que precisava na minha vida pacata. Cresci sem me preocupar com essa parte da minha vida. Deixei para lá! E agora, que cresci, não tive vontade de abrir essa ferida. 

Vamos ver como será essa conversa entre as irmãs. Acredito que agora com Fernanda falando com a noiva, ela vá baixar a guarda e deixar a médica de lado. Vai com fé que a Cícera ainda está na área. O que será que a Cícera vai falar com Bianca agora que ficou sozinha com ela?

Legal a conversa de Fernanda com a família. Tudo acertado. Aqui também fiz igual Fernanda. Só falei quando fui casar.

Bom dia


Resposta do autor:

 

hahaha

Menina, será que tô escrevendo sobre vc e não sei?rs

Sinto pelo seu enredo, mas tb fico feliz de ter acertado, escrevendo algo tão próximo da sua realidade (e de muitas!).

Eu queria ser misteriosa assim, de nem falar oq sou, oq faço...rs Mas sou do tipo Gazetinha, não aguento guardar as coisa só pra mim, aí compartilho, distribuo rsrs

Toda essa conversa vai ser babado, né. Bia e Bia, Bia e Cícera... Vamos ver o que aguarda!

Espero que goste!

Eu sempre falo isso, mas é pq é verdade!rs

Bom dia, querida! Beijos!

Responder

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cris05
cris05

Em: 01/09/2021

Caraca, que climão! Fernanda foi perfeita, mas eu não queria estar na pele dela não rs.

Cici, nossa bruxona do bem, como sempre servindo o melhor chá ( me deu até vontade de tomar chá de alecrim).

Fiquei bem preocupada com esse sonho de Bia Beatriz, viu. Ainda mais que a tal avenida é recorrente nos sonhos dela. Mistério...Cici, corre aqui, preciso te perguntar uma coisa rapidinho senão vou morrer de ansiedade rsrs.

Beijos autora! Excelente semana!


Resposta do autor:

 

rsrsrs

É, se tem alguém que sabe dos paranauê tudo é a Cici (rsrs)

Mas, sim, climão msm! Mas fico feiz msm assim, pq tava na hora de elas sentarem e conversarem.

Só é ruim pq aí depois disso, o livro acaba rsrsrsrs

Beijos, querida! Se cuide e divirta-se!

Responder

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Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 01/09/2021

eita vai 


Resposta do autor:

 

Seguuuraaa!!

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Socorro
Socorro

Em: 01/09/2021

Próximo rápido kkkk


Resposta do autor:

 

Hahaha

São muitas emoções! Vamos digerir devagar rsrs 

Beijos!

 

 

Responder

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