LORENA

Luís quis ter certeza que não havia nenhum invasor no local ou escondido na casa para atacar a Família Real, por isso, saímos do abrigo subterrâneo horas depois, no meio da madrugada. Não nos surpreendemos ou nos chocamos quando vimos os móveis revirados e toda a casa destruída. Todos estávamos cansados, por mais que tudo pareça ter ocorrido muito rápido, a invasão levou quase uma hora, e depois, enquanto aguardávamos a equipe seguir os invasores pela floresta, ficamos mais uma hora e meia os observando, quando finalmente voltaram, foram duas horas até Luís achar seguro que finalmente saíssemos do abrigo. Já estávamos no início da madrugada e ninguém tinha mais nenhuma disposição para trabalhar, principalmente quando todos já passaram o dia todo trabalhando. 

Após sairmos do abrigo, Hera e Luís trabalharam para encontrar pessoas para cobrir seguranças que haviam se machucada e não poderiam continuar trabalhando no restante da noite, e isso levou um bom tempo. Anna foi deitar, mas eu permaneci na sala com Hera, Luís e o Supremo até terminarem tudo o que tinham para fazer. Igor também havia ido deitar, mas Matheus continuou conosco em todo momento, ajudando como podia.

Lucas não apareceu em nenhum momento, ficamos sabendo por sua companheira que ele havia sigo gravemente ferido durante o ataque. Ele foi pego na metade do caminho para a mansão e os invasores quase o mataram, foi sorte terem se interessado em outras coisas e o abandonado no meio da rua. Luís ficou furioso com ele, afinal, Lucas deve andar com seguranças assim como a Família Real, mas, aparentemente, Lucas estava sem nenhuma escolta.

O segundo andar da mansão não estava tão destruído quanto o primeiro, e agradeci mentalmente por isso, pois não teria forças para arrumar a cama antes de dormir se fosse preciso. Hera estava pior que eu, se esforçava para andar, mas pude ver que mal se aguentava em pé de sono e cansaço. Por isso, quando Hera e eu entramos no nosso quarto por volta de quase cinco da manhã, suspiramos aliviadas em constatar que ele estava intacto a não ser pela porta derrubada. 

Sem nos importar, dormimos sem nenhuma porta no quarto.

~*~

Normalmente no dia posterior aos ataques, a alcateia para todos seus serviços comuns para ajudar a reconstruir o que foi destruído, ajudar pessoas feridas, levar e trazer medicamentos, e várias outras coisas que a alcateia exija que seja consertado antes de um próximo ataque. Hoje não seria diferente. Passei a maior parte da manhã ajudando as empregadas a arrumar os móveis quebrados da casa com Anna. Por mais que quisesse sair pela cidade ajudando em outras coisas como fazia anteriormente, sei que agora não posso fazer algo do tipo. Assim como Lia, algumas pessoas não gostaram da chegada da Família Real na alcateia, e agora, eu faço parte dessa família, além do mais, por mais que os boatos sobre eu ter dons tenha sido esquecido temporariamente, Bruno e Lia me disseram que algumas pessoas ainda comentam, por isso, estar na rua seria uma abertura para me fazerem perguntas.

Por causa do ataque, não tive nenhum treinamento, nem com Hera, com Luís, Miranda ou Aliandra, os dois primeiros porque estão interrogando os invasores pegos e planejando sobre a nova informação do esconderijo dos invasores na floresta. Miranda aparentemente está em meditação para alguma coisa - que Elisângela não quis me dizer -. Já Aliandra, não tive notícias.

Quando Anna, eu e as funcionárias terminamos de arrumar pelo menos parte da casa, já passava das uma da tarde. Sem mais nada para fazer, liguei para Lia para saber como estava e depois para Bruno, que se ofereceu para aparecer mais tarde. Quando Bruno apareceu as cinco da tarde com Lia tentei não demostrar minha alegria exagerada ao ver os dois ali, a última vez em que estivemos os três juntos foi quase a um mês atrás e me pareceu a uma eternidade. Abracei os dois sorrindo enquanto me dava conta de como sentia falta de estar com os dois e não percebi.

- Ow! Tá tudo bem? - Bruno dá tapinhas em minhas costas.

- Sim, é só que faz muito tempo que não ficamos nós três juntos. - Lia faz um biquinho com cara de choro e nos abraçamos mais uma vez.

Treinamos juntos durante um tempo e depois ficamos sentados no tatame da sala de treinamento da mansão.

- Mas então? Ainda não descobriram quem é o infiltrado? - Bruno pergunta, ainda mastigando o salgadinho chips. Dou de ombros.

- Não, mas não quero falar sobre isso, dentro dessa casa o assunto é sempre esse, vamos falar de outra coisa. - Alcanço meu copo de suco no centro da nossa roda, lançando um olhar malicioso para Lia, Bruno percebe e também a encara. Ela nos olha desinteressada e continua comendo seu salgadinho. - Você sabe o que quero saber senhorita Lia Arrezzo.

- Sabe? Então me atualiza, por favor. - Bruno intercala seu olhar curioso de Lia para mim. Abro a boca para responder, mas Lia me interrompe.

- Cala boca Lorena! Nem ouse...

- Então é assim? Vai ficar escondendo as coisas de mim Lia? - Bruno faz uma expressão de magoado, que logo é substituída por malícia. - Sendo assim, não tenho por que contar o que fiquei sabendo esses dias sobre você, notícia quente... - Lia abre a boca e seu olhar adquire um tom desconfiado.

- Eu conto, se você contar. - Lia semicerra os olhos para Bruno, que limpa as unhas distraidamente em sua camiseta.

- Claro... Você primeiro... - Ele murmura, sem olhá-la. Observei a cena maravilhada em comprovar o quanto senti falta dos dois juntos. Nós três juntos.

Lia aperta os lábios, insatisfeita.

- Estou próxima de encontrar meu companheiro, sonhei com ele algumas vezes. - Lia diz baixo, como se estivesse envergonhada. Ela mal termina de dizer e Bruno cospe todo o salgadinho em nós. Lia se levanta xingando e eu só consigo rir da expressão hilária de Bruno, que ri descontroladamente. - Qual é o seu problema Bruno?! - Ela bate na própria roupa tentando tirar os pedaços e farelos mal mastigados de si enquanto faço o mesmo. Quando Bruno finalmente para de rir Lia está vermelha com os punhos fechados ao lado do corpo.

- Me avisa quando encontrar, vou dar meus pêsames a ele... - Lia avança sobre Bruno rosnando e não consigo impedir a crise de risos que me domina. Eles rolam pelo chão, Lia disfere socos em Bruno enquanto ele tenta inutilmente bloquear. - Mas... - Ela dá mais um soco e Bruno desvia. - Por que você está brava?

- Seu idiota! - Lia consegue acertar dois socos em Bruno antes de voltar a se sentar onde estava, vermelha e com os cabelos bagunçados. Respiro fundo, tentando controlar a crise de risos que não quer ir embora. Emburrada, Lia cruza os braços. - Isso não tem graça. - Seu lábio treme, indicando que também quer rir.

Bruno se senta perto de nós novamente e paramos de rir aos poucos.

- Desculpa, estava brincando, guardei essa piada até esse momento, precisava falar. - Ele põe uma mão no peito e Lia joga uma garrafa de água nele, que desvia por pouco. - Quando foi o primeiro sonho?

- Alguns dias atrás. - Ela volta a comer seu hambúrguer.

- Já falou com Miranda?

- Ainda não, tive uns eventos para ir essa semana, não tive tempo. - Franzo o cenho.

- Eventos? Os eventos da aristocracia? - Pergunto e Lia dá de ombros. - Por que está indo nesses eventos? Você nunca gostou de ir.

- Por que tive que fazer um acordo com meu pai, posso continuar trabalhando na sala de câmeras se começar a participar dos eventos com minha mãe. - Faço uma careta, mas não digo nada. Não esperava isso dos pais dela.

- Bom, já sabíamos que isso ia acontecer em algum momento. O que vai fazer agora? - Bruno a encara, sério.

- Como assim o que vou fazer? Não tenho mais nada para fazer, vou continuar trabalhando na sala de câmeras e indo nesses eventos ridículos. - Semicerro os olhos para Lia e logo depois encaro Bruno, que também me olha desconfiado.

- Lia, somos seus amigos, sabemos perfeitamente bem que você sempre tem um plano e aposto meu jantar hoje, que você não vai participar desses eventos se já não tiver um plano em mente. - Um sorriso discreto se abre nos lábios dela.

- Vocês parecem me conhecer muito bem.

- Conhecemos. - Rio. - Fala logo, o que você está planejando? - Lia suspira.

- Nada muito triunfal. Até onde eu sei meu companheiro é a única pessoa que pode me tirar da casa dos meus pais, vocês sabem que já tentei fazer isso por conta própria, mas meus pais seguem aquelas tradições ridículas de que uma mulher só saí da casa dos pais quando encontra seu companheiro. Então, esse é o meu plano, esperar meu companheiro aparecer para obrigar ele a me tirar de lá. - Bruno e eu concordamos com a cabeça lentamente. É um bom plano, só tem alguns problemas.

- Você sabe que pode não ser tão simples assim né? - Bruno deita no tatame se apoiando em um dos seus cotovelos. - E se ele for da aristocracia como seus pais?

- Então, vou usar meu segundo plano, mas estou torcendo para que não precise.

- Que é? - Bruno murmura.

- Ainda estou trabalhando nele, então... prefiro não comentar, ainda. - Concordo com a cabeça.

- E se... Ele te rejeitar? - Bruno arqueia uma sobrancelha para Lia, que simplesmente joga os cabelos dos ombros para trás num ato charmoso e sorri novamente.

- Se ele pensar em me rejeitar vou fazer a vida dele um inferno, posso muito bem fazer isso, então a escolha é dele.

- Essa é a Lia que conheço, não aquela histérica de minutos atrás. - Dessa vez ela joga um pacote fechado de salgadinho nele.

- Primeiro preciso conhecer ele, depois vou pensar no meu próximo passo. - Balanço a cabeça negativamente, impressionada com Lia.

- Vocês dois são terríveis. - Lia abre a boca para rebater, mas batidas na porta da sala nos interrompem. Segundos depois Hera aparece no vão da porta.

- Desculpa interromper, mas preciso te apresentar algumas pessoas Lorena.

Engulo em seco e me levanto do tatame. Bruno e Lia fazem o mesmo.

- Já vou indo, Carla está me esperando.

- Eu também, qualquer coisa me liga Lore.

Bruno e Lia saem pela porta me deixando sozinha com Hera.

- Quem?

- Sua própria escolta. - Minha mente se embaralha com a notícia e Hera acena com a cabeça para segui-la.

Fim do capítulo