LORENA

Hera aperta alguns botões e as telas a nossa frente são preenchidas com as imagens dos muros. Ela meche nos painéis cheios de botões mais uma vez, e as imagens mudam para o portão que leva a floresta e dos invasores passando por ele. Vários deles.

- Miguel, fica com os drones. - Hera aponta para uma mesa solitária em um canto da sala. Miguel se aproxima da mesa e começa a manusear o que parece ser controles de vídeo game. Observo toda a tecnologia na pequena sala e só consigo pensar que aquilo provavelmente é uma das várias tecnologias usadas na Alcateia Suprema.

- Tela um e dois são dos drones. - Luís diz, distraído com as imagens nos monitores. Olhei as telas um e dois e vi que a câmera não era fixa, me aproximo de Miguel boquiaberta em ver sua câmera se movimentando, em questão de segundos imagens das ruas da alcateia e dos invasores se espalhando por elas preencheram sua tela.

- Alguém chama o Igor para mim, por favor? - Hera foi para a outra ponta da bancada com botões, frenética. Como se ouvissem de onde estavam, Mateus e Igor entram no cômodo não muito grande, contendo uma parede grande com os monitores e a bancada que Hera controla, as outras duas paredes menores contém  duas mesas posicionadas de frente para a parede principal. Cada mesa individual possuí seu monitor e teclado, ou no caso, controle. Sentindo a presença dos irmãos, Hera passou a disparar ordens sem sequer virar para olhá-los, sua atenção está exclusivamente no grande painel da sala. - Igor fica com a mesa quatro, é um drone com dispositivo de mira e tiro, você é o único que mexia nos drones em casa, isso vai ser fácil para você. - Igor sorri se aproximando da mesa.

- Nem precisa pedir. - Hera Ignora o comentário e mantem seus olhos nos monitores na parede. Matheus se aproxima parando ao meu lado, nós dois paramos para observar os movimentos de Hera.

- Cinco rebeldes invasores indo para ala norte da alcateia. - A voz de Miguel saiu automática enquanto ele manipulava o controle do drone. Sua tela mostra o drone seguindo os invasores ao longe. Luís comunica pelo rádio o que Miguel disse e volta seu olhar para a tela que Hera observava. De repente uma imagem parecendo um mapa surgiu no telão, pela disposição dos elementos deduzi que fosse realmente o mapa da alcateia.

- Matheus, mesa um, repassa as imagens da invasão e fala para mim quantos vampiros rebeldes e bruxos entraram na alcateia. - Tanto eu quanto Matheus ficamos boquiabertos. Até onde sabemos não tem como saber o que ela pediu somente olhando as imagens da invasão. - Instalamos dispositivos nos muros da alcateia de visão térmica que vai te mostrar a diferença do calor corporal de cada espécie. - Matheus se sentou em frente a pequena mesa e passou a mexer no teclado fazendo o que Hera pediu, eu me aproximei dela, formando em minha mente as perguntas que faria depois sobre aquele fato, até então desconhecido por mim. Desde quando se sabe diferenciar as espécies por calor corporal? Existe uma diferença? Mesmo querendo muito saber, guardei as perguntas no fundo da minha mente para outro momento, e voltei minha atenção para o que Hera e Luís faziam.

Luís disparou ordens pelo rádio comunicador sem tirar os olhos do telão maior em que ele e Hera estavam parados em frente. O Supremo Alfa somente olhava as câmeras atento a todos os movimentos deles, mas sem dizer nada. Como se sentisse meu olhar sobre si, ele se virou para mim e acenou com a cabeça para que eu me aproxime, ele volta a olhar os monitores assim que encerro a distância entre nós.

- Você... Está bem? - Franzo o cenho, desconfortável e curiosa com sua pergunta repentina.

- Sim, mas gostaria de poder fazer alguma coisa para ajudar. - Ele concorda com a cabeça.

- Se souber mexer naqueles controles como Igor, fique a vontade para participar, do contrário terá que ficar como eu, só observando.

- Não sabia que você só observava. - Me arrependo das palavras assim que elas saem da minha boca. O que disse pode ser tomado como afronta ao Supremo e posso ser punida por isso, para o meu alívio, ele somente sorri, compreensivo.

- Normalmente não, mas Hera tem sido meu braço direito nos últimos milênios. Em casos de invasões e ataques ela e Bernardo cuidam de tudo, mesmo Bernardo não estando aqui para ajudar sei que ela dá conta das coisas. - Ele pisca simpático.

- Quase não vejo o seu beta, falando nisso.

- A Alcateia Suprema não pode ficar sem ninguém para liderar, tive que mandá-lo para cuidar das coisas por lá enquanto estou aqui. - Concordei com a cabeça. A voz de Luís nos interrompe, chamando nossa atenção.

- Parece que conseguiram deixar um bruxo e um vampiro inconsciente, pedi que os prendessem no complexo de interrogação e que voltassem ao trabalho. - O Supremo concorda com a cabeça satisfeito.

- Peça que os tranquem bem, para não fugirem.

- Pedi senhor. - Luís se volta para a tela.

- Então Matheus? - Hera tira sua atenção do telão, que agora mostra a alcateia vista de cima e pontos coloridos se movimentando de forma rápida. Percebi que os pontos não mostram somente os invasores, pude ver as aglomerações das pessoas espalhadas nas ruas pela alcateia. Por ser mais de nove horas da noite não existem muitas pessoas fora de casa, mesmo assim qualquer pessoa nas ruas nesse momento é uma possível vítima para o grande grupo de invasores.

- Até agora contei dez vampiros, dez lycans e cinco bruxos, mas não terminei de ver a gravação da invasão, deve ter mais. - Matheus acena para Hera, que não retribui o gesto, e volta a olhar o telão.

- Luís, a equipe dois já está preparada?

- Sim, só esperando suas ordens. - Com exceção de Igor, Miguel e Matheus, todos paramos em frente ao telão.

- Certo, avise que estamos no sinal amarelo. Miguel, o que está vendo? - Miguel tirou os olhos da sua tela para nos olhar.

- O grupo inicial que invadiu se dividiu em dois grupos diferentes, Matheus não conseguiu totalizar ainda quantos foram, mas acredito que tenham uns cinquenta invasores, os grupos em que se dividiram são bem grandes, o menor deles está indo para o norte, o maior vem em nossa direção.

- No caso, esses são os que querem nos matar. - Igor diz sem tirar os olhos da tela. Seus dedos se movimentavam com velocidade sobre o controle semelhante ao de um x-box. Caminhei até sua tela para ver o que fazia e constatei impressionada seu drone disparando tiros sobre os invasores nas ruas, sua mira perfeita não errou um alvo até o momento em que voltei minha atenção para o telão principal.

- Miguel e Matheus, avisem quando os invasores estiverem voltando para a floresta. - Um aceno de cabeça de cada um deles foi a resposta. Nesse momento os que não estavam nas pequenas mesas com Miguel, Matheus e Igor, estavam parados, observando o grande telão, esperando por algo que eu ainda não sabia. Me aproximei de Hera mais uma vez, pronta para uma pergunta.

- O que está esperando? - Ela abre a boca com a minha pergunta, mas parece pensar antes de responder, o Supremo do seu outro lado sorri.

- Estou esperando eles irem embora.

- Para quê?

- Para a equipe que eu e Luís treinamos entre em ação. - Não precisei fazer mais perguntas para entender as entrelinhas. Hera tem um plano, um plano bem ousado, os riscos da equipe toda morrer é maior que as chances de sucesso, e pela tensão em seu rosto e corpo soube que ela sabe disso.

Ficamos tão concentrados no que víamos que nos assustamos quando um som ensurdecedor chegou até nós. Sentimos o chão tremer e as luzes piscaram várias vezes antes de continuarem acessas initerruptamente. Precisei segurar a bancada em minha frente para não ir ao chão, desequilibrada. Uma série de maldições e palavrões foram proferidas e quando o chão se estabilizou, com a luz, ouvi os cliques das armas sendo destravadas e suas munições conferidas.

- Eles não vão conseguir passar, esse abrigo é um dos melhores que temos Supremo. - Luís tenta tranquilizar os ânimos, e em resposta o Supremo assente com a cabeça. Entendi que o estrondo veio do lado de fora do abrigo, os invasores estão tentando derrubar a porta.

- De qualquer forma, vou ficar com os Guardas lá na sala enquanto a Hera fica aqui. - O Supremo saia pela porta da pequena sala quando outro estrondo faz o chão tremer e as luzes piscarem novamente.

- Se continuarem assim, vão derrubar a casa em cima de nós. - Igor comenta, focado na tela em sua frente. Por mais que ninguém tenha dito, todos concordamos com ele. Hera continuou silenciosa, concentrada no telão, ela não parecia preocupada com a integridade do abrigo e até onde ela ia, infelizmente, isso não me tranquilizou.

Mais uma série de explosões se seguiram depois das primeiras, eu realmente comecei a pensar que derrubariam a casa sobre nós quando de repente, os intrusos começaram a voltar pelo mesmo caminho que haviam feito quando invadiram.

- Acho que perceberam que se derrubassem a casa eles estariam em baixo. - Miguel sorri com o comentário de Igor. Apesar de no início não gostar muito de Igor, nesse momento, entendi por que ele é o piadista da família e agradeci por isso, pois a tenção na sala pareceu se afrouxar após seu comentário, até mesmo Hera pareceu sorrir por um momento antes de sua expressão se tornar tensa e fechada novamente.

No início, Hera só observou a saída dos intrusos, o grupo de invasores que havia vindo para a nossa nova mansão também fez o trajeto de volta, e somente quando estavam a alguns quarteirões de distância do portão que leva a floresta, Hera deu ordem a Luís para que liberasse a equipe dois. O Supremo voltou quando os ataques pararam, se colocou ao lado de Hera mais uma vez e passamos a observar o que quer ela tivesse planejado ser posto em prática.

Seis pontos coloridos apareceram no telão e soube que aqueles pontos coloridos eram nosso povo. Eles iriam seguir os invasores e provavelmente morreriam para nos mostrar o local em que estão se organizando. Nossa equipe seguiu os invasores pela floresta a uma distância segura para não chamar a atenção do grupo. Após entrarem o mais fundo que achei possível na floresta, nossa equipe diminuiu o ritmo até parar, os invasores deveriam estar logo a frente.

- Eles vão fazer o reconhecimento do local por alguns minutos e vão voltar para cá antes que os invasores os percebam. - Olhei para Luís, que respondeu minha pergunta sem que eu abrisse a boca.

Alguns minutos tensos se passaram onde ninguém da nossa equipe se moveu do lugar, quando pensei que ficariam ali por mais tempo eles se espalharam pela floresta como se montassem um perímetro ao redor do que deveria sem o acampamento dos nossos inimigos. Mais alguns minutos tensos se passaram e um por um dos pontinhos na tela começou a voltar, e só ousamos relaxar quando todos chegaram a alcateia ilesos. Até mesmo Igor, Miguel e Matheus que haviam se levantado para acompanhar pelo telão, deixaram o alívio tomar seus rostos.

- Eles conseguiram. - Luís põe as mãos na cabeça aliviado.

- Agora, é a nossa vez. - Hera se vira de costas para o telão. Seu olhar fixo no chão foi indício de que sua mente trabalhava nos próximos passos para descobrir mais sobre os invasores, e impedi-los de continuar. 

Fim do capítulo