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Amor incondicional por caribu

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Palavras: 4705
Acessos: 2211   |  Postado em: 25/08/2021

Quarenta

 

            Beatriz ficou dois dias enfurnada dentro de casa. Circulou pelo sofá da sala, pela poltrona do ateliê, pela rede da varanda. Longas horas matutando, analisando e dissecando cada pensamento, cada fio de lógica que surgia naquele emaranhado confuso de sua mente. Era muita coisa para pensar, e organizar.

Mas no terceiro dia já se sentia entediada. Cansada de analisar aquilo tudo, exausta do que aqueles sentimentos causavam, as explosões que cada emoção provocava. Tinha conversado longamente com Arthur, seu conselheiro tão querido, que a fez enxergar que estava lidando com tudo aquilo da maneira errada; ela tentava evitar algo já acontecido, quase enterrado, quando sua postura deveria ser de combate, e aceitação. “Foi um terremoto, ajeite as coisas e caminhe!”, ele disse, antes de desligarem o telefone.

Parecia muito simples: levante, sacuda a poeira e vá em frente. A questão era que aquilo tudo era muito difícil de se trabalhar, e desencadeou quase uma crise de identidade em Beatriz, que se viu questionando até suas escolhas profissionais. Se perguntava se estava apta a ser a analista que se dizia ser. Tinha dúvidas, não conseguia nem encaminhar a si própria!

Cícera acompanhava aos conflitos silenciosos de perto, mas sempre a distância. Naquela história ela sempre foi uma espectadora passiva, ainda que constantemente presente. Conhecia bem Beatriz. Sabia que ela precisava de espaço, então se manteve vigilante e quieta. Não disse nada, nem mesmo quando a viu se arrumar para o trabalho, uma e pouca da tarde, ainda estando afastada, com atestado médico. Não comentou nada também quando reparou que as chaves do carro ficaram penduradas, perto da porta de entrada da casa.

Beatriz quis andar. Não era uma vontade comum, ela não tinha o hábito de fazer caminhadas. Mas se sentia sufocada, quase igual ao clima abafado daquela tarde quente e nublada.

Se pudesse, teria corrido. Quem sabe até para longe dela. Observou seus pés, num ritmo lento, quase de passeio, que contrastava com suas vestes de trabalho naquele cenário de praia. Estava descalça, com os sapatos numa mão, a camisa na outra. Foi pelo calçadão sem prestar atenção no mar – visualmente falando, porque enquanto andava, Beatriz se ateve ao som das ondas. Na inconstância constante do oceano. Da vida!

Não pensava em nada exceto no fato de que somos banhistas em nossas rotinas, todos mergulhados até a cabeça em nossas personalidades, sacolejando para cá e para lá, segundo a maré dos dias. Era pura ilusão crer que somos os comandantes de nossas jornadas; Beatriz acreditava que estamos todos mais para reféns. Havia muitas correntes de pensamento que explicavam o porquê das coisas, de sermos quem somos, de termos justamente a vida que temos (correntes religiosas, espiritualistas). Ela escolhia sempre a científica, a que mais se aproximasse da Academia, era uma mulher bastante pragmática. Para a psiquiatra, o ser, complexo, é resultado do meio em que vive, da criação que recebe, das influências, das heranças – inclusive as morais (e especialmente aquelas do começo de vida).

Sempre analista de si mesma, atribuía, por exemplo, sua dificuldade em se relacionar à falta de amor, à carência na infância. Foram horas na terapia discutindo isso. E eventualmente esse assunto voltava, porque a gente não se desvencilha das nossas origens. É como sombra, e a de Beatriz, agora, a acompanhava naquele calçadão à beira-mar, junto de outros mil pensamentos.

É fato que muita coisa tinha mudado desde que Fernanda apareceu em sua vida. Tudo fica mais fácil quando se tem alguém para compartilhar o fardo, em especial o de ser quem se é. Não conseguia imaginar como seria enfrentar tudo aquilo sem a noiva. Ela ser psiquiatra também ajudava bastante.

Teria conseguido sozinha, sabia, se lapidou a vida inteira, era mais do que autossuficiente. Só não queria ser. Não precisava mais ser, se não quisesse. Havia Fernanda.

Sorriu ao pensar nela. Tinham feito amor naquela manhã, Fernanda acordava sempre um pouco tarada, pegava Beatriz ainda dormindo e ela era despertada já sentindo as mãos e a boca da mulher percorrendo todo o seu corpo. Foi assim mais cedo, quando despertou e se deparou com aquele olhar faminto, os olhos pareciam que pegavam fogo, e ela desceu sorrindo para entre suas pernas, gem*ndo mais gostoso do que quando comia algo gostoso no café da manhã, que tanto amava. Aquilo era muito excitante, Fernanda era explícita nas intimidades, fazia umas caras ótimas. Tinha uma, em especial, que Beatriz se molhava sempre que via, porque era uma expressão típica de sex*. Maravilhosa!

Inegavelmente, aquela era uma ótima válvula de escape. Uma maneira também bastante eficiente de espairecer e mudar o foco dos pensamentos. Funcionava bem para Beatriz.

Desviou a atenção para um grupo de turistas perto dela, muitos com idade parecida com a sua. Se perguntou há quanto tempo não viajava e se permitia desbravar terras desconhecidas. Só então percebeu que até ali não tinha pensado ainda na lua de mel. Estava com a cabeça tão tumultuada que o assunto passou batido. Veria algum roteiro quando chegasse ao consultório.

Naquele momento já se assemelhava aos turistas, sempre fáceis de se reconhecer devido às suas roupas. Ela era uma das poucas a estar de calça, e a ausência de um chapéu beneficiava seus cabelos, soltos, agradecidos por aqueles tímidos raios solares e pela energia da maresia. Beatriz era quase uma gringa, embora estivesse nos arredores de sua casa, e a poucos metros do trabalho. Só parecia nativa porque tinha um ar um pouco indiferente, como se já acostumada ao cenário da foto que viu ser tirada por um casal apaixonado.

Se sentia frustrada, constatando que de repente tudo parecia ter virado de cabeça para baixo. Como um terremoto, é verdade, mas pessoal. Não via ninguém à sua volta enfrentando conflitos, àquela altura da vida. Não gostava disso, mas era impossível não se comparar. Deu um suspiro ruidoso, afastando para longe a sensação de que seus problemas eram maiores que os dos outros. Sabia que não era verdade. Mas parecia.

Parou em uma banca, calçou os sapatos e comprou água de coco. Levou numa garrafinha e terminou de beber já dentro do elevador. Nem se olhou no espelho, que mostrava como sua aparência estava despenteada. Sabia que aquele era um horário de pouco movimento, então nem se preocupou em se arrumar. Olhou no relógio só como desencargo de consciência, e para comprovar que estava certa, e ainda tinha alguns minutinhos antes de o movimento começar.

Entrou no consultório e foi recepcionada pelos olhares, surpresos, de Cíntia e Fernanda, que estava por ali pegando os prontuários das consultas da tarde. Ela a escaneou de cima a baixo, e a secretária percebeu que o olhar da médica foi clínico, e não só de amiga, quando abordou Beatriz.

 

- Bia! Que surpresa! Não esperávamos você aqui hoje – Fernanda fala, se lembrando de sorrir no final. Colocou as pastas em cima do balcão e se aproximou dois passos em sua direção. Não disse nada, mas tinha o olhar desarranjado.

- Boa tarde, doutora. Como vai? – Cíntia cumprimenta. Beatriz percebeu que ela estava com uma sobrancelha arqueada, mas tinha no rosto um ar de sorriso, amistoso.

- Tudo bem... “apesar, contudo, todavia, mas, porém” – Beatriz responde, como se cantarolasse – Finjam que não estão me vendo – ela complementa, fazendo um gesto e caminhando até sua sala.

 

            Fernanda foi atrás porque era impossível fingir que ela não estava ali. Mas seguiu despreocupada porque a noiva chegou com uma cara boa, até um pouco corada, com as bochechas rosadinhas. Estava com o cabelo bonito, do jeito que ficava quando elas iam àquele restaurante perto da praia. A achou casual, com a camisa na mão, toda social, mas de regata. Muito sexy. Entrou no consultório e fechou a porta.

            Se pudesse, teria despido Beatriz, a beijado daquele jeito que a deixava mole, e dado um orgasmo como presente pela sua volta. Mas na verdade se preocupava com aquilo, e tinha uma consulta em cinco minutos.  

 

- Achei que você voltaria só na semana que vem – Fernanda fala, vendo a mulher pendurar a camisa em um cabide, atrás da porta. Esticou a parte da frente e pareceu satisfeita, mesmo com a peça estando bastante amarrotada.

- Já estava ficando louca lá em casa. Preciso distrair minha cabeça senão vou enlouquecer – Beatriz responde, se servindo de água – Não se aborreça por isso.

- Não vou, meu amor – ela afirma, se aproximando. Empurrou com o dedo sua franja, e deu um beijo nela – Faz o que for melhor, o que te deixar bem. Estarei aqui do lado, qualquer coisa me chama, tá? – diz, vendo que Beatriz a encarava – Você está linda, Bia.

- Grata – Beatriz sorri, vendo que Fernanda fazia uma de suas caras preferidas – Vai, doutora. Seu paciente já deve estar chegando. Bom trabalho, te amo.

- Te amo – Fernanda cochicha, já saindo da sala, dando uma piscadinha para ela. Ao passar pela recepção, faz um joinha para Cíntia, como que assegurando que tudo estava em ordem.

 

            Beatriz tamborila os dedos na mesa, um pouco desnorteada, sem ter o que fazer. Observou o consultório, impecavelmente limpo e organizado, como sempre. Ligou o computador, acessou a agenda daquela tarde e viu que a noiva teria o resto do dia cheio. Ficou um tempinho olhando para o nome de uma das pessoas que passaria em consulta, e mandou uma mensagem para Renato. Deixou o celular do lado do computador e clicou num site de viagens, mas largou a tela aberta e se levantou. Ficou longos minutos debruçada na janela, contemplando a vista lá fora, as pessoas pequenininhas na calçada, alheias à sua observação. Cada uma certamente com algum problema, algum trauma, alguma questão do passado mal resolvida. Todos seguiam, tocando em frente, mesmo assim. “É para a frente que se anda”, seu pai diria.

Virou os olhos, contrariada, se lembrando de Antônio. A culpa era dele. Se não de tudo, ao menos de boa parte. Ela pensaria isso, se estivesse analisando alguém com o seu relato, mas provavelmente não diria nada a respeito, pois sabia que nem todos estão prontos para certas verdades.

Não quis alimentar o pensamento porque tinha enterrado seu pai numa tarde como aquela, alguns anos atrás. Longe de querer proteger a sua memória, a esta altura bem manchada, Beatriz só não quis se sentir infantil, responsabilizando alguém incapaz de se defender. Não a levaria a lugar algum, afinal.

Olhou para o céu, que estava bastante carregado, mas permitia que alguns raios de sol passassem pelas frestas de nuvem, iluminando a parte mais escura. Tentou imaginar como teria sido sua vida se sempre soubesse da existência de sua mãe, ou que tinha uma irmã. Teriam sido amigas? Se lembrou da foto que viu de Bianca na rede social, do seu sorriso com Joaquim. Parecia mais amigável, ali, do que na vida real. Do que com Beatriz.

Se perguntou brevemente se a vida teria sido mais fácil, em sua companhia. Ou a dela. Não soube responder, não tinha criatividade para tanto. Tudo o que sabia, e muito a contragosto, é que se sentia demasiadamente humana com essa história toda. E o que doía era justamente comprovar que ela era tão falível quanto qualquer outra pessoa. Achou o pensamento absurdo.

Para Beatriz, isso era motivo mais do que suficiente para permanecer afastada das consultas. Não estava centrada, não se sentia no seu normal, e não seria útil tentando ajudar alguém. Precisava se ajudar primeiro. Até porque aquele assunto enevoava seu senso crítico, tudo o que pensava a levava de volta para aquilo, como um elástico.

Ao se sentar, viu que Renato tinha respondido sua mensagem, com um áudio, que ela ouviu prendendo o celular na orelha. Ele falou por cerca de um minuto e 20, e Beatriz mordeu o lábio inferior enquanto escutava, atenta, do jeito que sempre fazia quando ficava preocupada.

Definitivamente, não era a única no mundo a ter problemas, e se convenceu de que precisava ficar boa logo, pois havia gente que poderia precisar de sua ajuda. Pessoas que, ao contrário de Bianca, aceitariam o seu auxílio.

Voltou para a frente do computador e abriu várias guias do navegador da internet, com pesquisas relacionadas ao seu perfil psicológico e psiquiátrico. Se por acaso fosse sua paciente saberia, como médica, quais caminhos teria que percorrer. E foi o que fez.

Passou a tarde entretida nisso. Leu diversos artigos, duas ou três reportagens, se deixou ser guiada pelos hiperlinks de estudos científicos. Se manteve ocupada e só assim sua mente silenciou um pouco. Viu que já eram seis horas quando Fernanda bateu na porta, e só então notou que chovia.

 

- Com licença, doutora. Posso entrar? – ela pergunta, parada na entrada. Tinha as pastas dos atendimentos do dia nas mãos e uma caneca de café, cheirosa e fumegante. A estampa da caneca era de Cheshire, o Gato Risonho, de Alice no País das Maravilhas.

- Sim, entre, por favor – Beatriz convida, com um sorriso. Fernanda parecia cansada, com aquela expressão típica de fim de expediente, e desabou na cadeira à sua frente – Nem vi que já era essa hora. Que bom que veio, queria mesmo falar com você. A Cíntia já foi?

- Pela sua cara, algo não vai bem – ela retruca, tomando um gole da bebida. Fechou os olhos e deu um gemido porque o café era sempre muito bem-vindo ao seu organismo, especialmente depois de um dia tão atribulado – Ai, que delícia! Esperei a tarde inteira por esse momento – Fernanda exclama, bebendo mais um gole – Cíntia já foi, sim. Disse que não quis te interromper – ela apoia a caneca em cima da mesa, sem usar o descanso de copos. Gostava de viver perigosamente, e por isso sorriu para Beatriz – O que foi, amor? Aconteceu alguma coisa? – insiste, vendo que a mulher estava séria.

- Me diga você – Beatriz pede, fechando o caderno e a encarando, depois de cruzar os dedos das mãos.

 

A luz da tela do computador refletia em seus olhos, que estavam vívidos. Ainda estava só de regata, e seu traje contrastava com a seriedade em sua voz, e mais ainda com aquele ambiente, que sempre a teve bem vestida. O cabelo estava um pouco bagunçado, e completava toda a cena. Fernanda quis sorrir, mas pareceu impróprio.

 

- Vi mais cedo na agenda da clínica que a Fabi passou por consulta – Beatriz comenta, observando Fernanda pegar novamente sua caneca, muito possivelmente apenas para ter algo nas mãos. Ficava sempre nervosa quando era encarada.

 

- Sim, ela esteve aqui hoje, veio com a mãe. Me desculpa, Bia! Talvez eu devesse ter te avisado que ela viria, mas pensei que preferiria que eu a atendesse – ela a encarava por cima da caneca, e sua voz saiu abafada no final da frase.

- Sim, claro. Não é esse o fato. Me preocupei, só isso – Beatriz garante, levantando-se e caminhando em direção ao frigobar, observada pela noiva, que se virou para continuar olhando para ela. Queria ler o seu gestual – Fiquei satisfeita por tê-la atendido. Eu não seria a pessoa mais indicada, mesmo. Não ando bem como psiquiatra e nem como amiga, eu acho – ela fala, ficando em silêncio em seguida.

- Você soube que ela tentou se matar?

- Sim, eu soube. O Renato me contou, mais cedo – Beatriz suspira, sentando-se e se servindo de chá gelado. Levantou a caneca de Fernanda e colocou um descanso embaixo – As pessoas têm o dom de impressionar, não é? Pensei que conhecia a Fabiana! Nunca imaginei que ela tentaria suicídio, fiquei surpresa. Eu deveria ficar surpresa? Não sei, fiquei.

- Pois é – Fernanda dá um suspiro e volta a pegar a caneca. Desta vez bebeu quase até a metade – Pelo que conversamos hoje, ninguém esperava. Acho que nem ela, viu. Se é que é possível.

- Complicado! Tudo isso só por causa do fora que ela levou da Marcela?

- Não é “só”, Bia. Você conhece elas há mais tempo que eu e sabe que a Fabi tem, sei lá, adoração pela Marcela. A relação delas nunca foi saudável nesse sentido. São ótimas pessoas, adoro as duas, mas percebi isso quando as conheci, é algo bastante notável. E aí isso vira uma bomba-relógio. De dependência de afeto, de baixa autoestima. Explodiu com a traição, foi mais forte do que ela podia suportar. E aí ela surtou, e eu entendo completamente, dado todo o contexto. Só que, sinceramente, a Marcela ter traído me causou mais surpresa do que a Fabi ter feito algo. Mas essa sou apenas eu, julgando – ela terminou sua bebida e fez um som com a garganta.

- Sim, mas você tem razão – Beatriz concorda, se recostando na cadeira. Tinha na mente a imagem do casal – Isso realmente me intrigou, sabe? Fiquei pensando que, talvez, no fundo, eu sempre tenha julgado muito mal elas duas. Sempre pensei que seria a Marcela, inclusive, que tentaria algo tão irracional, caso acontecesse alguma coisa. Se é que aconteceria algo, elas estão juntas há tantos anos!

- Cuidado, doutora Bia! Não pisa desse jeito em terreno ardiloso assim. Você sabe que pode ser uma armadilha consciente – Fernanda alerta, e apesar do tom, sorria – Não chame isso de “irracional”. Já li textos fantásticos sobre o assunto, você deve se lembrar que muitos estudiosos afirmam que o suicídio é um direito do ser humano.

- Sim, eu sei – resmunga Beatriz, fechando os olhos. Não tomar cuidado com as palavras era sempre um indício de que sua sanidade não ia bem, mesmo que numa conversa casual entre elas.

- Para citar os principais: Nietzsche garantia que se matar é admitir a morte no tempo certo e com liberdade. Schopenhauer afirmava que o suicídio é a positivação máxima da vontade humana – Fernanda foi listando e segurando os dedos enquanto falava.

- Eu sei, gata. Mas sou mais a favor do que diziam Kant e Rousseau: acabar com a própria vida é uma destruição arbitrária e premeditada que o homem faz da natureza animal, e é uma violação ao dever de ser útil ao próprio homem e aos outros. Vejo como algo “errado”, mas esta também sou apenas eu, julgando. E me expressando mal.

- Bom... Penso que a questão principal não seja quem tem razão, o que é certo ou errado. O fato é que ela tentou o suicídio, não conseguiu, e veio com a família em busca de auxílio.

- Certo. E o que você pretende em fazer? – Beatriz pergunta, já pensando numa abordagem que poderia, quem sabe, ser usada.

- Para começar, meu amor, quero que você chame a Bianca aqui e resolva as suas pendências com ela. Resolve logo isso, Bia! Sua cabeça continua tumultuada porque você posterga essa conversa.

- Eu sei – Beatriz usa um tom aborrecido.

- Isso te faz mal, amorzinha – Fernanda fala, segurando sua mão por cima da mesa – Você é o equilíbrio nessa sala. É o porto seguro para os seus pacientes, para os seus amigos, querida. Imagina não conseguir fazer mais nada porque só fica pensando nisso?

- Mas eu não posso falar com ela enquanto não consigo falar comigo! E eu não sei lidar com isso ainda! Não sei como abafar a Beatriz humana, ela é falha. Não me ajuda.

- Mas é o que você é, Bia – Fernanda se levanta, dá a volta na mesa e se abaixa ao seu lado – Talvez esse seja o melhor momento para você assumir quem você é. E você é humana, meu amor!

- Que difícil.

- Sim, é muito difícil, mas você consegue, já é uma menina crescida – as duas riem com o comentário – Só precisa parar de fugir. Precisa ser corajosa, enfrentar, ser destemida. Vamos juntas, eu estou com você.

 

Beatriz a encara e não diz nada. Fernanda tinha razão, e ela também já estava mesmo farta de se ver refém daquilo tudo, com os pensamentos amarrados, quase impotente. Era cansativo fugir. Encontraria um jeito de ter aquela atitude também em suas ações.

 

- Vou falar com ela.

- Quando? – Fernanda rebate, de supetão.

- O mais breve possível. Assim que der, Fernanda – ela garante, vendo a incredulidade em seu olhar – Fiz algumas pesquisas hoje, clareou bem minha cabeça. Só preciso digerir melhor essa história.

- Bia, não complica o que é simples! Você ouve histórias assim todo o tempo, e sempre sabe o que deve ser feito. É a mesma coisa com você, amor! Você é uma excelente profissional, uma mulher estudada, use isso ao seu favor.

- Eu vou. Você tem razão.

- Eu sei que tenho – Fernanda sorri, e a beija – E aí, vamos embora? Vou deixar isso aqui na recepção e podemos ir – ela pega as pastas em cima da mesa, e a caneca, que com o movimento derrama o que ainda tinha, em sua blusa – Ah, que bosta. Essa semana preciso urgente ir em casa, já estou sem roupa para vir trabalhar.

- Você podia levar mais roupas para deixar em casa, e aí não precisaria ter que ficar indo lá toda hora para buscar – Beatriz responde, desligando o computador, enquanto Fernanda esfregava um pedaço de papel na mancha. Pensou em pegar a camisa atrás da porta, mas apagou a luz e a deixou lá.

- Mas aí eu nunca mais iria para casa – Fernanda fala, num tom de voz fino – A gente ainda não se casou.

- Eu sei – Beatriz retruca, entrando no elevador.

- Não posso, Bia. Minha mãe fica...

- Quando você vai conversar com os seus pais, amor? Quando vai parar de fugir? – ela pergunta, usando a entonação de Fernanda – Hein? Hein? – Beatriz insiste, cutucando as costelas da mulher.

- Em breve, Beatriz – ela responde séria, mas ri no final.

- Quero ver. Não se esqueça de que nos casamos daqui a dois meses.

- Não me esqueço.

 

            Assim que saíram na calçada, e sentiram o bafo quente daquele começo de noite, com as gotas retardatárias as pegando sem guarda-chuva, ouviram alguém chamar por Beatriz. Era Marcela, parada ali perto, com um penteado diferente da última vez que a viram. Agora estava com dread rosa.

 

- Bia! Oi, Fernanda – ela cumprimenta.

- Oi, Marcela. Que surpresa – Fernanda responde. Deu três breves apertos na mão de Beatriz.

- Oi, Marcela – ela finalmente cumprimenta.  

- Desculpa, pegar vocês assim de saída, a essa hora, já quase de noite. Estava esperando as consultas acabarem, queria bater um papo com vocês – Marcela parecia um pouco acelerada, falando rápido – Pode ser?

- A gente já estava indo embora – Beatriz comenta.

- Você já jantou? – Fernanda interrompe – Não, né, está super cedo. Vamos jantar, vamos com a gente – ela volta a apertar a mão de Beatriz, que desta vez se desvencilha e solta.

- Tem que chamar um Uber, eu vim a pé.

- Eu vim de carro – Marcela aponta para cima, sem especificar exatamente para qual lado tinha estacionado – Podemos ir juntas, se tudo bem – ela se adianta em falar, sentindo certa resistência por parte de Beatriz.

- É uma ótima ideia, né Bia? – Fernanda estica o braço e volta a dar a mão para a mulher, e caminharam juntas – Mais cedo eu falei com a Cícera e ela deixou a comida já pronta, vou só esquentar, vai ser rapidinho – ela comenta, entrando no banco de trás do carro de Marcela.

 

            Ninguém disse mais nada, e fizeram o trajeto naquele silêncio constrangedor. A cada esquina, Fernanda pensava se deveria falar algo para quebrar o gelo, mas não conseguiu pensar em nada até chegarem em frente ao prédio de Beatriz, que assim que chegou em casa foi direto para o quarto, alegando que precisava trocar de roupa.

            Fernanda sorriu um pouco sem graça para Marcela, que a acompanhou até a cozinha e sentou em uma das banquetas, enquanto ela colocava o avental. Ficou com receio de sujar também a calça, agora com o molho do jantar. Tirou um pote da geladeira e colocou dentro do forno.

 

- A Bia não anda muito bem, sabe – ela revela, como se contasse um segredo, depois de desligar a luzinha do fogão – Acho importante te contar isso.

- Ela está doente? – Marcela pergunta. Pela sua cara foi notável que a pergunta desencadeou diversos pensamentos.

- Não, não exatamente. Mas não está nos seus melhores dias, ela até se afastou do trabalho.

- A Bia está de atestado? Meu Deus, por que você me deixou vir? – ela pergunta, se levantando de repente – Nossa, não quero causar, eu vou embora.

- Fica tranquila, mulher. Só estou te falando porque, né, para você não levar para o pessoal, caso ela fale algo, sei lá, atravessado. Ela anda meio sem filtro.

- Mas ainda dá tempo, eu posso...

- O cheiro está bom – Beatriz fala, entrando na cozinha. Vestia uma camiseta florida e short, e estava descalça – Vou pegar um vinho, você bebe só meia taça – ela olha para Marcela – Eu bebo o resto, Fernanda vai para casa hoje, não pode se embriagar.

 

            Fernanda dá um sorriso forçado para ela, e antes de pegar as taças dá uma olhada para Marcela, como que reforçando o que tinha acabado de contar. Beatriz encheu os três copos de vinho, sem desviar o olhar de Fernanda.

 

- Vamos comer aqui? – ela pergunta, colocando uma toalhinha no balcão – Esse bife à parmegiana é uma das 150 especialidades de Cícera – Beatriz brinca, sentando-se ao lado de Marcela.

- Fico feliz por poder jantar com vocês. Tenho certeza de que já são o casal referência entre as lésbicas da cidade – ela comenta, com um sorriso tímido.

- Sempre achei que você e a Fabi fossem esse casal – Beatriz fala, olhando para a amiga apenas de relance.

- Sem essa, Bia.

- Falo sério! – ela sorri – Conheço vocês há tanto, tanto tempo. Acho que eu ainda estava na faculdade quando nos conhecemos. E desde sempre vocês são casadas.

- Divórcio é normal hoje em dia –  Marcela argumenta, bebendo um generoso gole de vinho – Acontece nas melhores famílias.

- Sim, mas você concorda que existem divórcios sem traição, né. Quero dizer, as pessoas se separam por variados motivos – Beatriz rebate, agora a encarando.

- Eu não sou a vilã da história. Qual é, Bia?

- Ué – Beatriz resmunga – É nítido qual das duas se deu pior nessa história.

- Bia, ela tem razão – Fernanda tenta apaziguar – A gente não sabe o que aconteceu, o que a levou a fazer o que fez.

- Traição é imperdoável – Beatriz retruca, entre os dentes.

- Foi a melhor maneira que encontrei para terminar, Bia – Marcela reclama, com os olhos marejados – Há tempos venho tentando fazê-la entender que a nossa história é linda, mas é uma história acabada. Estamos em crise há pelo menos uns cinco anos.

- Mas não tinha mais nada que você pudesse ter feito? Tinha que sair comendo a cidade toda?

- Bia! – Fernanda repreende, um pouco espantada.

 

Era notável que Beatriz usava o rompimento das amigas como uma forma de extravasar sua raiva, afinal, ela também havia sido traída pela pessoa que mais amava e confiava. Mas não era justo agir assim com Marcela que, em contraste com sua aparência exótica, era apenas uma mulher fragilizada, e agora estava chorando.

 

- Eu estou decepcionada – Beatriz continua, de maneira quase inaudível. Fernanda sabia que, na verdade, ela falava de seu pai, de toda aquela situação a que se via presa.

- Ninguém se preocupa em saber como eu me sinto! – reclama Marcela, apoiando a taça de maneira ruidosa – Eu também estou sofrendo, caramba!

- Não precisava ter traído, Má – Beatriz encerra, chorando também.

 

 

 

Fim do capítulo


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Comentários para 40 - Quarenta:
Alex Mills
Alex Mills

Em: 15/12/2021

Por isso que não se atende parente ou amigos próximos ahahaha só rola treta.

 

Eu quero a caneca da Fernanda, só acho.

 

Beatriz tá fora da caixinha, mas tentando voltar para dentro dela. Prova que nem toda auto análise se resolve para todas as causas. Infelizmente ela vai descobrir isso na prática hehe 


Resposta do autor:

 

Uma analista analisando minha analista!

Socorro rsrs

 

Vou providenciar uma caneca igual pra vc. Depois pergunto o dia do seu aniversário.

Beijos!

 

Responder

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Andreia
Andreia

Em: 10/11/2021

Boa noite autora, espero que esteja tudo bem com VC. Estamos bem com bênção Deus.

A Beatriz tem os mesmo pensamento da irmã só acho que ela não deveria ter descontados as suas frustrações em Marcela descontou na pessoa errada. Pq a amiga foi lá para conversar e buscar apoio na amiga.

Fernanda ta certa estes conflito que Beatriz está passando só mostra que ela é humana, então o qua to antes ela resolver com a própria irmã e com avó ela Cícera a mentira que contaram p elas duas eu acho que Cícera é avó delas.

Eu acho já que Beatriz não vai até Bianca ela , Bia UE deve ir ate irmã.

Ficou muito bacana ela descobrir que est grávida Bia e marido ficar feliz e Joca ser igual Cícera.

E quando Fer vai confirmar para os pais que Beatriz e noiva dela e não amiga, pq tenho certeza que os pais dela já sabe só ta esperando co formação dela.

Bora lá ver mais um capítulo.

Bjs e abraçossssss nossos......

Responder

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cris05
cris05

Em: 27/08/2021

As Bias são realmente muito iguais nas suas diferenças. 

Concordo com a Fernanda, essa conversa tem que acontecer logo, por mais difícil que pareça ser.

A Cícera é demais, né. Conhece a Bia Beatriz como ninguém. Coisa de vó mesmo rsrsrs.

 

P.S Que bom que está melhor, autora. Se cuide, viu.

Beijos pra vc e pra cã!


Resposta do autor:

 

rsrsrs

Sim, pois é, querida leitora! Cê vê só como são as coisas para quem observa bem!rs

A conversa das Bias vai rolar. Precisa, né, a história tá no fim rs

Os próximos capítulos, a partir do 41, seguem a sequência de um mesmo dia. Tudo começa com, finalmente, a conversa esclarecedora de Fábio e Bianca, que precisam colocar tudo em pratos limpos (inclusive é o que estou escrevendo neste minuto! A treta!). Segue nisso até o 49, quando TUDO enfim estará esclarecido.

Spoiler: já que Beatriz não vai à Bianca, Bianca irá até Beatriz.

Beijos!

 

P.S.: Grata pela preocupação! Fiquei feliz que tenha voltado, fiquei pensando se vc tb estaria bem!

A cã agora começou a fazer cooper. Estamos nos arriscando a correr alguns metros, hj mesmo estou aqui com as pernas parecendo manteiga, mas ela segue plena rs

 

 

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Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 26/08/2021

Tenso!


Resposta do autor:

 

Sim!

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NovaAqui
NovaAqui

Em: 26/08/2021

Os pais de Fernanda não sabem que ela é lésbica ou fingem que não sabem? Tem horas que acha que eles sabem e tem horas que acho não sabem. Parece que a família não sabe que elas estão juntas e de repente: Fernanda comunica que vai casar!

Esse capítulo e o anterior são de pura reflexão. Eu li com bastante calma para entender as irmãs e o estado de espírito de cada uma. Você passou brilhantemente as emoções das duas. PARABÉNS!

Abraços fraternos procês aí


Resposta do autor:

 

Os pais da Fernanda são aqueles pais que sabem, mas fingem que não sabem. Sabe? 

Há muitos assim.

É claro que sabem, pq conhecem a filha, e pq ela passa dias, semanas fora de casa, já há alguns meses. Ainda que a chamem de "amiga" (não chamam, explicitamente, mas sabemos que sim rs), sabem que é uma amizade colorida! Não tem como, né!!rs 

 

Também acho que os dois capítulos, este e o anterior, são muito reflexivos. Que bom que consegui transmitir as emoções de cada uma, que são pessoas muito diferentes, mas muito parecidas também.

 

Agora os próximos capítulos vão seguir uma certa sequência, no tempo, com exceção dos dois últimos, que fecham o livro. Vai me dizendo oq está achando!

Beijos! 

 

 

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NovaAqui
NovaAqui

Em: 25/08/2021

Beatriz ainda não conseguiu digerir a traição do pai. Poderia ter tido uma vida diferente. Ela , Bianca e a mãe delas, mas o passado passou. Agora é o presente e o futuro. Conversar com Bianca para começarem a criar laços de família ou deixar isso tudo para lá (como se fosse possível). Acho que ela vai querer saber tudo da mãe e ainda tem Joaquim, que já gosta da Beatriz.

Adorei o capítulo às noite. Já estava desligando o celular, quando dei um "en passant" pelo e-mail e? Surpresa!! Uhuuu

Boa noite procê aí

Fique bem! Cuide-se! Pegue leve com a brisa, pelo menos na hora do trampo, para não errar os trabalhos rsrs

Qualquer coisa estamos por aqui

Abraços fraternos procês aí! ;-))


Resposta do autor:

 

O que eu acho mais interessante disso tudo, é que as irmãs têm crises parecidas, mas tb diferentes, e a da Bia Beatriz, basicamente, é pq ela é humana rs Adoro isso!

E ela sempre teve só o pai, que não era das melhores pessoas, e essa situação toda ao mesmo tempo que a desmonta, comprova as teorias dela. Acho foda. 

Ela poderia msm ter tido uma vida diferente (as duas), mas aí ela própria seria outra pessoa. Brisa, né!

E sim, no meio disso tem o Joaquim, que é um elo importante desse laço. Esse menino é muito fofinho, e acho que sempre rouba a cena, como a Cícera.

 

Adorei postar o capítulo à noite! Ele estava quentinho ainda, recém-saído do forno rsrs

E agora quero postar logo os outros pra vcs lerem rs

 

Eu pego leve com a brisa, meio que, mas na vida eu sou assim rsrsrsrs E aí fico focada nas coisas, e não me atento exatamente às instruções rs

Mas no final sempre termina tudo bem rs

Beijos!

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