Capitulo 2. Encontro surpresa
— Reed?! – perguntei sem poder acreditar que Reed, a ruiva da balada era, na verdade, Tracy Lauren, a garota que minha mãe queria a todo custo que eu conhecesse.
— Gorman... Então “você” é a Jacqueline?
— E você é a Tracy Lauren — afirmei.
— Mundo pequeno... — ela disse com um leve ar de enfado.
Mas era muito atrevida, enfado deveria sentir eu! Ou melhor, eu deveria sentir ódio daquela ruiva, ela me dera dois foras em uma única maldita noite.
“Eu convidei Reed e marcamos na boate. Mas como minha mãe tivesse marcado também um jantar com a amiga dela para finalmente me apresentar à Tracy Lauren, eu me atrasei, justamente porque esperei e ela não apareceu. Até aí tudo bem, eu não estava mesmo interessada em conhecer outra pessoa, meu interesse estava em Reed. O problema é que quando cheguei à boate, eu a vi beijando outra garota. Fiquei decepcionada, eu já começava realmente a considerar pensar naquela ruiva de maneira séria.
Na segunda-feira, à hora corrida do almoço, eu falei com a minha sócia e melhor amiga, Navy, sobre o malfadado encontro.
— E como foi o resto da noite?
— Não foi, Navy.
— Sério? Por quê?
— Cheguei lá e ela estava dançando com outra. Quer dizer, dançando é modo de falar, porque, na verdade, achei que a outra também era dentista, pela forma que parecia examinar a goela dela com a língua.
Navy teve um pequeno ataque de riso.
— Entendi... mas... pera aí... foi por isso que você deu meia volta?! — olhava-me desconfiada.
— Nem vem, Navy, já falei que vai fácil...
— Vem fácil — ela me cortou e completou minha fala. — Por isso estou estranhando.
— Eu estava cansada, a noite já tinha sido longa e era outro acidente no percurso... Só fui porque fui eu que a convidei.
— Uhum... E ela estava examinando a goela com outra profissional? Se eu fosse você, dançaria com qualquer outra garota.
— Por isso fui embora, estou cansada das quaisquer... Bora trabalhar?
— Bora.”
E agora, Reed e eu estávamos frente a frente, naquele pub.
Parecia piada, tínhamos brincado de gata e rata durante todo aquele tempo, enquanto fugíamos do tal encontro às escuras que nossas mães nos prepararam.
— Vão querer o vinho agora? – perguntou atencioso o garçom.
— Não, obrigada — respondi, diante de meu martíni.
— Por favor – ela respondeu ao mesmo tempo.
Fitamo-nos. O garçom esperava.
— Hã... ahh... sim, pode trazer, obrigada — eu decidi e ele se retirou.
— Tracy Lauren...
— Jacqueline...
— Parece que caímos numa armadilha — eu começava a ver a graça da situação.
O vinho de excelente safra foi servido.
— É bem a cara da minha mãe me apresentar com o nome composto...
— Não gosta?
— Ah... só Tracy, por favor...
— Ok. Também prefiro Jackie. E... Como veio parar aqui, Tracy? — perguntei.
— Vim conhecer o estabelecimento, Jackie. E você?
Sorri, ao me lembrar da desculpa perfeita que minhas amigas usaram para me levar àquele encontro.
— Aniversário de uma amiga.
— Onde está a graça, Jacqueline... Jackie? — ela me perguntou com o cenho franzido.
— Não vê? Parece que foi tudo bem arquitetado, ruiva. Esperaram a oportunidade perfeita, eu ando bem reclusa.
— Por isso não te vi mais na balada?
— Continua indo lá? – questionei-a, interessada na resposta.
— Às vezes. Gosto de variar.
— Sei... — respondi apenas, mas pensei: Gosta mesmo, inclusive de variar mulheres.
Ela olhou para a taça, antes de beber um gole.
— Ao menos nossos amigos têm bom gosto.
Observei-a, enquanto sorvia o líquido vermelho, aqueles lábios eram deliciosos. Mas tratei de me concentrar no que importava: o quanto ela gostava de me fazer esperar à toa.
— Você sempre se atrasa, Reed?
— Não! Às vezes... Sim, quase sempre — ela deixou escapar um discreto sorriso.
Mas agora era eu que não via nada engraçado.
— Eu já estava quase indo embora, uma vez que não chegava ninguém.
— E ia perder o niver de sua amiga, por causa de alguns minutos?
— Alguns? – perguntei indignada.
Ela levantou os ombros e fez cara de inocente. Era demais para mim, de inocente aquela ruiva não tinha nada.
— Então, a filha de dona Abigail não puxou a pontualidade dela – alfinetei.
Ela me olhou como se quisesse me engolir, mas continuei, sem lhe dar tempo de resposta.
— Dona Abigail... Acho que nunca ouvi o nome de família dela.
Agora, Tracy fez um ar distante.
— Acho que tinha ouvido mamãe dizer o de sua mãe uma vez, mas me esqueci... Também foi bem antes de eu conhecê-la naquele leilão beneficente, em que você me deu o bolo.
— Bem sua cara, Reed...
— Bem minha cara o quê, Gorman?
— Esquecer com facilidade.
— Sério? Você vai mesmo ficar me julgando, por causa de alguns minutinhos, Jacqueline? Porque você também não me parece a pessoa mais certinha do mundo. Pior que esquecer é fingir que esqueceu.
— Do que “você” está me acusando, Tracy Lauren? Você me deu o troco, nas duas vezes que fiquei impossibilitada de comparecer ao nosso encontro às escuras.
— Impossibilitada? É esse o nome que se dá agora?
O garçom aproximou-se da mesa.
— As senhoritas querem pedir agora?
— Não!
— Não!
Falamos ao mesmo tempo, olhando feio para ele, que se espantou.
— Ah, desculpe-nos... Nós... Acho que perdi o apetite — tentei consertar. — A srta. Tracy Lauren deseja algo mais?
— Não, obrigada.
Ela esperou que ele se afastasse para falar.
— Acho que esse encontro às escuras finalmente aconteceu e já terminou, não é?
— Concordo plenamente.
Levantamo-nos e saímos juntas. Eu pedi o meu carro e ela um táxi.
— Quer carona? — perguntei após alguma hesitação.
— Não, obrigada — ótimo, era melhor que nos separássemos ali e nunca mais nos víssemos.
— Adeus, Reed.
— Adeus, Gorman.
Fui para a casa da minha mãe. Eu queria matar dona Jane, minha amiga Navy e todas as outras garotas. Minha amiga aniversariante ainda teve o desplante de me mandar dizer que sua comemoração seria no dia seguinte.
— Pois eu não vou.
— Minha filha, não seja amarga.
— Eu não sou amarga, aquela ruiva é que é. E eu já fiz a sua vontade, Sra. Jane Gorman, agora chega.
— Mas eu não estou entendendo. Vocês nem se deram uma chance de conversar e se conhecer.
— Acontece que eu já conhecia aquela ruiva.
— Já?!
— Já! E quer saber quem é realmente a filhinha meiga de sua amiga? Uma garotinha mimada e fácil, igual a ela tem um monte por aí.
— Espera... do que você está falando?
Contei o que acontecera no dia em que marquei com ela na balada.
— Ah... entendi.
— Entendeu agora, né?
— Sim. Você ficou com ciúme e o orgulho ferido.
— Eu o quê?!
— Exatamente o que você ouviu.
— Não acredito, mãe. Não fiquei com ciúme algum. E não é questão de orgulho meu e sim de caráter dela.
— E o que você queria? Fidelidade de alguém que acabou de conhecer e em quem você deu o bolo?
— Eu não dei o bolo nela, mãe. Eu me atrasei por causa dela mesma que, aliás, foi quem me deu o bolo naquela noite.
— Pra ficar com você.
Hesitei, mas logo retomei.
— Não importa. Porque no fim, ela se arranjou sem mim.
— E o que você queria, Jacqueline Gorman? Que ela ficasse chorando num canto da boate?
— Claro que não, mas qual o problema em me esperar, se avisei que demoraria? Ela não é nem um pouco pontual, pra poder reclamar do meu atraso. Mas foi ótimo ela não ter ido ao encontro às escuras naquela noite, pela segunda vez, porque assim eu pude vê-la do jeito que ela realmente é.
— Ah, sim... Duas vezes, assim como você.
— Eu tive motivos. A primeira vez, eu não ia deixar de atender uma criança com dor. E a segunda... A segunda eu fui socorrer alguém também...
— Socorrer? Elsie? Pois sim...
— Ela me pediu ajuda, Sra. Jane Gorman, e eu ajudei. Foi só isso.
— Ok. Se você diz.
— Digo. E o assunto não é Elsie, é Tracy Lauren Reed.
— Assunto sobre o qual, aliás, você não está fazendo o menor sentido.
— Ahhh... eu não estou fazendo sentido?
— Nem um pouco, mas se vocês, um dia vierem a se entender, saiba que faço o maior gosto, tanto pra um namoro, quanto pra uma amizade.
— Aposto que faz.
— Uhum... ela é uma ótima garota, inteligente, espirituosa, além de muito bonita.
— Pois eu não quero nem amizade com ela, mãe. Nem amizade.
— Ok. Se você diz...
She took my arm
Ela pegou meu braço
I don't know how it happened
Eu não sei como isso aconteceu
We took the floor and she said
Nós tomamos a pista e ela disse
Oh, don't you dare look back
Oh não se atreva a olhar para trás
Just keep your eyes on me
Apenas mantenha seus olhos em mim
I said you're holding back
Eu disse que você está se segurando
She said "shut up and dance with me!"
Ela disse, "Cale a boca e dance comigo!"
This woman is my destiny
Essa mulher é o meu destino
She said, oh, oh, oh
Ela disse, oh, oh, oh
"Shut up and dance with me"
"Cale a boca e dance comigo"
Minha mãe podia ser irritante quando queria. Ou era eu que estava mesmo irritadiça?...
No dia seguinte, eu não deixei de ir ao niver da minha amiga, mas deixei bem claro para todas que não gostei da armação que minha mãe tinha arquitetado com a ajuda delas. Elas ficaram espantadas ao descobrirem que Tracy Lauren do encontro às escuras era a Reed da balada e quiseram me dizer que eu estava sendo muito radical e...
— Chega. Esse assunto morreu — terminei com aquilo.
Passaram-se alguns meses e eu não vi mais Tracy Lauren. Mas conheci uma garota e comecei a sair com ela. Não era exatamente sério, mas era alguém legal. Ela me tirou um pouco daquela reclusão em que me enfiara.
Foi assim, ao lado dela, que reencontrei Reed, em uma balada em que fomos com minhas amigas.
A fdp estava estonteante com os cabelos mais compridos, levemente ondulados nas pontas, um vestido preto e branco, curto, colado no corpo, ressaltando suas curvas perfeitas. A boca trazia um vermelho convidativo.
Fez questão de vir à nossa mesa, com um copo à mão e nos cumprimentar, era mesmo muito atrevida. Mas minhas amigas gostavam dela, eu sabia disso.
— Oi Gorman — cumprimentou-me por último.
— Oi Reed.
Ela olhou para minha namorada e as apresentei.
Após uma rápida troca de palavras com as meninas, retirou-se.
— Nos vemos — saiu acenando.
Vimo-nos na pista. Ela parecia estar bem alegre e dançava perto das amigas, lançando-me olhares ocasionais. Uma garota aproximou-se dela, as duas trocaram sorrisos e logo estavam dançando juntas. Que garota mais comédia... Se a intenção era me provocar, que desistisse, eu não ligava...
Mas ela seguia me provocando.
Senti duas mãos puxando meu rosto.
— Pode prestar atenção em mim? — minha garota exigia-me.
Sorri.
— Claro que sim.
Ela me beijou e dei a atenção que ela queria.
Meus olhos, porém, insistiram em buscar por Reed. Ela estava cada vez mais grudada na garota. Começaram a se beijar e me lembrei das vezes em que ficamos juntas.
Minha namorada puxou-me, dizendo que não queria mais dançar. Voltamos para a mesa e brigamos.
— Eu não fiz nada.
— Nada, Gorman? Só faltou me largar pra ir dançar com sua amiguinha...
Dei aquela resposta clássica, mesmo sabendo que ela tinha razão.
— Você está louca...
Ela foi ao banheiro. Minhas amigas vieram para a mesa.
— Tudo bem? — uma delas perguntou.
— Tudo. Vou pegar mais bebidas. Vocês querem?
Navy foi comigo.
O bar estava lotado e demoramos a voltar. A garota de Navy e as outras duas já estavam na mesa e minha namorada deu pití, disse que eu estava com “ela" e que minha amiga estava me acobertando. Acabamos indo embora.
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Ao descobrir que Jacqueline e Gorman eram a mesma pessoa, naquele encontro às escuras mal-arranjado por nossas mães e amigas, eu fiquei furiosa. Recusei a carona que ela nitidamente me oferecera por puro formalismo e saí dali prometendo jamais voltar a vê-la.
Já no táxi, recebi uma mensagem da minha amiga Hilary.
E então? Como tá aí?
Vou te matar
Pq???
Não respondi mais.
Mesmo assim, após meses, foi engraçado voltar a ver Gorman na boate. Como podia ser que ela parecesse ainda mais bonita? Cumprimentou-me naquela deliciosa voz rouca. Eu quase esqueci que não gostava das atitudes dela. Mas como ela estivesse com a namorada ciumenta que a ficava agarrando na pista para marcar território, eu quis provocar também, só para Jackie Goman lembrar o que perdeu.
Dei entrada para uma garota e acho que funcionou, Gorman ficou filmando a gente. A namoradinha ficou furiosa. Elas saíram da pista meio “assim" e eu perdi o interesse na garota com quem ficara. Fui embora em seguida. Hilary e Paul foram comigo, os outros amigos ficaram. Mas eu não queria ir para casa ainda. Paramos em um barzinho e bebemos mais um pouco.
A backless dress and some beat up sneaks
Um vestido sem costas e alguns entreolhares
My disco tec juliet teenage dream
Minha julieta de discoteca, sonho adolescente
I felt it in my chest as she looked at me
Eu senti no meu peito enquanto ela me olhava
I knew we were bound to be together
Eu sabia que estávamos destinados a ficar juntos
Bound to be together
Destinados a ficar juntos
She took my arm
Ela pegou meu braço
I don't know how it happened
Eu não sei como isso aconteceu
We took the floor and she said
Nós tomamos a pista e ela disse
Paul, meu sócio, me passou um trabalho, pedindo atenção especial, pois era para a chefe de uma amiga dele.
— Se você puder. É só porque estou enrolado com aquela outra firma e não quero parar agora. Mas qualquer coisa, eu dou um jeito.
— Claro que vou. Pode deixar comigo.
Cheguei ao endereço e não acreditei. A placa tinha os nomes de Gorman e de Navy.
Mundo pequeno... — pensei. — Espera... Então foi por isso que Paul me pediu para fazer esse atendimento? Paul, você é um grande filho da mãe...
Senti vontade de voltar para trás. Estava cansada das artimanhas de nossos amigos para tentar nos aproximar. Aquilo não ia dar certo, Jackie Gorman e eu nunca daríamos certo.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
olivia
Em: 15/08/2021
Olá autora, é a primeira vez que, te encontro aqui no Lettera. Está sendo um prazer ler esse romance cheio de charme , mães maravilhosas, difícil de encontrar hoje em dia e antigamente! Duas garotas marrentas,se conhece sem saber que, suas mães estão tramando , muito lindo!! Parabéns estou amando!!! Bjokassss ??‘???‘???‘???‘???‘???‘?
Resposta do autor:
Oi, Olivia!
Sou nova por aqui, por enquanto com duas hitórias.
Que bom que me encontrou e gostou de Às escuras!
De fato, essas mãe são raras, mas acho que a ficção serve tb pra isso, né... pra gente sonhar, deixar correr a imaginação e realizar o difícil e o impossível rsrs.
Muito obrigada pelo comentário e pelo carinho!
Bjsss
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