Capitulo 31
— Isso é absurdamente surpreendente, apesar de esperado. — Hernando comentou pouco antes de dar um gole na garrafa de cerveja que abrira recentemente.
— Completamente esperado, basicamente todo mundo estava torcendo por isso. — Drew teceu seu comentário e arrancou uma risada tanto de Helena quanto de Mia.
A mexicana lançou aquele olhar para a namorada que dizia “Eu disse” e tudo o que Mia fez foi sorrir de forma larga em resposta.
— Bom, pelo menos as fofocas da sua família não estavam ao todo erradas. — Helena falou e inclinou-se para dar um beijo no rosto de Mia para logo em seguida sentar-se ao lado da namorada, havia ido a cozinha pegar o molho que haviam esquecido.
— O incrível é que eu não fico surpreso de forma alguma por a declaração da Mia ter sido dessa forma. — Hernando comentou e riu por breves segundos antes de continuar.
— Considerando o histórico dela... — Drew ponderou.
— Que histórico? — Helena franziu o cenho e encarou a mulher ao seu lado que apenas rolou os olhos. — Você tem as melhores histórias bêbada.
— Não façam eu me arrepender por ter convidado vocês. — a morena alertou para os dois homens, apesar de ter falado em tom sério, o olhar e o sorrisinho deixava bem claro que não passava de uma brincadeira. — Digamos que a bebida já me fez falar verdades que eu não teria coragem de falar de forma tão clara estando sóbria.
— Nós encontramos na saída de uma boate, o dono do lugar, a Mia, bêbada, totalmente bêbada, foi até ele e numerou absolutamente todos os problemas que a boate tinha, que não eram poucos e depois enumerou todos os problemas os quais poderiam render um processo caso ela estivesse com vontade de processar o lugar.
— Parecia uma palestra e o incrível é que ela falava tudo como se estivesse no meio de uma reunião com o cara e estivesse com todo o poder diante dele e tivesse a plena liberdade de falar isso. — Drew acrescentou enquanto gesticulava e tentava imitar um pouco a pose de Mia.
— Quais eram mesmo os problemas? — Hernando dirigiu-se ao namorado.
— Os banheiros eram nojentos, o whisky era claramente falsificado o que poderia causar uma infecção alimentar e se fosse comprovado o processo seria caro, eles colocavam água na tequila para ela render mais, a ventilação era inadequada e eles viviam fazendo super lotação, o fumódromo era irregular, eu não vi extintores de incêndio e nem alarmes de incêndio, o gelo era armazenado de forma incorreta e ficava exposto a bactérias! — Mia falou como se isso fosse à coisa mais absurda do mundo e enquanto falava numerava nos dedos cada item que falava. — Sem falar que os seguranças passavam mais tempo assediando as mulheres do que separando as brigas, os banheiros além de nojentos eram extremamente pequenos...
— E banheiros espaçosos para você naquela época era um requisito importantíssimo. — Hernando pontuou e Mia deu razão ao amigo.
— Deus do céu, como eu posso achar você reclamando das coisas desse jeito algo sexy? — Helena questionou, tinha o cenho franzido como se realmente estivesse fazendo uma pergunta séria, o que conseguiu como resposta foram gargalhadas que duraram alguns segundos.
— Parem de falar das minhas vergonhas e vamos comer. — Mia falou ainda com resquícios de riso em sua fala.
— Suas vergonhas são maravilhosas de serem comentadas.
— Tipo a vez que ela esqueceu onde estava e ficou chorando tentando lembrar. — Drew comentou e Hernando riu logo em seguida, Helena olhava para Mia com uma sobrancelha arqueada como se silenciosamente questionasse: “É sério?”.
— Tipo a vez que o Drew ficou tão bêbado que achou que estava entrando em combustão e ficou de cueca na rua, não deixamos ele tirar o resto, apesar que todos queriam que tirasse. — arqueou uma sobrancelha para o amigo, a típica expressão de quem estava se vingando, em seguida olhou para Hernando. — E a vez que o Nando resolveu trans*r bêbado e dormiu com o pau do cara na boca... Mas também teve aquela vez...
— Pelo amor de Deus! — Hernando ergueu as mãos como se estivesse se rendendo e isso resultou em gargalhadas de Helena, um sorriso largo e orgulhoso de Mia e Drew rindo um tanto contido com as revelações.
— O que diabos a bebida faz com vocês? — a mexicana questionou enquanto ainda ria.
— E que deixemos claro que é apenas bebida, não tem droga nenhuma envolvida, é só loucura própria. — Mia explicou com calma enquanto calmamente pegava uma das tortillas e a recheava com frango desfiado, guacamole e as verduras bem picadas.
— Eu percebi na noite de pizzas. — Helena ressaltou e sorriu ao lembrar daquela noite. — Esse molho aqui é muito apimentado, então usem com moderação se vocês não gostam tanto. — Helena indicou uma das tigelas em seguida tocou a outra. — Esse aqui é mais agridoce, também apimentado, mas é mais suave.
— Essa comida está tão linda que sinto dó de comer. — Drew falou enquanto se ajeitava um pouco e já se preparava para se servir.
— Eu amo comida mexicana. — Hernando comentou enquanto já se servia. — Você contou que sua família é barulhenta igual a da Mia, Helena...
Helena concordou com um aceno de cabeça enquanto murmurava uma concordância enquanto terminava de mastigar.
— Falam alto demais, às vezes aos gritos, são muito apressados, escandalosos e muito fofoqueiros. A rua que eu morava lá em Guanajuato era um pouco estreita e as casas de lá tem muitas janelas por causa do calor, então qualquer mísera novidade que ocorresse, as vizinhas se comunicavam pelas janelas de casa, sequer precisava sair na rua, eu achava isso extremamente divertido na época. — riu com as próprias palavras.
— Isso é tão familiar. — Mia comentou enquanto sorria com as palavras da namorada.
— Outra coisa que achei muito estranho quando vim pra cá... — recordou-se e olhou para Mia como se lembrasse da conversa que tiveram mais cedo quando falaram sobre o que ela achara estranho quando se mudara para Boston. — Vocês são muito introspectivos, muito!
— Não somos não... — Mia tentou negar.
— Com certeza são, lá é totalmente comum você socializar com as pessoas, é como se todo mundo da cidade fosse da família. Aqui, é como se todo mundo se odiasse, especialmente de manhã.
Hernando concordou com um aceno de cabeça exagerado, com a boca muito cheia para falar.
— Isso é verdade. — Drew comentou pouco antes de engolir o que comia. — Às vezes é difícil até conseguir um bom dia dentro do elevador.
E assim foi a noite dos casais, repleta de histórias tanto vergonhosas quanto sérias, risadas escandalosas e muito momentos que faziam eles se sentirem tão a vontade que nem parecia que era a primeira vez que um encontro de casais estava acontecendo, em determinado ponto da noite, Vadia apareceu para cumprimentar as visitas e para pedir comida é claro. Helena tinha um sentimento diferente dentro do peito e uma felicidade que ela não conseguia explicar, aquilo, momentos como aquele, foi o que ela sempre desejou em uma vida de casada, receber amigos em casa, mostrar seu lar junto com seu marido, acolher amigos daquela forma e se sentir no meio de uma família, ela nunca conseguiu aquilo com Trevor, mas estava conseguindo com Mia, sua namorada há apenas 1 dia. Era incrível.
— Promete que vai me ligar se algo acontecer? — Mia questionou em tom baixinho, parada junto com Helena na varanda da casa da mulher. Drew e Hernando já haviam se despedido e esperavam por Mia no carro.
— Eu prometo. — Helena sussurrou e sorriu de forma terna para a namorada enquanto a encarava de pertinho, inclinou-se para dar um beijo na testa da morena, um beijo cheio de carinho e demorado. — Obrigada por essa noite, foi maravilhosa. — sussurrou enquanto se afastava só um pouquinho e tocava o rosto de Mia com a mão esquerda. — E por todo o fim de semana.
Mia sorriu antes de rodear o corpo de Helena com seus braços em um abraço apertado e demorado, deu alguns beijos no rosto da mulher no meio desse processo e respirou fundo para aspirar aquele cheiro gostoso o máximo que podia. Ainda trocaram algumas palavras de carinho antes de se despedirem de uma vez e Helena se ver sozinha na varanda apenas observando Mia partir, ela sorriu fraco, aquele mesmo sentimento que ela não sabia explicar perdurando em seu interior, mas era bom, fazia ela se sentir segura. Deu meia volta e entrou em casa, trancou a porta e em seguida sentiu Vadia se enroscando em suas pernas enquanto miava baixinho como se pedisse enfim por atenção. Helena cruzou os braços e olhou ao redor, não havia mais nada para fazer, os quatro já haviam limpado toda a bagunça e deixado à cozinha impecável, porém, estava tarde, já havia passado das 22h a um bom tempo e ela nem mais sabia que horas eram, mas não queria ir pra cama, acabou rendendo-se ao inseparável caderno de desenhos e junto com ele e Vadia ficou no sofá a desenhar por horas a fio, tinha tantos sentimentos dentro de sí que precisava extravasá-los de alguma forma.
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— Ela tentou justificar várias e várias vezes que não era suficiente pra mim. — Mia falou enquanto calmamente ia vestindo a roupa íntima, havia acabado de sair do banho e estava em seu closet se vestindo enquanto Hernando estava no quarto. — E eu entendi os motivos, ela tem muitas amarras ainda que fazem ela associar tudo ao passado, comparar, sabe? — questionou e respirou fundo antes de sorrir fraco enquanto vestia a camisola. — Mas eu consegui dar alguma segurança a ela, céus... — riu por breves segundos enquanto saia do closet e encarava o amigo deitado em sua cama. — Ela se declara de uma forma tão única, sabe? Em mínimos detalhes, com palavras lindas, por mais que cheias de inseguranças e porens, mas eu realmente sinto que todo o sentimento que eu tenho por ela é totalmente recíproco e isso é muito bom. — subiu na cama devagar e sentou-se sobre os próprios calcanhares bem no meio dela enquanto encarava Hernando, o arquiteto tinha um sorrisinho no canto dos lábios enquanto apenas observava Mia e a escutava.
— Tem algum mas? — Hernando questionou e Mia suspirou.
— É claro que tem. — a morena cedeu e inclinou-se para deitar ao lado de Hernando, estava cansada, ela não havia descansado o suficiente naquele fim de semana, afinal, ficara bem ocupada comemorando o início do namoro. — Mas eu não quero pensar nisso agora, vamos com calma e lidando com tudo com mais calma ainda, então vai dar tudo certo. — falou mais para sí mesma aquelas últimas palavras, afinal, haviam tantos “mas” e “porens” naquele relacionamento que ela não queria pensar nisso, apesar de que sua mente estava cheia de perguntas: “Elas estavam namorando, mas havia a stripper.”, “O relacionamento tinha tudo para dar certo, porém... Helena ainda era extremamente instável.”. E apesar de Mia ter plena consciência de tudo aquilo e ter a certeza, ou achar que tinha, de que conseguiria lidar com aquilo, havia também o porém que o sentimento agora era maior e muito claro, não havia mais como esconder nada.
— Eu estou feliz demais por vocês duas. — Nando enfim falou e Mia deixou os pensamentos de lado para encarar o amigo. — A química que vocês duas tem é muito bonita, um claro companheirismo, nem parece que só faz alguns meses que se conhecem e principalmente, vocês são um casal simplesmente maravilhoso, pelo amor de Deus, duas gostosas.
Mia riu.
— É como você e o Drew. — a morena falou de forma um pouco orgulhosa.
— É bom ver você feliz novamente por estar namorando. — Hernando confessou e Mia sorriu de forma carinhosa antes de se aproximar do amigo para lhe dar beijos carinhosos e estalados no rosto.
— Não achei que sentia falta desse sentimento, até estar sentindo novamente. — falou baixinho e riu brevemente, mas riu de forma boba, apaixonada e muito feliz.
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Os olhos dourados abriram-se de forma preguiçosa e encararam o teto da sala de forma preguiçosa e com o cenho levemente franzido pela claridade e pela estranheza de não acordar na cama. Olhou em volta devagar, Vadia dormia entre seu corpo e o sofá em um sono tão profundo que nem havia se dado conta de que Helena havia acordado. Esfregou os olhos devagar por alguns segundos, sequer lembrava em que momento havia dormido, mas sorriu fraco por ter sido um dos melhores sonos de sua vida, simplesmente descansou, plena e sem medo, tudo por que fora dormir com Mia dominando todas as partes de sua mente. Sentou-se no sofá devagar e ouviu o miado de protesto de Vadia.
— Bom dia, meu amor. — sussurrou. A voz muito mais rouca que o normal, os dedos se emaranharam na pelagem macia e densa da gatinha e sorriu fraco enquanto a encarava, sentia uma leve dor nas costas, porém, não podia reclamar disso, já que fora culpa própria dormir no sofá. Pegou o caderno de desenho meio amassado contra o encosto do sofá, estava com o lápis bem na página onde estava desenhando, quando o abriu deu de cara com o desenho inacabado de um homem seminu com os braços abertos e um sorriso que deixava claro a sua liberdade, o desenho a fez sorrir por que recordou-se da noite anterior, riu enquanto relaxava um pouco e repousava a coluna dolorida contra o encosto do sofá, pendeu a cabeça para trás e sorriu, os olhos fechados e uma sensação tão boa que ela nem sabia explicar o que estava sentindo, mas era tão bom.
Ergueu-se do sofá só quando se deu conta de que seu celular não estava por perto e saiu atrás dele com calma, Vadia é claro abandonou o conforto para ir atrás de Helena, com a certeza de que iria ganhar ração, estava certa é claro. A primeira parada de Helena fora na cozinha onde, antes de tudo, abasteceu a ração e a água da gatinha. Em cima do balcão estava seu celular e apoiou-se no mesmo para poder dar atenção ao aparelho com a mais pura intenção de ver se tinha mensagem de Mia e apesar de nem ser 7 horas da manhã ainda, já havia mensagem:
Amélia [06:16]:
Bom dia!
Espero que tenha dormido bem...
Helena [06:45]:
Melhor do que você imagina, acabei de acordar e foi uma noite perfeita.
Bom dia! Hoje fui até mais rápida que a Vadia.
Você precisa ver o que eu desenhei.
Iria atrás de seu caderno de desenhos quando o celular começou a tocar, o nome de Allyson aparecia no visor do celular e Helena franziu um pouco o cenho enquanto atendia a ligação.
— Está acordada e não viu a minha mensagem? — Ally foi logo questionando e Helena rolou um pouco os olhos, porém, se ela estava fazendo aquela pergunta provavelmente havia perdido algo importante.
— Talvez. — Helena respondeu e bocejou por breves segundos.
— Estarei passando aí em 40 minutos. Nós temos uma reunião com o Rupert, lembra dele? Você fez aquele quadro enorme da mãe dele.
— É claro que eu lembro, demorei mais de um mês para terminar aquele quadro. — passou a mão pelo rosto e se afastou do balcão para ir até a geladeira para pegar o suco. — Ele quer algo novo?
— Ele quer e é algo grande, por isso você tem que ir junto para ver os detalhes. — Ally soltou um suspiro, Helena ouviu e sorriu com isso enquanto retirava a jarra de suco da geladeira.
— Por que está suspirando? Você adora quando a semana começa cheia assim.
— Na verdade a semana inteira vai ser cheia assim e você é difícil de se manter na linha, você some do nada, Helena e não respeita nossas reuniões.
— Por que é você que é responsável por isso, a minha responsabilidade é apenas a arte. — falou como se isso fosse obvio e franziu um pouco o cenho enquanto agora ia atrás do copo.
— Porém tem clientes que gostam de conversar com a artista, Helena! — a voz de Ally se alterou um pouco e isso arrancou uma risada da Mexicana, às vezes ela fazia isso apenas para tirar a amiga do sério.
— Eu prometo que vou me manter na linha. — falou enquanto enchia o copo com o suco gelado.
— Eu duvido. Mas seguinte, uma ex-professora sua me ligou dizendo que queria te encontrar, alguma coisa sobre um convite, o nome dela é Letízia... Ela queria seu número, mas não passei é claro, fiquei de te passar caso você tivesse interesse...
— Letízia... — Helena franziu o cenho com a notícia de que uma ex professora lhe procurava, balançava o copo em sua mão com calma vendo o líquido amarelado balançar sem parar. — Ela foi uma das melhores professoras que eu tive e a mais compreensiva quando minhas notas decaíram. — a curiosidade lhe cutucava com força. — Bom, me passe o número dela, eu vou ligar pra ela depois.
— Certo... Agora tome café e vá se arrumar.
Helena sorriu fraco, mas não falou nada, apenas desligou. Ficou pensativa, extremamente pensativa na verdade, o que diabos Letízia queria? Um convite? De que tipo? Para que? Suspirou, com a forma conturbada com a qual se formara, jamais esperava que teria qualquer professor vindo atrás de sí e bom, estava acontecendo.
E aí a semana do novo casal começou, ironicamente começava idêntica para ambas, cheia de compromissos que com certeza deixaria as mulheres ocupadas demais para se ver como queriam. Apesar disso, passavam o dia inteiro sempre trocando mensagens e principalmente no meio de ligações longas antes de dormir onde compartilhavam uma com a outra todos os detalhes do dia cheio que passaram em seus respectivos trabalhos. E já na quarta feira, no meio da tarde, Helena estava ocupada em mais um quadro, um dos que foram encomendados exclusivamente, obviamente mais caros, mas ela gostava de fazer aquilo, por na tela as ideias e vontades de uma pessoa, sentia que estava realizando desejos.
— Que sexy ver você tão concentrada. — a voz extremamente conhecida soou aos ouvidos de Helena e a mão firme da mexicana parou no ar, o pincel quase tocava a tela. Um sorriso se formou em seus lábios imediatamente e olhou para trás, por cima do ombro direito e encarou a sua saudade diária. O sorriso largo de Amélia se transformou em uma risada enquanto se aproximava da artista sentada em um banquinho em frente a grande e larga tela bem colorida e já foi a abraçando por trás de forma bem apertada.
— Que surpresa! — Helena comentou, o sorriso sequer saia de seus lábios enquanto apreciava aquele aperto gostoso, aquele cheiro e aquela sensação que a aquecia completamente.
— Eu sei, felizmente sua galeria fica no caminho da obra que visitamos para o restaurante. — falou baixo e em seguida deu alguns beijos estalados no rosto da mexicana. Helena virou o rosto o suficiente para que seus lábios se colassem em um selinho demorado e extremamente saudoso. Mia sorriu enquanto erguia a mão direita e tocava o rosto da Artista com carinho, o polegar passando sobre uma manchinha de tinta. — Como você consegue se sujar tanto assim?
— Não me faça perguntas difíceis. — Helena brincou e respirou fundo, um sorriso tão satisfeito nos lábios, aquela definitivamente fora a melhor surpresa que poderia ter recebido naquele dia. Largou o pincel que usava e deixou a paleta no carrinho junto com as outras para poder ficar com as mãos livres, pegou uma flanela e fui limpando as mãos enquanto se virava ainda em cima do banco e aí sim pode olhar melhor para a namorada. — Eu não quero te sujar.
— Está tudo bem, meu único compromisso hoje é com a cozinha do Palermo e ninguém vai ver uma roupa suja por baixo da dólmã. — ergueu os braços e abraçou a mexicana pelos ombros enquanto era laçada pela cintura. — Sinto muito por essa semana tão corrida.
Helena negou com um aceno de cabeça e deu um beijo no maxilar de Mia, estava mais baixa que ela por estar sentada e Mia em pé entre suas pernas, ficou dando beijos seguidos e estalados, sem querer se afastar um segundo sequer.
— Eu não me importo, você sabe disso e minha semana também está sendo como a sua, prometi a Ally que não iria deixar ela só nas reuniões com os clientes. — falou baixinho e deu um selinho nos lábios da namorada em seguida.
— É como tem que ser. — Mia incentivou a mexicana e deu outro selinho estalado naqueles lábios carnudos. — Não sobrecarregue a Ally.
— Você não veio aqui para me dar broncas, Amélia. — Helena reclamou em tom manhoso, mas riu, não se incomodava com aquilo, nem um pouco na verdade, pelo contrário, ela gostava.
Mia riu.
— Não inventem de trans*r. — a voz masculina soou de repente na entrada da sala de Helena, Mia rolou os olhos e Helena riu enquanto pendia um pouco a cabeça para o lado para poder encarar Hernando.
— Oi, Nando. — saudou o amigo.
— Olá Helena, ela me infernizou até eu aceitar trazer ela aqui. — Hernando pontuou e em seguida olhou para o lado onde Ally falava algo, porém, Helena não ouviu.
— Você disse que era caminho. — Helena dirigiu-se a Mia desta vez, mas a Designer apenas deu de ombros.
— O caminho da minha saudade. — corrigiu-se e acabou rindo das próprias palavras em seguida, Helena a seguiu na risada, mas obvio que seu coração acelerou com aquelas palavras. — Começar um namoro passando um fim de semana na sua casa foi péssimo por que me deixou muito mal acostumada. — deu um selinho estalado nos lábios de Mia. — Não ter isso a hora que eu quero é horrível. — outro selinho.
— Sinto falta dos cafés da manhã onde você é o cardápio. — sussurrou e beijou o cantinho da boca de Mia. A designer deu aquela típica risadinha safada antes de falar baixinho:
— Vamos resolver isso assim que possível, pode ficar tranquila. — colou sua testa a de Helena e fechou os olhos enquanto sorria fraco. — Você está bem? — não era uma pergunta superficial, ela abrangia muito mais do que se imaginava e Helena sabia, Mia não estava perguntando como ela estava se sentindo naquele momento, mas sim no geral, o psicológico, o sentimental, tudo.
— Eu estou, essa semana foi... — franziu um pouco o cenho e afastou-se um pouquinho para encarar a mulher. — Foi muito tranquila, isso me deixa tão aliviada.
Amélia sorriu e ergueu a mão esquerda com calma para tocar o rosto da namorada.
— Ótimo. — falou baixinho, com satisfação. — Isso também me alivia.
Aquele cuidado de Mia fez Helena sorrir de forma derretida, céus, como estava louca por aquela mulher. Colou os lábios nos dela, mas desta vez o selinho deu lugar a um beijo calmo, cheio de carinho, cheio de saudade e cheio de desejo que durou alguns bons segundos.
— Não quer ir jantar no Palermo hoje? — questionou em tom baixinho, o nariz roçando ao de Helena devagar.
— Não posso, eu tenho prazo pra terminar esse quadro, ficarei até tarde aqui. — respondeu e olhou para a namorada com aquela expressão de quem estava pedindo desculpas.
Mia acenou de forma positiva com a cabeça e deu um último selinho na namorada.
— Está tudo bem, se tudo der certo nos encontramos no fim de semana.
— Perfeito.
Mia foi embora minutos depois, deixando uma Helena com um sorriso no rosto e um pouco da saudade mais contida, aquela breve surpresa foi mais do que o suficiente para recarregar todas as suas energias para aguentar até o fim de semana, definitivamente agora estava ansiosa.
E no compromisso semanal que ela tinha e o qual ela fazia questão de ir, refletia sobre os últimos dias sentada no sofá bem de frente para Samantha como sempre ficava, já estava há alguns minutos ali e já havia colocado Samantha a par das novidades.
— Você está com medo? — Samantha questionou, aquele mesmo tom calmo que sempre trazia paz a Helena.
— Estou. — Helena acenou com a cabeça de forma positiva. — Eu estou em uma semana de paz, mas eu não consigo relaxar completamente, eu ainda vou dormir todos os dias com receio de acordar de madrugada, sabe? Eu não sei explicar essa sensação, mas é como se eu nunca estivesse só e eu não sei por quanto tempo eu vou conseguir ignorar isso. — franziu o cenho enquanto respirava fundo e relaxou um pouco, encarou o teto do consultório e ficou em silêncio por alguns segundos. — No nosso primeiro dia de namoro ela me questionou sobre o coreto inacabado que eu tenho no quintal, eu pedi que o Trevor construísse ele pra mim a anos atrás, ele nunca terminou por que nem sempre ele estava com o humor bom o suficiente para me agradar. A Mia imediatamente se disponibilizou a tirar aquilo de lá e até pensou em um coreto novo. — sorriu fraco, mas o sorriso morreu alguns segundos depois. — Só que eu não deixei, é como se... — franziu o cenho e ergueu a mão, os dedos apontando para o próprio peito como se estivesse tentando descrever o que sentia. — É como se tivesse algo que me impedisse de se livrar de qualquer coisa relacionada a ele.
— Medo? — Samantha questionou.
— Provavelmente.
— Tem medo que se fizer algo que o desagradaria, ele apareça? — Samantha insistiu no assunto e Helena desviou o olhar do teto para a encarar.
Ela não soube responder aquela pergunta.
— Você já pensou em se mudar, Helena?
— Algumas vezes.
— E por que não o fez ainda? Você tem condições, não tem?!
— Eu tenho, mas não é sobre isso.
— É sobre medo?
— Provavelmente. — franziu o cenho com a resposta quase automática. — Lá eu tento me apegar a lembranças boas que me mantiveram sã por muito tempo, por mais que aquela casa tenha me proporcionado os piores momentos da minha vida, há locais que me trazem segurança.
— São os locais onde você se escondia dele?
Helena acenou de forma positiva com a cabeça após alguns segundos e sentiu uma sensação ruim com a própria resposta, odiou admitir aquilo e isso a pegou de surpresa de certa forma. Tanto que ajeitou-se no sofá em seguida para tentar voltar a ficar confortável, mas não conseguiu.
— Te deixa desconfortável esse assunto? — Samantha questionou ao ver a movimentação de Helena.
— Qual o assunto que não me deixa desconfortável aqui? — rebateu.
— A Amélia. — Samantha tinha a resposta na ponta da língua e isso fez Helena dar uma pequena risada.
— Verdade. — sussurrou e ficou em silêncio em seguida.
Samantha respeitou o silêncio, observava Helena e era completamente obvio que ela estava pensando em tudo aquilo, por isso lhe deu alguns minutos e justamente alguns minutos depois uma única pergunta veio:
— Você acha que eu vou superar esse medo algum dia?
— Estamos trabalhando pra isso, Helena.
— Você acha? — Helena insistiu e Samantha respirou um pouco fundo.
— Você percebe a evolução que você teve desde que começamos? As coisas que você consegue enxergar com muito mais facilidade agora?
Helena concordou.
— Você conseguiu perceber o medo em se desfazer das coisas do Trevor, não fui eu que ressaltei isso. Você está ciente de tudo, Helena e não ignora as coisas como antes ou tenta dar desculpas para justificar, então você não deve fazer essa pergunta a mim, eu estou aqui apenas para te guiar e cabe a você o resto.
Helena ficou em silêncio novamente, mas tinha uma insegurança dentro de sí que ela não sabia explicar, era como se sempre estivesse aparecendo coisas novas que a impediam de se sentir sempre leve, ela estava ciente que aquilo era necessário, mas ela odiava. Queria não sentir tanto medo e ela não sabia o que fazer para conseguir isso, era como se algo estivesse para acontecer a todo momento e não era algo bom, odiava aquela sensação.
Fim do capítulo
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HelOliveira
Em: 10/08/2021
Helena já está me deixando com medo, até eu senti que algo ruim pode estar vindo por aí...espero que não...
Sempre quero mais dessa história..
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Thayscarina
Em: 09/08/2021
nossa cada dia melhor.... não demora tanto pra posta os capítulos ????
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