Capitulo 30
— O Nando confirmou hoje às 18h. — Mia falou assim que apareceu no quintal, a Designer vestia um short jeans de Helena e uma camiseta leve, os cabelos estavam ainda úmidos já que não fazia muito tempo que havia saído do banho junto com Helena, já estava perto da hora do almoço e as duas nem sequer haviam tomado café da manhã, tiveram prioridades maiores naquele dia.
— O que vamos cozinhar? — Helena questionou sem olhar para a namorada, se ocupava a pacientemente regar as suas plantas com todo cuidado.
— Estava pensando em alguma comida da sua cultura. — Mia falou enquanto ia andando devagar pelo quintal muito bem organizado e cheio de plantas e flores.
— Por que não o que fizemos no nosso primeiro encontro?
— Aquilo não foi um encontro. — Mia a corrigiu enquanto cruzava os braços.
— É claro, você esqueceu o vinho. — implicou.
Mia riu enquanto analisava o que parecia ser um coreto completamente inacabado.
— O que é isso aqui? — questionou Mia enquanto entrava no mesmo devagar, só tinha a base parcialmente construída e algumas partes da madeira já deterioradas pelo tempo e pela falta de cuidado. — Um coreto?
Helena desviou o olhar do que fazia para poder encarar Mia e entender sobre o que ela falava e quando viu, sorriu fraco antes de concordar com um aceno de cabeça.
— Algo do tipo. — Helena respondeu enquanto segurava bem o regador e caminhava para o outro lado do quintal para guarda-lo. — Foi algo que eu pedi ao Trevor há anos atrás, sempre quis um lugar aqui no quintal onde eu poderia receber visitas, conversar ao ar livre ou até tomar café da manhã. — franziu um pouco o cenho ao recordar-se do dia em que Trevor começara a construir aquilo, fora um dia depois de ter tido o braço direito quebrado e Trevor tentando se redimir de alguma forma, resolvera acatar o pedido dela e construir aquilo para agradá-la, obviamente a boa vontade dele não durou muito tempo, nunca durava.
Mia ficou em silêncio após aquelas palavras, cruzou os braços, os olhos atentos vendo cada detalhe, caminhou ao redor, mentalmente calculando o espaço, analisando cada parte enquanto a imagem ia se formando em sua mente com cada vez mais clareza.
— O que está fazendo? — Helena questionou.
— Projetando. — respondeu e parou o que fazia quando ergueu o olhar para encarar a namorada, sorriu para ela. — Você quer que eu mande alguém vir tirar isso daqui? Esse espaço pode ser usado para outras coisas.
Helena negou com um aceno de cabeça, ao guardar o regador e ficar livre, foi andando para perto de onde Mia estava.
— Ainda vou decidir o que vou fazer com isso. — respondeu e parou a alguns metros de distância, estendeu a mão para a morena e Mia imediatamente acatou, saiu andando em direção à mexicana até segurar-lhe a mão. — Como assim planejando?
Mia deu de ombros enquanto envolvia a cintura de Helena com ambos os braços de forma carinhosa até que seus corpos ficassem colados, os olhos delas se encontraram de forma carinhosa, tão terna e repleta de sentimentos.
— Eu sou uma designer de interiores, Helena. Sempre que vejo locais assim é fácil imaginar o que eu poderia fazer com ele. — explicou baixinho e inclinou-se para dar um beijo no cantinho da boca de Helena. — Um coreto de madeira, com cortinas amarradas e cor de bege para dar um ar elegante, poltronas estofadas na mesma cor, teriam várias luzes pequenas e amareladas para dar um ar aconchegante e bem no centro uma lareira externa, de porte pequeno, não precisaria de muito fogo, seria seguro e perfeito pra assar marshmallows com os amigos.
A cada palavra de Mia, o corpo de Helena parecia ir derretendo de tanto amor e o olhar ia ficando cada vez mais apaixonado.
— Uau. — falou baixinho e riu em seguida.
Mia sorriu de forma um pouco larga, definitivamente ela com certeza faria aquilo para Helena algum dia.
— Pra quem sempre precisa de um tempo para associar as coisas, sua mente trabalha rápido demais, Amélia. — Helena implicou baixinho, implicou por que ficara sem graça.
— Você é tão cretina. — Mia reclamou em falso tom irritado, mas em seguida as duas riram juntas, tão acostumadas com aquelas implicâncias bobas que já era algo essencial.
— Mas agora você precisa saber algo muito sério sobre mim, Amélia. — Helena falou baixo e em um tom um pouco sério enquanto erguia a mão direita para tocar no rosto da namorada e o acariciou com calma, com carinho enquanto olhava cada detalhe daquele rosto maravilhoso, céus, ela era linda demais.
Mia imediatamente franziu um pouco o cenho quando ouviu as palavras de Helena, ficou alerta por achar que Helena diria algo muito importante, mas tudo o que veio a seguir foi:
— Eu simplesmente odeio marshmallow, é uma das coisas com textura mais horríveis que eu já coloquei na boca e posso dizer isso com muita propriedade por que já fui casada com um homem e sei de mais coisas com texturas ruins, mas nada perde para marshmallow. — a mexicana falou de forma bem clara realmente como se aquela fosse uma informação absurdamente importante.
— Você está me zoando não é? — Mia questionou enquanto tinha uma sobrancelha arqueada.
Helena negou com um aceno de cabeça e inclinou-se para selar os lábios da namorada antes de se afastar, dar as costas e sair andando. Mia riu por alguns segundos enquanto seguia a mulher.
— Você realmente comparou um marshmallow a um p*nis? — Mia questionou em tom implicante, mas riu novamente enquanto entrava na cozinha da namorada.
— É claro que não, eu comparei texturas ruins. — deixou claro enquanto abria a porta da geladeira e pegava o suco.
— Entre um p*nis e um marshmallow. — Mia acusou e arqueou uma sobrancelha.
Helena virou-se para a namorada com um sorriso convencido nos lábios, já tinha um copo meio cheio com suco em mãos, mas deu um bom gole antes de falar.
— Pra você ter noção do quão ruim o marshmallow é para mim.
Mia sorriu automaticamente ao ver o sorriso da mexicana e riu logo em seguida.
— Isso foi a comparação mais horrível que eu já ouvi na vida. — Mia pontuou. Helena apenas deu de ombros enquanto dava um novo gole no suco.
— Infelizmente foi a primeira coisa que me veio a cabeça. — franziu o cenho, relacionando isso ao fato de ter pensado em Trevor por causa do coreto. Balançou a cabeça de forma negativa e riu com a própria associação, realmente havia sido terrível, mas não menos engraçado. — Me deixe pensar em outra coisa. — franziu o cenho, olhou um pouco para cima, claramente concentrada em pensar em outra opção e demorou alguns segundos desse jeito antes de concluir. — Impossível, já perpetuei isso na mente, é horrível e pronto. — fez uma expressão de nojo enquanto se afastava do balcão e saia da cozinha.
Mia gargalhou.
— Isso foi tão horrível da sua parte. — ainda ria enquanto voltava a seguir a namorada, apenas alguns passos de distância enquanto tomavam o rumo da sala.
Helena apenas deu de ombros antes de sentar-se no sofá de forma relaxada, bem no meio, Mia imediatamente subiu no colo da namorada e sentou-se bem de frente para ela, primeiro por que queria beijá-la e segundo por que queria olhar diretamente para ela, jamais se cansaria de olhar para aquela mulher, tinha absoluta certeza disso.
— Como você ficou tão traumatizada com a textura de marshmallows a ponto de associá-lo a um pau? — Mia questionou enquanto pegava o copo de suco da mão de Helena e também dava um gole.
Helena riu, realmente aquilo era absurdo.
— Eu entendo totalmente a questão do p*nis, muitas mulheres não gostam, completamente normal....
— Não é o seu caso. — Helena arqueou uma sobrancelha.
Mia parou ainda com a boca aberta por ter sua fala interrompida e arqueou uma sobrancelha de volta.
— Lembrei dos adjetivos que te deram na noite da pizza. — Helena justificou suas palavras e Mia negou com um aceno de cabeça ao recordar-se, mas concordou com um aceno de cabeça.
— Não é o meu caso. Apesar de isso não agregar em nada na nossa conversa... — concordou com a namorada antes de continuar. — Qual seu histórico com Marshmallows?
— Não tem histórico, eu só sempre preferi doces de tamarindo, nas vezes que experimentei essas coisas borrachudas eu nunca gostei, cheguei a achar que o marshmallow americano poderia ser diferente já que vocês endeusam tanto esse doce e quando experimentei aqui foi tão ruim quanto. — apoio a cabeça no encosto do sofá de forma um pouco preguiçosa e as mãos deslizaram com calma pelas coxas de Mia.
— Nós não endeusamos...
— Vocês endeusam! A quantidade de doces onde vocês enfiam isso é absurda, é como se tudo fosse uma desculpa para por marshmallow no meio, em cima, ao redor. — gesticulou com as mãos para que Mia entendesse bem todo o seu desgosto, a Designer gargalhou com as reações de Helena, definitivamente era algo que ela não esperava, mas era extremamente divertido de ver.
— Mas você já comeu ele chamuscado?
— Se você não gosta de algo você vai insistir em várias versões desse algo?
Mia pensou por breves segundos e acenou de forma positiva com a cabeça.
— Você está certa. — anunciou e inclinou-se um pouco para trás para conseguir deixar o copo em cima da mesa de centro. — Quais comidas daqui você também não gostou?
— O cachorro quente é sem graça e eu demorei meses pra me acostumar com as comidas quase sem gosto e sem cor daqui e a variedade absurda de enlatados.
— Meu Deus, que lugares você frequentava, Helena? — Mia questionou enquanto tinha uma expressão horrorizada. A mulher apenas deu de ombros em resposta.
— Atualmente eu conheço muitos lugares bons, apesar de ainda recorrer a maior parte do tempo à comunidade latina daqui.
Mia inclinou-se devagar e selou os lábios de Helena com carinho em um selinho demorado e em seguida a olhou.
— Vou te levar a locais que você precisa conhecer, quando se refere à comida eu conheço cada lugar bom dessa cidade. — falou baixinho e selou os lábios da namorada novamente. — Você vai conhecer todos. — sussurrou novamente e selou os lábios dela mais uma vez, um selinho estalado, gostoso, roçou os lábios ao dela devagar por alguns segundos antes de falar: — E nunca mais compare marshmallows a um p*nis.
Helena riu contra a boca de Amélia com suas últimas palavras enquanto envolvia o corpo da mulher com seus braços, estava se sentindo tão absurdamente confortável que pensar em sair dali parecia ser um pecado, ela realmente sentia que estava vivendo um sonho.
— Nós precisamos sair para fazer compras. — falou baixinho após algum tempo e ergueu a mão esquerda para tocar o rosto de Mia, com a ponta dos dedos guiou alguns fios de cabelo para trás da orelha da morena. — Não vou ao mercado há um tempo, então se não formos não teremos todos os ingredientes para hoje. — alertou e arqueou levemente uma sobrancelha enquanto os olhos ficavam intercalando entre os lábios e os olhos de Mia.
— Sem problemas, nós vamos, mas eu queria passar em casa para ao menos pegar a minha carteira. — Mia se afastou um pouquinho e bocejou por alguns segundos, era reflexo da preguiça que estava sentindo.
— Não precisa disso, eu tenho dinheiro.
— Eu sei, mas já estou abusando da sua boa vontade.
Helena negou com um aceno de cabeça.
— Você agora é minha namorada, não? Então qual o problema gastar dinheiro com você?
Mia sorriu de forma um pouco larga e riu por alguns segundos.
— Eu só vou aceitar isso por que foi muito gostoso ouvir. — inclinou-se e deu um beijo estalado na bochecha da namorada e logo em seguida ergueu-se do colo dela. — Pra onde nós vamos?
— Dia de domingo sempre tem uma feirinha aqui perto onde vendem produtos sem agrotóxicos que são incríveis e bem pertinho tem um mercado onde podemos comprar outras coisas. — Helena ergueu-se do sofá logo em seguida e enquanto se espreguiçava ia dando passos bem lentos. — Nós podemos almoçar por lá.
— Parece perfeito pra mim, eu vou me vestir.
As duas passaram alguns minutos se arrumando juntas, Mia vestiu as mesmas roupas com a qual chegara à casa de Helena e que foram lavadas por ela e Helena vestiu um de seus incontáveis vestidos que sempre faziam Mia ficar cada vez mais fascinada pela mexicana. Assim, juntas e como se estivessem completamente acostumadas a fazer aquilo todos os dias, saíram de casa e Mia já fora descendo as escadas da varanda pronta para ir andando junto com a namorada, porém, parou quando notou que Helena não a seguia, quando olhou para trás viu a mulher retirando a bicicleta presa no suporte.
— Bicicleta? — Mia questionou.
— Como você acha que eu vou para os lugares?
— Definitivamente não de bicicleta. — Mia deixou claro e franziu o cenho enquanto Helena descia os degraus devagar, na frente da bicicleta tinha um cesto de bom tamanho e atrás da mesma um bagageiro que não parecia nada confortável aos olhos de Mia.
— Para a sua informação, eu amo andar de bicicleta, vou nela todos os dias trabalhar. Uber ou taxi apenas para locais distantes, já fui até pra terapia de bicicleta, é uma maravilha voltar chorando e pedalando depois. — ironizou com suas últimas palavras enquanto subia no veículo, a coxa direita ficando mais exposta por causa da fenda do vestido. — Vamos. — impulsionou-se mais para frente deixando o bagageiro bem na frente de Mia.
— Você só pode estar brincando ao achar que eu vou subir nisso. — Mia protestou naquele mesmo tom mimado e indignado de sempre, isso fez Helena sorrir de forma verdadeiramente larga, céus como amava aquele jeito dela.
— Vamos, chatinha, não seja fresca, guarde todo esse rancor extremamente sexy e suba. — Helena falou, não conseguia deixar de sorrir um segundo sequer. A expressão de Mia só ficou mais séria enquanto ela cruzava os braços, aquele olhar que perguntava “É sério, Helena?”. — Pelo amor de Deus! Até a Ally já andou comigo e ela ama! — mentiu e mentiu feio por que Alyson odiava aquela bicicleta.
— Eu não acredito em você. — Mia pontuou, mas era obvio que Helena não iria aceitar um não como resposta, ela pelo jeito falava realmente sério quando dissera que amava aquela bicicleta. Suspirou e suspirou pesado antes de ajeitar-se, segurou a cintura de Helena com ambas às mãos antes de com cuidado, montar na bendita bicicleta, que, felizmente, tinha apoio para os pés. — Eu juro que se você me derrubar eu não olho mais para a sua cara.
Helena gargalhou e Mia não deixou de reagir com um sorriso enquanto tinha absoluta certeza que de agora em diante seria extremamente difícil negar algo a Helena, definitivamente era cadelinha demais daquela mulher.
— Pense por um lado diferente, chatinha. Se eu te derrubar, eu cuido das suas feridas. — deixou claro enquanto começava a pedalar devagar. — Se segure. — mandou enquanto tomava impulso nas pedaladas e sentiu as mãos de Mia se agarrarem de forma bem mais firme em sua cintura.
— Definitivamente não, Helena!! — Mia precisou falar mais alto e em um claro tom indignado que mais uma vez fez Helena rir.
— Calma! Eu não vou te deixar cair! — Helena falou ainda em um tom risonho enquanto tirava a mão esquerda do guidão para tocar a mão de Mia em sua cintura.
— Não tira a mão do guidão, Helena!!! Pelo amor de Deus! — Mia reclamou de forma quase histérica e mais uma vez Helena gargalhou enquanto voltava a segurar o guidão desta vez focar de uma vez na estrada.
®
— Não foi tão ruim. — Helena falou enquanto caminhava com calma ao lado da bicicleta entre os corredores largos da feira ao ar livre, ia olhando em volta procurando algo que lhe chamasse atenção para comprar.
— Pra você. — Mia pontuou. — Minha bunda está doendo.
— Vou por uma almofadinha pra você da próxima vez, tem bagageiros acolchoados. — falou enquanto parava e puxava o pé da bicicleta para deixa-la em pé em frente a uma tenda.
— Você sabe que não vai ter uma próxima vez. — Mia afirmou enquanto seguia Helena. — Nós não fizemos uma lista do que vamos precisar comprar.
— Por que nós não precisamos de uma. — Helena rebateu enquanto tocava um dos pimentões e o pegava.
— Você é tão relapsa. — Mia falou enquanto pegava um pimentão amarelo, o olhava por alguns segundos antes de aproximá-lo de seu rosto e o cheirou com calma. — Como você gosta do pimentão?
— E você é certinha demais. — rebateu, não era uma reclamação, da mesma forma que o que Mia falara também não foi. Ela gostava do jeito certinho de Amélia, amava na verdade. — Eu gosto mais doce.
— É meu charme. — disse de forma um pouco distraída enquanto girava o pimentão em sua mão para ver o fundo do mesmo. — Esses pimentões são lindos.
— Muito cuidado e atenção. — a voz um pouco grave soou logo à frente, chamando a atenção de ambas as mulheres que olharam juntas para o senhor baixinho do outro lado da bancada, ele não estava lá quando chegaram. Elas sorriram juntas para o senhor, em especial Helena, que já o conhecia.
— Muito bem, Bern. Eu trouxe alguém exigente comigo hoje e que tem muito mais experiência que eu com essas coisas. — encarou Mia por breves segundos.
E o que se sucedeu a seguir fora uma Helena apaixonada sempre olhando como Mia ficava completamente concentrada escolhendo as melhores verduras, se sentiu tão feliz, tão completa. Durante todos os anos em que fora casada, ela e somente ela era responsável por momentos como aquele, nunca tivera ajuda, apenas exceções em que ia com Ally e apenas isso. Mas com Mia era tudo tão diferente, como se ela fizesse plena questão de ajudar Helena em absolutamente tudo o que pudesse e não por que sentia algum tipo de pena e sim por que era assim que deveria ser não era?
Não tiveram pressa, fizeram boas compras e compraram até mais do que deveriam, almoçaram juntas mesmo depois de já ter passado a hora do almoço e principalmente conversaram sobre absolutamente tudo, sobre gostos e pequenas coisas que uma não sabia sobre a outra, como se mais uma vez estivessem apenas se conhecendo. E apesar de Mia ter odiado a bicicleta, não podia negar que a experiência não fora toda ruim, não esqueceria da gargalhada de Helena enquanto ela pedalava e como ela parecia extremamente livre em cima daquela bicicleta, com certeza jamais esqueceria. Quando chegaram em casa por volta das 14h, tomaram um banho rápido, trocaram-se e vestiram roupas mais leves, descansaram por um tempo antes de empenharem-se juntas a cozinhar.
E foi tão leve quanto da primeira vez em que cozinharam juntas, Mia totalmente empenhada com os cortes, sejam das carnes quanto das verduras, afinal, era extremamente ágil com uma faca na mão e Helena aprendera desde o primeiro momento a tirar proveito disso. Já a mexicana se ocupava com a massa para as tortillas, fazer a massa em sí não era demorado, o que ocupava mais tempo era assar uma por uma, porém, não era um problema para Helena, ela gostava de todo aquele processo. Apesar de toda a concentração de Mia em cortar as carnes que usariam, ela sempre parava por alguns segundos para dar um pedacinho à gatinha gulosa se apoiava em pé em sua perna para pedir um pouco, Mia dera um pequeno pedaço de cada tipo de carne que cortara, como se a aprovação da gatinha fosse o maior requisito para que continuasse a cortar.
E assim como na primeira vez em que cozinharam juntas, a música não podia faltar, apesar de um pouco baixa, as duas mulheres em determinados momentos sempre largavam o que estavam fazendo para dançar juntas e lá estavam mais uma vez no meio da cozinha coladas uma na outra, corpos, corações, pensamentos e sentimentos ao som de I Won’t Give Up, de Jason Mraz.
Helena rodopiou Mia devagar e a puxou pela mão de volta logo em seguida, os corpos voltaram a se colar e os sorrisos cúmplices de ambas as mulheres pareceram misturar-se como um só quando as testas se colaram, quando aquela música começara a tocar, Mia anunciou que a amava e Helena falou o mesmo, fora o ponta pé inicial para que mais uma vez dançassem e esquecessem o resto do mundo. Mia cantava baixinho contra a boca de Helena, como se mais uma vez estivesse se declarando para ela, o que com certeza ela estava fazendo diante a letra da música, Helena acabou com o espaço que ainda tinha entre elas quando se inclinou um pouco apenas para que seus lábios se encaixassem ao de Amélia. O beijo foi completamente carregado de sentimentos, todos eles tão bons que pareciam ser capazes de fazer aquele casal flutuar tanto que pareciam ter saído daquele mundo há muito tempo, tão alheias estavam ao resto.
— Você sabe que desse jeito nós nunca vamos terminar esse jantar não é? — Helena questionou em um sussurro tão baixinho contra a boca de Mia, que se não estivessem tão coladas, Mia não ouviria.
A Designer sorriu antes de dar de ombros.
— Todo começo de relacionamento precisa ser meloso desse jeito, estamos no caminho certo. — Mia rebateu no mesmo tom, mas elas riram juntas com aquelas palavras.
— É, nós estamos. — Helena confirmou e sentiu como seu corpo reagiu a essas palavras, principalmente o seu coração.
©
— Esse fim de semana pareceu voar, não foi? — Helena questionou enquanto saia do banheiro devagar, questionava isso por que lembrava que Mia iria embora naquela noite.
— Sim, definitivamente. Eu queria ficar mais. — Mia respondeu e olhou para a namorada através do reflexo do espelho, estava vendo como a roupa havia ficado em seu corpo, usava uma calça jeans clara que ficava um pouquinho folgada, mas muito confortável, em conjunto com uma camisa branca de lã e mangas cumpridas que a aquecia muito bem, a noite estava fria e faltavam poucos minutos para as 18h. Haviam terminado de cozinhar a pouco tempo e correram para tomar banhos rápidos, afinal, nenhuma delas queria estar com cheiro de comida quando as visitas chegassem.
— Incrível como minhas roupas ficam muito melhores em você. — Helena se aproximou da namorada e a abraçou por trás devagar, estava tão cheirosa.
Mia sorriu e suspirou de forma satisfeita enquanto olhava para os reflexos no espelho, sorriu um pouco mais com a cena, quando, há meses atrás, imaginaria que acabaria daquele jeito nos braços de uma mulher? Tão absurdamente apaixonada.
— Você está linda. — Helena falou baixo e deu um beijo no rosto da namorada. A Mexicana por sua vez usava um de seus incontáveis vestidos, um vermelho de mangas longas e um decote razoável, ia até seus joelhos.
— Você também. — Mia retribuiu o elogio e virou um pouco o rosto para retribuir o beijo que recebera, colou seus lábios no maxilar de Helena e estalou um beijo que durou alguns segundos.
A campainha tocou e automaticamente elas se desvencilharam, mas não se afastaram demais, Mia segurou a mão de Helena e a puxou, foi andando devagar quase ao lado dela.
— Como a Vadia é com visitas? — questionou.
— Eu não sei, eu não recebo muitas visitas além de você e da Ally. Mas creio que enquanto tiver comida ela vai ficar muito bem. — Helena respondeu e não mentiu um segundo sequer, ela não lembrava qual foi à última vez em que recebera visitas para um jantar, não lembrava nem mesmo quando foi que recebera quando era casada com Trevor e isso trazia uma certa ansiedade para seu estômago, apesar de ela saber que Hernando e Drew deixariam tudo confortável, como se aqueles encontros fossem totalmente normais.
As mãos de ambas as mulheres só se separaram quando chegaram á porta e Mia a abriu só depois de olhar pelo olho mágico, o sorriso foi verdadeiramente largo assim que viu o casal de homens, muito bem vestidos, lado a lado.
— Sejam bem vindos! — Helena foi a responsável por os saudar e logo em seguida fora uma onda de abraços apertados e sorrisos trocados, em especial por Mia que se demorou nos braços dos homens, em especial nos de Hernando onde ficou por uns bons segundos.
— Trouxemos cerveja, com e sem álcool e suco. — Drew ergueu a sacola bonita de papel com um laço rosado nas alças.
— Isso foi muito atencioso da parte de vocês. — Helena deu um sorriso realmente largo enquanto aceitava.
— Foi fofo. — Mia falou um pouco baixo, ainda agarrada a Hernando, os braços bem presos em torno da cintura do melhor amigo.
— Fiquei preocupado com você. — ele reclamou, a bochecha apoiada bem no topo da cabeça de Mia enquanto a abraçava de volta. — O quão bêbada você ficou dessa vez? Eu trouxe seu celular.
— Você nem imagina. — Mia respondeu e afastou-se do amigo. — Vamos, fiquem a vontade, tirem os casacos.
— Podem tirar os sapatos e ficar a vontade como bem quiserem, se sintam em casa. — Helena anunciou logo após fechar a porta de casa e se afastar um pouco, aguardou que os homens ficassem a vontade e os dois optaram por ficar de meias.
— Quando vamos conhecer a tão famosa Vadia? — Hernando questionou enquanto andava devagar pela casa e olhava ao redor como se procurasse a gatinha.
— Assim que ela sentir o cheiro de comida. — Mia respondeu ao amigo. — Você! — apontou para Helena. — Você senta. — apontou para a mesa quase totalmente posta, ainda faltavam algumas coisas. A mexicana encarou a namorada sem entender o motivo das palavras. — E você... — apontou para Drew. — Faz o que eu pedi.
— O que? — Helena questionou, mas a essa altura Mia já tirava das mãos dela a sacola que Drew havia lhe entregue mais cedo.
— Ela pediu que eu desse uma olhada no seu ombro. — Drew explicou enquanto se aproximava um pouco. — Ela me explicou por alto o que aconteceu, tudo bem por você?
— E você vem comigo. — indicou Hernando enquanto tomava rumo da cozinha, apesar de ambos os ambientes serem divididos apenas por um balcão.
— Mas eu não...
— Eu sabia que se eu te contasse você não iria querer, você não tem saída, Helena, ele só vai olhar. — Mia reclamou ao parar no caminho e encarar a mexicana. As duas se olharam em silêncio por alguns segundos, Mia estava mais uma vez cuidando de Helena e sabia muito bem pelo histórico que Helena se recusaria a aceitar o cuidado de Drew, ela nunca parecia muito solícita quando se tratava de cuidados a sí mesma.
— Tão mandona. — Drew ironizou e riu logo em seguida.
— Tão chata. — Helena reclamou, apesar de não estar nem um pouco irritada com o cuidado da mulher, assim sentou-se de forma rendida.
— Certo... Qual o ombro? — Drew questionou enquanto erguia um pouco as mangas da camisa que usava.
— O direito. — respondeu de imediato e o homem apenas acenou de forma positiva com a cabeça.
— Posso tocar em você? — questionou de forma educada.
— É claro. — Helena relaxou com a pergunta e pendeu um pouco a cabeça para o lado contrário ao ombro direito e também puxou o cabelo para dar mais visibilidade. Olhou para Mia e a viu oferecer uma cerveja a Hernando.
Sentiu a mão grande, mas muito suave, espalmar-se em seu ombro e em seguida sentiu o toque em seu antebraço, o braço foi esticado de forma muito delicada e erguido aos poucos.
— Vou por a mão dentro de seu vestido apenas para sentir seu ombro melhor, ok? — anunciou e só o fez quando Helena acenou positivamente com a cabeça, dando o seu consentimento. A mão grande adentrou o vestido, deixando-o mais junto no ombro e os dedos pressionaram a pele morena no momento em que Helena soltou um arquejo de dor quando Drew moveu seu braço um pouco mais. — Doeu muito?
— Um pouco. — Helena soltou a respiração, os olhos um pouco alarmados, pura reação à dor.
— Certo, se eu fizer isso... — desceu um pouco a mão e os dedos apertaram locais específicos enquanto a outra mão movia o braço de Helena como se estivesse o alongando. — A dor é mais constante?
O corpo de Helena ficou tenso enquanto arqueava um pouco a coluna com a dor que sentiu, o simples ato de tentar escapar das mãos de Drew foi resposta o suficiente para o fisioterapeuta.
— Certo... — ele deu uma pequena risada. — Já respondeu. — afastou as mãos de Helena. — Eu não vou arrancar o braço dela, Mia. — Helena só entendeu aquelas palavras quando ergueu o olhar e encarou os olhos atentos de Mia encarando cada movimento do fisioterapeuta.
— Tão cadelinha. — Hernando comentou em um sussurro antes de dar um gole na cerveja, estava parado ao lado de Mia também olhando o que o namorado fazia. — Ele fica tão sexy fazendo isso.
— A cadelinha não sou só eu aqui. — Mia comentou de volta e ergueu a própria garrafa de cerveja como se estivesse propondo um brinde.
— A que vocês dois estão brindando sem nós? — Drew questionou enquanto tinha agora em mãos a mão de Helena.
— Ao fato de sermos cadelinha de vocês. — Mia anunciou sem receios.
Helena sorriu de forma um pouco larga com aquela resposta e Drew riu, mas Hernando tinha uma sobrancelha arqueada, afinal, não esperava que Mia anunciasse isso de forma tão gratuita.
— Eu posso deduzir que você usou muito esse braço esse fim de semana? — Drew questionou logo após mais uma resposta de dor, agora no pulso da Artista.
— Com certeza. — foi Mia a responsável pela resposta.
— Quantas horas você pinta por dia? — Drew questionou em seguida.
— Isso depende do dia. — Helena ergueu o olhar para encarar o rapaz quando ele soltou a sua mão e automaticamente ela segurou o próprio pulso e o massageou devagar.
— Não faça tanto drama, o que é? — Mia reclamou, tão impaciente que fez Helena sorrir.
— Segundo informações dessa pessoa impaciente que temos aqui. — apontou para Mia. — Você às vezes pinta por horas e com certeza várias vezes, eu imaginei sobrecarga muscular, ou seja, você usa tanto esses músculos que eles ficam sobrecarregados, o que causa dor, rigidez, é simples de tratar, alongamentos antes, exercícios de relaxamento ajudam muito, seu músculo ainda está inflamado, pouco, mas está, por isso doeu quando eu o forcei e também por que foi bem usado esses dias.
— Há algum porém? — Helena questionou.
— Sim. Se continuar forçando seus músculos de forma irresponsável, causará danos maiores e sérios nas articulações e você pode ter problemas futuros para pintar, porém, mesmo que ainda não seja crônico, eu gostaria que você fosse a um ortopedista e fizesse exames de imagem, apenas para tirar dúvidas, eu posso te indicar alguns maravilhosos.
Hernando suspirou.
— Para com isso! — Mia reclamou no meio de uma risada pequena por saber que mais uma vez Hernando estava achando o namorado extremamente sexy.
— Nunca vou me cansar disso. — ele anunciou antes de dar mais um gole na cerveja.
— Explicando de forma ainda mais clara, além de isso interferir na sua pintura, você não vai conseguir dar conta de saciar aquela mulher ali. — apontou para Mia antes de se afastar da mesa.
— Isso foi um golpe tão baixo. — Helena falou com uma falsa expressão de desdém.
Mia sorriu de forma verdadeiramente larga enquanto se apoiava no balcão.
— Foi perfeito. — Mia anunciou ainda sorrindo, era mais uma forma de conseguir fazer Helena ceder a ir para um médico. Ficara tão preocupada desde o dia que vira ela pintando a ponto de machucar o próprio braço, logo depois explicara a Drew o que vira e aproveitara aquele momento para pedir ao amigo por aquela breve avaliação. — Vamos marcar uma consulta para você essa semana e absolutamente nada do que você disser vai fazer eu sair do seu pé.
— Você é insuportável, Amélia. — Helena reclamou e reclamou por que não sabia como reagir aquela atenção toda com a própria saúde, era fácil rebater a Ally, mas era quase impossível rebater a Mia, por que não sabia como reagir ao fato de alguém, além de Ally, tão decidida a cuidar dela.
— Foi assim que eu fiz você se apaixonar por mim. — a Designer rebateu.
E a expressão tanto de Hernando quanto de Drew fora impagável. Helena olhava para a namorada pronta para rebater aquilo, apesar de ela ter dito uma grandiosa verdade, em seguida olhou para Hernando, o Arquiteto tinha os olhos meio arregalados e a boca entreaberta, pronto para perguntar o que estava acontecendo quando Helena se adiantou:
— Ela apareceu aqui naquela noite, completamente bêbada e se desfazendo em lágrimas jurou amores por mim.
— Não foi exatamente assim! — Mia protestou em tom alto. — Você é tão cretina, Helena!
E tudo o que Helena fez foi gargalhar, definitivamente não era só Mia que era cadelinha naquela relação, agora Helena tinha absoluta certeza disso.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Emanu18
Em: 08/08/2021
Reli o capítulo pq a autora twittou que hj tem capítulo novo
Só queria dizer que essa é uma das melhores histórias que eu já li, se fosse publicada eu com certeza compraria o livro. Sua escrita é envolvente demais, li todos os capítulos em menos de 3 dias e vou acompanhar até o fim pq eu não tenho condições de ficar mais do que o necessário sem Helena e Mia.
Pfvr autora, nunca pare de escrever histórias maravilhosas como essa.
Leticia Petra
Em: 12/07/2021
Eu simplesmente amo tua escrita ....
Que delícia ????
[Faça o login para poder comentar]
preguicella
Em: 11/07/2021
Tão lindo, tão perfeito, mesmo com todos os problemas que elas ainda têm a superar!
Adoro o jeito cadelinha de ser delas! haha
Bjaoooo
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]