Você já se apaixonou?
Amanda.
Amanda de Nazaré Costa Silva, vinte anos, 1.75 de altura, pele morena acobreada, olhos castanhos escuros, cabelos de um cacheado solto que iam até o pescoço, lábios carnudos e mãos grossas, mas o que mais chamava atenção em quem a via, de primeira, era seu físico quase atlético derivado do trabalho pesado que praticava. Ela trabalhou em uma obra e agora trabalhava na parte de contabilidade de uma transportadora, mas ela fazia bicos desde mais jovem com o que tivesse à sua disposição.
Amanda morava na região periférica da cidade, era nascida e criada no mesmo bairro. Conhecia a todos, e todos a conheciam e a adoravam, assim como sua família. Ela mora com os pais, Maria e Arnaldo, ela dona de casa e ele pedreiro, e seu irmão André, mais velho que ela, que trabalhava com eletrotécnica. Amanda e sua família se davam muito bem, e ela sempre deixava claro, quando o assunto era tocado, o quanto ela os amava e ela e seu irmão eram cúmplices em inúmeras travessuras.
Amanda é uma devota católica convicta, e seu santo de devoção maior é São Miguel Arcanjo. Ela ia para missa todo domingo de manhã com sua família, já que toda segunda ela me contava alguma coisa sobre ter ido lá. Eu sou ateia, não consigo compreender a sua devoção a imagens, mas sempre ouço com atenção.
Amanda tinha como diversão assistir televisão, jogar xadrez com o irmão e andar de bicicleta pelo bairro. Nos tempo livre, costuma sair com os amigos do bairro para ir ao rio tomar banho e rir. Também gosta de ouvir música e sair para comer.
Amanda é tímida por natureza, como ela diz. Quando ela está envergonhada, ela pressiona os lábios e dá um sorriso contido como se tivesse aprontado alguma coisa. Ela fica de cabeça baixa e mesmo com sua pele bronzeada, dá para perceber seu rosto ficar vermelho e quando ela começa a demonstrar sua vergonha, ela gagueja no começo da frase e passa a mão pelos ombros, mostrando que está tensa.
Amanda tem o sorriso mais verdadeiro que eu já vi alguém dar. Não digo aquele riso desenfreado de diversão, mas tudo nela transparece verdade quase contagiante em um mundo coberto por mentiras. Quando ela mostra esses sentimentos primordiais como alegria, medo ou tristeza, você vê a pureza que faz parte do seu ser.
E não é por sua crenças, mas sim por ela mesmo. Amanda é uma pessoa, aos meus olhos, única. Seu olhar concentrado na aula, sem virar para ver que eu a observo tão imersa faz com que nisso, fique evidente o que estou sentindo.
Eu e ela temos algo não confirmado. Nos beijamos, de forma intensa e profunda, e conversamos diariamente, quando não na escola, ela me liga depois do jantar e sempre arranjamos assunto. Era bom ouvir sua voz grave, quase rouca, antes de dormir, mas após nos beijarmos, não sabia se aquilo era o passo ou não de alguma coisa.
Não era só ela uma pessoa tímida, eu também era acanhada para dar alguns passos. Quando há sentimento envolvido, as coisas ficam mais difíceis. Claro, eu era apaixonada por Amanda.
A paixão, ou amor, te deixa tão idiota que você acha tudo que a pessoa faz, as mínimas coisas, as coisas mais belas do mundo, como se qualquer movimento fosse uma obra digna de Toulouse-Lautrec. Quando ela afastava o cabelo para atrás da orelha, quando respirava profundamente quando estava em dúvida em uma questão, ou quando olhava para os lados quando eu estava para chegar e principalmente, quando ela sorria ao me ver. Aquilo inundava meu corpo por inteiro, mas só conseguia responder sorrindo de volta para ela.
No entanto, eu estava submersa naquilo tudo e, às vezes, não pensamos muito no que fazer além de dar vasão a aquilo.
— Você está ocupada? – perguntei a ela, segurando na manga de sua camisa.
— Não, porquê? – ela responde, virando para me olhar de frente.
— Podemos ir ali?
Gesticulei para que fôssemos até o depósito anexo da escola, lugar que costumava ficar quando não estava na sala, e ela concordou. Ao chegarmos, vejo Amanda, com seu olhar perdido e curioso me encarando, perguntou.
— Aconteceu alguma coisa?
— Sim – respondi de antemão.
— O quê? – ela perguntava urgente, provavelmente pensando em algo que nada era relacionado com o que queria fazer.
— Se eu não te beijar agora – passei as mãos em seu pescoço, me aproximando do seu rosto – Eu vou enlouquecer.
Ela suspirou, deixando o ar sair pela boca e, fechando os olhos, eu o fiz e senti seus dedos encostando no meu queixo, me puxando com delicadeza para um beijo.
Só que, dessa vez, Amanda deu um passo a mais, passando as mãos por minha costa e me trazendo para mais perto do seu corpo e seu beijo, antes com toques delicados, trazia uma pitada considerável de devassidão e eu, observando a tudo aquilo, permiti também a dar um passo a mais.
Passei as mãos por dentro da sua jaqueta, abraçando-a. Amanda mordia meus lábios devagar e respirava ofegante entre nosso beijo, voltando a fazer o que estava fazendo. Ela se afastou e, tocando meus lábios mais uma vez, passou as mãos sobre minha camisa e, dos meus lábios, afastou os seus para o meu pescoço e seu beijo, cada vez mais intenso e tátil, me deixava cada vez mais à vontade para expressar como me sentia com seu toque.
Entretanto, eu estava tão imersa naquilo que, por um minuto, esqueci o problema que tinha ao ver que ela afastava a camisa xadrez que usava rotineiramente sob a camiseta, deixando meus braços à mostra.
Amanda estava com a expressão séria, com as sobrancelhas cerradas, olhando para toda a extensão dos meus braços e, pelo que pareceu entender do que se tratava, ela olhou com espanto. Logo recuei, colocando a camisa de volta.
— Desculpe – ela murmurou, olhando novamente em seus olhos – Fiz sem pensar.
— Tudo bem – desviei o olhar, não conseguia encará-la por ora – Também não pensei muito.
Não sabia o que falar. Ver aquela condição, além de pessoal, era sensível por envolver uma série de fatores a qual sempre evitava trazer à tona, já que sempre ouvia as mesmas coisas.
Mas era inevitável. E seria inevitável suas perguntas, questionamentos...
Porém ela nada fez além de afastar o cabelo que caía no meu rosto, colocando atrás da orelha.
— Está tudo bem. Quer voltar pra sala?
Olhei surpresa, mas logo ri baixinho.
— E olhar para a cara da Luiza?
— Tem coisa mais emocionante que essa?
Ela segurou minha mão e entrelaçou meus dedos com os seus, dando seu sorriso afável e acolhedor e eu, sentindo-me melhor, apoiei minha cabeça em seu ombro e voltamos para a sala, onde ela, sentando ao meu lado, continuou o resto da aula com sua mão junto a minha, ou seus dedos acariciando os meus assim como um risinho ou outro que deixava escapar.
Suspirei e, segurando com mais firmeza sua mão, soube que tudo estava bem.
Fim do capítulo
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