Sexo, drogas, complicações
— Então...o que te trouxe até aqui a essa hora? – Catarina disse enquanto me entregava uma xícara de chá e acendia um cigarro, apoiando-se na sacada do seu apartamento.
— Sei lá, estava por perto e... Estou atrapalhando?
— Não, eu só estava passando algumas anotações pro computador – ela respondia despretensiosamente – O de sempre. Você já jantou?
— Ainda não.
— E está com fome?
— Pra falar a verdade, sim.
— Vou esquentar o jantar pra você então.
A comida era macarronada à bolonhesa, e cheirava bem. Sentei-me e ela ficou ao meu lado, acompanhando-me enquanto comia.
— O que tanto você me olha? – perguntei com certa vergonha.
— Algo está tirando sua paz hoje.
— O que não tira a paz na minha vida? – respondi brincando, voltando a comer.
— Aconteceu alguma coisa mais cedo, e por isso você veio aqui – ela aproximou-se – Só está esperando a hora certa pra me contar.
Olhei para ela de soslaio, deixando escapar um suspiro.
— Merda, não dá pra esconder nada de você mesmo – e voltei a comer.
— E então...?
— Meu amigo levantou uma suspeita de que você é uma gênia do mal que tem uma vida dupla.
Ela franziu o cenho e cruzou os braços, encarando-me.
— Continue.
— Bem... – o temor começava a vir à tona – De que de dia você é uma cientista certinha e de noite você é uma dançarina de boate devassa.
Ao ouvir as palavras que tinha proferido, Catarina levantou uma das sobrancelhas e começou a rir alto.
— Como é, Alana? Eu sou o quê?
— Dançarina de boate, uma muito boa inclusive – respondi com certa vergonha da sua reação.
— Eu, dançarina de boate? Mas isso nem faz sentido – ela continuou rindo – Como eu me disfarçaria?
— Você usa uma máscara.
— Tudo bem, mas e minha voz, minha altura, cabelo? Como eu estaria em uma boate e em casa ao mesmo tempo?
— Fingia outra voz, usa salto alto e peruca. Veio correndo na minha frente, demorei até chegar aqui. É só uma identidade sua.
— Alana, não viaja. Eu mal sei dançar, imagine ser dançarina de boate, não nasci com essa vocação – ela dizia levantando os braços – De onde vocês tiraram essa conclusão?
— Por que ela sempre usa máscara, nunca mostra o rosto.
— Ela quem?
— A Lavínia.
— E quem é Lavínia, Alana?
Mantive-me em silêncio. Ela olhou sério para mim e chegou mais perto.
— Você está tendo um caso com uma dançarina mascarada, Alana?
— Não diria um caso...
— Alana, você perdeu o juízo?
Franzi as sobrancelhas, recostando-me para trás.
— E o que tem?
— Você não sabe quem ela é, nem o que ela pode fazer com você, e nem o nível de envolvimento de vocês, o que pode ser um gatilho pra você nesse momento.
— Está com ciúmes de mim?
Ela cruzou os braços, e começou a rir.
— Não é só porque você tem um rostinho bonito que as garota vão rastejar aos seus pés como se fosse a única do mundo.
— Isso é um sim ou um não? – retruquei, voltando a comer.
— É um não, Alana – ela disse sem deixar de olhar para mim – Eu me preocupar com seu bem-estar não significa que estou com ciúmes. E ciúmes é um sentimento de insegurança, coisa que não sinto.
Terminei de comer, e voltei a olhar para ela.
— Como vou saber que você está falando a verdade?
— Sobre não ter ciúmes?
— Não, de que você não sabe dançar nada – e dei um sorriso sarcástico para ela, que arqueou as sobrancelhas e retribuiu o sorriso no mesmo tom.
— Quer que eu te mostre como?
— Por favor – balancei a cabeça positivamente.
Ela puxou-me pela camisa e me guiou até o seu quarto, onde fechou a porta e desligou a luz.
— Diga-me você se pareço com a outra garota.
Sentei na cama enquanto sentia o toque de suas mãos por meu ombros. Sua mão macia fazia-me arrepiar com seus dedos se arrastando por meu pescoço e indo até minha camisa.
A luz do seu abajur na escrivaninha me fazia ver seu rosto, com olhos fechados, enquanto me tocava. Era diferente daquilo que já tinha experienciado anteriormente, e ela com suas mãos em meus ombros empurrou-me para deitar na cama, ficando em cima de mim apoiada por suas pernas.
Ela abriu seus olhos e, ao passar as mãos sobre meu rosto, fechou-os novamente e me beijou. O começo do beijo fora leve, compassado, mas conforme o beijo foi demorando, tornou-se mais intenso. Passava as mãos por detrás de suas pernas, enquanto sentia seu corpo vindo contra mim devagar.
Porém, no meio de tudo isso, ela se separou de mim de forma abrupta.
— O que foi? – perguntei em um sussurro.
— Pareço com a outra?
Suspirei fundo, e dei os ombros.
— Não sei, você é uma ótima manipuladora, não duvido nada vindo de você.
Catarina mordeu os lábios e me beijou mais uma vez.
— Sou?
— Sim, você está me manipulando pra ficar caidinha por você.
— Jura? – ela perguntou com um sorriso irônico – Mas ainda agora eu não era a ciumenta?
— São meus modos de defesa. Fico nervosa perto de mulheres bonitas.
— É? – ela segurou meus braços por cima da minha cabeça, arrastando a boca por meu rosto e pescoço.
— Ah, vai se foder – resmunguei – Eu não aguento mais isso.
— Isso o quê? – ela disse, com a cabeça encostada no meu peito.
— Você vai ficar só nesse joguinho e não me deixará fazer nada?
Ela se levantou apoiando-se pelos joelhos e desabotoou o primeiro botão da minha camisa.
— E quem disse que você vai fazer alguma coisa?
Ai, merd*.
Ela começou a desabotoar os outros botões, deixando meu torso à mostra, passando a mão por toda a parte desnuda. Respirei fundo, deixando o ar sair pela boca junto com a excitação que começava a aparecer.
Suas mãos desceram por minhas pernas, percorrendo por todo o meu corpo. Ela estava de olhos fechados, como se aproveitasse cada toque que fazia contra mim. Puxei-a mais para mim e ela subiu sua boca, voltando a me beijar de forma visceral, deixando meu corpo ainda mais sensível. Ela prendeu as pernas na minha e se movimentava devagar contra o meu corpo, deixando escapar alguns ofegos enquanto continuava a me beijar.
Arrastei minhas mãos por sua costa e levantei sua camiseta, sem deixar de nos separarmos do beijo. Um sutiã separava-me do meu objeto, mas ao sentir que ela ofegava ainda mais com meu toque, e tentei arrastar minhas mãos por suas pernas, mas logo fui censurada quando ela voltou a segurar minhas mãos acima da minha cabeça.
— Eu disse que você não fará nada aqui.
Catarina voltou a beijar o entorno do meu rosto, meu pescoço e descendo até meu torso nu. Fechei os olhos e me deixei levar pelo momento ao qual estava sendo proporcionado, mordendo os lábios devagar. Não conseguia lembrar a vez em que alguém tinha feito algo do tipo comigo.
Ela desceu a boca por minha barriga e parou em minha calça, porém antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, levantou-se, arrumou o cabelo e voltou a me encarar.
— O que foi? – perguntei
— Eu quero olhar pra você.
Catarina deitou-se ao meu lado e me olhou de forma profunda, ajeitando seus óculos, porém não conseguia encará-la de volta.
— Você nunca consegue olhar nos olhos de ninguém – ela comentou sussurrando.
— Não gosto que vejam as coisas que escondo.
— E o que você esconde?
— Medos, mágoas...frustrações – respondi, virando para ficar ao seu lado – Essas coisas que devem ficar escondidas.
— Mas isso são comportamentos inerentes humanos, não tem para onde fugir – ela deu com os ombros.
— E você, o que esconde? – perguntei tentando encará-la nos olhos, mas ela se esquivou.
— Não acha que é muito cedo para saber de todos os meus lados?
— E qual seria o problema de conhece-los?
Catarina riu e acariciou meu rosto com a ponta dos seus dedos.
— Eu sei do que estou falando.
— Você sempre sabe tudo, não é?
Ela passou o polegar sobre meus lábios, e me beijou.
— Não ter o falso controle sobre as coisas incomoda você?
Dei um sorriso sarcástico, e segurei suas mãos. Catarina sorriu de volta.
— Seu sorriso é lindo.
Pressionei os lábios, tentando esconder a vergonha que apareceu no mesmo instante.
— Odeio o fato de que você me desarma muito bem – comentei aproximando-se dela.
— Eu sei disso.
Rimos e voltamos a nos beijar. Ficamos ali por um bom tempo trocando carícias, enquanto sentia-me mais à vontade de ficar com ela, olhando de relance em seus olhos. Quando voltamos a nos beijar, ouvi meu telefone tocar.
— Merda... – sussurrei, afastando-me dela. Ao olhar para a tela, vi que era Alan — Sim, Alan? O quê? Tá, tudo bem, já eu chego aí – e desliguei.
— Problemas? – Catarina disse, colocando sua camiseta de volta.
— Não sei, o Alan só falou que era pra eu não demorar que tínhamos visita – sentei na cama e peguei minha camisa – Deve ser nossa mãe.
Terminei de me vestir e levantei-me, mas antes que eu saísse, ela segurou em minha mão.
— Cuidado.
Virei até ela e a beijei mais uma vez.
— Pode deixar.
No caminho, os mais variados pensamentos percorriam minha cabeça. Uma era que aquele dia estava se tornando longo demais, e de que o perfume de Catarina soava muito bem contra minha pele. Olhei para o relógio e por mais que as horas tenham se passado rápido com ela, no lado de fora tinha demorado.
Ao chegar em casa, ainda estava animada pelo dia. Olhei para a parte de dentro e vi os sapatos de outra pessoa arrumados em um canto, mas não pude reparar de quem poderiam ser.
— Alan, você nem vai acreditar no que...
Porém, assim que cheguei na sala, perdi a voz e o compostura animada ao ver aquelas figuras em minha frente.
— Pai? – disse, ainda sem acreditar no que estava vendo.
Fim do capítulo
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