Lítio
— Caralh*, Hǎi yún, você está apaixonada por uma pedreira? – Sofia me olhava surpresa, bebendo o vinho. Jude começou a rir e Natália olhava para mim com a mesma surpresa de Sofia.
— Tecnicamente, ela é ajudante de pedreiro – reiterava, pegando mais vinho para mim – que é o pai dela.
— O negócio só melhora... – Natália diz com desdém, o que me faz revirar os olhos e cruzar os braços.
— Vocês estão julgando a garota sem conhecer? – Jude comentava cerrando os olhos em direção a Natália.
— Judite, a Hǎi yún chega com a gente e fala: “Estou interessada em uma garota da escola” – Natália dizia, gesticulando – Até aí tudo bem, só que ela mete um “ela inclusive trabalha em uma obra”. Eu não tenho nem o que pensar...
— Se seus pais souberem, eles te matam – Sofia apontava para mim pegando os salgadinhos da mesa de Jude.
— Isso se eu não me matar antes.
— Hǎi yún, não começa – Natália dizia em voz de advertência.
— Vocês são duas hipócritas – Jude apontava para Sofia e Natália – Ficam com um papo de aceitação de diferenças e julga nossa amiga por gostar de uma garota trabalhadora, que se esforça pra conseguir as coisas, não é Hǎi yún?
Concordei com a cabeça, e Jude fez o mesmo, erguendo as mãos.
— E como ela é, Hǎi yún? – perguntou Sofia, tentando desconversar – Digo, fisicamente.
— Ela é mais ou menos da altura da Natália, tem a pele bronzeada e...
— “Cabelos cacheados até o ombro e braços muito fortes” – Jude dizia com uma voz infantil, o que me fez pressionar os lábios e dar com as mãos, constrangida.
— Braços fortes? – Sofia dizia arqueando a sobrancelha – Mais fortes que o da Isa?
— Com certeza – concordei com entusiasmo.
— Tá explicado o interesse todo – Natália disse rindo e apontou seu copo em minha direção - Hǎi yún, sua chinesa safada.
— Para de me chamar disso – respondo com notável repreensão.
— De chinesa ou de safada? – ela continuava rindo.
— Dos dois.
— Você escrachou a garota sem conhecer e agora está interessada? – Jude diz, levantando as sobrancelhas.
— Ela vai furar seu olho, Hǎi yún, cuidado – Sofia ri, balançando a cabeça e voltando a servir vinho para nós.
— Essa função já fica pra Luiza – Jude diz sem maiores pretensões.
— Luiza, sua ex maluca? – Natália diz com surpresa – Não me diga, sério?
— Se formou na mesma escola de talaricagem que você, Natália – respondi com sarcasmo, o que fez Natália frisar as sobrancelhas.
— Parem de me chamar de talarica, palhaças.
— É bom, né? – continuei a dizer, tentando inflamar os ânimos, mas logo meu telefone tocou. Era Amanda, então logo me levantei e fui a um lugar mais afastado, o que tirou sons sugestivos das pessoas que estavam comigo.
— Alô, Hǎi yún? Te liguei em uma hora ruim?
— Não, Amanda, sem problemas.
— É que... – ela hesitou antes de continuar – Você poderia me ajudar com uma coisa?
— Claro, com o que seria?
— Você sabe fazer currículo?
— Currículo? Pra você?
— Sim, tenho uma entrevista semana que vem.
— Sério, Amanda? – respondi com animação – Que ótimo! Posso ajudar a fazer um currículo pra você com certeza.
— Sério mesmo? – ela respondia no mesmo tom – Então podemos acertar os valores...
— Não, você não precisa me pagar nada.
— Pague sentando na minha cara, meu amor – gritou Sofia no fundo, e tentei abafar o celular como pude.
— Ai, Amanda, eu te amo – Natália completava por trás, fazendo sons sugestivos. Gesticulei para que elas calassem a boca, mas sem sucesso.
— Aconteceu alguma coisa aí? – perguntava Amanda pela ligação abafada.
— Não é nada, é só... – tentava responder para ela.
— Amanda, minha camiseta do Ramones fica tão bonita em você, posso tirar? – Jude dizia de fundo, passando a mão por seu torso e rindo.
— Estou atrapalhando você?
— Não, são só umas amigas minhas fazendo barulho ali.
— Elas devem ser legais – Amanda deu um risinho de fundo – Então ligo para você outra hora.
— Estarei no aguardo.
— Obrigada, Hǎi yún.
— Não tem do que me agradecer.
— Até mais tarde, se cuida – e desligou.
Assim que fui até elas, ainda estavam rindo, e joguei as almofadas em cada uma.
— Vocês são um bando de idiotas, eu odeio vocês – e peguei meu copo de vinho, sentando ao lado de Jude, que passou o braço no meu ombro.
— Mas eu te amo, Hǎi yúnzinha – e beijou minha cabeça.
— Você estava marcando o telesex* de mais tarde? – Sofia dizia, contendo o riso.
— Só depois do casamento, não é, Hǎi yún?
— Como assim, Hǎi yún? – Sofia me olhou séria de novo – Ela é da igreja?
Dei com os ombros, voltando a beber e olhando para o lado. Jude suspirou e disse:
— Bem, vamos parar de falar da Hǎi yún.
— Não, agora eu quero saber...
— E aí, Sofia, você já superou a Isa? – Jude disse cortando sua fala, o que a deixou visivelmente constrangida e tirou um sorriso de Jude e assim, seguimos com a noite sem falar mais nada sobre Amanda.
Fim do capítulo
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