Eu quero você por perto
Amanda olhava para mim e pude ver a vulnerabilidade no seu jeito de me olhar. Parecia que ela tinha dito uma coisa que estava guardada há tanto tempo e que, agora que tinha falado, parecia ter saído do escudo que tinha formado para si mesmo sem perceber.
E eu, em meio aquilo, olhava com incredulidade para ela.
— Isso é sério? – perguntei, franzindo as sobrancelhas.
— Sim – ela respondeu, soltando o ar pela boca e respirando profundamente.
Envolta por aquele momento, andei até que eu ficasse a um passo dela e quando me aproximei mais, ela fechou os olhos, deixando a boca entreaberta e vi seus lábios trêmulos, assim como suas mãos. Encarei-a por mais um tempo e, sem mais hesitar, coloquei minhas mãos em seu pescoço e, ao fechar os olhos, toquei meus lábios com os seus.
Eles eram quentes e convidativos, e na medida em que continuei pressionando meus lábios contra os seus, ela segurou meu rosto e deslizou suas mãos pelo meu pescoço, dando continuidade ao beijo.
Seu beijo era compassado e suave na medida em que era firme e urgente, fazendo com que eu involuntariamente continuasse com aquilo ainda mais, parando só quando não senti mais que eu tinha fôlego para isso.
Quando me afastei dela lentamente, abri os olhos com as mãos ainda em seus ombros.
— Isso responde alguma coisa? – disse, sussurrando em seu ouvido. Ela deu um largo sorriso como ainda não tinha visto igual.
— Responde.
E dessa vez ela que se aproximou de mim, fechando os olhos e eu, deslizando as mãos sobre seus ombros, a segurei e a senti vindo contra mim mais uma vez, dando um beijo mais intenso que o anterior.
O caminho para casa foi tomado por seu sorriso tímido no trajeto inteiro, assim como eu. Não conseguia olhá-la por muito tempo sem querer fazer isso novamente e, quando chegamos na porta de casa, ela segurou minha mão.
— Até mais tarde?
Estiquei meu corpo até beijar o seu rosto, o que a fez sorrir mais uma vez.
— Até.
Dei um longo suspiro ao vê-la ir embora. Eu estava extasiada com aquele momento de uma forma tão latente que, quando entrei em casa, minha mãe logo notou.
— O que aconteceu?
— Nada, mãe.
— Você está com um sorriso de orelha a orelha... – ela dizia, fazendo uma cara sugestiva.
— Só o dia hoje que foi bom.
— Fico feliz de ver você sorrir, bǎobǎo.
Sorri de volta para ela, e fui até o meu quarto, jogando-me na cama e olhando para o telhado. Não senti o que sentia por alguém até aquele momento e da mesma forma que tinha doído antes, agora me inundava da forma mais prazerosa possível.
Lembrava do seu beijo e sentia meu rosto queimar, deixando claro o que sentia quando isso acontecia. Não conseguia esconder que aquele momento tinha mexido comigo mais do que parecia.
Fui ajudar minha mãe na cozinha e enquanto esperava o jantar, ainda absorta pelo acontecimento, liguei para Amanda e quando caminhei de volta pro meu quarto, minha mãe me olhou com atenção. Por mais que tivesse acontecido aquilo e eu estivesse receosa, o ímpeto de falar com ela era maior. Não demorou muito para que ela atendesse.
— Alô? – dizia, tentando esconder o sorriso.
— E aí... – ela respondeu, e eu pude ouvir sua voz risonha do outro lado da linha.
— Queria saber se tinha chego bem.
— Sim, e você? Quer dizer...Se está tudo bem contigo.
— Normal, esperando o jantar.
— Não deveria passar tanto tempo sem comer.
Permaneci em silêncio. Sabia que minha vergonha vinha por outras atitudes minhas.
— Eu queria me desculpar por ter sido grossa mais cedo. Você não merece que falem assim contigo, mas é que eu... – hesitei antes de falar.
— Você?
— Como posso explicar? – dizia sentindo meu rosto ficar quente novamente – Sabe quando você não sabe bem o que fazer com o que sente e começa a agir de forma estranha?
— Sei bem como é isso. E quais seriam esses sentimentos?
— Você sabe do que estou falando... – ria, nervosa por conta da sensação que falar aquilo me causava – Mas acho que prefiro mostrar o que estou falando.
Pressionei os lábios, pensando no que tinha dito para ela e qual seria sua reação diante a isso.
— Então eu gostaria que pudesse me mostrar isso logo.
Não contive o largo sorriso que dei ao ouvir aquilo.
— Desculpe, eu não quis... – Amanda disse depois de um tempo ao me ouvir em silêncio, hesitante.
— Logo, assim espero.
Amanda deu seu riso envergonhado, e logo ouvi alguém falar com ela.
— Depois eu ligo, tudo bem?
— Sem problemas.
E assim, ela desligou.
No jantar eu estava inquieta batendo os hashis no prato. Minha mãe ao perceber isso, comentou:
— O que aconteceu, minha filha?
Fiquei em silêncio. Não queria entrar nesse assunto com ela.
— Eu conheço esse olhar – ela dizia, enquanto terminava de comer. Olhei para ela de volta, constrangida, e balancei a cabeça.
— Não é nada demais...
— Se você não falar comigo que sou sua mãe, com quem mais?
Ainda de cabeça baixa, levantei e peguei meu prato, levando para pia.
— Bǎobǎo, eu não sou seu pai. Sabe que pode falar qualquer coisa comigo.
Suspirei fundo, esticando os braços sobre a pia.
— Eu sei disso, mãe.
— Está gostando de alguma garota da escola?
Olhei para ela pelo meus ombros, e ela deu um sorriso sugestivo como se soubesse o que estava falando. Caminhei até ela e beijei o seu rosto. Em uma cumplicidade velada, ela sabia o que aquilo significava.
— Boa noite, mãe.
— Boa noite, querida.
E fui para o meu quarto novamente. Peguei meu MP3 e suspirando fundo, me permitindo que me desse a aquele pequeno prazer proporcionado pelos sentimentos que se mantinham ali, coloquei uma música[1]que, daquela vez, me tirava um sorriso do tipo que se dá quando ninguém está olhando.
Quando peguei meu telefone novamente, havia uma ligação perdida de Jude, que retornei.
— Oi, Ju.
— Ju? – ela dizia, rindo – Hǎi yún Wang, me conte tudo, sem esconder nenhum detalhe.
[1] Oh Oh I Love You So, Ramones.
Fim do capítulo
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