Capitulo 33 -Uma brasa incendeia
Trabalhar o dia inteiro me deixou mais tranquila, me fez esquecer por um tempo os futuros problemas. Logo que cheguei a obra, por volta das seis, organizei equipamentos que haviam chegado, embora esse controle ficasse a cargo do Técnico de Segurança do Trabalho, eu fazia questão de inspecionar os equipamentos de segurança pessoalmente.
A movimentação de operários já havia começado, o que mostrava que a turma tinha abraçado a necessidade de fazer hora extra por um período. Quando terminei a inspeção da passava das sete horas, e eu me dirige ao refeitório para tomar um café reforçado, provavelmente não iria parar para almoçar, visto que iria sair mais cedo para levar Aline no aeroporto.
Entrei no escritório para pegar algumas notas, e enquanto separava, percebi que Alice não parava de me observar. Desde ontem percebi que ela dirigia a mim um olhar diferente, era um misto de deboche, de despeito, e o motivo com certeza foi o nosso encontro no shopping, eu sabia que ela estava se segurando pra não falar algo.
_Alice, hoje eu preciso sair mais cedo, e mesmo não batendo o ponto ou seguindo um horário determinado, prefiro avisar.
_Tudo bem Dra. Nicole!
_Vou sair por volta das quinze horas, mas qualquer problema você liga pra mim.
_Pode deixar, eu aviso. Algum problema de saúde, alguma coisa importante?
_Sim, vou levar Aline no aeroporto.
_Aline?
_Sim Aline, minha namorada.
_Namorada? Você está namorando coma nossa chefa.
_Você já deve saber disso, nos encontramos no shopping.
_Eu senti um clima no ar, mas achei que não fosse algo sério.
_Mas é, estamos namorando, e embora a minha vida lá fora não seja da conta de ninguém, não vejo porque esconder aqui dentro. E que fique bem claro, aqui dentro eu sou profissional, meu namoro com a Aline não vai mudar nada aqui dentro.
_Sabe que todo mundo vai comentar.
_Isso é inevitável, e infelizmente não posso fazer nada, mas em hipótese alguma vou admitir falta de respeito, principalmente com ela.
_Eu acho que o Dr. Igor, não vai gostar desse namoro, ele é...
_Alice, Dr. Igor já sabe, e pra mim o que importa é a Aline, se pra ela está tudo bem, pra mim também está, o Dr. Igor pode até me demitir, mas mandar na vida da irmã e na minha vida, eu acho pouco provável que ele consiga.
_Boa sorte, acho que vou vai precisar.
_Acho que esse assunto deve se encerrar por aqui, meu namoro com a Aline, só interessa a nós duas.
_Desculpa, não quis...
_Quis sim, quis sondar, opinar, isso é obvio, por isso é melhor encerrar esse assunto e trabalharmos.
Sai do escritório soltando fumaça pelas ventas, achei melhor dar uma volta no canteiro de obras, para tentar esfriar a cabeça. Se tem uma coisa que eu não suporto é gente fofoqueiro e sonsa. Desde, o primeiro dia percebi os olhares da Alice quando eu estava trocando de roupa, mas nunca me preocupei, mas talvez isso fosse um futuro problema, era obvio que ela estava tentando jogar uma pá de cal em cima de um namoro que mal começou. Mas, espero que ela tenha entendido o recado.
Comecei a me organizar as quatorze horas para ir pra cada da Aline, o percurso era pequeno e eu faria em menos de vinte minutos, mas queria chegar um pouco mais cedo pra curtir a minha namorada, já que ficaria alguns dias sem ver a morena.
Quando cheguei em frente ao portão da casa da Aline, desci do carro e toquei o interfone, e no mesmo instante, o portão foi aberto, provavelmente ela ou a Lu viu que era eu.
Estacionei ao lado do carro dela, e quando fui na direção da varanda que dava acesso a casa, a Lu veio me receber na porta.
_Boa Tarde Dra. Nicole.
_Boa tarde D. Lurdes pode me chamar de Nicole, de Nick, menos de Doutora_ Falei sorrindo.
_Então você de Lurdes, Lurdinha, Lu e ficamos quites.
_Aline está almoçando? _falei quando parei no meio da sala.
_Não minha filha, chegou cedo, almoçou e subiu pra descansar um pouco antes de viajar. Nunca vi a minha menina tão desanimada pra viajar. Mas acho que sei o motivo _ falou em tom de brincadeira.
_Então vou esperar ela acordar, posso ficar aqui na sala?
_De jeito nenhum, você já almoçou?
_Não parei pra almoçar, queria vir ficar mais tempo com ela_ Falou com minha visível cara de boba.
_Então vem, fiz o prato preferido dela, espero que você goste de camarão_ fezs um gesto para que eu a acompanhasse.
_Adoro frutos do mar, adoro peixe.
Na cozinha ela sentou para me fazer companhia enquanto eu me deliciava com um delicioso escondidinho de camarão. Entre uma garfada e outra, ela me contava histórias sobre as travessuras da Aline na infância. Fiquei impressionada com o amor que ela demonstrava sentir por Aline, era visível que elas enfrentaram muita coisa após a morte dos dela, segundo ela um luto que parecia não ter fim.
_Minha menina sofreu muito, não só com a morte dos pais, mas também com o fim de um relacionamento abusivo que terminou em agressão, não gosto nem de lembrar, na época eu até adoeci.
_Ele batia nela?
_Eu acho que ela só sofreu agressão física uma vez, mas ele queria controlar até as amizades dela, era doentio.
_Entendo, isso é mais comum do que a você pensa.
_Eu sei, mas agora eu sinto que ela vai ser feliz, eu não costumo me enganar com as pessoas. Vocês mal começaram a namorar e ela já mudou, está mais tranquila, mais leve, dorme bem, isso é reflexo do que você proporciona a ela.
_Eu fico feliz por estar fazendo isso por ela. Eu sei que muitas pessoas irão apontar o dedo, criticar, por eu não pertencer a classe social dela, sempre lutei muito pra ter as minhas coisas, venho de uma família muito simples, mas extremamente correta, eu jamais ficaria com ela por interesse, muito menos faria ela sofrer, a senhora pode ter certeza disso.
_Eu sei minha filha, e estou feliz por ela ter encontrado alguém que cuidará dela quando eu não estiver mais aqui.
_A senhora tem muita coisa pra viver com a gente.
_Quer sobremesa, fiz um delicia de abacaxi, a nina adora doce.
_Vou deixar pra provar mais tarde. A senhora porde me indicar um banheiro onde eu possa tomar um banho.
_Pode ir no quarto dela, porque se ninguém acordar, ela dorme a tarde inteira, chegou cansada, dengosa, mais um pouco e ela desisti da viagem. E quando vier pra cá, pode usar o controle que está com você.
_Tinha até esquecido que estava comigo, vou subir, obrigada pelo almoço estava maravilhoso.
Subi as escadas me sentindo muito bem, aquele receptividade aquecia meu coração, me dava a certeza, de que teríamos aliados importantes do nosso lado. Pessoas que aceitavam a nossa vontade de ficar juntas, que nos apoiavam e acreditavam que tudo daria certo.
A porta estava trancada, e quando eu abri, estava tudo escuro, apenas uma fresta na cortina iluminava o corpo de Aline, que estava enfiada embaixo do edredom toda enrolada. O frio gostoso que fazia no quarto por causa do ar , dava uma vontade de me juntar a ela, de dormir a tarde inteira sentindo ela grudada em mim.
Mas, resistindo a vontade, passei direto para o banheiro, precisava de um banho, já que sai direto da obra para a casa dela. Quando finalizei o banho e abri a porta do banheiro, o barulho fez com que ela despertasse procurando por alguém, e eu voltei para não estragar a surpresa. Esperei o suficiente pra ela voltar a dormir e me aproximei pela parte da cama onde estava os pés dela. Puxei um pouco o edredom, e quando os pés dela ficaram descobertos comecei a beija-los. Ela foi despertando aos poucos, e até tentou reclamar por causa do frio. Mas acabou cedendo e eu me juntei a ela, que logo ficou acesa. Eu não conseguiria sair daquela cama sem fazer amor com ela.
Quando ela parecia estar satisfeita e eu também, achei melhor não provocar ela de novo, pois teríamos que sair, e seria judiação deixar a minha gata com vontade.
Enquanto ela tomava banho, fiquei pensando no que eu havia conversado com a Lu, não conseguia imaginar como um cara teve coragem de encostar um dedo na Aline. Apesar de ter uma personalidade muito forte, era dona de uma delicadeza, de uma educação, que chegasse a ser era impossível imaginar a cena. Dois traumas, mas ela não perdeu a capacidade de se reerguer, era admirável a vontade que ela tinha de ser feliz.
Estava perdida em pensamentos quando ela saiu do banheiro e veio em minha direção, sentou no meu colo e me abraçou.
_Vou sentir sua falta! _ Aline falou mais dengosa ainda.
_Quatro dias passam rápido, logo você volta pra mim.
_Por mim eu desistia, mas não posso.
_Pois é mocinha assumiu o compromisso agora vai até o fim.
_Eu sei, promete que vai se comportar?
_Meu anjo, acha mesmo que precisa me pedir isso?
_Eu confio em você, mas não confio na Alice, tenho a sensação que ela é a fim de você.
_Por falar na Alice...
_Eu sabia, aquela garota não me engana, ela tentou alguma coisa não é, eu sabia..._Aline desandou a falar andando de um lado para o outro.
_Ei, calma. Você não deixa eu falar, coloca um monte de minhoca na cabeça_ falei puxando ela de volta para o meu colo e a abracei até que ela se acalmasse.
_Desculpa, só estou insegura, nunca namorei uma mulher, mas eu sei que a concorrência é forte.
_Independente, tem que confiar em mim. Sou apaixonada por você, jamais te trairia, muito menos com uma moleca, que mal sabe o que quer.
_Desculpa, você está certa, somos adultas, se decidimos ficar juntas, precisamos confiar uma na outra.
_Ela apenas tentou sondar, por eu avisei que sairia cedo, e eu abri o jogo, coloquei ela no lugar dela.
_Espero que ela tenha entendido o recado. O meu recado eu dou quando eu voltar.
_Como assim, que recado?
_Quando eu conversei com o Igor a primeira vez, ele já estava desconfiado de nós duas, eu tenho quase certeza de que a Alice está passando as informações para ele. E quando eu voltar vou resolver isso.
_ Meu anjo, precisamos nos adiantar, ou você vai perder o voo, vou tomar um banho rapidinho.
_Quer ajuda? Pra mim não tem problema nenhum tomar outro.
_Sabe que isso não vai dar certo. _ falei entrando no banheiro e fechando a porta com a chave.
Quando descemos, a Lu estava na cozinha, folheava uma revista, provavelmente esperando pra se despedir da Aline.
_Pela demora, achei que havia desistido da viagem, vai chegar em cima da hora.
_Relaxa mulher, vou ficar quatro dias sem a minha namorada. _Aline não perdeu a chance de provocar a Lu_ A senhora está muito mal humorada já falei pra você namorar mais.
_ Aline! _Se antes eu já estava com vergonha agora é que piorou a situação.
_Se acostume minha filha, essa aí não tem jeito.
_Também te amo, quando eu chegar no hotel eu aviso_ Falou abraçando a Lu.
_Deus te proteja! _ Sempre que eu viajava a Lu ficava muito emotiva, isso ficou mais comum depois que os meus pais morreram, ela só ficava tranquila quando eu voltava.
Fim do capítulo
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Marta Andrade dos Santos
Em: 22/07/2021
Essa Alice é uma cobrinha.
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