Não esqueça dos seus remédios
— Garota, você nos assustou naquele dia, está tudo bem? – disse a atendente de nome Mônica, a qual sempre me recebia.
— Estou de boa, juro.
— Ela ainda não chegou, você quer esperar?
— Espero sim, sem problemas
Sentei em um dos bancos próximo ao corredor aonde as garotas que trabalhavam lá arrumavam-se. Vi algumas passando, as cumprimentei, mas nada de Lavínia. Acendi um cigarro e aguardei, mas nada, então acendi outro.
No final do segundo cigarro, vi ela chegando, de cabeça baixa, andando a passos largos para a cabine onde costumava ficar. Esperei que entrasse e logo ela saiu, sem olhar para os lados, até que passou na minha frente.
— Ei, Lavínia?
Lavínia olhou em minha direção, mas logo desviou o olhar. Cerrei os olhos e me levantei, indo em sua direção.
— Ei, Lavínia, sou eu.
— Eu sei – ela disse em um tom ríspido – O que você quer?
— O que foi? – cruzei os braços – Por que está me ignorando?
Ela revirou os olhos e voltou a andar, até que andei atrás dela e segurei pela barra de sua calça.
— Você não vai falar mesmo comigo?
Lavínia se virou e gesticulou para que fôssemos para um lugar mais reservado, então a segui até a parte de trás da boate. Ao chegar, ela se recostou na parede na viela mal iluminada e acendeu um cigarro.
— Você ainda vem perguntar o que aconteceu, porr*?
— Sim.
— Cara, você teve uma overdose no meu trabalho, na frente de todo mundo, quantas vezes eu disse pra você não vir alta pra cá?
— Como você sabe que eu tive uma overdose?
— Porque eu vi e sei reconhecer uma de longe, eu trabalho em uma boate, lembra? – ela fez cara feia e voltou a fumar.
— E qual é o problema? Não foi com você, de qualquer forma.
— Como não tem problema, Alana? Todo mundo aqui sabe que você vem me ver, imagine se meu chefe visse essa situação, como eu não ia ficar?
— Então você está preocupada só com sua reputação, e não como eu estou, não é?
Lavínia começou a rir e a tragar o cigarro, até que deu um passo para frente, apontando-o em minha direção.
— Tem que parar de pensar que o mundo gira ao seu redor.
— Eu nunca achei isso, Lavínia.
— Como é, Alana? – ela deu uma risada irônica – Você acha que é a única que passa por problemas, cara? Está todo mundo fodido, você não é a única.
— Eu faço o que quiser com minha vida, Lavínia – disse em um tom ríspido de volta.
— Então você continue fazendo as coisas afetando todos ao seu redor que se importam com você, e depois venha falar que não é egoísta.
Respirei fundo, pensando em como iria rebater sua fala, mas não tive palavras exatas. Ela cruzou os braços e respirou fundo como eu, encarando-me.
— Foi o que imaginei.
Ela passou ao meu lado, mas antes que fosse embora, segurei seu braço de forma suave.
— Não quero que você vá.
Lavínia parou, pressionou os lábios e soltou um gemido baixo, balançando a cabeça.
— Acho que você quer que eu vá.
— Não, eu não quero.
— Então por que você insiste em me afastar então?
Não disse nada, então segurei suas mãos.
— Eu sei que sou uma filha da puta problemática, mas eu estou tentando mudar isso.
— Você está mesmo tentando, Alana? Ou são promessas vazias só no intuito de tentar me deixar mais tranquila?
Engoli em seco, e olhei em sua direção.
— Eu preciso tentar, eu não quero mais isso na minha vida.
— Isso o quê?
— Ver você e outras pessoas tristes comigo.
Ela abaixou a cabeça, balançando de um lado para o outro negando, mas deu um tímido sorriso.
— Você mal me conhece, Alana.
— Conheço você o suficiente para saber que não merece alguém tendo uma overdose no seu trabalho.
— E o que eu mereço?
Ela me encarou em meio aquele lugar, soturno e pouco iluminado. Levantei uma de minhas mãos e passei pela parte descoberta do seu rosto.
— Merece alguém que te deixe nas nuvens.
— E como eu consigo isso? – ela perguntou com um tímido sorriso.
— Não quer que eu lhe mostre? – respondi, pressionando os lábios e a olhando de forma sugestiva.
Ela mordeu os lábios e passou as mãos nos meus ombros, fechando os olhos e vindo me beijar. Respondi seu beijo de forma intensa, levando-a contra o muro atrás dela e dando início a uma intensa troca de carícias.
Sentia suas mãos passando por minhas pernas enquanto continuávamos nos beijando firmemente. Desci a boca por seu pescoço e ela ofegava devagar, arranhando meu pescoço e posteriormente meus ombros. Coloquei minhas pernas em meio a delas, e senti sua cintura vir contra mim.
Segurei em sua cintura e me movimentava contra ela, e ela me abraçava enquanto voltávamos a nos beijar. Ela suspirava em cada momento de beijo nosso e, ao ver sua demonstração de excitação, aquilo me motivou para que eu continuasse ainda mais.
Mordi seus lábios e ela passou a língua nos meus, ofegante. Desci minhas mãos até a parte de trás de suas coxas e as segurei, trazendo-a mais para mim, e arrastei minha boca por seu ombro e logo por seu busto, percorrendo o caminho de baixo para cima, o que a fez gem*r mais alto.
Ela segurou o meu cabelo e voltou a me beijar, com lascívia, e minha primeira ação foi de passar minha mão por suas pernas e, quando passei os dedos sobre seu íntimo, ela me afastou.
— Não vai ser dessa vez, Alana.
— Por quê? – disse, ainda ofegante.
— Porque você se comportou muito mal – e deu um tapinha de leve no meu rosto, indo embora.
— Não acredito, sério? – respondi suspirando alto, e olhando para ela.
Ela parou em frente a porta de onde viemos, e deu uma piscadinha.
— É sério.
Lavínia acenou e foi embora, deixando-me sozinha.
— Não acredito! – disse em um tom mais alto, totalmente frustrada.
Ainda balançando a cabeça, negando aquele fato, tentei me distrair daquele sentimento e caminhando, acendi um cigarro, voltando para casa.
*
— Matheus, você não vai mesmo falar comigo?
— Vai se foder, Alana.
Desde o acontecimento, Matheus falava o básico comigo, e mesmo assim, o básico era cheio de indiretas.
— Eu já disse que isso não vai mais acontecer.
— Quantas vezes você já não disse a mesma coisa?
Estávamos na sala de aula, resolvendo um exercício.
— Eu sei, mas...
— Agora é diferente como nas últimas cinco vezes?
Fiquei em silêncio, mas voltei a falar logo em seguida.
— Se eu não receber o apoio de ninguém, como é que eu vou ficar bem?
Ele me olhou de soslaio, cruzando os braços.
— E quantas vezes não te demos apoio e você mandou a cada um de nós se foder?
— Matheus, mas...
— Não dá, Alana – ele disse, exasperando – Eu amo você como uma irmã, mas você me fez de palhaço várias vezes. Não só a mim, né?
Suspirei, jogando meu corpo para trás.
— Eu sei que estou com um grande problema, só não sei como solucionar.
Matheus me olhou de canto, e deu os ombros.
— Mas pelo menos essa é a primeira vez que você admite que está com um problema.
Dei um sorriso de canto, colocando minha mão em seu ombro.
— Então você me desculpa?
— Claro que sim – ele me puxou para um abraço – Nunca iria desistir de você, mas ainda quero que você vá se foder.
— Vá você, engraçadinho.
O sinal tocou, e logo nos levantamos entregando o exercício pela metade. Nem conseguia lembrar a última vez que tinha conseguido entregar alguma coisa da faculdade completa.
— Está a fim de fumar um? – disse Matheus, passando o braço pelo meu pescoço.
Olhei de relance para o outro bloco enquanto caminhávamos, e balancei a cabeça.
— Vai ter que ficar pra mais tarde, tenho um compromisso pra agora.
— Vai sair com a coroa lá? – ele disse, puxando os lábios para o lado.
— Quase isso – desvencilhei do seu braço, balançando seu cabelo – Te encontro mais tarde então?
— Você tem que me encontrar mais tarde, temos um trabalho pra finalizar.
— Beleza – fui caminhando na direção oposta a dele – Até mais então.
Andei pelo bloco mais afastado, sentei em um dos bancos livres e acendi um cigarro. Não tardou para que Catarina aparecesse, com seu óculos caindo do rosto e uma pilha de livros em suas mãos, andando de forma desajeitada.
— Quer ajuda?
Ela olhou em minha direção, e deu um sorriso contido.
— Se não for pedir muito...Gostaria bastante.
Levantei-me e fui em sua direção, pegando seus livros e caminhando ao seu lado. Ela suspirou alto, ajeitando seus óculos e balançando a cabeça enquanto guardava o jaleco em sua mochila.
— Dia difícil?
— Nem me fale – ela suspirou mais uma vez – Um dos estudados tentou furar meu orientador com uma caneta, mas a situação foi contida.
— Nossa, por que? – disse, arqueando as sobrancelhas.
— Ele entrou em estado de psicose por abuso de medicamentos, mas agora já está controlado – ela pegou seu óculos, limpando na barra da camiseta.
— Dia animado para um lugar tão parado, não?
— É bem animado, se olhar pela ótica certa – ela deu um sorriso tímido –E você, como está?
— Estou estranhamente bem, obrigada por perguntar, e você?
— Acho que preciso me dar uma folga pelo resto do dia.
Olhei para ela de relance, e sorri.
— Nisso eu posso te ajudar.
— Como?
— Conheço um lugar bastante interessante.
— Por que eu deveria confiar em você? – ela disse com um sorriso irônico no rosto.
— Por que não deveria confiar? – respondi em um mesmo tom.
Paramos de caminhar, enquanto ela cruzou os braços me encarando.
— Tenho muitos motivos, mas vou te dar essa chance.
— Não irá se arrepender – dei um sorriso largo, caminhando na frente, enquanto ela ria e me acompanhava.
Fim do capítulo
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