Sai da Barra do Jucu, com o coração apertadinho, minha vontade era ficar o dia inteiro curtindo ela. Em apenas uma semana, descobri em Nicole, coisas que eu jamais vi em outra pessoa. Era raro encontrar alguém que tivesse uma alma tão pura, que cuidasse do outro sem pedir nada em troca, que dava  sinais bem evidentes do caráter, da personalidade, de empatia.

Nicole literalmente, me levou para o mundo dela, sem se preocupar com o “status”, pra ela pouco importou se eu tinha um carro legal, dinheiro, se era dona da construtora. Isso ficou evidente, quando ágil de forma natural na casa dela, não fez nada que fugisse da rotina dela, e desde o primeiro encontro se mostrou exatamente como era. Simples, uma profissional responsável e dedicada, brava, exigente, mas com um coração enorme.

Depois do nosso primeiro  encontro, sondei com a Maria, que era uma pessoa da minha total confiança, sobre o comportamento da Nicole com todos os funcionários e  como eles receberam ela. No começo, tentei colocar na minha cabeça, que o interesse era meramente profissional. Um cargo de liderança exigia sempre a melhor escolha, e eu e o Igor, sempre fazíamos questão de saber tudo a respeito da pessoa, ou pelo menos tudo que tivesse relacionado a construtora e ao hospital. A conversa foi muito engraçada, a Maria era Nordestina, e tinha um jeito muito peculiar de se expressar.

_Menina Aline, aquela lá tem fogo nas ventas, já vi ela dando bronca em homem que tem quase o dobro do tamanho dela. E tem mais, quando quer uma coisa...

_ Já percebi que ela tem a personalidade forte, mas isso é bom, a vida deles aqui dentro, em parte, é responsabilidade dela.

_No começo o pessoal, ficava bravo, quando ela virava as costas, falava besteira, mas em menos de uma semana, colocou todo mundo no bolso. A menina acredita, que depois do almoço, ela fica jogando baralho com eles

_Parece que ela soube ganhar eles, isso é bom.

_O pessoal tá aprendendo a respeitar ela, e o mais engraçado é que ela consegue o que quer, e eles nem percebem_ Maria falou gargalhando.

A conversa rápida com a Maria, me deu um pouco mais de tranquilidade, me deixou mais tranquila para cuidar de outras situações, mas a partir daquela conversa, passei a enxergar Nicole com outros olhos, a marra dela despertava curiosidade.

Fui me aproximando aos poucos, e dei a cartada final, ao chamar ela pra almoçar, precisa entender o que estava acontecendo comigo, por que tanto interesse por alguém desconhecido até então.

E agora estou eu, voltando da casa dela, depois de uma noite linda, com a certeza de que estava completamente apaixonada, só precisava ir com calma, embora soubesse que perto dela seria difícil me conter.

Estava quase chegando em casa, quando parei em um sinal, como o meu bairro era tranquilo, sempre andava com a janela aberta. O dia estava perfeito, e apesar de ser apenas sete horas, o sol brilhava muito.

Parei em um o carro em um semáforo, e quando olhei para o lado, um home me olhava, já ia fechar o vidro quando ele falou.

_A Morena, tem dono.

_Não, por que?

_Janta comigo_ falou alto para eu que escutasse.

_Não tenho dono, mas sim dona, ou melhor, ela me tem.

Obviamente, sempre detestei a forma como algumas pessoas se comportavam nos relacionamentos. Além da agressão esse foi um dos motivos, pelo qual, terminei meu ultimo relacionamento, eu jamais admiti ser tratada como se fosse propriedade de alguém. Mas não resisti, tive que tirar onda com a cara daquele ser, no mínimo se achava demais.

Na porta de casa acionei o controle e quando o portão abriu, eu coloquei o carro da entrada, já que iria sair o mais rápido possível. Mal abri a porta, fui recebida com uma enxurrada de perguntas.

_Posso saber onde a mocinha passou a noite? Tem noção do susto que levei quando fui te acordar e você não estava no quarto? Quer me matar nina?

_Desculpa lu, eu juro que não planejei nada, e achei que chegaria antes de você. _falei abraçando ela.

_Quando for dormir fora me avise.

_Pode deixar_ falei entrando quase correndo em casa, teria que tomar outro banho e correr para o hospital. Depois iria tentar almoçar com a Nicole e ficaria por lá até a hora da reunião.

Desde que me despedi da Nicole, fiquei pensando em fazer uma surpresa e aparecer na obra de branco, não era algo comum, por causa da poeira, da terra, sempre passava em casa pra trocar de roupa, mas depois da noite maravilhosa que ela me proporcionou, seria justo, realizar um desejo tão simples.

Fui direto para o hospital, tinha uma reunião marcada com o Ricardo, no primeiro horário, e depois iria almoçar na construtora.

No hospital, estacionei na vaga de sempre, e fui direto para a sala dele, que com certeza já estava tendo um ataque por causa do meu atraso.

_Bom dia Rick, quer dizer, bom não, ótimo.

_Só se for pra você, porque eu tenho um plantão hoje, e estou esperando a deusa de ébano a quase uma hora.

_Meu amor, hoje esse seu mal humor matinal, não vai estragar o meu dia.

_Pode começar a contar, quem é o boy?_ por que esse humor todo a essa hora da manhã, essa pele de pêssego e esse sorriso, só pode significar uma coisa, S - E - X - O, falou de forma espalhafatosa.

_Fala baixo garoto, e me respeita. Como pode, o Dr. Ricardo, tão sério nos corredores do hospital, dentro de quatro paredes, vira uma borboleta colorida.

_É sério nina, fala quem é o boy, só começo a reunião quando você contar tudo.

_Você é chato, Deus me livre.

_Entramos em um acordo, ótimo. _falou sentando no sofá e cruzando as pernas.

_Bom, eu conheci uma pessoa na construtora, ou melhor, em uma obra da construtora. E foi paixão a primeira vista, trocamos algumas farpas, mas conseguimos nos entender depois de uns beijos, e ontem eu tive a noite mais linda da minha vida, o primeiro bom dia então, nem se fala.

_Continua, quero saber tudo nome, idade, tem pegada?

_Se tem pegada? _ nem te conto_ falei rindo da cara de inveja dele, inveja branca claro, Rick estava solteira a um tempo, e segundo ele, estava na seca.

_Ele faz o que na construtora?_ me perguntou enquanto para pegar café para nós dois.

_Ela é Engenheira de Segurança do Trabalho, tem 35 anos,  uma gata de cabelo curto, olhos pretos, uma bunda deliciosa, brava, inteligente, um coração enorme, cuidadosa, carinhosa e que me proporcionou os melhores orgasmos da minha vida...

Parei de falar quando escutei o barulho de vidro quebrando. Quando olhei o Rick estava no meio da sala me olhando com a boca aberta e os olhos arregalados, fiquei assustada achando que ele estava enfartando, ou tendo sei lá o que.

_Como assim Maluca, desde quando gosta de mulher, desde quando mudou para o brejo e não me avisou...Dra. Aline Caire, isso é brincadeira?

_Me conhece Rick, sabe que jamais brincaria, sua amiga está apaixonada e feliz, muito feliz.

A reação dele foi muito engraçada, ele chorava, se abanava, e dava voltas na sala, e eu parada tentando entender o que estava acontecendo com ele, ria sem parar e sabia que independente de qualquer coisa ele me apoiaria incondicionalmente.

_Meu amor, só quero que você seja feliz, mas sabe que vou investigar a vida dessa sapa, só vai oficializar quando eu der a minha aprovação.

Apesar das brincadeiras, eu sabia que podia contar com ele, e que ele faria questão de conhecer a Nicole, a sensibilidade dele com certeza ajudaria a entender por que eu havia me apaixonado por ela.

Resolvi tudo o que precisava, e fui para a construtora, estive com ela a tão pouco tempo, mas já estava louca pra beijar aquela boca deliciosa. E Faria isso nem que tivesse que tirar ela da construtora. Com certeza ela não toparia dar uns amassos no vestiário da obra, mas pode ter certeza de que eu iria tentar.

A reação dela quando me viu não poderia ter sido melhor, talvez sim, se estivéssemos sozinhas. Os olhos tinham um brilho lindo, as maças do rosto ficaram rosas, um sinal evidente de que eu havia agradado e  por pouco a Maria não percebeu algo entre nós, e se percebeu não demonstrou.

Finalizamos o nosso almoço e fomos para o escritório, eu estava muito apreensiva em relação a reunião com Igor, já imaginava qual seria o motivo, e conhecendo ele como eu conhecia, era provável que teríamos problemas. Pelo pouco que conhecia da Nicole, sabia que ela jamais baixaria a guarda pra ele, e muito menos concordaria em quebrar qualquer norma, qualquer medida  exigida por lei.

Conhecia como ninguém o caráter do meu irmão, eu sabia que ele jamais colocaria em risco a vida daquelas pessoas, mas o nome da construtora estava em jogo, provavelmente ele precisaria tomar algumas decisões e os operários seriam afetados, para poder entregar o edifício no prazo determinado pelo cliente, o sacrifício seria de todos.

Fim do capítulo