Capitulo 18 - Meu anjo lindo.
_Estamos atrasadas! _Aline falou vestindo o short.
_A culpa foi sua _respondi dando um selinho nela.
_Eu tomei banho mais preciso ir me trocar e você já está pronta. Nem o cabelo precisa secar, tudo prático.
_Meu anjo, você é a dona.
_Sim, sou a dona mais tenho responsabilidades, prazos e um irmão que por milagre ainda não ligou. Tenho duas reuniões hoje, uma no hospital pela manhã e outra a tarde na obra.
_Daria tudo pra te ver trabalhando no hospital, deve ficar linda de branco.
_Só uso branco quando tenho plantão.
_Vamos? _Vou chegar em cima da hora, a sorte é que moto facilita muito no trânsito.
_Vamos, mas antes ganho um beijo?
Mesmo atrasada eu jamais resistiria a um pedido desses, beijei ela sem pressa, depois pegamos nossas coisas, saímos, eu ainda precisava pegar o carro dela na garagem do Paulinho. Quando fechei a porta, ela estava me esperando próximo da escada, estendeu a mão e eu segurei, achei que iria falar algo, mas ela simplesmente começou a descer a escada, e só soltou, quando ela chegou na garagem e precisou tirar o carro.
_Adorei o nosso fim de tarde, e mais ainda a nossa noite.
_Também adorei, você é maravilhosa.
_Promete que vai devagar, se chegar um pouquinho atrasada, prometo não dar bronca. _Falou sorrindo
_Se cuida, e não se esquece de almoçar.
_Nos vemos mais tarde_ Me deu um beijo, colocou o cinto de segurança e foi embora.
Somente depois que ela foi embora é que eu percebi um detalhe, ela pegou na minha mão, saímos de casa, fomos até a casa do Paulinho, tudo isso de mãos dadas, falando com conhecidos meu na rua e ela só soltou a minha mão pra entrar no carro.
E eu estava tão “abestalhada”, como se diz no Nordeste, que não me dei conta. Essas pequenas situações, serviam para mostrar que Aline é uma mulher muito especial.
Conhecemo-nos a oito, dez dias, e ela estava agindo de forma tão natural, que eu ficava assustada. Encantava-me a certeza que ela tinha em relação a nós duas. A forma como ela agia, se despindo de qualquer medo, me deixando feliz demais, e tenho a mais absoluta das certezas, de que se realmente ficássemos juntas, ela jamais deixaria a opinião das pessoas ou o preconceito interferir no nosso relacionamento.
Voltei para pegar a moto, e parti rumo a obra. O percurso era sempre o mesmo, mas hoje precisava ir mais rápido, uma morena linda exigiu uma atenção especial ao acordar, e eu não resisti, e só de lembrar eu já ficava toda arrepiada, era impressionante como aquela mulher mexia comigo.
Cheguei no portão principal da obras as sete horas em ponto, e ainda teria que tomar café. A movimentação de pessoas, caminhões de entrega já era enorme, essa agitação, e até mesmo o barulho era uma injeção de adrenalina para quem gostava da área de construção civil.
Pela quantidade de entregas, provavelmente a parte de alvenaria iria começar muito em breve, o que significava para mim, atenção e trabalho em dobro. Era a fase em que seria erguida a estrutura, o esqueleto, como costumávamos falar.
_Bom dia Antônio, como passou o final de semana?_ Falei ao erguer a viseira do capacete.
_Passei bem Dra Nicole.
_Nicole...Antonio...apenas Nicole_ falei rindo.
_Sim senhora, Nicole.
Entrei, estacionei a moto no mesmo lugar, e me dirige ao escritório para guardar a mochila, o capacete.
_Bom dia Alice, alguma coisa pra mim, alguma orientação.
_Bom dia Nicole, o Dr. Igor chegou agora mesmo, e já foi para a obra. Ele quer ver se adianta a construção da alvenaria, provavelmente vai querer que todos façam hora extra.
_Hora extra precisa ser acordada entre ambas as partes, patrão e funcionário. Adiantar a obra, e sobrecarregar os operários e uma faca de dois gumes.
_Esqueceu que ele é o chefe?
_Jamais esqueceria, porém ou o trabalho é cem por cento seguro ou eu estou fora.
_Sinto que vamos ter problemas, mas enfim, eles que se entendam _Alice falou após a saída da Nicole.
Saí do escritório prevendo que meu dia seria difícil, o primeiro embate parecia próximo, porém a vida daquelas pessoas, enquanto estivessem dentro da obra, dependiam do meu trabalho, e jamais abriria mão de cumprir todas as normas e de cuidar do bem estar de todos.
Caso fosse necessário fazer hora extra, algumas medidas deveriam ser adotadas. Primeiro seria necessário sentar com todos e passar a situação, depois ver os benefícios, os horários, e o terceiro e mais importante, a segurança de todos.
Seria necessário fazer um levantamento dos EPI’s que seriam necessários para o trabalho em altura, e caso houvesse a necessidade de fazer a aquisição de novos. Era importante também que eu conhecesse cada profissional, saber qual seria o treinamento para cada um, isso no caso dos novatos, e dos experientes, uma reciclagem.
Mas antes de qualquer coisa eu precisava de um café reforçado, o dia seria longo, e pelo que eu estava prevendo seria estressante. Coloquei o capacete de segurança, os óculos de sol, e fui na direção do refeitório, eu sabia que as meninas sempre deixavam algo reservado para os que por algum motivo chegavam atrasados.
_Bom dia_ falei entrando do refeitório.
_Bom dia D. Nicole_ Maria respondeu, limpando as mesas.
_Eu sei que estou atrasada, mas ainda consigo comer alguma coisa?
_Com certeza, sempre deixo guardado, os meninos as vezes perdem o ônibus, ou o pneu da moto fura, e esse trabalho é puxado pra aguentar até a hora de almoçar.
_Que bom que se preocupa com eles.
_Somos uma família D. Nicole, alguns eu conheço desde que Dr. Marcelo era vivo, trabalho com eles desde que ele começou com a construtora, e agora com o seu Igor e com menina Aline.
_ Entendi _ só de ouvir o nome dela minhas mãos transpiravam.
Enquanto tomava café, me preparava psicologicamente para enfrentar o Dr. Igor, conhecia todos os problemas de uma obra como aquela. Era fornecedores que atrasavam as entregas, funcionários não tão dedicados, atestados, faltas, problemas de convivência, isso quando não chovia e os trabalhos precisavam parar.
Já estava levando para ir vistoriar a obra, quando ele entra.
_Bom dia Dra Nicole.
_Bom dia, Dr Igor._ estava quase desistindo de pedir que me tratassem apenas por Nicole _o senhor quer falar comigo?
_Sim, teremos mudanças de planos, e eu preciso que me ajude com algumas situações.
_No que depender de mim...contando que a segurança de todos seja uma das prioridades.
_Com certeza. Eu vou sair pra resolver alguns problemas visitar um cliente, volto a tarde, marquei uma reunião com a minha irmã as 16:00 horas, preciso que esteja presente.
_Estarei presente.
_Tenha um bom dia e até mais tarde.
_Ele é sempre assim? _perguntei olhando para a Maria.
_Não, hoje ele está de bom humor.
_Deus me livre _ Maria, obrigada pelo café, agora eu
Preciso ir ver como estão os rapazes.
O restante da manhã foi bem tranquilo após andar por toda a obra, voltei para o escritório e passei o restante da manhã revendo alguns projetos. Precisava me preparar para a reunião, com certeza seria impossível que a construtora desistisse da ideia de todos fazer hora extra, possivelmente o cronograma da obra não estava saindo como havia sido planejado.
Aquela seria a minha primeira reunião com os dois irmãos, e por motivos óbvios eu estava apreensiva. Todas as possibilidades possíveis e imagináveis passaram pela minha cabeça, mas sofrer por antecipação era no mínimo dispensável.
Eu precisava agir como uma profissional, mas já sabendo que seria impossível ficar horas na frente da Aline e não sentir nada. Eu não podia dar bandeira na frente do irmão dela, não sabia como era o relacionamento entre eles, nem imaginava qual seria a reação dele quando soubesse que eu estava ficando com a irmã dele.
Terminei de fazer um levantamento dos EPI’s que estavam faltando para o trabalho em altura, fiz os pedidos, e fui para o vestiário, precisava de um banho, fiquei horas no estoque, e além de cansada, estava com fome, mas antes precisava de um banho.
Após sair do vestiário, guardei a mochila, e enquanto me dirigia para o refeitório, aproveitei para dar alguns telefonemas, tinha que agendar um treinamento para os novatos.
Quando cheguei no refeitório, senti um cheiro maravilhoso de feijoada, e estranhei, pois era uma comida pesada para quem ainda iria pegar no pesado a tarde inteira.
_Maria, feijoada não é muito pesado pra eles.
_Que nada eles estão acostumados, eles adoram, o Dr. Marcelo sempre mandava fazer, e eu faço ela de forma que fique mais leve, sem muita gordura.
_Eu estou morrendo de fome, e parece que está uma delicia_ falei pegando um prato.
_Quando acabei de me servir, sentei em uma mesa mais afastada, onde não havia ninguém, a maioria das pessoas já estava saindo e procurando uma sombra pra descansar alguns minutos antes de voltar ao trabalho.
Terminei de almoçar e liguei para a Aline, não nos falamos depois que ela saiu da barra. No segundo toque ela atendeu.
_Oi meu anjo_ está muito ocupada
_Nunca, já ia te ligar pra saber onde você estava.
_Como assim, você sabe que estou na obra.
_Queria saber o local exato, mas acabei de descobrir.
Somente quando ela falou isso, é que eu percebi que ela estava atrás de mim, e quando eu virei, ela estava com o celular na mão e com o sorriso mais lindo do mundo, e o melhor de tudo, estava toda de branco, inclusive o scarpin era branco, um Ray ban aviador e o cabelo estava preso em um rabo de cavalo. Para minha sorte, não tinha mais ninguém almoçando, as meninas já estavam tinham organizado tudo e estavam na cozinha.
_Não me convida pra almoçar?
_Desculpa, vou pegar um prato pra você.
_Pode deixar, eu mesma pego.
Saiu na direção do local onde ficava os pratos e talheres, eu não sei se era de proposito, mas ela parecia rebol*r mais ainda. E com certeza se eu não tomasse cuidado iria começar a babar, porque em nenhum momento consegui desviar o olhar. A partir daquele dia nunca mais duvidaria que ela pudesse ficar mais linda do que o normal.
_Algum problema? Você parece assustada.
_Muito pelo contrario, estou surpresa e feliz, achei que só veria você no final da tarde.
_Consegui sair do hospital mais cedo e vim almoçar com você.
_Sempre almoça aqui?_ Sabe que é isso não é comum, não sabe?
_Depende, por que eu sempre que estou por aqui, venho almoçar com o pessoal.
_E sempre vem pra essa área sem capacete e de salto.
_Sério que você vai brigar comigo?
_Na verdade a bronca deveria partir do Técnico, e lembra a última vez que entrou aqui de salto o que aconteceu.
_Eu sei que você tem razão, é o seu trabalho, mas acha que combinaria uma médica toda vestida de branco usando capacete e botas, sem contar que não fui em casa antes, porque uma certa pessoa queria me ver vestida de branco, ou estou errada.
_Somente por isso, dessa vez vou deixar passar.
_Prometo que vou para o escritório e fico lá até a hora de ir embora.
_Por que não avisou que iria almoçar aqui? Eu teria esperado por você.
_Eu não sabia que horas iria chegar.
_Entendi.
_Me espera, voltamos juntas para o escritório. Preciso falar com você antes da reunião.
Fiquei esperando ela almoçar, e aproveitei para resolver algumas coisas por celular. Quem diria, a Dra. Aline Caire, matando um prato de feijoada. Antes que ela levantasse pra levar o prato, a Maria sentou do lado dela.
_E aí menina Aline, está do jeito que gosta? _Maria falou enquanto era abraçada por Aline.
_Maria meu amor, a feijoada estava divina, tão leve que eu correria uma maratona.
_Ainda bem que a menina, me avisou no sábado que estava com desejo de comer feijoada, deu tempo de comprar tudo.
Quando a Maria falou aquilo, o celular caiu da minha mão, e só não quebrou porque caiu em cima da mesa. Meus olhos arregalaram de uma forma que eu não consegui disfarçar ,a surpresa ao ouvir aquele comentário era evidente.
_Desejo? _Não sabia que a Dra estava grávida_ falei totalmente sem graça.
As duas caíram na gargalhada e a Maria logo tratou de explicar antes mesmo que a Aline o fizesse.
_A menina Alice, sempre vem almoçar aqui, e sempre pede pra fazer uma das suas comidas preferidas. Outro dia ela chegou aqui com uma corvina enorme, as seis da manhã e disse que queria comer ela recheada e feita no forno.
_A Maria é perfeita, cozinha como ninguém.
_Deixa a rabugenta da Lurdinha ouvir isso.
_Nosso segredo_ falou baixinho beijando o rosto daquela senhora.
_Isso tudo pra mim é novidade!!! _ falei realmente surpresa.
_Se acostume Nicole, a Dra. Aline é boa de garfo.
_Vamos? ainda quero ver algumas coisas com você antes de começarmos a reunião, e ainda quero provar a sobremesa que eu trouxe, um cheesecake de morango maravilho, deixei um pra vocês na cozinha.
_Sério? _ ainda consegue comer alguma coisa?_ falei admirada.
_Claro!!! Vamos?
Despedimo-nos da Maria e fomos conversando em direção ao escritório. Era impressionante como ela conseguia andar de salto, em um terreno como aquele. E Nem mesmo aquele sol escaldante conseguia ofuscar a beleza daquela mulher, ela estava simplesmente linda toda de branco.
Fim do capítulo
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