Não se esqueçam de mim
— Meu Deus, Vic, eu estou loucão.
Matheus ria e voltava a queimar a maconha no bong. Tínhamos bebido bastante coisa que aparecia e não parávamos de fumar a maconha que girava na roda.
Sentia o torpor de novo, e senti a excitação vir da minhas pernas. A música de letras sugestivas tocava enquanto as outras garotas desciam até o chão, muitas vezes se apoiando uma na outra. Vitória descia em meio a elas, e vi que ela algo na sua língua, que olhei diretamente.
— Nana, não – Matheus segurou em minha mão – Vamos ficar suave, esqueceu?
— Mas estou suave.
Não estava suave. Minha cabeça já estava girando, mas queria sentir mais.
O grave da música estrondava na caixa, e vi Vitória olhando para mim, caminhando até onde eu estava.
— Não está a fim, Nana?
Ela estava tão bonita reluzindo naquela luz, me olhando de cima, que continuei olhando, até que ela se abaixou em meio a minhas pernas.
— Não, Vic, ela está de boa.
— Deixa ela responder, Matheus.
Cerrei os olhos, e dei um sorriso presunçoso.
— Vai adoçar a minha vida?
— Como adivinhou? – ela puxou do bolso o saco com o pequeno papel.
Coloquei a língua para fora, e ela colocou o papel na minha língua, fechando-a com um pequeno beijo em meus lábios.
— Caralh*, Alana... – Matheus disse, balançando a cabeça.
— Me deixa, porr* – disse, rindo – Tem mais de onde você tirou?
— Se me seguir, com certeza.
Ela se levantou e olhou por entre a costa.
— Alana, por favor, não faz isso.
Olhei para Matheus de soslaio, peguei um cigarro e acendi.
— Eu sei me virar.
*
Sentia meu corpo indo para outra dimensão. Eu estava em outro lugar.
Era indescritível o que eu sentia, e pareceu que não tinha mais nenhum problema em minha. Eu me sentia indestrutível, nada podia me abalar, tudo que eu sentia era a mais bela representação de vida.
Claro, tudo isso por meio de drogas.
Dividi uma bala com Vitória, e ela continuava dançando ali, e eu sentada, fumando um cigarro. Eu sentia falta daquilo, parecia que tinha mergulhado em meio a um rio gélido que me deixava limpa, mas ao mesmo tempo, algo me dizia que aquilo estava errada.
Eu sabia que o que estava fazendo era errado, mas não conseguia parar.
O forte impulso, quase incontrolável, de fugir do mundo era mais maior do que qualquer outra coisa. Eu vivia uma vida triste que os dias passavam com as mais variadas formas de tentar cumprir o vazio que tomava a conta da minha alma.
Tipo naquele momento. Sexo, drogas e perversão eram bons, mas era tudo?
E se não, por que eu não conseguia me sentir feliz de fato, que não fosse momentâneo?
E se sim, por que não consigo ver nada na minha vida além disso?
— Nana, vem dançar comigo – Vitória me puxou da cadeira, fazendo com que eu levantasse.
Fiquei parada, enquanto ela dançava na minha frente. Olhei ao meu redor, para todas aquelas pessoas curtindo, e olhei para Matheus, sentado, fumando seu vape, olhando para a frente e logo abaixando a cabeça.
Lembro de ter visto isso uma vez.
— Ei cara, tudo bem?
— Não muito.
— O que aconteceu?
— Marquei de sair com uma pessoa,
mas assim que me viu, deu
para trás.
— Então essa pessoa é uma otária
— Você acha?
— Claro, quem não gostaria de ficar
com um cara como você?
— Só que estou decepcionado,
entende? Não esperava isso.
— Vai se acostumando, todo mundo é
filho da puta um dia.
O problema do LSD é que te levava para uma profunda introspecção, querendo você ficar apenas louco ou não.
Continuei olhando para aquela cena, que pareceu durar minutos intermináveis. Ele levando seu vape à boca, tragando e deixando a fumaça subir, seu olhar perdido para os lados, suas pernas esticadas e seu corpo recostado.
Eu era uma grande decepção, não só para ele, para todos ao meu redor. Sobretudo, por mim mesmo.
Isso não ia acabar bem.
— Vic, eu já vou indo.
— Como, Nana? – ela disse, se levantando – Você já vai? Agora que a festa está animada.
— É, vou ter que passar em outro canto daqui.
— Mas e o Matheus?
— Ele vai ficar, não se preocupe – dei um beijo em seu rosto – Até a próxima.
Caminhei entre as pessoas, e sentia minha noção de espaço perdida. Andei para fora e continuamente pela rua, e tentei acender um cigarro. Tentava me concentrar para acender o cigarro, mas acabava me perdendo.
Após a metade do caminho, a travessia ficou mais difícil. Parece que tudo que tinha tomado foi acumulado dos dias de sobriedade, que meu corpo cobrava. Sentia-me zonza, mas ainda conseguia caminhar mesmo com a noção distorcida das coisas, e tudo parecia muito estranho para mim. Não conseguia respirar direito e logo me senti com enjoo.
As lembranças aterrorizantes começavam a me perseguir. Olhava de um lado para o outro, e sentia como se alguma coisa estivesse me seguindo, mas nada ali estava, mesmo com meu olhar furtivo de um canto a outro. O caminho parecia que tinha se estendido, e depois diminuído, depois se estendido de novo.
Cheguei na porta, e fiquei analisando as letras de neon em frente ao lugar. Estava escuro, movimentado e frio mesmo comigo suando muito, e continuei olhando de cima aquele letreiro piscando. Quando recobrei meu senso de direção, andei a passos lentos dentro do lugar.
No entanto, ao chegar lá, o ambiente movimentado começou a me causar um estranhamento maior. Sentia meu corpo se arrepiar e toda aquela barulheira começou a incomodar todos meus sentidos. Olhava para meus passos, compassados, indo em direção a nada, com cochichos vindo de longe enquanto eu acabava entrando em um estranho vortéx.
— Alana?
A voz de alguém me chamava, mas não conseguia diferenciar de quem era.
— Alana?
Continuaram me chamando, mas senti meus olhos pesando.
— Alana!
E foi a última coisa que ouvi.
Fim do capítulo
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